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2 APRESENTANDO

2.2 A TESE

A crença centra-se no tema da formação continuada de professores22, numa visão

complexa da ação docente que auxilie-os a enfrentar as contingências e a imprevisibilidade nas relações pedagógicas – relação entre professor e aluno na sala de aula. Nesse tema volto- me para a análise dos processos de formação (autoformação) que auxiliam (ou não) os professores a responder às demandas, às expectativas, à diversidade e à riqueza de possibilidades dentro e fora da sala de aula. Dirijo-me para o pensamento complexo e as implicações epistemológicas e metodológicas que este pode trazer à vida e à prática pedagógica dos professores. De forma mais direta, esta investigação produziu e debruçou-se sobre um tipo particular de textos, quais sejam: aqueles através dos quais os próprios

professores narram/contam as suas concepções, os seus processos de aprendizagem e as suas experiências vivenciadas e, desse modo, dão sentido/significado aos processos de (re)construção da sua profissionalidade.

22 Na presente Tese optei por usar o termo “formação continuada de professores”, pois parece ser a mais

corrente. Entretanto, ao longo desse estudo quando trago autores para fundamentar a presente Tese, mantive a nomenclatura utilizada por eles em seus textos.

Parto do pressuposto de que o problema que afeta os professores em sua prática no ensino técnico, sobretudo no que se refere ao ato de aprender e ensinar, na sua complexidade, nos desafios impostos diariamente ao professor, onde o mesmo necessita “dar conta” de superá-los (pois em muitas situações ele não aprendeu a lidar com as contingências da sala de aula), porque não as viveu reflexivamente na tessitura das relações pedagógicas (FERNANDES, 1999) encontra-se ancorado, possivelmente, na não compreensão, por parte de muitos professores e da própria escola, da necessidade de se trabalhar a formação continuada como um processo coletivo de reflexão e autoformação, isto é, de tomada de consciência, por parte da pessoa do professor, que intencionaliza a sua busca por formação, possibilitando o seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Essa formação continuada deve ser um processo progressivo que tenha por objetivo fazer com que os professores dialoguem entre si, com os conhecimentos produzidos, reestruturando e retendo cognitivamente o que é significativo, sendo uma construção pessoal, reflexiva e contextual. Dada à complexidade que envolve as relações humanas em sala de aula na atual conjuntura escolar, devemos ter em mente, ao pensar a formação continuada de professores, um instrumental teórico que possua um corpo conceitual que dê conta da

complexidade empírica em que se constitui a prática pedagógica dos professores, com vista a uma intervenção, por assim dizer, mais eficiente.

Assim, sigo pensando que uma maneira dos professores lidarem com os contextos complexos e imprevisíveis das aulas está na capacidade de analisar sua própria experiência, ou seja, de uma formação continuada de professores – numa visão complexa – que lhes deem subsídios para enfrentar as contingências de sua própria prática e permita-os viver uma nova experiência, uma nova realidade, em todas as dimensões: pessoal, social e institucional.

Hoje, participando ativamente do sistema educacional, verifico a urgência da incorporação de um novo paradigma. A questão está em transformar a complexidade em um corpo teórico que possibilite o diálogo com o conhecimento, que permita compreender e perceber o sistema educativo (a própria escola) como mudança, em outros termos, como um processo contínuo de inovação, tal como demanda nossa sociedade, assentada sobre os mesmos processos de mudança e que solicita da escola que tenha a mesma capacidade de formação para a mudança.

Devemos estar abertos para a mudança, mas eu pergunto: Até que ponto estamos

dispostos a lutar por esta transformação, a modificar as estruturas e a ordem convergente imposta pelo paradigma dominante?

Para mudar, o professor precisa de acompanhamento e de orientação pedagógica. Uma das causas das dificuldades que enfrentamos e que puderam ser observadas ao longo desses quatro anos como professor no ensino técnico, está no fato de que nós, professores, não recebemos a atenção pedagógica necessária, isto é, não há uma abertura para compartilharmos experiências, tampouco para discutirmos com nossos pares uma nova proposta que possibilite mudanças na direção de uma prática educativa mais efetiva. É preciso dar voz aos professores, escutar seus anseios e seus desejos, aprender com eles.

Acredito que a nova visão de mundo, resultante de novos olhares sobre a paisagem emergente em considerável crise de conhecimento, exige novas posturas, mais integradoras e abrangentes, que respeitem a complexidade da realidade contemporânea.

Isso supõe considerar que o pensamento complexo na educação é um operador importante na formação continuada dos professores, enquanto sujeitos de sua própria prática, uma vez que poderá ampliar sua percepção sobre as nuances da natureza humana, possibilitando aos mesmos experienciar, analisar, avaliar e trabalhar as inúmeras possibilidades educativas em diferentes projetos, contextos e situações da vida escolar, permitindo que (re)construam – a partir de uma visão mais complexa – sua profissionalidade não apenas com o objetivo de melhorar a qualidade de seu ensinar, mas, também, de responsabilidade e, consequente, compromisso consigo mesmo, com o outro, com a vida e com a função educativa.

O desafio que se coloca, então, é o de discutirmos abordagens de como trabalhar com o humano, o social e o epistemológico, sobretudo com o pedagógico, no intuito de resgatar a produção de sentido23, por assim dizer, entre o aprender e o ensinar, entre o pensar e o agir

na complexidade.

A pertinência desta tese está em investigar e problematizar o tema da formação continuada de professores numa visão complexa, tomando como foco o interesse em conhecer mais e melhor os professores e seu trabalho docente, no intuito de descobrir quais caminhos utilizam (se utilizam algum) para (re)construir a sua profissionalidade e, assim, alcançar um ensino de qualidade sem, contudo, deixar de articular a um importante tripé – concepção de

professor, processos de aprendizagem da docência e práticas de ensino (ANDRÉ, 2010).

Partindo dos pressupostos acima descritos, busco respostas para o problema central da tese: Como os professores que atuam no ensino técnico percebem a formação continuada e,

23O termo sentido, neste texto, está fundado na ideia de Marilena Chauí: “O mundo suscita sentidos e palavras,

as significações levam a criação de novas expressões linguísticas, a linguagem cria novos sentidos e interpreta o mundo de maneiras novas” (CHAUÍ, 1998, p. 149).

consequentemente, os processos de (re)construção da sua profissionalidade em tempos de paradigma emergente?

Com objetivo de melhor analisar as narrativas dos professores, outras questões orientadoras foram articuladas, a partir da questão central:

 Que lembranças/fatos você traz da escola básica?

 Quais saberes/valores você percebe como fundamentais à sua formação profissional?  Como chegou a ser professor(a)? A formação acadêmica ajudou em sua compreensão

de docência?

 O que é para você um “professor que realmente faz a diferença”?  De que forma você organiza a sua prática pedagógica?

 Quais são as dificuldades que você encontra ao planejar e preparar as suas aulas?  Qual a sua percepção frente às diversas exigências e à multiplicidade de situações que

marcam o cotidiano da prática docente?

 Você reflete e reavalia a sua prática constantemente? Suas ações, seus erros e acertos?  Como você vê a sua participação e responsabilidade sobre o currículo e o ensino no

processo educativo da escola?

 De que forma você tem investido na sua formação/profissão de professor?  Como você percebe a escola enquanto espaço de formação continuada?

De que forma a escola pode colaborar para as transformações necessárias rumo à

3 O PARADIGMA EMERGENTE E O DESENVOLVIMENTO