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Teste da privação de água

4. Abordagem diagnóstica da PU/PD

4.4. Exames complementares de diagnóstico

4.4.8. Teste da privação de água

O teste de privação de água é considerado o melhor teste de diagnóstico para diferenciar entre a DIC, a DIN primária e a PD primária (Mulnix et al, 1976; Feldman e Nelson,

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1987; Lewis e Dhein, 1991; Olenick, 1999; Nelson e Couto, 2000; Lunn e James, 2007). Este teste é trabalhoso, é difícil de executar corretamente, é desagradável para o animal, baseia-se no esvaziamento repetido da bexiga e pode causar complicações (desidratação grave, IR e urosepsis) e diagnósticos errados em alguns animais (Pond, 1982; Ramsey e McGrotty, 2002; Peterson e Nichols, 2004; Peterson, 2012). Foi concebido para determinar se a ADH endógena é libertada em resposta à desidratação e se os rins podem responder normalmente ao aumento da sua concentração circulante (Pond, 1982; Ettinger, 2001; Nelson e Couto, 2000; Peterson e Nichols, 2004; Lunn e James, 2007; Schoeman, 2008). Só deve ser realizado quando todas as outras causas de PU/PD tenham sido excluídas, limitando os diagnósticos diferenciais às três doenças acima referidas, caso contrário o resultado do teste será errado ou inconclusivo e a sua utilização poderá por em risco a vida do animal (Ramsey e McGrotty, 2002; Peterson e Nichols, 2004; Schoeman, 2008). Animais desidratados, azotémicos, hipercalcémicos ou com sinais de patologia sistémica não devem realizar este teste para que não se comprometa ainda mais a função renal (Hardy, 1982; Pond, 1982; Behrend, 2005; Thomason e Hoover, 2009). A duração deste teste é variável, podendo ultrapassar as 24 horas (Hardy, 1982; Nelson e Couto, 2000; Behrend, 2005; Peterson e Nichols, 2004). Este teste deve ser realizado em 3 etapas consecutivas (Nichols e Hohenhaus, 1994; Vonderen et al, 1999; Barsanti et al, 2000; Nichols, 2001; Feldman e Nelson, 2004; Thomason e Hoover, 2009):

1. Restrição gradual de água – esta etapa é realizada para minimizar os efeitos do “washout” medular renal (PU/PD prolongada) no teste. Este fenómeno prejudica a capacidade dos túbulos renais para concentrar a urina mesmo na presença de concentrações circulantes elevadas de ADH e pode afetar a capacidade do teste de privação de água para diferenciar as causas de PU/PD. O proprietário reduz a quantidade de água fornecida ao animal 3 dias antes da realização do teste (dia 1: 120-150 ml/kg dividido em 6 a 8 porções; dia 2: 80-100 ml/kg; dia 3: 60-80 ml/kg), alimentando em simultâneo o animal com ração seca e controlando diariamente o seu peso.

2. Privação abrupta de água – o objetivo desta etapa é alcançar a secreção máxima de ADH e a concentração máxima de urina (ocorre com a perda de 3-5% do peso corporal). É realizada em ambiente hospitalar. Para iniciar o teste deve-se

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esvaziar completamente a bexiga do animal (por algaliação), a densidade e o peso corporal do animal são medidos e toda a água e comida são retirados. A cada 2 horas, a bexiga é esvaziada e a densidade urinária, o peso corporal, os níveis de ureia e creatinina, as mucosas e a prega de pele são avaliados (monitorização da desidratação). É administrada antibioterapia profilática para reduzir os riscos de infeção associados à baixa DU e à algaliação. Esta etapa decorre até que se atinja uma perda de peso corporal de 5%, valores de densidade urinária superiores a 1,030-1,035, valores de osmolaridade sérica de 320 mOsm/kg ou caso o animal fique desidratado, azotémico, hipercalcémico ou com sinais sistémicos de doença.

3. Teste de resposta à ADH exógena – esta etapa só ocorre se o animal perdeu mais de 5% do peso corporal inicial após a privação de água, mas a sua densidade urinária permanece abaixo de 1,015. Nesta fase deve ser fornecida água nas quantidades de manutenção (60-80 ml/kg/dia) de forma a minimizar o risco de hiperhidratação e indução de edema cerebral, aquando da administração da desmopressina. Após a administração endovenosa de desmopressina na dose de 10-20 µg, deve-se avaliar a densidade urinária, a cada 2 horas, durante 8 a 10 horas e posteriormente às 12 e às 24 horas. A sua resposta máxima ocorre, geralmente entre as 4 e as 8 horas após administração, mas pode demorar até cerca de 24 horas em alguns animais. A preparação parenteral para administração endovenosa (4 µg/ml) é cara, quando comparada com a preparação nasal (100 µg/ml), pelo que esta pode ser uma alternativa eficaz. Como a preparação nasal não é estéril deve passar através de um filtro bacteriostático e deve ser transferida para um frasco estéril antes de ser administrada endovenosamente.

Os animais com DIC completa ou com DIN primária ficam desidratados em 3 a 10 horas, após o início do teste, eles não conseguem concentrar urina acima de uma densidade urinária de 1,007, mesmo após a desidratação (Joles e Mulnix, 1977; Hardy e Osborne, 1979; Boove, 1984; Feldman e Nelson, 1989; Olenick, 1999; Nelson e Couto, 2000). Pelo contrário, animais com DIC parcial ou PD primária podem demorar muito mais tempo (1 a 4 dias) a ficar desidratados (Nelson e Couto, 2000; Peterson e Nichols, 2004). Os animais com DIC parcial podem concentrar a urina acima de uma densidade urinária de 1,008 após a desidratação, mas a sua

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densidade permanece abaixo de 1,020 (Hardy, 1982; Nelson e Couto, 2000; Peterson e Nichols, 2004). Por outro lado animais com PD primária podem, em geral, aumentar a sua densidade urinária acima de 1,030, no fim deste teste e não é preciso recorrer a mais nenhuma investigação (Boove, 1984; Feldman e Nelson, 1989; Lewis e Dhein, 1991; Olenick, 1999; Ramsey e McGrotty, 2002; Schoeman, 2008).

A interpretação dos resultados da administração de ADH exógena está dependente de se atingir a densidade urinária máxima, considerando-se uma resposta positiva ao teste, o aumento da densidade e permite confirmar o diagnóstico de défice parcial ou total da ADH (Hardy, 1982; Peterson e Nichols, 2004). Os animais saudáveis produzem uma urina com densidade urinária entre 1,012 e 1,033 (Hardy, 1982; Pond, 1982; Ramsey e McGrotty, 2002). Os animais com DIC têm uma resposta positiva à desmopressina (a densidade urinária aumenta para valores de 1,010- 1,015) (Peterson e Nichols, 2004; Behrend, 2005; Schoeman, 2008; Thomason e Hoover, 2009). Os animais com DIN primária são incapazes de concentrar a urina após a restrição de água ou após a administração da desmopressina (Cohen e Post, 2002; Ramsey e McGrotty, 2002; Peterson e Nichols, 2004; Behrend, 2005; Schoeman, 2008; Thomason e Hoover, 2009).

A tabela 3 indica como se podem diferenciar a DIC (completa e parcial), da DIN primária e da PD primária.

Tabela 3. Diferenciação entre as 3 causas menos frequentes de PU/PD (adaptado de Peterson e

Nichols, 2004).

Doença Intervalo de densidade urinária

Densidade urinária após o teste de privação de água

Densidade urinária após a administração da desmopressina DIC completa 1,001-1,007 <1,008 >1,010-1,015 DIC parcial 1,001-1,007 1,008-1,020 >1,015 DIN

primária 1,001-1,007 <1,008 Não se altera

PD

primária 1,001-1,020 >1,030 Não há aumento adicional

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