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CAPÍTULO 5 – PROPOSTA DE CONDUÇÃO DO ESTUDO

5.1 Tipo de Estudo e Etapas da Pesquisa

Este estudo caracteriza-se como sendo teórico-empírico. Em função do tipo de condução epistemológica e metodológica, a pesquisa aqui desenvolvida é predominantemente qualitativa. A ênfase qualitativa, além de ser uma opção do pesquisador, justifica-se, segundo Richardson (1989), pela natureza e complexidade do tema / problema de pesquisa, pelo nível de profundidade que o estudo requer e pelo tipo de observações, informações e análises necessárias para as respostas às questões de pesquisa.

Segundo Roesch (1996), as etapas de uma pesquisa implicam realizar escolhas a todo o momento. Optou-se, assim, pelas etapas representadas na figura 1 – Estrutura do Trabalho. O conjunto destas etapas da pesquisa, muitas vezes, se confundiu com a própria construção do Modelo de Gestão Organizacional Estratégica para o Desenvolvimento Sustentável que se formulou.

A primeira etapa da pesquisa iniciou-se pelos estudos teóricos e empíricos sobre gestão organizacional estratégica, surgida da aplicação do planejamento estratégico participativo (PEP) e do planejamento para o desenvolvimento sustentável, originado da experiência com esta própria abordagem, ambos realizados no Brasil. Limitou-se a aprofundar quatro eixos norteadores – gestão organizacional, arranjos institucionais, espaço local e dimensões de sustentabilidade.

Com base nesses estudos, surgiu uma proposição preliminar de um Modelo de Gestão Organizacional Estratégica para o Desenvolvimento Sustentável (SiGOS). Num primeiro momento, pesquisaram-se referências bibliográficas internacionais sobre os dois grandes temas de interesse – gestão organizacional estratégica e planejamento para o desenvolvimento sustentável -, no estágio de três meses realizado do Centre de Recherches sur le Brésil Contemporain (CRBC), na L’École des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS), sob a orientação do pesquisador Ignacy Sachs, já referido anteriormente.

Os principais estudos internacionais selecionados pertencem aos seguintes autores: Bertrand (1995), Etzioni (1993), Friedmann (1992), Godard et al. (1987), Hamel (1996), Jolivet e Reboul (1992), Katzench e Smith (1994), Midler (1995), Mintzberg (1989 e 1996), Nonaka e Takeuchi (1995), Porter (1996), Ostrom (1990), Raulet-Croset (1995), Sachs (1995) e Schiray (1986).

Devido ao curto período de estágio e à dificuldade de encontrar experiências empíricas que pudessem corroborar com o aperfeiçoamento do modelo SiGOS, não se conseguiu avançar como se desejava numa proposta mais elaborada do mesmo. Entretanto, houve possibilidade de melhorar as inter-relações e detalhamento dos quatro elementos do modelo (até então descritivas), e inclusive elaborar um primeiro roteiro de coleta de dados21 sobre processos de gestão organizacional estratégica para o desenvolvimento sustentável.

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Com esse primeiro roteiro, reconstruiu-se parcialmente uma experiência internacional, aliás, muito divulgada, intitulada Projet de Recherche Agriculture Environnement sur le plateau de Vittel, AGREV VITTEL - França. Segundo Raulet-Croset (1995), Teixeira e Deffontaines22, o citado Projeto iniciou com o objetivo de reduzir a infiltração, nos lençóis d’água, de nitratos oriundos de atividades agrícolas de uma comunidade local. Uma organização privada com atividades de captação, tratamento e distribuição de água mineral, a VITTEL do grupo NESTLÉ subsidiou programas de agricultura sustentável desta localidade23.

Duas outras experiências, relevantes internacionalmente, também contribuíram indiretamente para melhorar o até então modelo preliminar, embora os seus processos de gestão não puderam ser reconstruídos sequer parcialmente, sobretudo por tratarem de espaços territoriais muito abrangentes.

A primeira foi a experiência do Estado do Kerala (India) que, segundo Lages24, conseguiu transformar radicalmente os indicadores sociais daquele Estado indiano, bastante desfavoráveis à época de sua criação (1956), apesar de ocupar o segundo lugar em densidade demográfica no país.

A segunda experiência foi o Projet de Polítique Nationale de Madagascar (África) de Gestion Locale de Ressources Renouvelables. Segundo Weber25, este projeto teve o objetivo de conscientizar a população e dar-lhe posse dos direitos exclusivos de controle de acesso, da gestão e da valorização dos recursos renováveis do país, abrangendo 11.800 comunidades locais, mediante um contrato com o governo federal que estipulava os seus direitos e suas obrigações.

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Entrevistas realizadas em novembro/dezembro de 1996, em Paris. Olívio A. Teixeira é professor da Universidade Federal da Paraíba e Doutor em Economia Social pela EHESS. E J. P. Deffontaines, é pesquisador do Institut National de la Recherche Agronomìque (INRA) – Systèmes Agraires et Développement (SAD).

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Como já mencionado, em decorrência do tempo restrito a três meses e dos parcos recursos disponíveis, apesar do projeto ter sido aprovado pelo CNPq (não houve recursos sequer para pagar a bolsa de estudo), não se conseguiu entrevistar outros pesquisadores eminentes além de Teixeira e de Deffontaines.

24 Entrevista realizada em 5 de dezembro de 1996, em Paris. Vinícius N. Lages é professor da Universidade Federal da Paraíba e Doutor em Economia Social pela EHESS.

25 Entrevista realizada em 15 de outubro de 1996, em Paris. Jacques Weber é professor e pesquisador do CIRAD/GREEN.

Num segundo momento, retornando ao Brasil com uma proposta do SiGOS ainda incipiente, firmaram-se convênios / parcerias com órgãos que promovem o desenvolvimento municipal ou microrregional no Estado de Santa Catarina – CEPAGRO e SDM -, com os objetivos de melhorar processos de gestão já implementados em organizações e de implantar a proposta descritiva mais aperfeiçoada do modelo SiGOS que já se tinha.

Ao longo de oito meses, chegou-se a uma proposição referencial26 do modelo SiGOS, chamado SiGOS – versão 1997. Baseando-se sobretudo nas experiências coordenadas pelo pesquisador, inferiu-se que o modelo referencial SiGOS tem um papel complementar ou suplementar de outras abordagens (aliás, este modelo surgiu exatamente delas). Optou-se, assim, por avaliar processos de gestão de experiências (avaliação formativa), partindo dos quatros eixos norteadores do modelo SiGOS, de modo que pudessem descrever outros processos de gestão e, ao mesmo tempo, apontar pontos positivos e negativos destas experiências para consolidar o modelo SiGOS, considerado até então referencial.

Segundo Roesch e Kidder (1987), avaliação formativa tem como propósito melhorar ou aperfeiçoar sistemas ou processos. Fundamentada nesta avaliação, foi iniciada a seleção dos processos de gestão que seriam analisados, os quais teriam que necessariamente preencher três requisitos, assim especificados: 1º. As experiências selecionadas (projetos) teriam que ser iniciadas por organizações. Esses

projetos teriam que ter a finalidade de promover o desenvolvimento do local, seja para uma faixa ou para toda a população do município, onde essas organizações se encontram instaladas;

2ª. As organizações que iniciaram os projetos teriam que pertencer a diferentes tipologias organizacionais, privada, pública e chamadas do terceiro setor. Isto permitiria compreender comparativamente processos de gestão organizacional tidos como contraditórios na teoria das organizações;

3º. As experiências não teriam que ser necessariamente rotuladas como oriundas de algum processo de planejamento organizacional formal, ou indo na direção do enfoque do desenvolvimento sustentável. O que interessava de fato é que elas possuíssem indícios de efetividade proporcionados para o local.

Os três casos selecionados para análise, estão abaixo especificados:

• Centro de Estudos e Pesquisas Ambientais (CEPA), implantado pela Unidade da ALCOA de Poços de Caldas (MG). Este Centro está desenvolvendo trabalhos na área de educação ambiental desde 1993, tendo atendido, em 1996, mais de 4.300 pessoas.

A Unidade da ALCOA em Poços recebeu o Prêmio Nacional de Qualidade (PNQ) versão 1996. O PNQ, pelo rigor de seus critérios e credibilidade, é um dos maiores e mais cobiçados prêmios da indústria no Brasil. Este prêmio reflete sobretudo o trabalho comunitário que a ALCOA vem desenvolvendo no município de Poços de Caldas;

• Projeto Integração Infância Adolescência (PIÁ Ambiental), criado em 1990 e coordenado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba-PR (SMMA). Ele surgiu como importante projeto de educação ambiental, atendendo diariamente, em 1997, 3.800 crianças de 4 a 12 anos. Compõe-se de 34 unidades específicas, situadas geralmente em regiões que apresentam fragilidade ambiental, os fundos de vale.

Esse projeto foi selecionado entre as 629 experiências inovadoras de gestão pública e cidadania, num ciclo de premiação (1996), promovido pela Fundação Getúlio Vargas e Fundação Ford.

• A Associação Comercial e Industrial de Toledo – PR (ACIT) coordenou a busca de caminhos para solucionar a crise provocada pelo declínio populacional e a decadência econômica no município, criando o Projeto Empresas Comunitárias. O Projeto promoveu a criação de 201

26 O termo referencial, com já dito, surgiu do receio do pesquisador principal, Sampaio, de ter sido induzido pela sua grande expectativa na consolidação do modelo.

empresas comunitárias em 1992, gerando empregos, crescimento econômico, aumento da arrecadação, utilização da matéria-prima e capital local.

Pelos resultados positivos desse Projeto, inclusive é hoje uma das alternativas de empreendimento empresarial sugerido pelo Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa (SEBRAE) e pela divulgação do município como modelo de desenvolvimento local, Toledo sediou um Fórum Internacional e outros dois Fóruns Nacionais de Experiências Comunitárias.

De um modo geral, cada um dos casos é apresentado de forma descritiva e processualmente. Primeiro, apresenta-se a descrição da organização (ou organizações) apontando o setor de negócios em que atua e sua estrutura organizacional. Em seguida, descreve-se a história, as atividades desenvolvidas e a estrutura do projeto. Por último, analisa-se processualmente a gestão do projeto, baseando-se no arranjo institucional, gestão organizacional, local beneficiado e indicadores de sustentabilidade, apontando os pontos positivos e negativos desta análise.

Para esta pesquisa, também selecionaram-se programas implementados que conseguiram realmente aumentar as oportunidades de trabalho, para deles extrair as estratégias locais que possibilitaram o seu sucesso, tal como preconiza o planejamento para o desenvolvimento sustentável. Estes programas selecionados foram os seguintes:

• Programa Mini Empresa, implantado pela ALCOA Poços desde 1992; já ofereceu oportunidade de desenvolvimento empresarial para 210 estudantes de nível médio;

• Programa Vilas de Ofícios, coordenado pela Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS) e a Companhia de Habitação Popular de Curitiba (COHAB); desde 1993 já construiu 175 imóveis que servem tanto para oficina de trabalho como para moradia em locais de grande densidade populacional;

• Programa Toledo S/A. Participações, coordenado pela Associação Comercial e Industrial de Toledo, criado em 1984, contribuiu para consolidar as empresas comunitárias surgidas no município.

Cada programa foi apresentado descritivamente, abrangendo seu histórico e as estratégias locais que aumentaram as oportunidade de trabalho. Salienta-se que não acontece uma demarcação clara entre os momentos de descrição e avaliação, pois, na maioria das vezes, eles ocorriam simultaneamente, tanto por parte dos sujeitos da pesquisa quanto do pesquisador.