• Nenhum resultado encontrado

TERCEIRIZAÇÃO: O MITO DA EFICIÊNCIA FINANCEIRA

No documento fabricioandredealmeidalinhares (páginas 156-160)

5 O NOVO VELHO TRABALHO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ

5.3 TERCEIRIZAÇÃO: O MITO DA EFICIÊNCIA FINANCEIRA

Tornou-se um debate bastante recorrente entre diversos trabalhos acadêmicos a perspectiva financeira sobre a questão da terceirização, com apontamentos divergentes sobre a questão. Alguns defendem a terceirização no

serviço público à luz do princípio da eficiência enquanto outros questionam a

efetividade deste princípio na terceirização de serviços nos órgãos públicos. Aliás, o primeiro caso refere-se particularmente ao título de uma monografia de conclusão de curso, apresentada à Faculdade de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora por Rafaela Tereza Alves Rodrigues (RODRIGUES, 2013). Já no resumo da pesquisa a autora explica que

buscou-se demonstrar que mesmo em decorrência de inúmeras fraudes no entorno deste tipo de contratação a terceirização de atividade-meio deve ser

vista como uma ferramenta importante, apta a auxiliar o gestor público a desenvolver uma administração mais eficiente, visando não só a economia de recursos públicos como também a maior satisfação dos administradores na prestação de serviços pelo Estado. (RODRIGUES, 2013, p. 4).

Apesar de não apresentar números em sua pesquisa que confirmem ou não uma possível vantagem financeira ou melhoria da qualidade dos serviços prestados a autora conclui que “A terceirização é uma importante ferramenta à disposição da administração pública com o objetivo de se alcançar uma atuação mais eficiente em termos quantitativos e qualitativos” (RODRIGUES, 2013, p. 44).

Entre os trabalhos acadêmicos que questionam a eficiência financeira como no princípio eficaz à terceirização na administração pública, destacamos uma pesquisa apresentada ao XXV Congresso Brasileiro de Custos – Vitória, ES, intitulada

Terceirizações no Setor Público: Uma Análise sob a ótica da Teoria dos Custos de Transição (PACHECO et al., 2018).

A pesquisa em questão buscou identificar os custos de transição na terceirização de limpeza e conservação e de vigilância e segurança em uma instituição pública da região Centro-Oeste brasileira (não foi revelado o nome), utilizando-se dados relativos ao período de 2014 a 2017. Os referidos serviços eram realizados por servidores públicos e foram substituídos por trabalho terceirizado. Comparando os dois cenários os pesquisadores concluíram que

Não houve economia de custos com a contratação de empresas terceirizadas, pois os valores aplicados com a terceirização foram 35,5% maiores que se tivesse sido realizado concurso e realizasse a prestação desses serviços através de servidores efetivos. (PACHECO et al., 2018).125

Contudo, este subitem não pretende criar leis gerais sobre a eficiência financeira da terceirização, dado que para isto seria necessária uma pesquisa a parte que pudesse observar repetições de fenômenos entre outras questões metodológicas. O que pretendemos neste subitem é demonstrar em poucas páginas que, especificamente no espaço que estudamos, a terceirização de fato não se mostra economicamente eficiente como apregoam seus defensores, que pelo contrário, através de análises quantitativas já suficientemente levantadas nesta pesquisa, somadas a alguns novos quantitativos que transformados em dados qualitativos

constatam: entre os agentes espaciais envolvidos com o trabalho terceirizado em nosso espaço, apenas os empresários se beneficiaram.

O primeiro passo consiste em transpor informações do Quadro 11, para se chegar ao valor médio pago pela instituição a cada servidor. Ressaltamos, entretanto, que nossos resultados sugerem apenas uma ilustração da questão, servindo de referência para uma compreensão realista, mas superficial sobre os custos da terceirização, uma vez que não aplicamos um método próprio de cálculo para este propósito, ficando por um lado uma sugestão para estudiosos da área e por outro uma reflexão sobre a suposta eficiência financeira da terceirização. Ainda sim servirá para balizar os gastos com o trabalho terceirizado com os gastos referentes ao empregado público, apontando como esta modalidade além de prejudicial para a classe trabalhadora não implica em economia relevante para o Estado, ao menos em nosso espaço.

Segundo informação da Coordenação de Contratos da UFJF (Quadro 11), os valores mensais pagos às empresas de terceirização alcançaram, em 2017, R$4.253.685,78. Ressalva-se que há um enorme desnível salarial entre os terceirizados, como já demonstrado na pesquisa, mas dividindo-se o valor gasto mensalmente pelos 952 trabalhadores contratados, conforme a planilha em questão, depuramos um gasto mensal de R$ 4.468,15, em média, por servidor. Para se ter uma ideia, dos 952 postos de trabalho terceirizados, apenas 25 exigem formação superior (Quadro 10), equivalendo-se no geral ao nível de classificação E da tabela PCCTAE (pela formação exigida) cujo piso salarial corresponde a R$4.180,66. Mas, de acordo com o mesmo Quadro,dos 952 postos terceirizados, 904 exigem no máximo o ensino fundamental completo, o que na carreira de TAES corresponderia, em geral, ao nível de classificação C, com piso de R$1.945,00, menos da metade do valor médio pago pela universidade às empresas por servidor “precarizado”.

Resta ainda um comparativo: se as empresas de terceirização, no geral, recebem em média mais que o dobro do valor pago ao piso correspondente da carreira TAE por trabalhador, devem pagar aos trabalhadores terceirizados no mínimo, em média, o valor do piso salarial dos servidores efetivos, certo?

Errado, o Quadro 13 mostra que os salários dificilmente ultrapassam R$1.500,00 e em muitos casos paga-se entre R$773,82 e R$1.350,00126, ou seja, as

126 Lembrando que os valores foram retirados de editais de licitação elaborados entre os anos de 2014 e 2017.

empresas pagam praticamente a metade do que se paga no PCCTAE e recebem por cada trabalhador terceirizado praticamente o dobro do piso dos trabalhadores efetivos. Mas frisamos, não são os números que importam, é a contradição. A terceirização no espaço que estudamos torna-se aberrante se pensarmos que representa por um lado a precarização do trabalho para quase mil trabalhadores, com consequência para suas respectivas famílias e dependentes, gerando por outro lado um custo adicional enorme para o Estado.

Pensamos que, ainda que representasse, efetivamente, diminuição de custos para o Estado, a terceirização seria algo absolutamente condenável, em vistas do custo social que cria para a classe trabalhadora. À esta altura do campeonato torna-se impossível para este pesquisador não perguntar a quem de fato realmente interessa esse mecanismo, quem realmente se beneficia do discurso do “Estado

6 PARAFRASEANDO MARX: “SER TRABALHADOR PRODUTIVO NÃO É

No documento fabricioandredealmeidalinhares (páginas 156-160)