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Um tipo de grupo muito especial

No documento Terapia Familiar Conceitos e Métodos (páginas 63-98)

A maioria das pessoas que praticou tera- pia familiar nos primeiros anos empregava al- guma combinação de uma abordagem de tera- pia de grupo com o modelo das comunicações resultante do projeto de Bateson sobre a es- quizofrenia. Neste capítulo, examinaremos es- ses dois modelos e veremos como tiveram de ser modificados para se adaptar aos desafios específicos do tratamento de famílias pertur- badas. Concluiremos o capítulo com uma se- ção sobre as técnicas básicas da terapia familiar.



Aqueles de nós que praticaram terapia fa- miliar na década de 1960 com freqüência eram vistos realizando um estranho ritual. Quando uma família chegava para a sua primeira ses- são, ansiosa e insegura, o terapeuta, todo sor- ridente, ajoelhava-se diante de uma das crian- ças. “Oi! Como você se chama?” Depois: “Você sabe por que está aqui?”, ainda ignorando os pais. As respostas mais comuns a esta pergun- ta eram: “A mamãe disse que nós íamos ao mé- dico”, em uma voz assustada; ou confusa: “O papai falou que nós íamos dar uma volta”. En- tão, o terapeuta, tentando não soar irônico, vol- tava-se para os pais e dizia: “Talvez vocês pos- sam explicar ao Johnny por que vocês estão aqui”.

A razão dessa pequena charada era a se- guinte: antes de compreender como as famí-

Bell (1975) creditou seu início como tera- peuta familiar a um feliz mal-entendido. Quan- do estava em Londres, em 1951, Bell soube que o Dr. John Bowlby, da Tavistock Clinic, es- tava experimentando a terapia de grupo para famílias. Isso inspirou Bell a tentar essa abor- dagem como um meio de lidar com problemas comportamentais em crianças. Conforme Bell comentou posteriormente, se uma autoridade tão eminente como John Bowlby usava tera- pia familiar, isso devia ser uma boa idéia. Acon- tece que Bowlby só tinha entrevistado uma fa- mília como adjunto no tratamento de uma criança perturbada, mas Bell só ficou sabendo disso muitos anos depois.



A terapia das comunicações foi uma das primeiras e certamente a mais influente abor- dagem de terapia familiar. Os principais perso- nagens que desenvolveram o modelo das co- municações foram os membros do projeto de Bateson sobre a esquizofrenia e do Mental Research Institute (MRI), em Palo Alto, espe- cialmente Don Jackson e Jay Haley.

Virginia Satir também foi um membro proeminente do grupo do Mental Research Institute, mas, como sua ênfase mudou para a experiência emocional, falaremos sobre ela no Capítulo 8.

FORMULAÇÕES TEÓRICAS

Embora seja mais conhecido por estudar a psicologia dos indivíduos, Freud também se interessava pelas relações interpessoais, e mui- tos considerariam seu Group psychology and the analylis of the ego (Freud, 1921) o primeiro texto importante sobre a psicologia de grupo. Segundo Freud, o maior requerimento para transformar uma coleção de pessoas em um grupo é o surgimento de um líder. Além de ta- refas claras como organização e direção, o lí- der serve como uma figura parental de quem os membros tornam-se mais ou menos depen- dentes. Os membros se identificam com o líder enquanto um pai substituto (ou mãe) e com os outros membros do grupo como irmãos. A transferência ocorre no grupo quando os mem- bros repetem atitudes inconscientes formadas

durante o processo de crescimento. O concei- to de Freud de resistência na terapia individual também se aplica a grupos, pois os seus mem- bros, tentando afastar a ansiedade, podem se opor ao processo de tratamento ficando silen- ciosos ou hostis, faltando a sessões e evitando assuntos dolorosos. Os grupos familiares resis- tem ao tratamento criando bodes expiatórios, falando superficialidades, sendo excessiva- mente dependentes do terapeuta, recusando- se a seguir sugestões terapêuticas e permitin- do que membros difíceis da família fiquem em casa.

Como Freud, Wilfred Bion (1961) tentou desenvolver uma psicologia de grupo do incons- ciente e descreveu os grupos como se funcio- nassem em níveis manifesto e latente. A tarefa oficial do grupo está no nível manifesto, mas as pessoas também se reúnem em grupos para satisfazer necessidades primais profundas, mas inconscientes. No nível latente, os grupos bus- cam um líder que lhes permita gratificar suas necessidades de dependência, formação de pa- res e luta-fuga.

Segundo a teoria de campo de Kurt Lewin (1951), o conflito é uma característica inevitá- vel da vida em grupo, pois os membros com- petem uns com os outros por um espaço de vida adequado. Assim como os animais precisam ter um território, as pessoas parecem precisar de um “espaço” (ou torrão) próprio, e por isso existe uma tensão inerente entre as necessida- des do indivíduo e as do grupo. O nível de con- flito gerado por essa tensão depende da quan- tidade de restrições impostas pelo grupo, com- parada à quantidade de apoio que ele dá em troca. (As pessoas que dão muito à família es- peram muito em troca.)

O que distinguiu o modelo de Lewin das tensões grupais de teorias anteriores foi ele ser a-histórico. Em vez de ser preocupar com quem fez o que a quem no passado, Lewin concen- trava-se no que acontecia no aqui e agora. Este foco no processo (como as pessoas falam), em vez de no conteúdo (sobre o que elas falam), é uma das chaves para entender como o grupo (ou a família) funciona.



Os terapeutas das comunicações adota- ram o conceito da caixa-preta das teleco-

municações e aplicaram-no aos indivíduos den- tro da família. Este modelo desconsidera as complexidades internas dos indivíduos e con- centra-se em seu input e output – isto é, a co- municação. Não é que esses terapeutas tenham negado os fenômenos da mente – pensamento e sentimento –, eles simplesmente acharam conveniente ignorá-los. Ao limitar seu foco ao que acontece entre os membros da família, ao invés de dentro deles, os teóricos das comuni- cações qualificam-se como “puristas dos siste- mas” (Beels e Ferber, 1969).

Os teóricos das comunicações também desconsideraram o passado, deixando isso para a psicanálise, enquanto buscavam padrões com os quais compreender o comportamento no presente. Não achavam importante determinar causa e efeito, preferindo utilizar um modelo de causalidade circular, em que cadeias de comportamento são vistas como efeito-efeito- efeito.

Os teóricos das comunicações encontra- ram na teoria geral dos sistemas (von Berta- lanffly, 1950) algumas idéias úteis para explicar como as famílias funcionam. Todavia, embora descrevessem as famílias como sistemas aber- tos em suas afirmações teóricas (Watzlawick, Beavin e Jackson, 1967), tendiam a tratá-las como sistemas fechados em seu trabalho clíni- co. Assim, concentravam seus esforços terapêu- ticos na família nuclear, com pouca ou nenhu- ma consideração dos inputs da comunidade ou da família ampliada.

Os relacionamentos entre os comunica- dores também podem ser descritos como com- plementares ou simétricos. Os relacionamen- tos complementares baseiam-se nas diferenças que se encaixam. Um padrão complementar comum é aquele em que uma pessoa é asser- tiva, e a outra, submissa, e cada uma reforça a posição alheia. É importante compreender que estes são termos descritivos, não avaliativos. Além disso, é um erro supor que a posição de uma pessoa causa a da outra, ou que uma é mais fraca que a outra. Conforme Sartre (1964) salientou, é o masoquista, tanto quanto o sádi- co, que cria o relacionamento sadomasoquista. Os relacionamentos simétricos baseiam- se na igualdade: o comportamento de um espelha o do outro. Relacionamentos simétri- cos entre marido e mulher, em que ambos têm uma carreira e dividem as tarefas domésticas

e de cuidado dos filhos, são geralmente consi- derados ideais pelos padrões de hoje. Entre- tanto, em uma análise das comunicações, não há razão para supor que tal relacionamento seria mais estável ou funcional para o sistema do que um relacionamento tradicional, com- plementar.

Outro aspecto da comunicação é que ela pode ser pontuada de várias maneiras (Bateson e Jackson, 1964). Um observador de fora pode escutar um diálogo como fluxo ininterrupto de comunicação, mas cada participante pode acreditar que o que ele disse foi causado pelo que o outro disse. Os terapeutas de casal es- tão familiarizados com o beco sem saída cria- do pela esposa que afirma só reclamar por- que o marido se afasta, enquanto ele diz que só se afasta porque ela reclama. Outro exem- plo é a mulher que diz que teria vontade de fazer sexo com mais freqüência se o marido fosse mais afetuoso, ao que ele retruca que seria mais afetuoso se ela quisesse fazer sexo com maior freqüência.

Enquanto os casais pontuarem suas inte- rações dessa maneira, a mudança é pouco pro- vável. Cada um insiste que o outro causa o pro- blema, e cada um espera pelo outro para mu- dar. Seu impasse baseia-se na noção errônea de que tais seqüências têm um início distinto, que o comportamento de um é causado pelo do outro, de um modo linear.

A teoria das comunicações não aceita a causalidade linear, nem procura motivos subja- centes: em vez disso, este modelo supõe uma causalidade circular e analisa as interações que ocorrem no tempo presente. Considerações de causalidade subjacente são tratadas como ba- rulho conceitual, sem nenhum valor terapêu- tico. O comportamento que os teóricos da co- municação observam é um padrão de comuni- cação articulado em cadeias aditivas de estí- mulo e resposta. Este modelo de causalidade seqüencial permite que os terapeutas tratem cadeias comportamentais como circuitos de feedback. Quando a resposta ao comportamento problemático de um membro da família exa- cerba o problema, essa cadeia é vista como um circuito de feedback positivo. A vantagem dessa formulação é que ela se centra nas interações que perpetuam problemas, em vez de inferir causas subjacentes, que não são observáveis e muitas vezes não podem ser mudadas.

DESENVOLVIMENTO FAMILIAR NORMAL

Agora que temos uma rica literatura so- bre o desenvolvimento da criança e o ciclo de vida familiar, talvez pareça desnecessário re- correr à literatura sobre a dinâmica de grupo para nos ajudar a compreender o desenvolvi- mento familiar normal. No entanto, nos pri- meiros dias da terapia familiar, os terapeutas tomaram emprestados conceitos de desenvol- vimento de grupo e aplicaram-nos à família. Entre os mais notórios desses conceitos temos a idéia de Talcott Parsons (1950) de que os grupos precisam de um líder instrumental e de um líder expressivo para cuidar das neces- sidades socioemocionais do grupo. Adivinhe quem foi eleito para qual papel – e considere como isso ajudou a legitimizar uma divisão de trabalho artificial e injusta.



Enquanto “puristas dos sistemas”, os tera- peutas das comunicações tratavam o comporta- mento como a-histórico. Quer descrevendo, quer tratando interações familiares, sua aten- ção estava no aqui e agora, com muito pouco interesse pelo desenvolvimento. As famílias nor- mais eram descritas enquanto sistemas funcio- nais, que, como todos os sistemas vivos, depen- dem de dois processos importantes (Maruyama, 1968). Primeiro, eles precisam manter sua in- tegridade diante das perturbações ambientais. Isso se consegue pelo feedback negativo, com freqüência ilustrado pelo exemplo do termos- tato de uma unidade de aquecimento de uma casa. Quando o calor cai abaixo de um ponto determinado, o termostato ativa a fornalha até a sala voltar à temperatura desejada.

Nenhum sistema vivo pode sobreviver sem uma estrutura regular, mas uma estrutura rígida demais deixa o sistema mal-equipado para se adaptar às circunstâncias que se modi- ficam. É por isso que as famílias também pos- suem mecanismos de feedback positivo. O feedback negativo minimiza a mudança para manter a estabilidade; o feedback positivo al- tera o sistema para que se acomode a novos inputs. Por exemplo, conforme as crianças cres- cem, mudam a natureza do seu input no siste- ma familiar. O exemplo mais óbvio é a adoles- cência, momento em que os filhos exigem

maior independência. Um sistema familiar li- mitado a um feedback negativo só pode resistir a essas mudanças. As famílias normais, por ou- tro lado, também têm mecanismos de feedback positivo e podem responder a novas informa- ções modificando a sua estrutura.

As famílias normais desequilibram-se pe- riodicamente (Hoffman, 1971), durante pontos de transição do ciclo de vida familiar. Nenhuma família passa por essas mudanças sem se per- turbar; todas experienciam estresse, resistem à mudança e desenvolvem ciclos viciosos. Toda- via, as famílias flexíveis não ficam aprisionadas nesses ciclos; elas conseguem fazer um feedback positivo para se modificar. As famílias sintomá- ticas continuam empacadas, usando o membro sintomático para evitar a mudança.

Conceitos da teoria geral dos sistemas, tal como feedback positivo, têm as virtudes de am- pla aplicabilidade e elegância teórica, mas freqüentemente parecem um pouco abstratos. Quando reconhecemos que o canal para o feedback positivo é a comunicação, torna-se possível explicar as coisas de forma mais sim- ples. As famílias sadias são capazes de mudar porque se comunicam claramente e são flexí- veis. Quando os filhos dizem que querem cres- cer, os pais sadios escutam.

DESENVOLVIMENTO DE TRANSTORNOS DE COMPORTAMENTO

Sob a perspectiva da teoria de grupo, os sintomas eram considerados produtos de pro- cessos de grupo perturbados e perturbadores. Contudo, não se pensava que o grupo causava a perturbação em seus membros; ou seja, o comportamento dos membros era parte da per- turbação do grupo. Portanto, os pesquisadores e terapeutas de grupo rejeitaram a causalida- de linear em favor de uma forma de causalida- de circular que chamaram de “dinâmica de gru- po”. Os terapeutas de grupo familiar estavam menos preocupados com as origens da psicopa- tologia do que com as condições que a perpe- tuam: papéis estereotipados, rompimento na comunicação e canais bloqueados para dar e receber apoio.

A rigidez de papéis força as interações do grupo a ocorrer em um leque estreito, estereo- tipado. Quando as opções são reduzidas para

os indivíduos, a flexibilidade do grupo é limi- tada. Grupos aprisionados em papéis inflexí- veis e estruturas invariantes tendem a funcio- nar mal quando precisam enfrentar circunstân- cias que se modificaram. Além disso, se a flexi- bilidade é ameaçadora, esses grupos não arris- cam se comunicar a respeito de necessidades insatisfeitas; o resultado geralmente é a frus- tração e, às vezes, a perturbação sintomática de um dos seus membros. Se as necessidades que geraram uma perturbação aguda continua- rem insatisfeitas, os sintomas podem ser per- petuados, como um papel, e o grupo se orga- niza em torno de um membro “doente”.



Segundo os terapeutas da comunicação, a função dos sintomas é manter o equilíbrio homeostático do sistema familiar. (Como ve- remos, a noção de que os sintomas são funcio- nais – implicando que as famílias precisam de seus problemas – estava para se tornar contro- versa.) As famílias patológicas eram vistas como aprisionadas em padrões homeostáticos de co- municação disfuncionais, mas tenazes (Jackson e Weakland, 1961). Essas famílias respondiam à necessidade de mudança como um feedback negativo. Isto é, trata-se a mudança não como uma oportunidade de crescimento, mas como uma ameaça e um sinal para recuar.

Em seus textos, os teóricos das comunica- ções afirmavam que a patologia é inerente ao sistema como um todo (Hoffman, 1971; Jackson, 1967; Watzlawick, Beavin e Jackson, 1967). O paciente identificado era considerado um papel com contrapapéis complementares, os quais contribuíam para a manutenção do sistema. O paciente identificado poderia ser a vítima, mas, nesta estrutura, “vítima” e “vitimizador” eram vistos como papéis mutuamente determinados – nenhum é bom ou mau, e nenhum causa o outro. Entretanto, embora essa causalidade cir- cular fosse enfatizada em sua teorização, os terapeutas das comunicações muitas vezes in- corriam no erro de demonizar os pais.

OBJETIVOS DA TERAPIA

O objetivo de tratar grupos familiares era o mesmo de tratar grupos de estranhos: a indi- viduação dos membros do grupo e a melhora

dos relacionamentos. O crescimento individual é promovido quando necessidades insatisfeitas são verbalizadas e quando papéis excessivamen- te limitantes são explorados e expandidos. Observe a diferença de ênfase entre esta visão – considerar as famílias como grupos de indiví- duos, cada um dos quais deve ser ajudado a se desenvolver – e a visão sistêmica da família co- mo uma unidade. Tratar a família como se fos- se igual a qualquer outro grupo deixa de apre- ciar a necessidade de hierarquia e estrutura.

A melhoria das comunicações era vista como a principal maneira de atingir o objetivo de melhorar o funcionamento do grupo. Os objetivos desta abordagem refletem a visão bastante simples da família e seus problemas que prevaleciam entre os terapeutas antes de aprenderem a pensar sistemicamente. Enquan- to Bateson e seus colegas trabalhavam com sua complexa análise sistêmica, o terapeuta comum ainda pensava que a maneira de ajudar famí- lias perturbadas era simplesmente fazê-las sen- tar e conversar.



O objetivo da terapia da comunicação fa- miliar era “agir deliberadamente para alterar padrões de interação que funcionavam mal” (Watzlawick, Beavin e Jackson, 1967, p. 145). Uma vez que “padrões de interação” é sinôni- mo de comunicação, isso significava mudar padrões de comunicação. Nos primeiros dias da terapia da comunicação familiar, especial- mente no trabalho de Virginia Satir, isso se tra- duzia no objetivo genérico de melhorar a co- municação na família. Mais tarde, o objetivo se restringiu a alterar os padrões específicos de comunicação que mantinham problemas. Em 1974, Weakland escreveu que o objetivo da terapia era resolver sintomas, não reorga- nizar famílias: “Vemos a resolução dos proble- mas como se exigissem, primariamente, uma substituição de padrões de comportamento para interromper os círculos de feedback posi- tivo, viciosos” (Weakland, Fisch, Watzlawick e Bodin, 1974, p. 149).

CONDIÇÕES PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO Os terapeutas de grupo familiar pensavam que a maneira de provocar mudanças era aju-

dar os membros da família a se abrirem e con- versarem uns com os outros. O terapeuta os encoraja a falar abertamente, apóia aqueles que parecem reticentes e depois critica o pro- cesso de sua interação. O apoio do terapeuta ajuda os membros da família a se abrir quan- do antes se fechavam, e isto, por sua vez, ge- ralmente os mostra sob uma nova luz, que per- mite que os outros membros se relacionem com eles de uma nova maneira. Por exemplo, crianças que não estão acostumadas a serem escutadas pelos adultos tendem a se fazer “es- cutar” por meio do comportamento disruptivo, mas, se um terapeuta demonstra que está dis- posto a escutar, as crianças podem aprender a expressar seus sentimentos por palavras, e não por ações.

Os terapeutas de orientação grupal pro- moviam a comunicação concentrando-se no processo, em vez de no conteúdo (Bion, 1961; Bell, 1975; Yalom, 1985). Este é um ponto im- portante. No momento em que um terapeuta é apanhado pelos detalhes dos problemas de uma família ou pensa em resolvê-los, perde a opor- tunidade de descobrir o processo do que os membros da família fazem que os impede de encontrar suas próprias soluções.



Segundo os teóricos da comunicação, to- das as ações têm propriedades comunicativas: os sintomas podem ser considerados mensa- gens ocultas, que explicam os relacionamen- tos (Jackson, 1961). Até uma dor de cabeça que se desenvolve por uma tensão prolongada nos músculos occipitais é uma mensagem, uma vez que constitui um relato sobre como a pes- soa se sente e também um comando a ser res- pondido. Se um sintoma for visto como uma mensagem oculta, deduz-se que tornar mani- festa esta mensagem elimina a necessidade do sintoma. Portanto, uma das maneiras impor- tantes de mudar o comportamento é trazer à luz mensagens escondidas.

Conforme salientamos, ingrediente essen- cial do duplo vínculo é a impossibilidade de escapar. Todavia, nenhuma mudança pode ser gerada de dentro: ela só pode gerar-se fora do paciente. O terapeuta é alguém de fora que supre o que o relacionamento não consegue suprir: uma mudança nas regras.

O terapeuta pode apontar seqüências pro- blemáticas ou simplesmente manipulá-las para produzir mudança terapêutica. A primeira es-

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