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TERRORISMO NO MUNDO, CONCEITOS E SUA LEGISLAÇÃO

No documento MOACYR DE MATTOS JUNIOR Cel Art (páginas 14-17)

Não é possível dizer que o terrorismo é um fenômeno recente. Na verdade, ele aparece na história humana há muito tempo. O primeiro ato documentado foi perpetrado por uma seita de cunho religioso, constituída por pessoas de classe menos favorecida, quando da revolta de Zealot, na atual Palestina. Seus ataques eram executados de forma inédita para a época, durante o dia, em grandes aglomerações, nos templos e contra os romanos. Tinha cunho nacionalista, qual seja libertar a Palestina. Segundo Carr (2002, p.11 ), o Império Romano também se utilizou do terrorismo contra os povos dominados com a finalidade de baixar o seu moral e enfraquecer a resistência das tropas inimigas. O autor destaca que a expressão utilizada na época era “Guerra Punitiva” ou “Guerra Destrutiva”. Por outro lado, estes atos acabaram por facilitar a aceitação da Pax Romana, oferecida aos povos dominados. Destaca-se ainda um grupo chamado de

“Assassinos”. Atuavam na antiga Pérsia matando dirigentes, reis e califas a fim de divulgar seus ideais políticos e religiosos de cunho messiânico no século XI.

O terrorismo tem várias motivações. É cometido por indivíduos isolados, por grupos organizados e até mesmo pelo Estado. Tal vocábulo foi usado pela primeira vez no Dictionnaire de l’Académie Française, que o nomeou como

“sistema de terror”, numa referência clara ao “Grande Terror” da Revolução Francesa. Seus conceitos podem ser simples como o da enciclopédia Larousse – um conjunto de atos de violência cometidos por grupos políticos ou criminosos para combater o poder estabelecido ou praticar atos ilegais – chegando a definição sofisticada do Dicionário do Pensamento Social do Século XX (OUTHWAIT e BOTTMORE, 1996), que classifica o terrorismo em dois tipos: no primeiro, onde o agente usa um método de ação para atingir objetivos precisos, aplicando de maneira pragmática a violência, com certo controle, podendo mudar sua estratégia. Um segundo, o terrorismo pode ser uma lógica de ação, onde os fins justificam os meios, e o agente apresenta uma ação sistemática e em cadeia, só interrompida pela repressão, sua prisão ou morte. Quando a ação terrorista é encarada como uma lógica de ação, os alvos são selecionados aleatoriamente.

Qualquer segmento social ou instituição adversária se torna um potencial alvo.

14 Assim aconteceu em 11 de setembro de 2001, maior atentado terrorista da história dos Estados Unidos e um dos mais impactantes na história mundial. É interessante perceber que a Al Qeada atingiu alvos específicos: o Pentágono -poder militar e o World Trade Center - -poder econômico. Porém, milhares de vítimas inocentes morreram, passando a impressão de ato indiscriminado, aumentando o seu impacto e repercussão. Ainda na tentativa de definir terrorismo, em 1937 a Convenção para Prevenção e Repressão do Terrorismo que ocorreu em Genebra deliberou o seguinte: “Art. 1º - Na presente convenção, a expressão

‘ato terrorista’ significa fatos criminosos dirigidos contra um Estado, cujo objetivo ou natureza é provocar terror em pessoas determinadas, em grupos de pessoas ou no público”. Já em 1998, um dos mais importantes regramentos internacionais (Estatuto de Roma), do Tribunal Penal Internacional, se quer faz referência a atos terroristas ao tratar do elenco e da tipificação dos crimes de sua competência.

Como percebemos são claras as divergências de conceito e entendimento.

Na falta de um consenso internacional, tanto para definir o que é terrorismo como para tipificá-lo, cada país inscreveu em seu sistema penal sua própria especificação jurídica. Passemos a alguns exemplos. Do Código Penal Italiano retiramos o seguinte:

“Art. 270 bis13 - Associações com o objetivo de terrorismo e de revisão da ordem democrática:

Qualquer pessoa que promova, constitua, organize ou dirija associações, se propondo qualquer tarefa violenta com o propósito de subversão da ordem democrática, é punida com a prisão de sete a quinze anos.

Quem participa de tais associações será punido com a reclusão de quatro a oito anos. Artigo adicionado pelo decreto de lei 15 de dezembro de 1979, n. 625.”

Na França, a tipificação de terrorismo é a seguinte:

"Do terrorismo 18. Capítulo 1:

Dos atos de terrorismo;

- Artigo 421-1

(Lei No. 96-647 de 22 de julho de 1996, Artigo 01, Jornal Oficial de 23 de Julho de 1996) (Lei No. 98-467 de 17 de Junho 1998, Artigo 84, Jornal Oficial de

15 18 de Junho de 1998) (Lei de 2001 - 1062 de 15 de novembro de 2001, art. 33 Jornal Oficial de 16 de novembro de 2001)

Constituem atos de terrorismo, quando são intencionalmente cometidos em relação a uma ação individual ou coletiva cujo objetivo é alterar seriamente a ordem pública através de assédio moral ou terror, as seguintes infrações:

1º. Os ataques deliberados sobre a vida, os voluntários ataques a integridade da pessoa, rapto e seqüestro, bem como o seqüestro de aviões, navios ou quaisquer outros meios de transporte, como em definidos Livro II deste Código;

2º. Roubo, extorsão, destruição, dano e deterioração, bem como infrações em hardware de computador definidas no Livro II deste código;

3º. As infrações em material de grupos de combate e de movimentos dissolvidos definidas nos artigos 431-13 a 431-17 e as infrações definidas nos artigos 434-6 e 441-2 a 441-5;

4º. A fabricação ou o artigo 3º da lei de 19 de junho de 1871, que revoga o Decreto de 4 de setembro de 1870, sobre a fabricação de armas de guerra;”

Continuando na Europa, a Espanha trata o terrorismo judicialmente assim:

"Seção 2, 19.

Dos crimes de terrorismo;

Artigo 571:

Aqueles pertencentes a organizações ou grupos, atuando no serviço ou colaborando com bandos armados, cuja finalidade é subverter a ordem constitucional ou alterar seriamente a paz pública, cometer crimes de estragos ou incêndio tipificados nos artigos 346 e 351, respectivamente, eles serão punidos com prisão pena de quinze a vinte anos, sem prejuízo da pena que corresponda se ocorreu atentado à vida, integridade física ou a saúde das pessoas.

Artigo 572:

1. Os que pertencem, atuam no serviço ou colaboram com os grupos armados, organizações ou grupos terroristas descritos no artigo anterior, atentando contra pessoas, incorrerá:

1º. Em prisão de vinte a trinta anos, se causam a morte de uma pessoa.

2º. Na pena de prisão de quinze a vinte anos, se causarem lesões dos previstos nos artigos 149 e 150 ou seqüestrar uma pessoa.

16 3º. No período de prisão de dez a quinze anos, se causarem outra lesão ou deterem, ameaçarem ou coagirem ilegalmente uma pessoa.”

Já na América do Sul, a Colômbia identifica judicialmente o terrorismo desta maneira:

“Artigo 34320: Terrorismo.

Aquele que provoca ou mantém no estado ansiedade ou terror a população ou um setor dela, através de atos que ponham em risco a vida, a integridade física ou a liberdade de pessoas ou edifícios ou mídia, transporte, processamento ou condução de combustíveis ou energia para veículos a motor, utilizando meios capazes de causar danos, incorrerão na prisão de dez (10) a quinze (15) anos e uma multa de mil (1.000) a dez mil (10.000) salários mínimos legais por mês em vigor, sem prejuízo da pena que lhe corresponde pelos demais crimes que sejam causados por esse comportamento. Se o estado de sofrimento ou terror é provocado por chamada telefone, fita, vídeo, cassete ou escrita anônima, a pena será de dois (2) a cinco (5) anos e multa de cem (100) a quinhentos (500) salários mínimos mensais em vigor.” Nesta transcrição foi respeitada a pontuação e apresentação dos artigos originais. Tradução livre.

A história de cada nação com o terrorismo determinou o modo como cada uma delas identifica o agente e o ato terrorista. Também é nítida a maneira distinta que cada sociedade determina a punição à aqueles que se envolvem nestes atos extremos.

No documento MOACYR DE MATTOS JUNIOR Cel Art (páginas 14-17)

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