Para ter uma ideia da quantidade de trabalhos que abarcaram a temática do PNAIC, em 11 de fevereiro de 2019 realizamos uma busca no Banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), utilizando como descritor a expressão “Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa”, e obtivemos 258 resultados de 3 diferentes graus acadêmicos: 25 teses de doutorado, 173 dissertações de mestrado acadêmico e 58 dissertações de mestrado profissional. A partir da sigla PNAIC como um segundo descritor, nesta mesma data e neste mesmo portal obtivemos 306 resultados, sendo 26 teses de doutorado, 204 dissertações de mestrado acadêmico e 76 dissertações de mestrado profissional; ou seja, resultado ainda maior que aquele obtido com o descritor anterior. Entre os artigos, realizamos uma busca no Portal de Periódicos Capes e encontramos um montante de 54 textos, também no mês de fevereiro de 2019.
Este dado revela o quanto o Programa é objeto de interesse de pesquisadores, predominantemente em Educação, e o quanto já sabemos sobre ele. Mas em função do grande número de estudos, e considerando a discussão proposta no capítulo, optamos por dialogar apenas com as teses. O cruzamento dos resultados obtidos a partir dos dois descritores utilizados no painel de informações quantitativas da CAPES – desta vez, em novembro de 2019 –, bem como a exclusão de trabalhos que não estiveram diretamente relacionados com o Programa, nos revelou o seguinte panorama de teses concluídas: quatro defendidas em 2015; quatro em 2016; oito em 2017; e sete em 2018, num total de 23 teses (Quadro 3).
Quadro 3 - Teses que abordaram o PNAIC, defendidas entre 2015 e 2018
Ano Autoria Título Instituição
2015 RESENDE, Valéria Aparecida Dias
Lacerda de
Análise dos pressupostos de linguagem nos cadernos de formação em língua portuguesa do
PNAIC
UNESP
CAMINI, Patrícia Por uma problematização da classificação das escritas infantis em níveis psicogenéticos
MELO, Claudiana Maria Nogueira de
Estudo comparativo entre programas de formação de professores alfabetizadores: análise
dos aspectos políticos e pedagógicos
UFC
CABRAL, Giovanna Rodrigues
Pensando a inserção de políticas públicas de formação continuada de professoras alfabetizadoras em um município de pequeno porte: o que dizem os sujeitos dessa formação
PUC/RJ
2016 GIARDINI,
Bárbara Lima
PNAIC: caminhos percorridos pelo programa e opiniões de professores alfabetizadores sobre a
formação docente
UFJF
ANDREA, Crystina de Santo
D.
Fazendo a diferença: Histórias de professoras alfabetizadoras participantes do PNAIC
UFSM
WATANABE, Adriana
Políticas públicas de alfabetização na Rede Municipal de Ensino de São Paulo: uma trajetória
para a consolidação do direito à educação
PUC/SP
MONTEZUMA, Luci Fátima
Entre fios e teias de formação: Narrativas de professoras que trabalham com matemática nos
anos iniciais – constituição da docência e os desafios da profissão na educação pública
estadual paulista frente aos programas de governo no período de 2012 a 2015
UFSCAR
2017 COSTA, Kaira Walbiane Couto
Cadernos de formação do PNAIC em língua portuguesa: concepções de alfabetização e de
letramento
UFES
ALFERES, Márcia Aparecida
PNAIC: uma análise contextual da produção da política e dos processos de recontextualização
UEPG
BARRETO, Lúcia Cristina Dalago
A educação inclusiva na formação continuada de professores: contribuições do PNAIC
UEM
BARBOSA, Joseildo Kleberson
Mudanças na prática docente de alfabetizadores no contexto do PNAIC
PUC/SP
OLIVEIRA, Ana Paula de Matos
Implicações da regulação pós-burocrática para o trabalho docente do DF no âmbito do PNAIC
UnB
COSTA, Jacqueline de Morais
Formação continuada para professores alfabetizadores: um estudo de caso sobre as contribuições do PNAIC no município de Ponta
Grossa.
UFTPR
SOARES, Patrícia Cardoso
Leitura literária no ciclo alfabetizador: repercussões das políticas educacionais no chão
da escola pública municipal de Araçatuba/SP
PUC/SP
INACIO, Debora Pinto
Consciência fonológica e prática Pedagógica nas classes de alfabetização
Universidade Salgado de
2018 SILVA, Abda Alves da
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa e a formação docente: entre saberes e
fazeres
UFAL
PEREIRA, Jair Joaquim
PNAIC: repercussão de uma política de formação docente
Unisul
AFONSO, Maria Aparecida
Valentim
Programa PNAIC na Paraíba: teoria, prática e reflexão em relatos de professores
UFPB
AVILA, Cinthia Cardona de
Contribuições do PNAIC UFSM
AXER, Bonnie Todos precisam saber ler e escrever: uma reflexão sobre a Rede de Equivalências da
Alfabetização na Idade Certa.
UERJ
OLIVEIRA, Aline Santos
Modos de formação continuada de docentes em serviço: arquitetônicas e sentidos emergentes
UFRS
ROSÁRIO, Roberta Sales Lacê
Blogs de professores e suas redes de articulação: desafiando os limites de espaçotempo da
produção política do PNAIC
UERJ
Fonte: Elaborado pela autora.
O exame dos relatórios que abordaram o PNAIC, apontados pelo Banco de teses e dissertações da CAPES, revela que a distribuição das vinte e três pesquisas de doutorado, concretizadas em teses defendidas entre 2015 e 2018, ocorre entre dezoito instituições distintas, entre federais, estaduais e privadas.
Entre as federais, identificamos 12 teses (54,54%): duas teses defendidas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), duas na de Santa Maria (UFSM), uma na de São Carlos (UFSCar), uma na de Juiz de Fora (UFJF), uma na Federal do Espírito Santo (UFES), na de Brasília (UnB), na de Alagoas (UFAL), uma na da Paraíba (UFPB); uma na Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR); e uma na do Ceará (UFC).
Entre as estaduais, identificamos cinco pesquisas (18,18%): uma tese defendida na Universidade Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP – campus de Marília), uma na de Ponta Grossa (UEPG), uma na de Maringá (UEM) e duas na Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Entre as privadas e confessionais, um total de seis teses defendidas (27,27%): três teses na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), uma na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), uma na Universidade Salgado de Oliveira (Universo) e uma na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul).
A análise dessa produção nos levou à classificação dos relatórios em quatro categorias, considerando principalmente o objetivo geral das pesquisas, bem como os métodos adotados pelos autores. Na primeira delas (O PNAIC como uma política pública para a alfabetização), incluímos as teses que tiveram como objetivo principal compreender o PNAIC no contexto mais amplo das políticas educacionais brasileiras no campo da alfabetização e da formação de alfabetizadores. Estes estudos, predominantemente de natureza bibliográfica e documental, correspondem a 22,72% das teses encontradas; são os estudos de Melo (2015), Watanabe (2016), Oliveira (2017), Pereira (2018), Axer (2018) e Rosário (2018).
Na segunda categoria (Sentidos construídos para a formação no PNAIC), incluímos os trabalhos que buscaram compreender – por meio, principalmente, de questionários e/ou entrevistas ou ainda de narrativas biográficas – quais sentidos a inserção no PNAIC possibilitou às professoras alfabetizadoras, sobretudo com a participação no curso de formação continuada. Os objetivos destes estudos giraram em torno de desvelar os sentidos emergentes para o processo de formação (OLIVEIRA, 2018), investigar as apreensões de docentes sobre teoria, prática e reflexão (AFONSO, 2018), identificar as contribuições do Programa para a prática do professor alfabetizador (INACIO, 2017; SOARES, 2017), investigar aspectos do desenvolvimento da formação (BARBOSA, 2017) e de constituição da identidade docente (MONTEZUMA, 2016), além de analisar as opiniões das professoras participantes do programa sobre o PNAIC (GIARDINI, 2016; CABRAL, 2015); ou ainda responder a questionamentos como “em que tempo/ movimento, se ensina e se aprende? Como as políticas públicas são capazes de potencializar-se e transgredir as barreiras tradicionais e as mesmices do fazer pedagógico, ao romper com a simples perpetuação dos estudos coletivos de um discurso posto?” (D’ANDREA, 2016). Esta questão da pesquisadora Crystina Di Santo D’Andrea emergiu do seu próprio processo como formadora no PNAIC. Processo este que parece ter (trans)formado a docente muito positivamente. Estes 11 trabalhos correspondem a 50% dos estudos selecionados.
Três teses foram alocadas na terceira categoria (Concepção de alfabetização nos cadernos do PNAIC), e nos interessam particularmente, pois tomaram os cadernos de formação em língua portuguesa como objetos de reflexão, buscando compreender a concepção de linguagem que sustenta a concepção de alfabetização no programa. Estas teses correspondem aos estudos de Resende (2015), de Costa (2017) e de Camini (2015), perfazendo um total de 13,63% dos estudos.
Por fim, identificamos outros três estudos de Alferes (2017), Costa (2017) e Souza (2018), que também nos são muito caros, uma vez que, na tentativa de compreender os
processos de recontextualização da política em questão, chegaram ao nível micro, ou seja, às salas de aula dos três primeiros anos do Ensino Fundamental e às práticas pedagógicas que aí se estabeleceram. Tais trabalhos compuseram a quarta categoria (Práticas de alfabetização no contexto do PNAIC), também com 13,63% dos estudos.
Para este trabalho de seleção e categorização dos estudos sobre o PNAIC, realizamos a leitura de todos os resumos disponibilizados no sistema da CAPES, a partir da utilização dos dois descritores já mencionados, e criamos um quadro, , no qual organizamos todas as teses por ano de publicação, objetivo geral da pesquisa, instrumentos metodológicos utilizados, principais resultados e uma possível categoria na qual a pesquisa pudesse ser alocada. Os trabalhos que não tinham o PNAIC como eixo central foram excluídos. Numa segunda leitura, dessa vez do relatório como um todo, as pesquisas foram sendo realocadas, considerando-se principalmente as estratégias metodológicas dos pesquisadores e a discussão central dos textos, de modo a constituírem o quadro delineado acima.
Posto isso, passamos agora às reflexões propostas no capítulo que visam apresentar e analisar o PNAIC no quadro das políticas educacionais que ganharam força nos anos 1990, e discutir a concepção de alfabetização defendida pelo Programa.