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TÉCNICA SLIT SCAN EXPLORAÇÃO DOS PRINCÍPIOS OBTIDOS COM O DESKTOP SCANNER

5.1 Teste à técnica Slit Scan

A técnica encontrada, que serviu de ponto de partida na procura de potenciar os resultados imagéticos próximos aos obtidos pelo desktop scanner, foi a técnica

slit scan. O objectivo pretendido com a utilização desta técnica não foi apenas a

experimentação da tecnologia slit scan, mas a adaptação do seu funcionamento de forma a aproximá-lo às imagens obtidas com o desktop scanner. Para tal, os princípios desta técnica foram adaptados no sentido de ultrapassar as condicionantes detectadas no trabalho executado com o desktop scanner, que implicavam restrições ao nível do tempo máximo que o registo poderia ter, o que condicionava a extensão total da imagem.

Com a readaptação dos princípios da técnica slit scan conseguimos controlar a duração temporal que um registo podia ter, ultrapassando assim a limitação da extensão máxima da imagem: uma limitação dos registos feitos com o desktop

scanner. Contudo, esta técnica usada para transpor o problema da continuidade

da imagem, evidenciou características na relação espácio-temporal diferentes daquelas encontradas na utilização do desktop scanner, resultado de uma lógica de funcionamento própria. Ou seja, embora as duas técnicas sejam semelhantes nos princípios estruturais de funcionamento, mantêm características próprias que complementam o nosso estudo da relação espaço-tempo na imagem fixa.

5.2 O funcionamento

Esta técnica, apesar da sua designação, não recorre a um dispositivo scanner. Todavia, é um processo de captação de imagem fotográfica próximo do processo de construção visual utilizado em dispositivos como o desktop scanner. Esta proximidade na lógica de funcionamento foi o ponto chave para a sua exploração. A técnica slit scan consiste, na fotografia analógica, em expor a película fotográfica por uma estreita abertura vertical que sobre ela desliza, ao contrário do funcionamento convencional do obturador, que expõe ao mesmo tempo toda a superfície da película fotográfica à luz exterior. No campo digital é obtida pela extracção de tiras de um píxel retiradas de uma sequência de frames de um vídeo, que serão justapostas para criar uma nova imagem. Esta tecnologia, embora ainda subjugada à necessidade de uma câmara fotográfica ou de vídeo para captar a imagem, subverte as suas lógicas de funcionamento tradicionais, levantando questões em termos de representação perspéctica e relação espácio-temporal na imagem fixa, que importou testar pela proximidade à temática que investigámos.

Na nossa investigação explorámos a vertente digital da técnica slit scan. A obtenção das imagens com esta técnica implicou o recurso a uma câmara de vídeo, um computador e a utilização da linguagem de programação open

source118, Processing.

- Câmaras de vídeo utilizadas:

Canon MV6i MC Digital Video Camcorder (Mini DV);

118 Open source: [Informática] software de utilização livre, cuja licença não é cobrada e cujo código fonte é disponibilizado, de forma gratuita, pelo autor.

Canon Legria HF S200 High Definition Digital Camcorder (HD); Canon Vixia HV30 (HDV).

- Computador utilizado:

Apple MacBook Pro (2.4 GHz Intel Core 2 Duo) - Versão do Processing utilizada:

Processing 1.5.1.

A escolha da vertente digital da técnica slit scan justificou-se pela possibilidade de, através da linguagem de programação Processing, conseguirmos exercer um maior controlo sobre as variáveis envolvidas na captação da imagem, definindo da forma desejada o modo de funcionamento do dispositivo. É o código escrito que define a forma como o input119 visual captado pela câmara de vídeo será processado. Isto permite uma maior flexibilidade na alteração do funcionamento e modo de captura do dispositivo para os valores pretendidos, de modo a alcançar a lógica de captação de imagem e leitura espacial desejadas. A câmara de vídeo, na sua utilização normal, capta e regista as imagens sem estar ligada a nenhum outro dispositivo. As imagens são processadas de acordo com a forma como a câmara está programada internamente para operar. Neste teste à tecnologia de construção de imagem slit scan, a câmara de filmar é ligada a um computador. A câmara servirá apenas de lente, sendo a lógica de construção das imagens feita no computador, de acordo com o que é escrito no código de programação que controla o input visual registado pela câmara de filmar.

119 Input: [Informática] conjunto de informações que chegam a um sistema (organismo, mecanismo) e que este vai transformar em informações de saída.

Com esta combinação de dispositivos: câmara de vídeo a servir de lente, e computador com a linguagem Processing a definir a lógica de construção das imagens, consideramos que estamos perante um dispositivo diferente, resultado da soma das partes que o integram. No entanto, a designação de aparelho ou sistema poderá ser mais coerente com a combinação de dispositivos que este sistema implica. Resultado desta combinação híbrida de dispositivos, a câmara de vídeo produz uma imagem fixa, prosseguindo o objectivo desta investigação na exploração da sua dimensão espaço-tempo. A câmara está a ser usada apenas como lente numa lógica diferente de funcionamento daquela que é usada na sua utilização convencional. No seu funcionamento tradicional a câmara de vídeo capta imagem a imagem durante um período de tempo. Na técnica agora usada é aproveitada a leitura da câmara, mas apenas do espaço equivalente a uma tira vertical com um píxel de largura, ao contrário do funcionamento normal, em que as imagens são reproduzidas de forma sequencial, uma após a outra, criando a ilusão da imagem em movimento. Nas imagens aqui criadas o resultado é uma imagem fixa, composta pelo processo de justaposição sequencial das tiras de um píxel de largura, captadas pela câmara e montadas pelo computador.

Na imagem fixa produzida pela câmara de vídeo a noção de tempo continua presente, não é perdida. Esta é composta por tiras verticais de um píxel de largura que são justapostas, da esquerda para a direita, e cada uma dessas tiras representa um momento no tempo. Na imagem final, resultado desta construção temporal, o momento da tira mais à esquerda está sempre no passado relativamente às tiras que estão à sua direita. O tempo não é sobreposto, mas sim composto de forma sequencial. As imagens são como uma timeline onde a cada tira vertical da imagem corresponde uma fracção de tempo. Esta lógica sequencial e contínua de construção das imagens organiza-se

segundo o mesmo conceito de timeline que avançámos atrás para as construções imagéticas obtidas com o desktop scanner, no subcapítulo 4.2.2.

O ponto de partida para o código utilizado no teste à técnica slit scan foi adaptado a partir do código partilhado por Golan Levin, na sua página An

Informal Catalogue of Slit-Scan Video Artworks and Research120. Partindo desse

código como base, este foi modificado de forma a obtermos as características específicas pretendidas que testámos com esta técnica na nossa investigação, aproximando-o do funcionamento de um desktop scanner. Mudando os parâmetros do comprimento da imagem permitimos também o controlo do tempo de captação do registo. Este é o código por nós modificado e que foi utilizado para a captação das imagens:

import processing.video.*; Capture C; int X=0; void setup(){ C = new Capture(this, 320,240); size(4000,500); } void draw() { if(C.available()) { C.read();

copy(C, (C.width/2),0,1,C.height, (X++%width),0,1,height); }

120 Levin, Golan. An Informal Catalogue of Slit-Scan Video Artworks and Research. 2005. Em: http://www.flong.com/ texts/lists/slit_scan/

}

void keyPressed() { noLoop();

save(“imagem.tif ”); }

5.3 Adaptação da técnica slit scan para a potenciação dos princípios