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Terminologias relacionadas com e-learning

2.1 ASPECTOS GERAIS DO E-LEARNING

2.1.1 Terminologias relacionadas com e-learning

Segundo Garavan (1997), a separação entre treinamento, desenvolvimento, educação e aprendizagem como processos distintos no contexto empresarial possui fortes origens. A noção, por exemplo, de que treinamento está relacionado com habilidades, enquanto desenvolvimento e educação com a vida, possui historicamente certo grau de validade. Na era pré-revolução industrial, os conhecimentos necessários para exercer uma profissão não mudavam significativamente ao longo do tempo, o treinamento era desenvolvido para prover um aprendiz com habilidades que seriam utilizadas ao longo de toda sua carreira.

O autor comenta que, na época medieval, tanto treinamento como educação eram acessíveis apenas a uma pequena parte da população. O processo educacional era geralmente prerrogativa apenas da Igreja, enquanto, da mesma forma, alguns grupos de profissionais protegiam a difusão das habilidades relativas ao exercício de sua profissão e apoiavam políticas de restrição da sua prática.

A Revolução Industrial simplificou o trabalho em diversas áreas e proliferou a utilização de trabalhadores menos habilidosos, a um custo mais baixo em função do uso das máquinas, tornando obsoletos muitos processos de difusão de habilidade e treinamento. Enquanto isso, o modelo de educação não sofreu influências significativas dos novos desenvolvimentos da ciência e tecnologia.

Destaca que, após a revolução industrial, o próximo período significativo foi o que sucedeu a Segunda Guerra Mundial, quando o crescimento das organizações nos anos 1950 e 1960 contribuíram para reforçar as distinções entre treinamento, desenvolvimento e educação.

Garavan (op. cit.) explica esses três termos da seguinte forma: (i) treinamento é conduzido por empresas específicas para suprir necessidades particulares, sendo muitas vezes conduzidos durante a própria execução das tarefas ou por meio da aplicação de manuais de exercício de determinada atividade; (ii) desenvolvimento é geralmente considerado parte do domínio de interesses pessoais, para ser adquirido

em horários fora do expediente de trabalho e (iii) educação inicia-se com treinamento de algumas habilidades e estende-se ao longo da vida como parte da busca pelo aumento de sabedoria, tornando-se um processo ancorado em situações vividas, experiência e exemplos.

Para Howard (1999), a forma clássica de definição de aprendizagem passa pela noção de aquisição de conhecimento a partir da experiência, que resulta numa mudança duradoura de comportamento. Garavan (op. cit) complementa que o conceito de aprendizagem é diferente, dependendo do contexto que está sendo considerado. Treinamento pode ser associado com “aprender fazendo”; desenvolvimento envolveria “aprender pensando, fazendo e sentindo”; e educação estaria mais relacionada com “aprender por meio do pensamento”.

Pilati e Abbad (2005) definem transferência de aprendizagem como a aplicação eficaz no trabalho dos conhecimentos, habilidades e atitudes adquiridas em treinamento, sendo que esse conceito descreve um dos processos centrais dos modelos utilizados para a avaliação do seu resultado.

Eboli (2004, p. 146) afirma que, por meio da realidade virtual, a aprendizagem está causando forte impacto nas empresas no que diz respeito à reavaliação de seus tradicionais centros de treinamento, mostrando-se muito eficaz em: (i) estimular as pessoas para o aprendizado contínuo e responsabilizar-se pelo processo de autodesenvolvimento; (ii) favorecer o compartilhamento do conhecimento organizacional; (iii) fazer que aprendam cada vez mais rápido sobre o negócio da empresa; (iv) melhorar a comunicação interna e externa; (v) ampliar a quantidade e a qualidade da rede de relacionamentos com toda a cadeia de agregação de valor: fornecedores, distribuidores, clientes, comunidades, entre outros; (vi) diminuir custos com treinamento; e (vii) aumentar a produtividade.

A mesma autora salienta que no treinamento o aspecto principal que deve ser trabalhado é o conhecimento, o saber fazer, pela transmissão de instruções. Já em um programa de desenvolvimento, a tônica é a incorporação de habilidades, o poder fazer, sendo essencial a preparação para políticas e práticas organizacionais.

Finalmente, no caso dos programas de educação, a questão da postura e da atitude, o querer fazer, é o principal ponto desenvolvido, mediante a transmissão dos valores organizacionais que orientem a postura profissional desejada. O Quadro 1 apresenta uma comparação entre treinamento, desenvolvimento e educação.

Quadro 1 - Comparação entre treinamento, desenvolvimento e educação.

Treinamento Desenvolvimento Educação

Objetivo Desempenho Capacitação Formação

Foco Tarefa Carreira Vida

Alcance Curto prazo Médio prazo Longo prazo

Orientação Instruções Políticas de gestão Valores

Competência Conhecimento (saber fazer) Habilidade (poder fazer) Atitude (querer fazer) Fonte: Adaptado de Eboli (2004).

Em relação à terminologia mais contemporânea, também há muita confusão. Por exemplo, termos como “educação a distância”, “ensino a distância”, “aprendizagem a distância”, “educação on line”, “educação pela web”, entre outros, são usados de forma indistinta.

Keegan (2002, p. 17), apud Bryant, Kahle e Schafer (2005), explica as diferenças. Afirma que educação a distância compreende dois elementos igualmente importantes: (i) ensino a distância e (ii) aprendizagem a distância. O ensino a distância foca a transmissão da instrução para o aprendiz, enquanto a aprendizagem foca a maximização da cognição do aprendiz. Termos como “educação on line” e “educação pela web” focam mais estreitamente o meio pelo qual a instrução é transmitida em vez da aprendizagem.

Para Almeida (2003, p. 332), os termos: educação a distância, educação

on line e e-learning, não são congruentes entre si. A educação a distância pode-se

realizar pelo uso de diferentes meios (correspondência postal ou eletrônica, rádio, televisão, telefone, fax, computador, Internet, etc.), técnicas que possibilitam a comunicação e abordagens educacionais, baseando-se tanto na noção de distância

física entre o treinando e o instrutor, como na flexibilidade do tempo e na localização do treinando em qualquer espaço.

Já a educação on line é definida pela autora como modalidade de educação a distância realizada pela Internet, cuja comunicação ocorre de forma síncrona ou assíncrona. Tanto pode utilizar a Internet para distribuir rapidamente as informações, como pode fazer uso da interatividade8 propiciada pela Internet para concretizar a interação entre as pessoas, cuja comunicação se pode dar de acordo com distintas modalidades comunicativas.

Quanto ao termo e-learning, existem diversas definições. Miranda (2002) explica que, para entender o conceito de e-learning, é preciso ter em mente que ele pode ser compreendido como o aprendizado por meio da mídia eletrônica, ou seja, o conhecimento solicitado pelo interessado lhe é entregue por um meio eletrônico: Internet, CD-ROM9, vídeo, entre outras, no entanto outros autores, como Rego Jr. (2001) relacionam e-learning com aprendizado pela Internet.

Gomes (2005a) discorda da definição de Miranda afirmando que o recurso CD-ROM ou outros suportes digitais como meio de distribuição de conteúdos podem fazer parte de um cenário específico do e-learning, mas, por si só, não configura uma verdadeira situação de e-learning. Para Gomes, o e-learning está intrinsecamente associado à Internet e ao serviço www.

Essa associação ocorre devido ao potencial ocasionado por diversos fatores, tais como: (i) facilidade de acesso à informação independentemente do momento temporal e do espaço físico; (ii) facilidade de rápida publicação; (iii) distribuição e atualização de conteúdos; (iv) diversidade de ferramentas e serviços de comunicação e colaboração entre todos os intervenientes no processo de ensino-aprendizagem; e

8

Interatividade: capacidade dos sistemas tecnológicos de estabelecer conexões ponto a ponto em tempo real (Filatro 2004, p. 126).

9

CD-ROM (Disco Compacto Apenas para Leitura de Mídia): Compact Disc Read Only Media, meio de memória similar ao CD de áudio que pode armazenar mais que 600 megabytes de informações digitais para leitura (E-LEARNING BRASIL, 2007).

(v) possibilidade de desenvolvimento de sistemas colaborativos de suporte à aprendizagem.

Na definição de Rigou et al. (2004), o e-learning também é relacionado com a utilização da Internet. O autor faz uma comparação com os métodos tradicionais de aprendizagem, afirmando que o modelo tradicional de educação enfatiza que as pessoas devem deslocar-se até centros de treinamentos, independentemente da distância do seu local de trabalho ou residência.

Esse modelo prega que o conhecimento está situado num certo lugar e as pessoas devem ir atrás dele, no entanto esse cenário hoje não é necessariamente obrigatório, uma vez que é possível disponibilizar conhecimentos para todos pelo meio on line.

Rosenberg (2001, p. 25) reforça a relação do e-learning com esse meio, referindo-se à utilização das tecnologias da Internet para fornecer um amplo conjunto de soluções que melhoram o conhecimento e o desempenho; podendo, dessa forma, o

e-learning ser considerado uma modalidade de educação a distância.

O autor apresenta os três critérios fundamentais em que este conceito está baseado: (i) transmissão em rede, que possibilita atualização instantânea, arquivamento, distribuição e compartilhamento de instruções e informações; (ii) disponibilização por computador, utilizando os padrões de tecnologia da Internet; (iii) foco em uma visão ampla de aprendizado, ou seja, soluções que vão além dos paradigmas tradicionais de treinamento.

Filatro (2004) afirma ser importante diferenciar a educação on line da educação a distância (EAD), que supõe separação espacial e temporal entre instrutor e treinando. Para a autora, no caso da educação a distância, a maior parte da comunicação entre instrutor e treinando é indireta, podendo ser mediada por recursos tecnológicos; porém não depende exclusivamente da comunicação on line, como no caso do ensino por correspondência, baseado apenas em mídia impressa.

Em contraposição, a autora enfatiza que também é possível distinguir a educação on line do chamado e-learning, cuja mediação eletrônica pode ou não incluir conexão em rede. Apresenta como exemplo de e-learning off-line os pacotes multimídia configurados para uso individual e independente de conexão em rede.

Uma outra definição de e-learning é apresentada na Wikipedia, que considera o termo bastante abrangente e geralmente utilizado para definir aprendizagem por meio de computador; apesar de freqüentemente envolver também a utilização de tecnologias móveis, tais como PDAs (Personal Digital Assistant) e MP3 players.

Acrescenta que o e-learning pode incluir a utilização de materiais de aprendizagem acessados pela Internet, hipermídia de um modo geral, CD-ROMs ou

web sites multimídia, fóruns de discussão, softwares colaborativos, e-mail, blogs, wikis, chats, avaliações auxiliadas por computador, animação educacional,

simulações, jogos, softwares de gerenciamento de aprendizagem, sistemas de votação eletrônica, entre outros, com a possibilidade de combinar vários métodos diferentes.

Complementa que, junto com os termos “tecnologia de aprendizagem” e “tecnologia educacional”, o termo é geralmente utilizado para se referir ao uso de tecnologia em aprendizado de um modo muito mais abrangente que o treinamento auxiliado por computadores, utilizado na década 1980.

Adiciona que o termo e-learning é mais amplo que os termos “aprendizagem

on line” ou “educação on line”, que geralmente se refere ao aprendizado unicamente

pela Internet. Observa que, nos casos em que tecnologias móveis são utilizadas, o termo M-learning está tornando-se mais comum (WIKIPEDIA ENGLISH, 2007).

Siemens (2004) faz uma análise mais detalhada do termo, classificando o

e-learning em sete categorias e três grupos de fatores que causam impacto na sua

implementação. Essas categorias, fatores e suas ramificações são apresentadas no Anexo 1.

Ressaltando a importância do e-learning, Dunn (2003, p. 63) afirma que o uso da Internet pode proporcionar uma imensidão de técnicas educacionais, podendo essas oportunidades constituir, em muitos casos, uma alternativa completa do estudo face-a-face, realizado em salas de aula.

Para permitir uma melhor compreensão da evolução do e-learning como alternativa à educação presencial, no tópico a seguir serão apresentadas as gerações da educação a distância, desde seus primórdios, com a educação por correspondência, até o modelo de aprendizagem que utiliza os recursos da Internet. Também serão estudadas as diferenças entre os modelos e as principais características de cada fase da sua evolução.