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4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

4.2. A APTIDÃO FÍSICA ENQUANTO COMPONENTE DOS PROGRAMAS

4.2.2. Os Testes Fit Escola

Apesar de opiniões divergentes e de muita discussão em torno deste tema, apliquei todos os testes no primeiro período, com o objetivo de perceber os níveis de condição física dos alunos. Nesta fase do estágio a minha opinião acerca dos testes não era positiva, tal como é possível verificar no seguinte excerto:

“A minha visão diverge daquela que é apresentada precisamente nos testes que são realizados. Na minha opinião estes testes não são credíveis, pois são compostos por exercícios fechados e demasiado específicos, sem pertinência para os jovens. O nosso objetivo é que eles, de facto, “se mexam” com qualidade como um todo e não apenas com o objetivo de estarem dentro dos padrões normais ao nível de tempos cronometrados ou flexibilidade por medida. No mundo do desporto ou da atividade física sabemos que cada corpo é diferente do outro e que um corpo funcional é mais saudável que um corpo com

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muita força, então porquê avaliar os abdominais ou as flexões desta forma? Pessoalmente concordo que seria mais interessante, tanto para os professores como para os alunos, uma espécie de treinos funcionais para testar os níveis de saúde dos nossos jovens.” - Reflexão Semanal nº1, 26 de Setembro de 2018

Esta ideia inicial era baseada em opiniões que tinham origem em treinos que realizei em ginásios. Tal como afirmam Garganta e Santos (2015), os exercícios lá realizados e prescritos são demasiado específicos e só repercutem efeitos se forem repetidos várias vezes. Apesar de ainda concordar com a proposta que fiz aquando da reflexão anterior, consigo agora ver “o outro lado”, tal como me desafiei no início do estágio, ao conversar com a PC sobre estes testes:

“Tal como a Professora Cooperante referiu “A forma e a metodologia alteram os (pré)conceitos”, então o meu desafio neste tema será precisamente tornar o “Fit Escola” algo interessante para todos e que realmente sirva para mim e para os meus alunos. Para isto vou procurar metodologias motivadoras e, tal como a PC sugeriu, não condensar estes testes em uma ou duas aulas.” - Reflexão Semanal nº1, 26 de Setembro de 2018

A compreensão desse “outro lado” consistiu em aceitar os testes tal como eles são propostos e aproveitá-los o máximo possível. Partilhar os resultados com os alunos e comparar resultados foram estratégias utilizadas para os motivar e incentivar para a realização dos testes. Considero que a comparação de resultados é o fator que dá mais importância a estes testes e que, no fundo, os legitima. A comparação poderá ser apresentada aos alunos ou servir apenas para que o professor faça uma pequena análise e pressupõe alterações nos padrões de aptidão física traduzindo, em parte, a qualidade do trabalho realizado ao longo do ano.

No entanto, considero que um trabalho mais consistente e com mais tempo, poderia ter-se refletido em melhores resultados, não só ao nível da condição física, mas também da motivação. Com duas aulas de 90 minutos por semana (um total de 180 minutos semanais), era possível ter dedicado, por exemplo, cerca 45 minutos semanais ou quinzenais à condição física. Desta forma poderia, não só melhorar a aptidão física dos alunos, como também aumentar os seus conhecimentos ao nível do treino da condição física e da cultura desportiva. Claro que esta estratégia só poderá ser adotada no futuro caso a escola o permita, pois existe toda uma gestão de material e de espaços que é naturalmente condicionante de algumas planificações.

Além do fator motivacional, estes testes representam uma mais valia na melhoria da qualidade de vida e na sensibilização para estilos de vida saudáveis, que incluem a prática de atividade física. Durante o Estágio percebi que, naquela escola, quase nenhum professor explora as potencialidades dos testes Fit Escola, tais como a criação de diversos tipos de relatórios que informam e aconselham os alunos e que podem, inclusive, ser enviados para as famílias. O site permite ainda que o aluno tenha um papel ativo na melhoria da sua qualidade de vida e da saúde, através do registo diário das suas atividades, hábitos de vida ou até mesmo, que procure aconselhamento e ideias para melhorar o seu estilo de vida. Esta é uma função que vai além do trabalho realizado na escola e que poderia envolver e comprometer mais os alunos com os seus próprios resultados. Poderia, e deveria partir, não só do professor de EF, como também do Diretor de Turma esta sensibilização, principalmente nas turmas com níveis de sedentarismo mais elevados.

Sem querer desvalorizar as potencialidades destes testes considero importante refletir acerca da validade de alguns deles. Garganta e Santos (2015) afirmam que alguns dos testes não fazem sentido, tais como a milha, as flexões e extensões de braços ou o “senta e alcança”, utilizados para avaliar, respetivamente, a resistência aeróbia, a força dos membros superiores e a flexibilidade. Pelo contrário, eu considero que estes sejam os testes mais motivadores para os alunos. Acredito que os níveis de resistência aeróbia e de flexibilidade sejam aqueles que mais motivam os alunos, pois são dois grandes

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desafios em todas as faixas etárias. Tendo em conta o desafio que estes testes representam, acredito que os alunos se sintam mais motivados para a melhoria destas capacidades. No entanto, é essencial que o professor relembre a sua importância e potencie o empenho e a qualidade do trabalho realizado durante o ano letivo, considerando que estes fatores terão uma influência direta e positiva na melhoria das capacidades dos alunos. Penso que este é um grande passo e uma excelente ferramenta de trabalho para todos os professores de EF, promovendo e incentivando a participação empenhada nas aulas e na prática de exercício físico.

No que concerne ao teste da milha, Garganta e Santos (2015) entendem que os jovens que não praticam atletismo não conhecem o seu ritmo de corrida, pelo que o teste não responde aquilo a que se propõe. No entanto, para mim, este é dos testes mais motivantes, desde que bem orientado. Tal como reforçam Rolim e Garcia (2008), a aprendizagem da técnica de corrida depende da correta atitude do professor que deve enquadrar a corrida, e evitar utilizá-la como ato punitivo ou como um “simples” aquecimento. Neste sentido, se as dificuldades dos jovens residem na continuidade de esforço e no reconhecimento do ritmo, é precisamente nesses aspetos que devemos investir.

No que se refere ao teste das flexões e extensões de braços, Garganta e Santos (2015) afirmam que o teste não é adequado a crianças tendo em conta as suas exigências ao nível da musculatura do tronco. Apesar de concordar com esta perspetiva, pois ao aplicar o teste aos alunos do 6º ano percebi que, de facto, é demasiado exigente, este é um teste perfeitamente compatível com os alunos do ensino secundário. Esta comparação poderá remeter para a possibilidade de existirem diversas baterias de testes, tendo em conta as idades em que seriam aplicados e não, simplesmente, o número de repetições.

Outro teste que considero motivador para os alunos é o que avalia a flexibilidade dos membros inferiores (“senta e alcança”). No entanto, ao analisar este teste Garganta e Santos (2015) comprovam que, na verdade, este avalia a força, pois a flexibilidade não é uma ação voluntária.

A realização destes testes foi o ponto de partida para a construção de um Planeamento Anual de Aptidão Física (anexo 3), que visou a melhoria das diferentes capacidades nos alunos da turma residente. Este planeamento foi construído com base nas caraterísticas dos alunos, da escola e ainda das orientações presentes nos Programas Nacionais de Educação Física. Foram definidos diversos exercícios com o peso do próprio corpo e, até mesmo, com alguns materiais disponíveis na escola tais como kettlebells e TRX. Para além da melhoria da condição física dos alunos, um dos objetivos foi também gerir os objetivos da aula conforme os critérios transdisciplinares (Habilidades Motoras, Condição Física e Fisiologia do Treino, Cultura Desportiva e Conceitos Psicossociais).