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4 A MOTIVAÇÃO DOS MILITARES

5.1 TIPO DE PESQUISA

Esta pesquisa utilizou a abordagem qualitativa de coleta, análise, interpretação e redação do relatório dos dados. Entende-se que a pesquisa qualitativa é um meio para explorar e compreender o significado que os indivíduos ou os grupos atribuem a um problema social ou humano. Se um conceito de fenômeno precisa ser melhor entendido, porque pouca pesquisa foi realizada a respeito, se uma determiada população de pesquisa foi pouco estudada e, portanto, o pesquisador precisa ouvir os participantes e desenvolver um entendimento baseado nas ideias deles, então essa pesquisa merece uma abordagem qualitativa (CRESWELL, 2010).

Na pesquisa qualitativa, a intenção é descrever o conjunto complexo de fatores que envolvem o fenômeno central e apresentar as perspectivas ou os significados variados dos participantes. Trata-se de uma pesquisa interpretativa, com o pesquisador tipicamente envolvido em uma experiência sustentada e intensiva com os participantes. Com essas preocupações o pesquisador deve identificar explícita e reflexivamente seus vieses, valores e origens pessoais, tais como gênero, história, cultura e status socio-econômico que podem moldar suas interpretações durante o estudo.

“A pesquisa qualitativa tem historicamente sido mais utilizada em alguns campos específicos de investigação nas ciências sociais, notadamente na antropologia, na história e na ciência política” (VIEIRA, 2004, p. 17). Porém, tem crescido a utilização das pesquisas qualitativas em disciplinas básicas aplicadas à administração em geral e aos estudos organizacionais em particular, como a sociologia, a psicologia, a linguistica, entre outras.

A relação entre o pesquisador e o objeto de estudo é essencial ao processo de construção do conhecimento qualitativo, uma vez que além de coletar os dados, o pesquisador deve construir sentidos diferenciados ao material coletado. Portanto, rejeita-se a compreensão de que os dados falam por si só. Outro aspecto da pesquisa qualitativa é que a subjetividade e a afetividade não são consideradas fontes de erro. O pesquisador se envolve no processo de

construção do conhecimento, e o mito da neutralidade científica e do controle em relação aos fenômenos estudados é questionado e considerado irreal. (MADUREIRA; BRANCO, 2001).

Sievers (1990) argumenta que as teorias de motivação buscam os motivos que influenciam o comportamento das pessoas, procurando estabelecer uma relação causal entre motivos e comportamento.

A opção epistemo-metodológica de uma pesquisa está intrinsecamente relacionada à forma como o autor constrói sua trajetória e sua identidade como pesquisador social (SCHWANDT, 2000). Nesse sentido, Vieira e Caldas (2006) afirmam que os pesquisadores não são neutros, pois têm uma posição e percepção do mundo, da teoria e do campo, desenvolvidas a partir de suas condições pessoais e sociais. Assim sendo, pode-se afirmar que esta pesquisa possui caráter pós-positivista, pois é esta epistemologia que o pesquisador adota. Considera-se a epistemologia como uma orientação geral sobre o mundo e sobre a natureza da pesquisa defendidas por um pesquisador (CRESWELL, 2010).

A denominação de epistemologia pós-positivista refere-se a um pensamento posterior à epistemologia positivista, desafiando a noção tradicional da verdade absoluta do conhecimento e reconhecendo que não se pode ser “positivo” sobre declarações de conhecimento quando se estuda o comportamento e as ações dos seres humanos. A epistemologia pós-positivista ganhou corpo no século XX, com as obras de Karl Popper, Thomas Kuhn, Bachelard, Piaget, entre outros.

O pós-positivismo defende uma filosofia determinística, na qual as causas provavelmente determinam os efeitos ou os resultados. Assim, os problemas estudados pelos pós-positivistas refletem a necessidade de identificar e de avaliar as causas que influenciam os resultados, como aquelas encontradas nos experimentos. É também reducionista, pois a intenção é reduzir as ideias a um conjunto pequeno e distinto a serem testadas, como as variáveis que compreendem as suposições da pesquisa. No método científico, a abordagem da pesquisa aceita pelos pós-positivistas, um indivíduo inicia com uma teoria, coleta os dados que a apoiam ou refutam, e depois faz as revisões necessárias (CRESWELL, 2010). Um dos pensadores considerados por muitos como pós-positivista foi Karl Popper. Sua investida na falsificação é uma crítica à ideia de verificabilidade do positivismo lógico.

A pesquisa utilizou a abordagem qualitativa também pelo fato de que contemplou a subjetividade, a descoberta, a valorização da visão de mundo dos sujeitos (VERGARA, 2005). Para isso, a pesquisa de campo utilizou entrevistas, que permitiram ouvir a visão dos sujeitos da pesquisa e acrescentar categorias de análise. É qualitativa também pelo fato de que foi intencional a seleção da amostra, isto é, a intensão foi entrevistar os militares do Exército

Brasileiro com pelo menos quinze anos de serviço e que pertençam aos postos de coronel, tenente-coronel, major, capitão, subtenentes e sargentos. E ainda, pelo fato de que a pesquisa fundamenta-se principalmente em análises qualitativas, caracterizado, principalmente, por garantir, segundo Vieira (2004), maior riqueza de dados e permitir ver o fenômeno na sua totalidade. Durante a análise dos dados foi valorizado o que é significativo, relevante, o que pode não ser necessariamente frequente no texto. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas e tratadas por meio de análises de conteúdo.

Mais recentemente, uma série de estudos têm usado uma abordagem metodológica qualitativa, a fim de examinar os fatores associados à motivação intrínseca em ambiente de classe de educação física. (HASSANDRA, 2003).

A pesquisa qualitativa considera o ambiente como fonte direta de dados e o pesquisador como elemento fundamental, uma vez que valoriza o significado que as pessoas dão às coisas e à vida (GODOY, 1995). Por suas características, os métodos qualitativos têm sido bastante adequados em estudos sobre o ambiente organizacional (NEVES, 1996).

Segundo Vergara (2004), seguindo os critérios de classificação de pesquisas científicas, a tipologia da presente pesquisa pode ser definida quanto aos fins a aos meios como:

a. quanto aos fins, trata-se de uma pesquisa descritiva e explicativa. Descritiva porque expõe características tanto do processo motivacional, como dos militares do Exército Brasileiro, uma vez que estes pertencem a uma organização pública fortemente hierarquizada. A pesquisa descritiva serve de base para a pesquisa explicativa. Explicativa porque visa esclarecer quais são os fatores que influenciam a motivação das pessoas que trabalham nas organizações públicas fortemente hierarquizadas, contribuindo para a obtenção de uma gestão de pessoas mais eficaz, onde as pessoas possam ter qualidade de vida, satisfação e muita motivação.

b. quanto aos meios, é uma pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Bibliográfica, porque, por meio do estudo de publicações em geral, como livros, revistas e periódicos especializados, buscou-se fundamentação teórica para subsidiar a identificação dos principais fatores de motivação para o trabalho das pessoas que trabalham nas organizações públicas fortemente hierarquizadas. Documental, porque buscou-se estudar documentos do Exército que tratam de motivação de pessoas e liderança militar. De campo, porque buscou-se validar empiricamente a tese, recorrendo-se a estudos qualitativos com coleta de dados junto a militares nas organizações públicas fortemente hierarquizadas do Exército Brasileiro.

Empregou-se, ainda, nesta pesquisa, a estratégia da triangulação de dados qualitativos, com a combinação de diferentes métodos de coleta de dados (entrevistas, observação, notas de campo, e documentos) e também a triangulação de teorias, com o emprego de 18 (dezoito) teorias de motivação, que se complementam e buscam mostrar todos os ângulos de observação do mesmo construto: motivação de pessoas.

A origem do conceito de “triangulação” não vem das ciências sociais e humanas, mas sim das ciências militares. Denzin e Lincoln (2000) afirmam que em ciências sociais a: [...] triangulação não é uma ferramenta ou uma estratégia de validação, é uma alternativa à validação. A combinação de diferentes perspectivas metodológicas, diversos materiais empíricos e a participação de vários investigadores num só estudo devem ser vistas como uma estratégia para acrescentar rigor, amplitude, complexidade, riqueza, e profundidade a qualquer investigação (DENZIN; LINCOLN, 2000).

No final da década de 70, Denzin (1978) identificou quatro tipos de triangulação: triangulação de dados, triangulação do investigador, triangulação da teoria, e triangulação metodológica. Segundo aquele autor, a triangulação de dados significa coletar dados em diferentes períodos e de fontes distintas de modo a obter uma descrição mais rica e detalhada dos fenômenos, o que foi feito nesta pesquisa, ao utilizar-se de pesquisa bibliográfica e documental ampla e abrangente, em inúmeras fontes diferentes, mormente livros e artigos acadêmicos.

A triangulação teórica refere-se à possibilidade de o investigador recorrer a múltiplas teorias para interpretar um mesmo conjunto de dados. Ela foi posta em prática, nesta pesquisa, com o uso de 18 (dezoito) teorias de motivação.

5.1.1 Validade e confiabilidade da pesquisa

Segundo Cresweel (2010, p. 224), “a validade, na pesquisa qualitativa, não carrega as mesmas conotações da pesquisa quantitativa, nem é companheira da confiabilidade (exame da estabilidade ou consistência das respostas) nem da generalização (a validade externa da aplicação dos resultados a novos locais, pessoas ou amostras)”.

A validade qualitativa significa que o pesquisador verifica a precisão dos resultados empregando alguns procedimentos, enquanto que a confiabilidade qualitativa indica que a abordagem do pesquisador é consistente entre diferentes pesquisadores e diferentes projetos (GIBBS, 2007).

Este trabalho utilizou 18 (dezoito) teorias de motivação, o que possibilitou observar o construto motivação por diversos ângulos, facilitanto a confecção de um roteiro de pesquisa consistente e amparado pelas teorias, o que aumenta a confiabilidade da pesquisa.

Para garantir a confiabilidade desta pesquisa, foram adotadas as seguintes medidas: a. Todos os procedimentos e passos dos estudos foram documentados;

b. As transcrições foram verificadas com cuidado para assegurar que elas não apresentassem erros graves; e

c. Foram certificados de que não houve desvio na definição dos códigos, ou alguma mudança de significado durante o processo de codificação. Isso foi feito comparando- se constantemente os dados com os códigos e fazendo anotações sobre os códigos e suas definições.

A validade é um dos pontos fortes da pesquisa qualitativa, e se baseia na determinação de que os resultados devem ser precisos do ponto de vista do pesquisador, do participante ou dos leitores de um relato (CRESWELL, 2010).