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3. O GOVERNO JOÃO GOULART: PERÍODO PARLAMENTARISTA

3.4 O TERCEIRO E ÚLTIMO GABINETE

O último Conselho de Ministros na história republicana do Brasil foi presidido por Hermes Lima, seu gabinete pode ser considerado como a preparação para a volta ao presidencialismo, pois sua nomeação ocorreu após a data do plebiscito ser marcada. Esse

gabinete, dentre os três, foi o que obteve a menor base de apoio partidário, pois apenas três partidos participaram da sua formação – PSD, PTB e PSB, controlando apenas 59% do Congresso. E a UDN, um dos três maiores partidos do período, e que estava presente nos dois outros gabinetes, neste não figurava na base de apoio.

Com o início do terceiro gabinete surgiram também acusações contra o governo em virtude deste dar atenção “exclusiva” para a antecipação do plebiscito e menosprezar os problemas econômicos que o país estava enfrentando. Para conter tais acusações, Jango nomeia Celso Furtado para delinear um plano de desenvolvimento econômico nacional, assegurando o crescimento rápido e a estabilidade de preços, mas era um momento difícil para implantar novas políticas em decorrência das eleições em outubro de 1962 (SKIDMORE, 2010). Nesta época, com relação a política fiscal, houve um esforço das entidades econômicas para tentar financiar o déficit público sem recorrer à emissão de moeda, tida como uma das causas da inflação, assim como, um aumento do imposto de renda e do imposto sobre o consumo e a recuperação do Fundo Federal de Eletrificação, com base em Almeida (2010, p.124). Com relação ao câmbio, a partir de outubro de 1962, o governo decide pelo “congelamento” deste, permitindo que a desvalorização ocorrida até o mês anterior pudesse refletir a evolução dos preços do ano inteiro. Podemos notar o congelamento nas taxas de câmbio no Gráfico 6, no qual fica clara a tendência a partir de outubro. Houve ainda uma concessão do 13º salário aos trabalhadores urbanos, que iria cobrir as defasagens salariais com a inflação do período, o que poderia desestabilizar o nível de preços para Abreu (1989, p. 205).

E no final de 1962, a instabilidade política afeta claramente o comportamento das variáveis econômicas. Conforme Abreu (1989, p. 205), o controle sobre as contas do governo, que havia sido restabelecido com o gabinete de Brochado, foi perdido. A taxa de crescimento do PIB real reduziu-se para 6,6%, comparado à 8,6% no ano anterior, isto em termos de volume, como podemos observar na Tabela 2, no qual verificamos a variação do PIB nos primeiros anos da década de 60.

Gráfico 6 – Taxa de câmbio no período Parlamentarista no Brasil, 1961.9 a 1962.12 – R$/US$

Fonte: IPEADATA (2013) – Elaboração própria.

Obs.: Os dados para elaboração do gráfico foram obtidos no IPEADATA e o eixo Y apresenta a moeda da época, o Cruzeiro, em valores da moeda vigente atualmente, o Real.

Tabela 2 - Variação do Produto Interno Bruto do Brasil, 1960-1964

Ano Variação do PIB

1960 9,4 1961 8,6 1962 6,6 1963 0,6 1964 3,4 Fonte: IBGE (2013).

Assim como, na Tabela 3, observamos os valores correntes para os anos de 1956 a 1962, incluindo os governos de JK, Jânio Quadros e os três Gabinetes Parlamentaristas. E a partir do quadro, concluímos que os valores correntes tiveram uma tendência ascendente em todo o período, sendo que em seis anos o valor aumentou em R$ 6423 (em 1.000.000,00), porém, mesmo com os valores aumentando continuamente, as taxas de crescimento estavam se deteriorando em face da crise econômica, como verificado acima.

0,0000E+00 2,0000E-14 4,0000E-14 6,0000E-14 8,0000E-14 1,0000E-13 1,2000E-13 1,4000E-13 1,6000E-13 1,8000E-13 2,0000E-13

Tabela 3 - Produto Interno Bruto do Brasil, 1956-1962 – valores correntes

Ano PIB - Valores Correntes (em 1.000.000,00)

1956 1029 1957 1249 1958 1555 1959 2320 1960 3183 1961 4653 1962 7452 Fonte: IBGE (2013).

Os níveis de preços tiveram um aumento de 53,7%. As despesas do governo cresceram na ordem real de 11,5%, perante um crescimento real das receitas de 4%. O balanço de pagamentos deteriorou-se em decorrência da redução nas exportações, as contas externas fecharam o ano com um déficit de US$ 346 milhões no balanço, mas não há evidências de efeitos graves no sistema de câmbio e a taxa de investimento se recupera e passa a ser de 15,5% do PIB, com base em Melo, Bastos e Araújo (2006, p. 21).

No Gráfico 7 são apresentadas as linhas de tendência para as exportações e importações durante todo o governo parlamentarista, deste modo, pode-se verificar que este começa com um superávit na balança, mas ao final do terceiro gabinete, apresenta um déficit de US$ 32 milhões no mês de dezembro, o que também pode ser conferido através do Gráfico 8, no qual tem-se os saldos da balança comercial, assim como, podemos verificar o déficit de US$ 43 milhões em janeiro do ano de 1962, o maior dentro do período.

Como observa-se no Gráfico 9, há um grande aumento na taxa de inflação, chegando a quase 7% no mês de janeiro de 1962 e fechando o ano e o terceiro gabinete, com uma taxa de 5% em dezembro. Durante todo o governo parlamentarista no Brasil, notamos uma oscilação na taxa de inflação, com um maior controle entre os meses de abril e outubro de 1962, ou seja, o final do primeiro gabinete e o início do terceiro. Pode-se, então, colocar que durante o gabinete de Brochado da Rocha a inflação estava sob “controle”.

Gráfico 7 - Exportações e importações no governo Parlamentarista no Brasil, 1961.9 a

1962.12 – US$ milhões

Fonte: IPEADATA (2013) – Elaboração Própria.

Gráfico 8 - Saldo da balança comercial no governo Parlamentarista no Brasil, 1961.9 a

1962.12 – US$ milhões

Fonte: IPEADATA (2013) – Elaboração própria.

0 20 40 60 80 100 120 140 160 Exportações Importações -50,0 -40,0 -30,0 -20,0 -10,0 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0

Gráfico 9 - Taxa de inflação mensal no governo Parlamentarista no Brasil, 1961.9 a 1962.12

Fonte: IPEADATA (2013) – Elaboração própria.

Com o passar das eleições, as atenções se voltam novamente para o plebiscito no início de janeiro de 1963. Somente alguns setores da UDN e o complexo IPES-IBAD defendiam a continuidade do parlamentarismo, o apoio ao presidencialismo era maciço, diversas instituições e organizações estimulavam a campanha pela volta do regime anterior. Grandes nomes da política apoiavam o fim do sistema parlamentarista, entre elas: Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola, Cid Sampaio, Magalhães Pinto, Juraci Magalhães e Carlos Lacerda.

No plebiscito, a vitória do presidencialismo foi esmagadora. Conforme Rubiatti (2008, p. 156),

com a volta desse sistema de governo, João Goulart passa a ter todos os poderes que a Constituição de 1946 outorgava ao ocupante do cargo de presidente da República. Isso representa a possibilidade de efetivar os planos de reforma de base, fato que empolga a esquerda e os nacionalistas e assusta os conservadores.

No dia 23 de janeiro de 1963, antes mesmo de o Tribunal Eleitoral proclamar os resultados oficiais do plebiscito, a Emenda Constitucional nº 6, que revogava o parlamentarismo, é aprovada pelo Congresso. Dessa maneira termina o período parlamentarista da República brasileira.

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00

O sistema parlamentarista se mostrou um verdadeiro fracasso, revelando-se ineficaz administrativamente e causando diversas crises institucionais, sendo alvo de grandes críticas. E, Toledo (1986, p. 40) afirma que o parlamentarismo – forjado a toque de clarim e em ritmo marcial – não resistiu às inúmeras crises políticas que seu funcionamento provocou e não conseguiu resolver.

3.5 QUADRO SÍNTESE DOS OCORRIDOS POLÍTICOS E ECONÔMICOS NO GOVERNO