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3. METODOLOGIA

3.5 Testes de dependência serial dos retornos

3.5.2 Teste Bootstrap-BDS

Um dos testes mais populares de dependência serial não-linear é o teste BDS, assim nomeado em referência aos autores que inicialmente o propuseram (BROCK et al., 1996)). O teste tem como hipótese nula a inexistência de dependência serial não-linear da série

analisada48. O teste é não-paramétrico, portanto não possuindo hipótese alternativa

parametricamente definida.

O procedimento para apurar a estatística do teste BDS se inicia com a filtragem de

qualquer dependência linear da série original analisada (no presente caso, uma série {rt} de

retornos semanais). O procedimento de filtragem aqui utilizado é o de estimação de um modelo

48 Além deste uso, o teste BDS também é bastante popular para verificar se os resíduos de regressões de séries

temporais seguem um processo de ruído branco. Esta utilização ocorre principalmente em modelos de séries de tempo estimadas para previsão. Para uma visão geral do uso dos testes BDS e Ljung-Box com esta finalidade, recomenda-se ao leitor o livro de Tsay (2002).

ARMA(p,q) a partir da série original, como recomendado por Barnett e He (2001). A escolha das ordens p e q estimadas se dá a partir do Critério de Informação de Akaike (doravante AIC),

comumente utilizado para este fim. A série de resíduos do ARMA(p,q) estimado, {et}, é o alvo

do teste. Espera-se que, estando correta a especificação do modelo estimado, a série {et} não

possua qualquer componente de dependência linear.

A partir da série filtrada, procede-se ao teste BDS propriamente dito. Para precisá-

lo, algumas definições prévias são úteis49. A primeira é a probabilidade de que duas observações

distintas da série {et} estejam próximas. Proximidade aqui é definida como estar a uma distância

menor do que ε:

𝑃 = Pr(|𝑒 − 𝑒 | < 𝜀) , 𝑠 ≠ 𝑡 (52)

Defina-se também uma 2-history como um vetor com dois elementos: o primeiro é

um par de observações distintas da série (et, es); e o segundo é um par de elementos do período

anterior ao do primeiro elemento (et-1, es-1). A probabilidade de todos os elementos desta 2-

history estarem próximos entre si é:

𝑃 = Pr(|𝑒 − 𝑒 | < 𝜀, |𝑒 − 𝑒 | < 𝜀) , 𝑠 ≠ 𝑡 (53)

Caso a série {et} seja iid, os eventos contidos em Pa e Pb serão independentes, de

modo que 𝑃 = 𝑃 . Não há aqui perda de generalidade, já que raciocínio análogo é válido para

uma m-history (um vetor com m elementos, {(et,es), (et-1,es-1), ... , (et-m+1,es-m+1)), de modo que

𝑃 = 𝑃 . Logo, espera-se que 𝑃 − 𝑃 = 0. A estimativa da probabilidade que dois vetores de

tamanho m estejam a uma distância menor que ε pode ser feita pelo que se chama de Integral de Correlação, definida como:

𝐶 , (𝜀) = 2

(𝑇 − 𝑚 + 1)(𝑇 − 𝑚) 𝐼 𝑒 , 𝑒 (54)

𝐼 = 1, 𝑠𝑒 𝑒 − 𝑒 < 𝜀

0, 𝑐𝑎𝑠𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟á𝑟𝑖𝑜. (55)

Aqui, T é o tamanho da amostra analisada e m é a dimensão do teste. Cm,T(ε) pode

ser interpretado como a probabilidade de que os pares de observações da m-history analisada

(es-j, et-j) estejam a uma distância menor do que ε entre si. Logo, sob a hipótese nula da série

filtrada ser iid, será verdadeira a equação abaixo:

𝐸 𝐶 , (𝜀) = 𝐸 𝐶 , (𝜀) (56)

de modo análogo à afirmação anterior que 𝑃 = 𝑃 . Brock et al. (1996) propõem uma estatística

para testar a relação da equação (56). Ela possui distribuição normal padrão assintoticamente e é definida como: 𝐵𝐷𝑆 , (𝜀) = √𝑇 − 𝑚 + 1𝐶 , (𝜀) − 𝐶 , (𝜀) 𝜎 , (𝜀) ~ 𝑁(0,1) (57) 𝜎 , (𝜀) = 4 𝑘 (𝜀) + 2 ∑ 𝑘 (𝜀) 𝐶 , (𝜀) + (𝑚 − 1) 𝐶 , (𝜀) − 𝑚 𝑘 (𝜀) 𝐶 , (𝜀) (58) 𝑘 (𝜀) = 6 𝑇(𝑇 − 1)(𝑇 − 2) ℎ (𝑒 , 𝑒 , 𝑒 ) (59) ℎ (𝑖, 𝑗, 𝑘) =1 3[𝐼 (𝑖, 𝑗)𝐼 (𝑗, 𝑘) + 𝐼 (𝑖, 𝑘)𝐼 (𝑘, 𝑗) + 𝐼 (𝑗, 𝑖)𝐼 (𝑖, 𝑘)] (60)

Aqui, 𝜎 , (𝜀) é a estimativa do desvio padrão assintótico de 𝐶 , (𝜀) − 𝐶, (𝜀) .

O teste BDS é bicauldal, o que significa valores de BDSm,T(ε) maiores do que |1,96| indicam rejeição

da hipótese nula a 5%.

A distribuiçao assintótica da estatística de teste, no entanto, pode ser imprecisa para amostras finitas (DE GOOIJER, 2017). Uma alternativa comumente utilizada para calcular o p-valor do teste é utilizar a técnica de bootstrapping para estimar a distribuição da estatística. De Gooijer (2017) descreve o cálculo do p-valor da distribuição com bootstrap em função desta variável:

- Passo 1.1: computar Cm,T,e(ε), para a série {et}.

- Passo 1.2: permutar a série original {et} de modo a obter uma nova série, {ẽt}.

Calcular Cm,T,ẽ(ε) para {ẽt}.

- Passo 1.3: repetir o passo 1.2 mil vezes, de modo a obter uma distribuição bootstrap da estatística de teste.

- Passo 1.4: calcular o p-valor da estatística-teste com base na distribuição obtida no Passo 1.3, da seguinte forma:

𝑝̂ , ( ) =

1 + ∑ 𝐼(𝑒, ẽ)

1001 (61)

𝐼(𝑒, ẽ) = 1, 𝑠𝑒 𝐶 , ,ẽ(𝜀) ≥ 𝐶 , , (𝜀)

0, caso contrário. (62)

I(e,ẽ) pode ser interpretado como a probabilidade do valor do teste BDS estar na região crítica da distribuição do BDS da série permutada. Note que, apesar do teste BDS ser bicaudal, só é necessário determinar se𝐶 , ,ẽ(𝜀) ≥ 𝐶 , , (𝜀) , já que a única incógnita da

estatística teste que se altera sob permutação é 𝐶 , (𝜀) (DE GOOIJER, 2017).

Apesar do teste possuir hipótese alternativa não-paramétrica e possuir bom poder contra uma variedade de alternativas (BROCK et al., 1996), o BDS possui algumas limitações. A primeira é que o resultado do teste é sensível às escolhas arbitrárias de m e ε adotadas. O valor de m está relacionado à ordem do padrão não-iid que se deseja captar com o teste: quanto maior o valor de m, maior a ordem do padrão captado. Valores altos de ε tenderão a classificar todos os pares de pontos analisados como próximos (pela regra da equação (55)), enquanto valores muito baixos tenderão a excluir os pares analisados da categoria de próximos (KOCENDA, 2001).

Neste estudo, a estatística é avaliada para valores de m entre dois e cinco no teste BDS para todo o período analisado, e m=2 para os subperíodos de 104 semanas avaliados em rolling window (ver seção 3.8). Os valores m entre dois a cinco são prática comum na literatura de finanças, e o valor menor utilizado para as subamostras reflete o fato de que a quantidade de m-histories avaliadas diminui conforme aumenta o valor de m, podendo tornar a amostra demasiadamente pequena nestas subamostras. Além disso, o foco no teste BDS é identificar padrões de ordem baixa, que indiquem previsibilidade dos retornos identificável pelos agentes sem dificuldade acentuada. Quanto ao valor ε, o escolhido para este estudo é de um desvio

padrão da distribuição de {et}, como usualmente utilizado em estudos da área de finanças.

Outra limitação do teste está relacionada ao procedimento de filtragem da série original. Presume-se que o modelo ARMA(p,q) estimado capta a dependência linear do

processo gerador teórico da série de retornos {rt}, contudo este processo não é conhecido. Além

disso, não há um único critério dominante para escolha das ordens p e q. Por isso, o filtro do modelo está sujeito a imprecisões em sua estimação. Apesar disso, este procedimento de filtragem da série e o critério de informação utilizado no presente estudo são bastante difundidos na literatura, o que leva a crer que esta questão não deve influir em grande monta na precisão do teste.

Assim, tomando como premissa que o processo de filtragem ARMA(p,q) adotado

capta corretamente dependências lineares do processo gerador teórico de {rt}, e que os valores

de m e ε captam corretamente algum comportamento não-iid do processo gerador teórico da

série de resíduos {et}, as hipóteses nula e alternativa testadas podem ser interpretadas como

segue:

H0: a série de retornos é não-linearmente independente;

Ha: a série de retornos é não-linearmente dependente e/ou não-identicamente

distribuída.

Caso 𝑝̂ , ( ) < 5%, rejeita-se H0. Caso contrário, não se rejeita H0.

3.5.3 Teste de Razão de Variância Automática com wild bootstrapping (WBAVR)