• Nenhum resultado encontrado

Terapia Familiar Conceitos e Métodos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Terapia Familiar Conceitos e Métodos"

Copied!
468
0
0

Texto

(1)

Michael P. Nichols

Richard C. Schwartz

(2)

7. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2007. Editado também como livro impresso em 2007.

ISBN 978-85-363-0942-2

1. Psicologia – Terapia de Familia. I. Schwartz, Richard C. II. Título. CDU 364.044.24

(3)

2007

Terapia Familiar

C O N C E I T O S E M É T O D O S

M i c h a e l P. N i c h o l s

Virginia Consortium Program in Clinical Psychology College of William and Mary

R i c h a r d C . S c h w a r t z

Director, The Center for Self Leadership, Oak Park, IL

Tradução:

Maria Adriana Veríssimo Veronese

Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição: Helena Centeno Hintz

Psicóloga Clínica, Psicoterapeuta de Casal e Família Membro Fundador, Docente e Supervisora do DOMUS –

Centro de Terapia de Casal e Família

7

a

Edição

Versão impressa desta obra: 2007

(4)

Authorized translation from the English language edition, entitled FAMILY THERAPY: CONCEPTS & METHODS, 7th Edition by NICHOLS, MICHAEL P; SCHWARTZ, RICHARD C, published Pearson

Education,Inc., publishing as Allyn & Bacon, © 2006. All rights reserved. No part of this book may be reproduced or transmitted in any form or by any means, electronic or mechanical, including photocopying, recording or by any information storage retrieval system, without

permission from Pearson Education,Inc.

Portuguese language edition published by Artmed Editora SA, © 2007

Tradução autorizada a partir do original em língua inglesa da obra intitulada FAMILY THERAPY: CONCEPTS & METHODS, 7ª Edição, autoria de NICHOLS, MICHAEL P; SCHWARTZ, RICHARD C,

publicado por Pearson Education, Inc., sob o selo Allyn & Bacon, © 2006. Todos os direitos reservados. Este livro não poderá ser reproduzido nem em parte nem na íntegra, nem ter partes

ou sua íntegra armazenado em qualquer meio, seja mecânico ou eletrônico, inclusive fotorreprografação, sem permissão da Pearson Education,Inc.

A edição em língua portuguesa desta obra é publicada por Artmed Editora SA, © 2007

Capa Mário Röhnelt Preparação do original Kátia Michelle Lopes Aires

Leitura final Aline Pereira de Barros

Supervisão editorial Mônica Ballejo Canto

Projeto gráfico e editoração eletrônica Armazém Digital Editoração Eletrônica – Roberto Vieira

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à ARTMED® EDITORA S.A.

Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340 Porto Alegre RS Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070

É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação,

fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. SÃO PAULO

Av. Angélica, 1091 - Higienópolis 01227-100 São Paulo SP

Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444

IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL

(5)

Salvador Minuchin

Neste livro, Mike Nichols e Dick Schwartz con-tam a história da terapia familiar – e o fazem muito bem. É difícil imaginar um guia de lei-tura mais agradável e mais informativo nessa área.

Nascida na década de 1950, a terapia fa-miliar parece ter surgido, já inteiramente for-mada, das mentes de um grupo seminal de pensadores e terapeutas. Cerca de quatro dé-cadas mais tarde, tanto a teoria quanto a prá-tica mostram as incertezas e dúvidas que defi-nem a maturidade. Todavia, no início – como dizem os contadores de histórias – era uma vez Gregory Bateson na Costa Oeste dos EUA, um intelectual alto, magro e bem barbeado, que via as famílias como sistemas, portadores de idéias. Na Costa Leste, havia Nathan Ackerman, baixinho, barbudo, corpulento, a quintessên-cia do curandeiro carismático, que via as famí-lias como um grupo de indivíduos lutando para equilibrar sentimentos, irracionalidades e dese-jos. Bateson, o homem das idéias, e Ackerman, o homem da paixão, complementavam-se per-feitamente. Eram o Dom Quixote e o Sancho Pança da revolução do sistema familiar.

Mesmo com toda a diversidade das déca-das de 1960 e 1970, que testemunharam a nova prática clínica chamada terapia familiar assu-mir uma variedade de nomes – sistêmica, estra-tégica, estrutural, boweniana, experiencial –, também havia uma notável solidariedade nas crenças compartilhadas que definiam o cam-po. Os pioneiros estavam unidos em sua rejei-ção à psicanálise e abraçavam o pensamento sistêmico, por maiores que fossem suas dife-renças nas técnicas terapêuticas.

A partir de meados da década de 1970, conforme a terapia familiar prosperava e se ex-pandia, ela passou a abranger diferentes po-pulações de clientes, com intervenções especí-ficas para vários grupos especiais – clientes vi-ciados em drogas, pacientes psiquiátricos hos-pitalizados, a população dependente da ajuda da previdência social, famílias violentas, etc. Cada uma dessas situações trazia desafios di-ferentes. Os terapeutas responderam a essa terapia familiar ampliada com uma série de novas abordagens, algumas das quais inclusi-ve desafiavam a lealdade fundamental ao pen-samento sistêmico.

O desafio à teoria dos sistemas (a ciência oficial da época) assumiu duas formas. Uma era puramente teórica: um desafio à suposi-ção de que o pensamento sistêmico constituía-se em uma estrutura universal, aplicável à or-ganização e ao funcionamento de todos os co-letivos humanos. Um ataque importante veio das feministas, que questionaram a ausência de conceitos de gênero e poder no pensamen-to sistêmico e apontaram as conseqüências per-versas de uma teoria que não leva o gênero em consideração quando se trata da violência familiar. O outro envolvia a conexão entre teo-ria e prática: um desafio à imposição da teoteo-ria sistêmica como a base da prática terapêutica. As próprias técnicas que antes definiam o cam-po foram questionadas. Inevitavelmente, o campo começou a recuperar especificidade e a se reabrir para o exame de seus antigos tabus: o indivíduo, a vida intrapsíquica, as emoções, a biologia, o passado e o lugar particular da família na cultura e na sociedade.

(6)

Como sempre acontece em uma ciência oficial, o campo tentou preservar conceitos es-tabelecidos, enquanto uma atenção pragmáti-ca a pragmáti-casos específicos exigia respostas novas e específicas. Como resultado, hoje temos uma terapia familiar oficial que defende sua des-cendência direta de Bateson e um grande nú-mero de excelentes profissionais realizando um trabalho sensível e efetivo, com freqüência bem diferente daquilo que a teoria sistêmica pres-creve. O resultado, muitas vezes, tem criado conflitos e controvérsias. Nessas controvérsias centra-se o poder do terapeuta.

Sob a perspectiva atual, com seus tantos desafios à autoridade e à responsabilidade do terapeuta, os primeiros terapeutas familiares eram todos “condutores” – defensores enérgi-cos da mudança, com posições definidas sobre como essa mudança deveria ocorrer. A terapia era sempre um empreendimento conjunto, mas a responsabilidade por conduzir o caminho era do terapeuta.

Algumas escolas de terapia familiar ago-ra tentam proteger a família da intrusão do terapeuta. Elas temem que as intervenções enérgicas do terapeuta possam dominar e tirar o poder das famílias. Começando com a preo-cupação da Escola de Milão com a neutralidade, esta postura reapareceu recentemente nos cons-trutivistas, que propõem que a terapia seja apenas um diálogo entre dois co-construtores de uma história que não está enraizada em qualquer realidade testável. (Sendo o estilo acadêmico como é, a história da terapia fami-liar às vezes é contada de tal maneira que as contribuições de Ackerman, Bowen, Boszor-menyi-Nagy, Fleck, Haley, Lidz, Minuchin, Satir, Whitaker e Wynne, entre outros, desaparecem em favor de uma linha estreita e direta que parte de Bateson, passa pelo grupo de Milão e vai até os construtivistas da narrativa.) A ênfa-se contemporânea dos construtivistas na lin-guagem e no significado, bem como seu cuida-do em reduzir o poder cuida-do terapeuta, foi apre-sentada como algo radicalmente novo. No en-tanto, de certa maneira, esse cuidado para que o terapeuta não se imponha ao paciente é uma reversão do conceito freudiano do terapeuta como uma tela em branco na qual o paciente projetava fantasias transferenciais.

Espreitando por entre as linhas de mui-tos artigos e livros recentes sobre terapia fami-liar, está um testa-de-ferro, um terapeuta se-dento de poder, que mede seus pacientes dei-tando-os no divã procustiano dos próprios pre-conceitos e então os estica ou diminui para que se ajustem ao tamanho. É para salvar as famí-lias da intrusão mal-orientada deste tipo de pe-rícia que muitas das novas modalidades de te-rapia foram construídas. Equiparar perícia à dominação é uma falsa matemática. Além dis-so, o controle não desaparece da terapia fami-liar apenas com a mudança de linguagem, de “intervir” para “co-criar”. Acontece é que a in-fluência do terapeuta permanece oculta. Tor-nada invisível, ela não é examiTor-nada.

O construtivismo narrativo é uma manei-ra interessante de se examinar a experiência humana por enfatizar, como o faz, um aspecto importante do ser que pensa, sente e age que todos nós somos. Todavia, importar tal ponto de vista filosófico, sem nenhuma modificação, para um empreendimento intervencionista como é a terapia familiar (que tem a ver, no final das contas, com a redução do sofrimento), cria um ogro dos contos de fadas: um terapeuta que não percebe o efeito de suas intervenções, que opera de uma base de poder invisível para ele. A única maneira de evitar empunhar esse martelo esmagador, muitos acreditam agora, é intervir apenas como um co-construtor de histórias – como se as pessoas não apenas fos-sem influenciadas pelas histórias que contam sobre si mesmas, mas também não fossem nada além dessas histórias.

Entretanto, existe outra maneira de pen-sar sobre famílias e seus problemas, adotada por um grupo que acredita que a terapia é um campo de transações humanas e que é impos-sível para o terapeuta não influenciar esse cam-po. Os terapeutas desse grupo tendem a ser próximos, inventivos, compometidos, interven-tivos e otimistas, acreditando que seu envolvi-mento com as famílias ajudará seus membros a resolverem seus problemas. Posicionado neste grupo, penso que somente um claro reconhe-cimento das idiossincrasias do terapeuta e das parcialidades de cada abordagem terapêutica possibilita um respeito genuíno pelo caráter único e individual de cada família. Vejo o

(7)

pro-cesso terapêutico como um encontro entre cul-turas interpessoais distintas. Um respeito real pelos clientes e por sua integridade permite que o terapeuta vá além de uma cautela temerosa, encoraja-o a ser direto e autêntico – respeito-so e compassivo –, mas, às vezes, também ho-nesto e desafiador. Tal terapeuta aceita que os membros da família tenham suas próprias ex-periências e integridade, e também que proje-tem seus desejos e suas fantasias na área tera-pêutica, que então se torna um campo de for-ças no qual todos os participantes puxam uns aos outros em diferentes direções.

A vantagem dessa posição é que o tera-peuta, como depositário de múltiplas “transfe-rências”, experiencia influências variadas em seu comportamento. Conforme o terapeuta, como um self separado, uma pessoa distinta, experiencia essas influências, ele responde criando contextos em que os membros da fa-mília se descobrirão em novas posições, posi-ções que estimularão a exploração do novo e de escolhas alternativas.

Este conceito do terapeuta como um co-nhecedor ativo – de si mesmo e dos diferentes membros da família – é muito diferente do conceito do terapeuta neutro dos construti-vistas. Está claro que esses dois protótipos são uma grande simplificação. A maioria dos pro-fissionais situa-se em algum lugar entre esses dois pólos de neutralidade e determinação.

A escolha entre ação e intervencionismo, por um lado, e significado e conversação, por outro, é apenas uma entre as questões com as quais o campo luta atualmente; existem mui-tas outras. Será que há modelos úteis da natu-reza humana e de famílias funcionais ou cada situação deve ser tratada como algo novo? As normas do comportamento humano e do fun-cionamento familiar são universais ou

produ-tos culturalmente construídos de sujeições po-líticas e ideológicas? Como nos tornamos es-pecialistas? Como sabemos o que sabemos? Se nos tornamos especialistas, estaremos criando o campo que então descobrimos? Podemos in-fluenciar as pessoas? Podemos não as influen-ciar? Como saber se não somos apenas agen-tes do controle social? Como saber se estamos realmente realizando algo? Que direito temos de limitar a diversidade, impondo aos outros maneiras de ser? Perguntas são melhores do que afirmações?

Todas essas questões e a rica história e prática contemporânea da terapia familiar são examinadas, de modo magnífico, em Terapia familiar: conceitos e métodos. Este é um guia completo e ponderado, imparcial e equilibra-do, sobre as idéias e técnicas que tornam a te-rapia familiar um empreendimento tão emocio-nante. Nichols e Schwartz conseguem ser deta-lhistas e abrangentes sem se tornarem tediosos. Talvez o segredo esteja no estilo envolvente de redação ou talvez seja a sua capacidade de não se perder em abstrações e de manter um foco muito claro na prática clínica. De qualquer maneira, este livro extraordinário há muito tempo já estabeleceu o padrão de excelência como melhor introdução e guia para a prática da terapia familiar.

Muita coisa mudou no campo e esta nova edição atualiza inteiramente o leitor, descre-vendo as últimas abordagens e continuando a oferecer comentários perspicazes e equilibra-dos. Sem dúvida o manual definitivo sobre te-rapia familiar, este livro traz grande riqueza de informações, apresentadas com revigorante clareza e uma total ausência de jargões. Tudo isso o torna um livro estimulante, de leitura muito agradável. Prepare-se para uma jorna-da fascinante. Bom proveito!

(8)

Michael P. Nichols

integrar modelos; e uma ênfase mais consis-tente na técnica clínica do princípio ao fim.

Quando lemos a respeito de terapia, às vezes fica difícil enxergar através do jargão e da embalagem política as idéias e as práticas essenciais. Então, ao preparar esta edição, via-jamos muito para observar, em outros lugares, sessões reais dos melhores profissionais. O re-sultado é um foco mais pragmático, mais clíni-co. Esperamos que você goste disso.

Tantas pessoas contribuíram para o meu desenvolvimento como terapeuta familiar e para que este livro fosse escrito que é impossí-vel agradecer a todas, mas eu gostaria de desta-car algumas. Às pessoas que me ensinaram te-rapia familiar – Lyman Wynne, Murray Bowen e Salvador Minuchin –, muito obrigado!

Algumas das pessoas que nos ajudaram muito na preparação desta sétima edição foram Frank Dattilio, David Greenan, Andrew Jacobs, Melody Nichols, Bill Pinsof, Alan Gurman, Vicki Dickerson, Jeff Zimmerman, Cloé Madanes, Jay Haley e Salvador Minuchin. Parafraseando John, Paul, George e Ringo, conseguimos com muita ajuda dos amigos – e agradecemos a todos. So-mos especialmente gratos à Pat Quinlin por fa-cilitar um trabalho difícil.

Eu gostaria de expressar a minha gratidão aos revisores deste texto, cujos comentários en-riqueceram imensamente o nosso trabalho: Stephen J. Brannen (Southwest Missouri State University), Clarence Hibbs (Pepperdine Univer-sity) e Maria Napoli (Arizona State UniverUniver-sity). Por fim, gostaria de agradecer aos meus professores de pós-graduação em vida familiar: minha mulher, Melody, e meus filhos, Sandy e Algo que tende a se perder nas discussões

aca-dêmicas sobre terapia familiar é o sentimento de realização decorrente de sentarmos com uma família infeliz e sermos capazes de ajudá-la. Os terapeutas iniciantes, compreensivelmen-te, ficam ansiosos em relação à maneira de pro-ceder e com medo de não saber como ajudar (“Como conseguir que todos eles venham?”). Os veteranos costumam falar de maneira abs-trata. Têm opiniões e discutem grandes ques-tões – pós-modernismo, gerenciamento de saú-de, cibernética de segunda ordem. Embora seja tentador usar este espaço para dizer Coisas Im-portantes, prefiro ser um pouco mais pessoal. Tratar famílias perturbadas trouxe-me a satis-fação mais profunda que se possa imaginar, e espero que o mesmo esteja acontecendo, ou aconteça futuramente, a você.

Nesta sétima edição de Terapia familiar: conceitos e métodos tentamos descrever o am-plo escopo da terapia familiar – sua rica histó-ria, as escolas clássicas, os últimos desenvolvi-mentos –, mas com crescente ênfase em ques-tões práticas. Há muitas mudanças nesta edi-ção: mais estudos de caso; sugestões práticas para o tratamento de famílias de mães sozinhas, famílias afro-americanas e famílias de gays e lésbicas; novas seções sobre terapia domiciliar; questões éticas ao tratar famílias; trabalho com casais violentos; terapia familiar da comuni-dade; espiritualicomuni-dade; descrições mais atualiza-das dos modelos mais recentes; tratamento ampliado da abordagem cognitivo-comporta-mental; descrição mais rica da literatura sobre as pesquisas; um capítulo melhorado sobre o que fazer e o que não fazer quando buscamos

(9)

Paul. No breve espaço de 38 anos, Melody me viu passar de um tímido jovem, totalmente ig-norante de como ser marido e pai, para um tímido homem de meia-idade, ainda confuso e ainda tentando. Meus filhos jamais deixam de

me surpreender. Se em meus sonhos mais lou-cos eu tivesse imaginado filhos para amar e dos quais me orgulhar, não teria chegado nem perto das pessoas maravilhosas que são Sandy e Paul.

(10)

Prefácio... v

Salvador Minuchin Apresentação... ix

Michael P. Nichols Principais eventos na história da terapia familiar... 15

PARTE 1

O contexto da terapia familiar

1.

Os fundamentos da terapia familiar... 21

O mito do herói ... 23

Santuário psicoterapêutico ... 24

Terapia familiar versus terapia individual ... 25

Psicologia e contexto social ... 26

O poder da terapia familiar ... 27

Pensando em linhas, pensando em círculos ... 27

2.

A evolução da terapia familiar... 29

A guerra silenciosa ... 29

Dinâmica de pequenos grupos ... 30

O movimento da orientação infantil ... 34

A influência do trabalho social ... 35

A pesquisa sobre dinâmica familiar e a etiologia da esquizofrenia ... 36

Aconselhamento de casal ... 42

Da pesquisa ao tratamento: os pioneiros da terapia familiar ... 44

Os anos dourados da terapia familiar ... 56

3.

Modelos iniciais e técnicas básicas: processo de grupo e análise das comunicações... 65

Esboço de figuras orientadoras ... 65

Formulações teóricas ... 66

Desenvolvimento familiar normal ... 68

Desenvolvimento de transtornos de comportamento ... 68

Objetivos da terapia ... 69

Condições para a mudança de comportamento ... 69

Técnicas ... 70

Lições dos primeiros modelos ... 73

(11)

Os estágios de terapia familiar ... 77

Avaliação familiar ... 84

A dimensão ética ... 88

Terapia familiar com apresentação de problemas específicos ... 91

Trabalhando com gerenciamento de saúde ... 95

4. Os conceitos fundamentais da terapia familiar... 100

Cibernética ... 101

Teoria dos sistemas ... 103

Construcionismo social ... 106

Teoria do apego ... 110

Conclusões ... 112

Os conceitos de trabalho da terapia familiar ... 112

PARTE 2

As escolas clássicas de terapia familiar

5.

A terapia familiar sistêmica de Bowen... 129

Esboço de figuras orientadoras ... 129

Formulações teóricas ... 130

Desenvolvimento familiar normal ... 135

Desenvolvimento de transtornos de comportamento ... 136

Objetivos da terapia ... 138

Condições para a mudança de comportamento ... 139

Terapia ... 140

Avaliando a teoria e os resultados da terapia ... 150

6.

Terapia familiar estratégica... 157

Esboço de figuras orientadoras ... 157

Formulações teóricas ... 159

Desenvolvimento familiar normal ... 161

Desenvolvimento de transtornos de comportamento ... 162

Objetivos da terapia ... 164

Condições para a mudança de comportamento ... 165

Terapia ... 166

Avaliando a teoria e os resultados da terapia ... 175

7.

Terapia familiar estrutural... 181

Esboço de figuras orientadoras ... 181

Formulações teóricas ... 183

Desenvolvimento familiar normal ... 185

Desenvolvimento de transtornos de comportamento ... 186

Objetivos da terapia ... 190

Condições para a mudança de comportamento ... 190

Terapia ... 192

Avaliando a teoria e os resultados da terapia ... 201

8.

Terapia familiar experiencial... 205

Esboço de figuras orientadoras ... 205

Formulações teóricas ... 206

(12)

Desenvolvimento de transtornos de comportamento ... 209

Objetivos da terapia ... 209

Condições para a mudança de comportamento ... 210

Terapia ... 212

Avaliando a teoria e os resultados da terapia ... 220

9.

Terapia familiar psicanalítica... 225

Esboço de figuras orientadoras ... 225

Formulações teóricas ... 227

Desenvolvimento familiar normal ... 230

Desenvolvimento de transtornos de comportamento ... 232

Objetivos da terapia ... 235

Condições para a mudança de comportamento ... 236

Terapia ... 237

Avaliando a teoria e os resultados da terapia ... 243

10.

Terapia familiar cognitivo-comportamental... 248

Esboço de figuras orientadoras ... 248

Formulações teóricas ... 250

Desenvolvimento familiar normal ... 250

Desenvolvimento de transtornos de comportamento ... 251

Objetivos da terapia ... 253

Condições para a mudança de comportamento ... 254

Terapia ... 257

Avaliando a teoria e os resultados da terapia ... 270

PARTE 3

Desenvolvimentos recentes em terapia familiar

11.

Terapia familiar no século XXI... 283

Erosão das fronteiras ... 283

Pós-modernismo ... 284

A crítica feminista ... 284

Construcionismo social e a revolução da narrativa ... 286

A resposta da terapia familiar ao gerenciamento de saúde: terapia focada na solução ... 288

Violência familiar ... 288

Multiculturalismo ... 289

Raça ... 289

Pobreza e classe social ... 290

Direitos de gays e lésbicas ... 291

Espiritualidade ... 292

Adaptando o tratamento às populações e aos problemas ... 292

Atendimento domiciliar ... 302

Terapia familiar médica e psicoeducação ... 304

Programas de enriquecimento dos relacionamentos ... 308

Gerenciamento de saúde ... 309

12.

Terapia focada na solução... 319

Esboço de figuras orientadoras ... 320

Formulações teóricas ... 321

(13)

Desenvolvimento de transtornos de comportamento ... 322

Objetivos da terapia ... 322

Condições para a mudança de comportamento ... 323

Terapia ... 324

Avaliando a teoria e os resultados da terapia ... 330

13.

Terapia narrativa... 335

Esboço de figuras orientadoras ... 336

Formulações teóricas ... 337

Desenvolvimento de transtornos de comportamento ... 339

Objetivos da terapia ... 341

Condições para a mudança de comportamento ... 341

Terapia ... 342

Avaliando a teoria e os resultados da terapia ... 347

14.

Modelos integrativos... 351

Ecletismo ... 352

Empréstimo seletivo ... 352

Modelos integrativos especialmente planejados ... 354

PARTE 4

A avaliação da terapia familiar

15.

Análise comparativa... 371

Formulações teóricas ... 371

Desenvolvimento familiar normal ... 378

Desenvolvimento de transtornos de comportamento ... 379

Objetivos da terapia ... 383

Condições para a mudança de comportamento ... 384

Terapia ... 387

16.

Pesquisa sobre a terapia familiar: fundamentos empíricos e implicações práticas... 394

Cynthia L. Rowe, Ligia C. Gómez e Howard A. Liddle Resultados da terapia familiar ... 395

Conclusões e direções futuras ... 418

Apêndice A: Leituras recomendadas... 433

Apêndice B: Glossário... 435

Apêndice C: Áreas de atuação e formação... 443

Índice onomástico... 449

(14)

história da terapia familiar

Contexto social e político Desenvolvimento da terapia familiar

1945 F.D.R. morre, Truman se torna presidente Bertalanffy apresenta a teoria geral dos sistemas A Segunda Guerra Mundial acaba na Europa

(8 de maio) e no Pacífico (14 de agosto)

1946 Juan Perón é eleito presidente da Argentina Bowen na Clínica Menninger Whitaker em Emory Conferência de Macy 1947 Índia é dividida em Índia e Paquistão

1948 Truman é reeleito presidente dos EUA Whitaker inicia conferências sobre a esquizofrenia É estabelecido o Estado de Israel

1949 É estabelecida a República Popular da China Bowlby publica: The study and reduction of group tensions in the family

1950 A Coréia do Norte invade a Coréia do Sul Bateson começa seu trabalho em Palo Alto, V.A. 1951 Julius e Ethel Rosenberg são condenados à Ruesch e Bateson publicam: Communication:

morte por espionagem the social matrix of society

Sen. Estes Kefauver faz o Senado investigar o Tratamento domiciliar de Bowen para mães e filhos crime organizado Lidz em Yale

1952 Eisenhower é eleito presidente dos EUA Bateson é subvencionado por Rockfeller para estudar a comunicação em Palo Alto

Wynne no NIMH

1953 Morre Joseph Stalin Whitaker e Malone: The roots of psychotherapy 1954 A Suprema Corte decreta que a segregação escolar Projeto de pesquisa de Bateson sobre a comunicação

é inconstitucional esquizofrênica Bowen no NIMH

1955 Rosa Parks se recusa a ir para o fundo do ônibus: Whitaker em consultório particular, Atlanta, Ga. Martin Luther King Jr. conduz o boicote em

Montgomery, Alabama

1956 Nasser é eleito presidente do Egito Bateson, Jackson, Haley e Weakland publicam: Toward Tropas soviéticas esmagam rebelião anticomunista a theory of schizophrenia

na Hungria

(15)

1957 Russos lançam a Sputnik I Jackson publica: The question of family homeostasis Eisenhower envia tropas a Little Rock, Ark. para Ackerman abre a Family Mental Health Clinic of proteger a integração escolar Jewish Family Services, em Nova York

Boszormenyi-Nagy abre o Departamento de Terapia Familiar no EPPI, na Filadélfia

1958 É estabelecido o Mercado Comum Europeu Ackerman publica: The psychodynamics of family life Charles De Gaulle se torna o primeiro-ministro

da França

1959 Fidel Castro se torna primeiro-ministro de Cuba Don Jackson funda o MRI (Mental Research Institute) 1960 Kennedy é eleito presidente dos EUA Nathan Ackerman funda o Family Institute (renomeado

como Instituto Ackerman em 1971)

Minuchin e colegas começam a fazer terapia familiar em Wiltwyck

1961 É erguido o Muro de Berlim Bell publica: Family group therapy Ackerman e Jackson fundam Family Process 1962 Crise dos Mísseis Cubanos Termina o projeto de Bateson em Palo Alto

Haley ingressa no MRI

1963 Kennedy é assassinado Haley publica: Strategies of psychotherapy 1964 Johnson é eleito presidente dos EUA Satir publica: Conjoint family therapy

Martin Luther King Jr. recebe o Prêmio Nobel da Paz Morre Norbert Wiener (nascido em 1894) 1965 Aprovado o Medicare Minuchin torna-se diretor da Philadelphia Child

Malcolm X é assassinado Guidance Clinic

Whitaker na Universidade de Wisconsin

1966 A Guarda Vermelha faz uma demonstração na China É criado o Brief Therapy Center no MRI, sob a direção Indira Gandhi torna-se primeira-ministra da Índia de Richard Fisch

Ackerman publica: Treating the troubled family 1967 Guerra dos Seis Dias entre Israel e os estados árabes Watzlawick, Beavin e Jackson publicam: Pragmatics of

Tumultos urbanos em Cleveland, Newark e Detroit human communication Dicks publica: Marital tensions 1968 Nixon é eleito presidente dos EUA Morre Don Jackson (nascido em 1920)

Robert Kennedy e Martin Luther King Jr. são assassinados

1969 Por toda a parte, há demonstrações contra a Guerra Bandura publica: Principles of behavior modification do Vietnã Wolpe publica: The practice of behavior therapy 1970 Protestos estudantis contra a Guerra do Vietnã Masters e Johnson publicam: Human sexual inadequacy

resultam na morte de quatro estudantes em Kent State Laing e Esterson publicam: Sanity, madness and the family 1971 A 26a emenda concede o direito de voto Morre Nathan Ackerman (nascido em 1908)

aos 18 anos

1972 Nixon é reeleito presidente dos EUA Bateson publica: Steps to an ecology of mind Wynne na Universidade de Rochester 1973 A Suprema Corte decide que os estados não podem Phil Guerin cria o Center for Family Learning

proibir o aborto

Há crise de energia provocada por escassez de petróleo Boszormenyi-Nagy e Spark publicam: Invisible loyalties (Continua)

Contexto social e político Desenvolvimento da terapia familiar

(16)

1974 Nixon renuncia Minuchin publica: Families and family therapy Watzlawick, Weakland e Fisch publicam: Change 1975 Termina a Guerra do Vietnã Mahler, Pine e Bergman publicam: The psychological

birth of the human infant

Stuart publica: Behavioral remedies for marital ills 1976 Carter é eleito presidente dos EUA Haley publica: Problem-solving therapy

Haley vai para Washington, D.C.

1977 O presidente Carter perdoa a maioria daqueles que Betty Carter funda o Family Institute of Westchester tentaram fugir ao recrutamento e serviço militar na

Guerra do Vietnã

1978 Tratado de Camp David entre Egito e Israel Hare-Mustin publica: A feminist approach to family therapy

Selvini Palazzoli e colaboradores publicam: Paradox and counterparadox

1979 Margaret Thatcher, da Inglaterra, é a primeira Criação do Brief Therapy Center em Milwaukee mulher a se tornar primeira-ministra Bateson publica: Mind and nature

Militantes iranianos invadem a embaixada dos Estados Unidos em Teerã e fazem reféns

1980 Reagan é eleito presidente dos EUA Haley publica: Leaving home

EUA boicotam a Olimpíada de verão em Moscou Morre Milton Erickson (nascido em 1901) Morre Gregory Bateson (nascido em 1904) 1981 Sandra Day O’Connor torna-se a primeira juíza mulher Hoffman publica: The foundations of family therapy

da Suprema Corte Madanes publica: Strategic family therapy Minuchin e Fishman publicam: Family therapy techniques

1982 Fracassa a ratificação da Emenda dos Direitos Iguais Gilligan publica: In a different voice

Guerra das Malvinas Fisch, Weakland e Segal publicam: Tactics of change Richard Simon funda The family therapy networker 1983 EUA invadem Granada Doherty e Baird publicam: Family therapy and family

Terroristas bombardeiam o quartel general da medicine

Marinha em Beirute Keeney publica: Aesthetics of change 1984 Reagan é reeleito presidente dos EUA Watzlawick publica: The invented reality

URSS boicota a Olimpíada de verão em Los Angeles Madanes publica: Behind the one-way mirror 1985 Gorbachev torna-se líder da URSS De Shazer publica: Keys to solution in brief therapy

Gergen publica: The social constructionist movement in modern psychology

1986 Explode a nave espacial Challenger Anderson et al. publicam: Schizophrenia and the family Selvini Palazzoli publica: Towards a general model of psychotic family games

1987 O Congresso investiga o caso Irã-Contras Tom Andersen publica: The reflecting team Guerin e colaboradores publicam: the evaluation and treatment of marital conflict

Scharff e Scharff publicam: Object relations family therapy

Contexto social e político Desenvolvimento da terapia familiar

(Continuação)

(17)

Contexto social e político Desenvolvimento da terapia familiar

(Continuação)

1988 George H.W. Bush é eleito presidente dos EUA Kerr e Bowen publicam: Family evaluation Morre Virginia Satir (nascida em 1916) 1989 Cai o Muro de Berlim Boyd-Franklin publica: Black families in therapy 1990 O Iraque invade o Kuwait Morre Murray Bowen (nascido em 1913)

White e Epston publicam: Narrative means to therapeutic ends

1991 Guerra do Golfo Pérsico contra o Iraque Morre Harold Goolishian (nascido em 1924) 1992 Clinton é eleito presidente dos EUA Monica McGoldrick funda o Family Institute of

New Jersey

1993 Eliminação étnica na Bósnia Morre Israel Zwerling (nascido em 1917) Policiais de Los Angeles são condenados pelo ataque Minuchin e Nichols publicam: Family healing a Rodney King

1994 Republicanos conseguem a maioria no Congresso David e Jill Scharf deixam Washington School of Nelson Mandela é eleito presidente da África do Sul Psychiatry e dão início ao International

Institute of Object Relations Therapy 1995 O prédio federal de Oklahoma é bombardeado Morre Carl Whitaker (nascido em 1912)

Morre John Weakland (nascido em 1919) Salvador Minuchin se aposenta

Family Studies Inc. é renomeado como The Minuchin Center

1996 Clinton é reeleito presidente dos EUA Morre Edwin Friedman (nascido em 1932) Eron e Lund publicam: Narrative solutions in brief therapy

Freedman e Combs publicam: Narrative therapy 1997 A Princesa Diana morre em um acidente de carro Morre Michael Goldstein (nascido em 1930)

Hong Kong volta a pertencer à China

1998 Impeachment do presidente Clinton pela Câmara Minuchin, Colapinto e Minuchin publicam: Working de Deputados with families of the poor

1999 O presidente Clinton é absolvido no julgamento Morre Neil Jacobson (nascido em 1949) de impeachment Morre John Elderkin Bell (nascido em 1913)

Morre Mara Selvini Palazzoli (nascido em 1916) 2000 George W. Bush é eleito presidente dos EUA Acontece a Millennium Conference, Toronto, Canadá 2001 Ataque terrorista de 11 de setembro Morre James Framo (nascido em 1922)

2002 Escândalo de abuso sexual na Igreja Católica Lipchik publica: Beyond techniques in solution-focused Corrupção corporativa em Enron therapy

2003 Os EUA invadem o Iraque Greenan e Tunnell publicam: Couple therapy with gay men

(18)

PARTE 1

(19)

Os fundamentos da terapia familiar

poderia ajudar. Eu me sentia à vontade com pessoas deprimidas. Desde meu último ano de ensino médio, quando meu amigo Alex morre-ra, eu mesmo vinha me sentindo um pouco deprimido.



Depois da morte de Alex, o restante do verão foi um borrão escuro. Eu chorava muito. Ficava furioso sempre que alguém sugeria que a vida continua. O pastor da Igreja de Alex dis-se que sua morte na verdade não era uma tra-gédia, porque agora “Alex estava com Deus no céu”. Tinha vontade de gritar; em vez disso, eu me anestesiei. No outono, fui para a uni-versidade, e, mesmo que parecesse um pouco desleal para com Alex, a vida realmente conti-nuou. Eu ainda chorava de vez em quando, mas as lágrimas vieram acompanhadas por uma descoberta dolorosa. A minha tristeza não era apenas por causa de Alex. Sim, eu o amava. Sim, eu sentia falta dele. Mas a sua morte tam-bém me dava a justificativa para chorar pelos sofrimentos do dia-a-dia na minha própria vida. Talvez a tristeza seja sempre assim. O tempo todo aquilo me parecia uma traição. Estava usando a morte de Alex para sentir pena de mim mesmo.



O que, eu me perguntei, deixava Holly tão triste? De fato, ela não tinha uma história dramática. Seus sentimentos não tinham foco. Depois daqueles primeiros momentos em meu consultório, raramente chorou. Quando cho-rava, era mais uma lágrima involuntária do que um soluçar libertador. Ela falava sobre o futu-ro e sobre não saber o que queria fazer com

Saindo de casa

Não havia muitas informações na folha de entrada: apenas um nome, Holly Roberts, o fato de que ela era uma estudante universitá-ria prestes a concluir o curso e a queixa apre-sentada: “dificuldade para tomar decisões”.

A primeira coisa que Holly disse quando se sentou foi: “Eu não tenho certeza se preci-sava estar aqui. Você provavelmente tem mui-tas pessoas que precisam mais de ajuda do que eu”. Depois, ela começou a chorar.

Era primavera. As tulipas estavam em flor, as árvores copadas de folhas verdes, e moitas de lilases roxos perfumavam o ar. A vida e todas as suas possibilidades se abriam diante dela, mas Holly estava importuna e inexplicavelmente de-primida.

A decisão que Holly estava com dificul-dade de tomar era o que fazer após a formatura. Quanto mais ela tentava imaginar, menos capaz se sentia de se concentrar. Começara a dormir tarde, a perder aulas. Finalmente, sua colega de quarto a convencera a procurar o serviço de saúde. “Eu não teria vindo”, disse Holly. “Eu consigo cuidar dos meus próprios problemas.” No momento, eu fazia uma terapia catár-tica. A maioria das pessoas tem histórias para contar e lágrimas a derramar. Algumas das histó-rias, eu desconfiava, eram dramatizadas para provocar simpatia e atenção. Parece que nós só nos damos permissão para chorar quando temos alguma desculpa aceitável. De todas as emoções humanas das quais nos envergonhamos, sentir pena de nós mesmos está no topo da lista.

Eu não sabia o que estava por trás da de-pressão de Holly, mas tinha certeza de que

(20)

sua vida. Falava sobre não ter namorado – de fato, ela raramente saía com alguém. Ela nun-ca falava muito sobre sua família. Para dizer a verdade, eu não estava muito interessado. Na época, eu achava que o lar era o lugar que você tinha de deixar para conseguir crescer.

Holly era vulnerável e precisava de alguém em quem se apoiar, mas algo a continha, como se ela não se sentisse segura, não confiasse muito em mim. Era frustrante. Eu queria ajudá-la.

Um mês se passou e a depressão de Holly piorou. Comecei a atendê-la três vezes por se-mana, mas não estávamos chegando a lugar nenhum. Em uma tarde de sexta-feira, Holly estava se sentindo tão desesperançada que achei que ela não deveria voltar sozinha para o dormitório da faculdade. Então lhe pedi para deitar no divã do consultório e, com sua per-missão, liguei para os pais.

A Sra. Roberts atendeu o telefone. Eu lhe disse que achava que ela e o marido deveriam vir a Rochester e encontrar-se comigo e com Holly para discutir a possibilidade de Holly con-seguir uma licença de saúde e ir para casa. In-seguro na época quanto à minha autoridade, eu me preparei para uma controvérsia. A Sra. Roberts me surpreendeu concordando em vir imediatamente.

A primeira coisa que me chamou a atenção em relação aos pais de Holly foi a disparidade de suas idades. Lena Roberts parecia uma ver-são um pouco mais velha de Holly – ela não podia ter muito mais de 35 anos. O marido parecia ter 60. Fiquei sabendo que ele era o padrasto de Holly, não o pai. Eles tinham casa-do quancasa-do Holly estava com 16 anos.

Pensando no que aconteceu na época, não me lembro de muita coisa ser dita naquele pri-meiro encontro. Ambos os pais estavam muito preocupados com Holly. “Faremos o que você achar melhor”, disse a Sra. Roberts. O Sr. Morgan (o padrasto) disse que poderiam conseguir um bom psiquiatra “para ajudar Holly nessa crise”, mas Holly disse que não queria ir para casa, e afirmou isto com muito mais energia do que eu escutara dela nos últimos tempos. Era um sába-do. Sugeri que não havia necessidade de uma decisão apressada, então combinamos nos en-contrar novamente na segunda-feira.

Quando Holly e seus pais sentaram em meu consultório na segunda-feira, estava ób-vio que algo havia acontecido. Os olhos da Sra.

Roberts estavam vermelhos de chorar. Holly lançou-lhe um olhar carrancudo e ameaçador e virou o rosto, os lábios cerrados e comprimi-dos. O Sr. Morgan voltou-se para mim: “Briga-mos durante todo o fim de semana. Holly me insultava, e, quando eu tentava responder, Lena ficava do lado dela. É assim que tem sido des-de o primeiro dia des-deste casamento”.

A história relatada foi uma daquelas his-tórias tristes de ciúme e ressentimento que trans-formam o amor comum em sentimentos amar-gos, feridos, que, com excessiva freqüência, se-param famílias. Lena Roberts tinha 34 anos quando conheceu Tom Morgan. Ele era um ho-mem robusto de 56 anos. A segunda diferença óbvia entre eles era o dinheiro. Ele era um cor-retor bem-sucedido que se aposentara para cui-dar de uma fazenda de cavalos. Ela trabalhava como garçonete para sustentar a si mesma e à filha. Era o segundo casamento de ambos.

Lena esperava que Tom fosse a figura pa-terna ausente na vida de Holly. Infelizmente, Lena não conseguiu aceitar todas as regras que Tom se sentia convidado a estabelecer. Assim, ele se tornou o padrasto malvado. Tom come-teu o erro de tentar assumir o controle, e, quan-do começaram as brigas previsíveis, Lena to-mou o partido da filha. Havia lágrimas e dis-putas aos berros à meia-noite. Duas vezes, Holly fugiu para a casa de uma amiga por al-guns dias. Esse triângulo quase arruinou a re-lação de Lena e Tom, mas as coisas se acalma-ram quando Holly partiu para a universidade. Holly esperava sair de casa e não olhar para trás. Faria novos amigos. Estudaria muito e escolheria uma carreira. Jamais dependeria de um homem para sustentá-la. Infelizmente, Holly saiu de casa com assuntos não-resolvidos. Ela odiava Tom por ele implicar com ela e pela maneira como tratava sua mãe. Tom sempre exigia saber aonde a mãe ia, com quem sairia e quando estaria de volta. Se a mãe se atrasas-se, mesmo que apenas alguns minutos, havia uma cena. Por que a mãe agüentava aquilo?

Culpar Tom era simples e satisfatório. Além disso, outra série de sentimentos, mais difíceis de enfrentar, estava corroendo Holly. Ela odiava a mãe por ter casado com Tom e por deixar que ele fosse tão mesquinho com ela. O que sua mãe vira nele, para começar? Será que ela se vendera por uma bela casa e um carro do último modelo? Holly não tinha

(21)

as respostas para essas perguntas, não ousava sequer ter plena consciência delas. Lamenta-velmente, a repressão não funciona assim: tran-camos alguma coisa em um armário e esque-cemos dela. É necessária muita energia para manter à distância emoções indesejadas.

Holly encontrava desculpas para não ir muito em casa durante a faculdade. Não pare-cia mais a sua casa. Ela mergulhou nos estu-dos. Todavia, a raiva e a amargura a roíam por dentro até que, em seu último ano da universi-dade, deparando-se com um futuro incerto, sabendo apenas que não poderia voltar para casa, entregou-se à desesperança. Não é de surpreender que estivesse deprimida.

Achei toda a história muito triste. Sem conhecer a dinâmica familiar e nunca tendo vivido em uma família com um segundo casa-mento, eu me perguntei por que eles não po-diam simplesmente tentar se dar bem. Eles sen-tiam tão pouca simpatia uns pelos outros. Por que Holly não conseguia aceitar o direito da mãe de encontrar o amor uma segunda vez? Por que Tom não conseguia respeitar a prioridade do relacionamento da esposa com a filha? Por que Lena não conseguia escutar a raiva adolescen-te da filha sem ficar tão defensiva?

A sessão com Holly e seus pais foi a mi-nha primeira lição de terapia familiar. Os mem-bros da família em terapia não falam sobre experiências reais, e sim sobre memórias re-construídas que se assemelham às experiências originais apenas de certa maneira. As lembran-ças de Holly eram muito pouco parecidas com as lembranças de sua mãe e bem diferentes das lembranças do padrasto. Nas lacunas entre as suas verdades, havia pouco espaço para a ra-zão e nenhum desejo de buscá-la.

Embora a sessão não tivesse sido muito produtiva, certamente colocou a infelicidade de Holly em perspectiva. Eu já não pensava nela como uma jovem trágica, sozinha no mun-do. Ela era isso, evidentemente, mas também uma filha dividida entre fugir de um lar do qual não se sentia mais parte e o medo de deixar a mãe sozinha com um homem em quem ela não confiava. Acho que foi aí que me tornei um terapeuta de família.

Dizer que eu não sabia muito sobre famílias e menos ainda sobre técnicas para ajudá-las a pensar coletivamente seria uma ex-posição muito atenuada dos fatos. A terapia

familiar não é apenas um novo conjunto de técnicas; é uma abordagem inteiramente nova ao entendimento do comportamento humano – que é em essência moldado por seu contexto social.

O MITO DO HERÓI

A nossa cultura celebra a singularidade do indivíduo e a busca de um self autônomo. A história de Holly poderia ser contada como um drama do tornar-se adulto: um jovem luta para libertar-se da infância e da estreiteza de espí-rito, para assumir a idade adulta, a promessa e o futuro. Se falhar, é tentado a olhar para den-tro do jovem adulto, o herói fracassado.

Embora o ilimitado individualismo do “he-rói” possa ser incentivado mais para os homens do que para as mulheres, como um ideal cultu-ral ele lança sua sombra sobre todos nós. Mes-mo que Holly se importe com relacionamentos tanto quanto com autonomia, ela talvez seja julgada pela imagem dominante da realização. Fomos criados com o mito do herói: o Vin-gador Solitário, o Robin Hood, a Mulher Mara-vilha. Quando crescemos, buscamos heróis na vida real: Eleanor Roosevelt, Martin Luther King Jr., Nelson Mandela. Esses homens e essas mu-lheres representam alguma coisa. Se ao menos pudéssemos ser um pouco como essas pessoas maiores-que-a-vida, que parecem se erguer aci-ma de suas circunstâncias...

Só mais tarde percebemos que as “circuns-tâncias” acima das quais queremos nos erguer são parte da condição humana – nossa inesca-pável conexão com nossas famílias. A imagem romântica do herói baseia-se na ilusão de que podemos atingir a autêntica individualidade se nos tornarmos indivíduos autônomos. Fazemos muitas coisas sozinhos, inclusive alguns de nos-sos atos mais heróicos, mas somos definidos e sustentados por uma rede de relacionamentos humanos. A nossa necessidade de idolatrar heróis é, em parte, uma necessidade de nos er-guermos acima da pequenez e da dúvida em relação a nós mesmos, mas talvez igualmente um produto de imaginarmos uma vida livre desses incômodos relacionamentos que, por al-guma razão, nunca são como gostaríamos.

Quando pensamos sobre famílias, geral-mente é em termos negativos – como forças de

(22)

dependência que nos aprisionam ou como ele-mentos destrutivos na vida de nossos pacien-tes. O que chama a nossa atenção nas famílias são as diferenças e a discórdia. A harmonia da vida familiar – lealdade, tolerância, ajuda e apoio mútuos – muitas vezes deixa de ser per-cebida, sendo parte daquele pano de fundo da vida que tomamos como algo natural. Se qui-sermos ser heróis, então precisamos ter vilões. Hoje em dia, fala-se muito sobre “famílias disfuncionais”. Lamentavelmente, isso se centra muito nos golpes infligidos pelos pais. Sofremos por causa do que eles fizeram: o al-coolismo da mãe, as expectativas irracionais do pai – essas são as causas da nossa infelici-dade. Talvez isso seja um avanço em relação a chafurdarmos na culpa e na vergonha, mas está muito longe de um entendimento do que real-mente acontece nas famílias.

Uma razão para pôr a culpa dos sofrimen-tos familiares nas falhas pessoais dos pais é a dificuldade de uma pessoa comum enxergar, através das personalidades individuais, os pa-drões estruturais que as tornam uma família – um sistema de vidas interligadas governado por regras estritas, mas não-verbalizadas.

As pessoas sentem-se controladas e desam-paradas não porque são vítimas das loucuras e das trapaças parentais, mas porque não compre-endem as forças que agem em maridos e mulhe-res, pais e filhos juntos. Assoladas pela ansieda-de e ansieda-depressão ou meramente perturbadas e inseguras, algumas pessoas recorrem à psicote-rapia em busca de ajuda e de consolo. No pro-cesso, afastam-se dos irritantes que as impeli-ram à terapia. Entre esses se destacam os rela-cionamentos infelizes – com amigos, amantes e a família. Nossos transtornos são sofrimentos privados. Quando recuamos para a segurança de um relacionamento sintético, a última coisa que queremos é levar junto a nossa família. Será que deve nos surpreender, então, que, quando Freud aventurou-se a explorar as forças som-brias da mente, ele tenha deixado a família trancada do lado de fora do consultório?

SANTUÁRIO PSICOTERAPÊUTICO

A psicoterapia, outrora, era um empreen-dimento privado. O consultório era um lugar de cura, sim, mas era igualmente um

santuá-rio, um refúgio de um mundo perturbado e perturbador.

Debatendo-se com o amor e com o traba-lho, incapazes de encontrar consolo e alívio em algum lugar, os adultos buscavam terapia para encontrar satisfação e significado. Os pais, preocupados com o mau comportamento, com a timidez ou com falta de realização dos fi-lhos, os enviavam para que recebessem orien-tação e direção. De muitas maneiras, a psico-terapia deslocava o papel da família na solu-ção dos problemas da vida cotidiana.

É tentador olhar para trás, para os dias que antecederam a terapia familiar, e ver aque-les que insistiam em segregar os pacientes de suas famílias como expoentes ingênuos de uma visão fossilizada dos transtornos mentais, de acordo com a qual as doenças psiquiátricas es-tavam firmemente inseridas na cabeça das pes-soas. Considerando que os terapeutas só co-meçaram a tratar a família inteira por volta de 1950, é tentador perguntar: “Por que eles le-varam tanto tempo para fazer isso?” De fato, havia boas razões para a terapia ser conduzida de forma privada.

As duas abordagens de psicoterapia mais influentes no século XX, a psicanálise de Freud e a terapia centrada no cliente de Rogers, ba-seavam-se na suposição de que os problemas psicológicos surgiam de interações não-sadias com os outros e que a melhor maneira de minorá-los era um relacionamento privado entre terapeuta e paciente.

As descobertas de Freud culpavam a famí-lia, primeiro como um espaço criador de sedu-ção infantil e depois como o agente de repres-são cultural. Se as pessoas cresciam um pouco neuróticas – com medo de seus instintos natu-rais –, quem deveriam culpar a não ser os pais? Dado que os conflitos neuróticos seriam gera-dos na família, parecia muito natural supor que a melhor maneira de desfazer a influência da família era isolar os parentes do tratamento, impedir que sua influência contaminadora che-gasse à sala de operações psicanalíticas.

Freud descobriu que, quanto menos re-velava sobre si mesmo, mais seus pacientes rea-giam a ele como se fosse uma figura significa-tiva de sua família. A princípio, essas reações de transferência pareciam um obstáculo, mas Freud logo percebeu que elas forneciam um vislumbre inestimável do passado. A partir de

(23)

então, analisar a transferência se tornou a pe-dra fundamental do tratamento psicanalítico. Isso significava que, como o analista estava interessado nas memórias e fantasias do pa-ciente, a presença da família só obscureceria a verdade subjetiva do passado. Freud não esta-va interessado na família viesta-va, mas sim na fa-mília das lembranças.

Ao conduzir o tratamento privadamente, Freud salvaguardava a confiança dos pacien-tes na santidade do relacionamento terapêutico e, assim, maximizava a probabilidade de repe-tirem, em relação ao analista, os entendimen-tos e desentendimenentendimen-tos da infância.



Carl Rogers também acreditava que os problemas psicológicos originavam-se de inte-rações iniciais destrutivas. Cada um de nós, di-zia Rogers, nasce com uma tendência inata para a auto-realização. Se deixados por nossa pró-pria conta, tendemos a seguir os nossos me-lhores interesses. Uma vez que somos curiosos e inteligentes, exploramos e aprendemos; como temos um corpo forte, brincamos e nos exerci-tamos; como estar com os outros nos traz ale-gria, somos sociáveis, amorosos e afetuosos.

Infelizmente, disse Rogers, o nosso ins-tinto para a realização é subvertido por nossa ânsia de aprovação. Aprendemos a fazer o que achamos que os outros querem, mesmo que isso não seja o melhor para nós.

Gradualmente, esse conflito entre auto-realização e necessidade de aprovação leva à negação e à distorção daquilo que nos impele interiormente – e até dos sentimentos que

si-nalizam isso. Engolimos a nossa raiva, abafa-mos a nossa exuberância e enterraabafa-mos a nossa vida sob uma montanha de expectativas.

A terapia desenvolvida por Rogers tinha por objetivo ajudar os pacientes a descobrirem seus reais sentimentos. Sua imagem do tera-peuta era a de uma parteira – passiva, mas apoiadora. O terapeuta rogeriano não fazia nada pelo paciente, mas oferecia apoio para ajudá-lo a descobrir o que precisava ser feito, principalmente ao dar a ele uma consideração positiva incondicional. O terapeuta ouvia com simpatia, era compreensivo, cordial e respei-toso. Na presença desse ouvinte acolhedor, o paciente gradualmente entrava em contato com seus sentimentos e desejos interiores.

Como o psicanalista, o terapeuta centrado no cliente mantinha uma privacidade absolu-ta no relacionamento terapêutico, para eviabsolu-tar qualquer possibilidade de que os sentimentos do paciente fossem subvertidos pela necessi-dade de aprovação. Só uma pessoa desconhe-cida e objetiva seria capaz de oferecer a acei-tação incondicional para ajudar o paciente a redescobrir seu self real. É por isso que os mem-bros da família não tinham lugar no trabalho da terapia centrada no cliente.

TERAPIA FAMILIAR VERSUS TERAPIA INDIVIDUAL Como podemos ver, havia e há razões válidas para realizar a psicoterapia em um re-lacionamento privado e confidencial. No en-tanto, embora haja sólidas alegações em favor da psicoterapia individual, podemos fazer uma defesa igualmente sólida da terapia familiar.

Tanto a psicoterapia individual quanto a terapia familiar oferecem uma abordagem de tratamento e uma maneira de compreender o comportamento humano. Como abordagens de tratamento, ambas possuem virtudes. A tera-pia individual pode fornecer o foco concentra-do para ajudar a pessoa a enfrentar seus me-dos e aprender a se tornar, mais integralmen-te, o que ela é. Os terapeutas individuais sem-pre reconheceram a importância da vida fami-liar na formação da personalidade, mas supu-nham que essas influências eram internalizadas e que a dinâmica intrapsíquica tornava-se a for-ça dominante que controlava o comportamen-to. Portanto, o tratamento podia e devia ser

F

reud excluiu a família da psicanálise a fim de ajudar os pacientes a se sentirem seguros para explorar o alcance total de seus pensamentos e sentimentos.

(24)

dirigido à pessoa e à sua constituição pessoal. Os terapeutas familiares, por outro lado, acre-ditavam que as forças dominantes na nossa vida estão localizadas externamente, na famí-lia. A terapia baseada nessa estrutura tem por objetivo mudar a organização da família. Quan-do a organização desta é transformada, a vida de cada um de seus membros também é corres-pondentemente alterada.

Este último ponto – mudar a família muda a vida de cada um de seus membros – é impor-tante o suficiente para ser examinado com maior cuidado. A terapia familiar não busca apenas mudar o paciente no contexto indivi-dual. A terapia familiar provoca mudanças em toda a família; portanto, a melhora pode ser duradoura, porque cada membro da família é modificado e continua provocando mudanças sincrônicas nos outros.

Quase todas as dificuldades humanas podem ser tratadas com terapia individual ou com terapia familiar, mas certos problemas são especialmente suscetíveis a uma abordagem familiar: problemas com os filhos (que preci-sam, independentemente do que acontece na terapia, voltar para a casa dos pais), queixas a respeito do casamento ou de outros relaciona-mentos íntimos, hostilidades familiares e sin-tomas que se desenvolvem no indivíduo no momento de uma importante transição fami-liar. Se os problemas que surgem em função de transições familiares fazem o terapeuta pen-sar primeiro sobre o papel da família, a tera-pia individual pode ser especialmente útil quan-do as pessoas identificam algo em si mesmas que estão tentando em vão mudar, enquanto seu ambiente social parece estável. Assim, se uma mulher se deprime durante o primeiro ano da faculdade, o terapeuta poderia se perguntar se sua tristeza está relacionada a sair de casa e deixar os pais sozinhos um com o outro, mas se a mesma mulher se deprime aos trinta e poucos anos, durante um longo período de estabilidade em sua vida, poderíamos nos perguntar se exis-te algo em sua forma de viver que não a reali-za e é responsável por sua infelicidade. Exami-nar sua vida de forma privada – longe de rela-cionamentos perturbados – não significa que ela deveria acreditar que é possível se realizar isoladamente das outras pessoas da sua vida.

A idéia da pessoa como uma entidade se-parada, com a família agindo sobre ela, é

con-sistente com a maneira pela qual experien-ciamos a nós mesmos. Reconhecemos a influên-cia das pessoas íntimas – espeinfluên-cialmente como obrigações e limitações –, mas é difícil enxer-gar que estamos inseridos em uma rede de re-lacionamentos, que somos parte de algo maior do que nós mesmos.

PSICOLOGIA E CONTEXTO SOCIAL

A terapia familiar floresceu não só devi-do à sua efetividade clínica, mas também por-que redescobrimos a interligação por-que caracte-riza a nossa comunidade humana. Em geral, a questão da terapia individual versus familiar é colocada como uma questão técnica: qual abor-dagem funciona melhor em um determinado problema? A escolha também reflete um en-tendimento filosófico da natureza humana. Embora a psicoterapia possa ter sucesso ao fo-calizar ou a psicologia do indivíduo ou a orga-nização da família, ambas as perspectivas – psi-cologia e contexto social – são indispensáveis para um entendimento completo das pessoas e de seus problemas.

Os terapeutas familiares nos dizem que a família é mais do que uma coleção de indiví-duos separados: é um sistema, um todo orgâni-co cujas partes funcionam de uma maneira que transcende suas características separadas. To-davia, mesmo como membros de sistemas fa-miliares, não deixamos de ser indivíduos, com corações, mentes e desejos próprios. Embora seja possível compreender uma pessoa sem le-var em conta seu contexto social, especialmente a família, é enganador limitar o foco à superfí-cie das interações – ao comportamento social separado da experiência interna.

Trabalhar com o sistema completo signi-fica considerar não apenas todos os membros da família, mas também as dimensões pessoais da sua experiência. Considere um pai que sor-ri sem querer durante uma discussão sobre o comportamento delinqüente de seu filho. Tal-vez o sorriso revele o secreto prazer do pai com a rebelião do filho, algo que ele teme fazer. Ou tome o caso do marido que se queixa de que a mulher não o deixa fazer nada com os amigos. A mulher, na verdade, pode restringi-lo, mas o fato de ele ceder sem lutar sugere que talvez tenha conflitos em relação a se divertir. Será

(25)

que negociar com a mulher vai resolver sua ansiedade interna em relação a fazer coisas sozinho? Provavelmente não. Se ele resolver suas próprias restrições internas, será que a mulher começará subitamente a incentivá-lo a sair e se divertir? Não é provável. Esses impas-ses, como a maioria dos problemas humanos, existem na psicologia dos indivíduos e são en-cenados em suas interações. O ponto é o se-guinte: para oferecer uma ajuda psicológica efetiva e duradoura, o terapeuta precisa com-preender e motivar o indivíduo e influenciar suas interações.

O PODER DA TERAPIA FAMILIAR

A terapia familiar nasceu na década de 1950, cresceu nos anos de 1960 e ficou adulta na década de 1970. A onda inicial de entusias-mo por tratar a família coentusias-mo uma unidade foi seguida por uma crescente diversificação de es-colas, todas competindo pelo monopólio da verdade e pelo mercado de serviços.

Algum dia, talvez vejamos os anos de 1975 a 1985 como o período dourado na tera-pia familiar. Esses anos testemunharam o ple-no desabrochar das mais imaginativas e vitais abordagens de tratamento. Foi uma época de entusiasmo e confiança. Os terapeutas familia-res podem ter tido suas diferenças em relação à técnica, mas compartilhavam um senso de otimismo e propósito comum. Desde então, algumas turbulências sacudiram o campo, atin-gindo esse zelo e essa confiança excessiva. Os modelos pioneiros foram desafiados (tanto em termos clínicos quanto socioculturais), e suas fronteiras ficaram menos nítidas: atualmente, menos terapeutas de família identificam-se exclusivamente com uma escola específica. Até a distinção entre terapeutas individuais e de família é menos definida, na medida em que mais e mais terapeutas realizam ambas as for-mas de tratamento.

As tendências dominantes da década pas-sada foram o construcionismo social (a idéia de que a nossa experiência é uma função da nossa maneira de pensar sobre ela), a terapia narrativa, as abordagens integrativas e uma crescente preocupação com questões sociais e políticas. Os capítulos seguintes examinam es-tes e outros desenvolvimentos. Aqui,

simples-mente sugerimos que, ao ler sobre eles, você considere a possibilidade de apresentarem, como todos os novos desenvolvimentos, pon-tos positivos e negativos.

PENSANDO EM LINHAS, PENSANDO EM CÍRCULOS A doença mental tem sido explicada, tra-dicionalmente, em termos lineares, quer mé-dicos, quer psicanalíticos. Ambos os paradig-mas tratam o sofrimento emocional como um sintoma de disfunção interna com causas his-tóricas. O modelo médico supõe que agrupar sintomas em síndromes levará a soluções bio-lógicas para problemas psicológicos. Nas ex-plicações psicanalíticas, é dito que os sintomas surgem de conflitos que têm origem no passa-do passa-do paciente. Em ambos os modelos, o trata-mento focaliza o indivíduo.

As explicações lineares assumem a forma de A causa B. Este tipo de pensamento funcio-na bem em algumas situações. Se você está dirigindo sozinho e seu carro pára subitamen-te, vá em frente e procure uma explicação sim-ples. Talvez você tenha ficado sem gasolina. Se for o caso, a solução é simples. Os proble-mas humanos, normalmente, são um pouco mais complicados.

Quando as coisas dão errado nos relacio-namentos, a maioria das pessoas dá o crédito, generosamente, ao outro. Uma vez que olha-mos para o mundo do interior da nossa própria pele, vemos mais claramente a contribuição das outras pessoas para os nossos problemas mú-tuos. É muito natural pôr a culpa nos outros. A ilusão da influência unilateral tenta também os terapeutas, em especial quando ouvem apenas um lado da história. No entanto, quando com-preendem que a reciprocidade é o princípio que governa o relacionamento, os terapeutas podem ajudar as pessoas a ir além do pensar apenas em termos de vilões e vítimas. Suponha, por exemplo, que um pai se queixa do comporta-mento de seu filho adolescente.

Pai: É o meu filho. Ele é grosseiro e desafiador.

Terapeuta: Quem o ensinou a ser assim? Em vez de aceitar a perspectiva do pai de que ele é a vítima da vilania do filho, a

(26)

per-gunta provocativa do terapeuta o convida a procurar padrões de influência mútua. Não se trata de transferir a culpa de uma pessoa para outra, e sim de se afastar totalmente da culpa. Enquanto enxergar o problema como algo que o filho faz, o pai terá pouca escolha além de esperar que o rapaz mude. (Esperar que as ou-tras pessoas mudem é como planejar o futuro em torno de ganhar na loteria.) Aprender a pensar em círculos e não em linhas capacita o pai a examinar a metade da equação sobre a qual ele tem controle.

O poder da terapia familiar deriva-se de juntar pais e filhos para transformar suas inte-rações. Em vez de isolar os indivíduos das ori-gens emocionais de seus conflitos, os proble-mas são tratados na sua fonte. O que mantém as pessoas empacadas é a sua grande dificul-dade de enxergar a própria participação nos problemas que as atormentam. Com os olhos fixos firmemente no que os outros recalcitran-tes estão fazendo, é difícil para a maioria das pessoas enxergar os padrões que as unem. A tarefa do terapeuta familiar é acordá-las para isso. Quando um marido queixa-se de que a mu-lher é ranzinza, e o terapeuta pergunta como ele contribui para isso, está desafiando o mari-do a enxergar o ele-e-ela hifenizamari-do de suas interações.



Quando Bob e Shirley vieram em busca de ajuda para seus problemas conjugais, a quei-xa dela era que ele jamais compartilhava seus sentimentos; a dele, de que ela sempre o criti-cava. Essa é uma troca clássica de queixas que mantém os casais empacados, na medida em que não conseguem enxergar o padrão recí-proco no qual cada parceiro provoca no outro exatamente o comportamento que não supor-ta. Então o terapeuta disse a Bob: “Se você fos-se um sapo, como você fos-seria fos-se a Shirley o trans-formasse em um príncipe?” Quando Bob re-trucou que ele não conversava com ela por ela ser tão crítica, pareceu para o casal que eles estavam recomeçando a mesma velha discus-são, mas o terapeuta viu isso como o início da mudança – Bob começando a falar. Uma ma-neira de criar abertura para a mudança em fa-mílias rígidas é apoiar a pessoa acusada e aju-dar a trazê-la de volta para a rixa.

Quando Shirley criticou Bob por se quei-xar, ele tentou recuar, mas o terapeuta disse: “Não, continue. Você ainda é um sapo”. Bob tentou transferir a responsabilidade de volta para Shirley. “Ela não precisa me beijar primei-ro?” “Não”, disse o terapeuta. “Na vida real, isso vem depois. Você precisa merecer.”



Na abertura de Anna Karenina, Tolstói escreveu: “Todas as famílias felizes se parecem; cada família infeliz é infeliz à sua maneira”. Cada família infeliz pode ser infeliz à sua ma-neira, mas todas elas tropeçam nos mesmos obstáculos conhecidos da vida familiar. Esses obstáculos não são nenhum segredo – apren-der a viver junto, lidar com parentes difíceis, correr atrás das crianças, enfrentar a adoles-cência, e assim por diante. Todavia, o que nem todo o mundo percebe é que, uma vez compre-endidas, um número relativamente pequeno de dinâmicas sistêmicas ilumina esses obstá-culos e permite que as famílias enfrentem bem os dilemas previsíveis da vida. Como todos os curadores, os terapeutas familiares às vezes li-dam com casos bizarros e desconcertantes, mas grande parte de seu trabalho tem a ver com seres humanos comuns, aprendendo as lições difíceis da vida. Suas histórias, e as histórias dos homens e das mulheres da terapia familiar que decidiram ajudá-los, são a inspiração para este livro.

LEITURAS RECOMENDADAS

Nichols, M. P. 1987. The self in the system. New York: Brunner/Mazel.

Nichols, M. P. 1999. Inside family therapy. Boston: Allyn & Bacon.

REFERÊNCIAS

Minuchin, S. 1974. Families and family theraphy. Cambridge, MA: Harvard University Press. Selvini Palazzoli, M., Boscolo, L., Cecchin, G., e Pra-ta, G. 1978. Paradox and counterparadox. New York: Jason Aronson.

Watzlawick, P., Beavin, J., e Jackson, D. 1967. Prag-matics of human communication. New York: Norton.

(27)

2

A evolução da terapia familiar

A GUERRA SILENCIOSA

Embora tenhamos passado a ver os hos-pícios como lugares de crueldade e detenção, eles foram originalmente construídos para sal-var os insanos da perseguição de seus paren-tes, para evitar que fossem trancados e tortu-rados no sótão da casa. Correspondentemente, exceto para propósitos de pagar a conta, os hospitais psiquiátricos por muito tempo man-tiveram as famílias afastadas. Entretanto, na década de 1950, dois desenvolvimentos sur-preendentes forçaram os terapeutas a reconhe-cer o poder de influência da família no curso do tratamento.

Os terapeutas começaram a notar que, com muita freqüência, quando um paciente melhorava, alguém na família piorava, quase como se a família precisasse de um membro sintomático. Como no jogo de esconde-escon-de, parecia não importar muito quem procu-rava, desde que alguém desempenhasse esse papel. Em um caso, Don Jackson (1945) trata-va de uma mulher com depressão. Quando ela começou a melhorar, o marido queixou-se de que a condição dele estava piorando. Quando ela continuou melhorando, o marido perdeu o emprego. Por fim, quando a mulher ficou ple-namente bem, o marido se suicidou. Aparen-temente, a estabilidade desse homem depen-dia de ter uma mulher doente.

Em outro caso de Jackson, um marido insistiu com a mulher para que buscasse trata-mento para “frigidez”. Quando, após vários me-ses de terapia, ela passou a ser sexualmente responsiva, ele se tornou impotente.

Uma mudança revolucionária

em perspectiva

Neste capítulo, examinamos os anteceden-tes e os anos iniciais da terapia familiar. Aqui existem duas histórias fascinantes: uma de per-sonalidades, outra de idéias. Você lerá sobre os pioneiros – iconoclastas e originais que, de al-guma forma, quebraram o molde pelo qual se enxergava a vida e seus problemas como uma função de indivíduos e sua psicologia. Não se engane: a passagem de uma perspectiva indivi-dual para uma sistêmica foi uma mudança re-volucionária, que forneceu àqueles que a com-preenderam uma poderosa ferramenta para en-tender e resolver problemas humanos.

A segunda história na evolução da tera-pia familiar é uma história de idéias. A inquie-ta curiosidade dos primeiros terapeuinquie-tas fami-liares levou-os a uma variedade de maneiras novas e perspicazes de conceitualizar as ale-grias e tristezas da vida familiar.

Ao ler essa história, prepare-se para sur-presas. Esteja pronto para reexaminar suposi-ções fáceis – inclusive a suposição de que a te-rapia familiar começou como um esforço be-nevolente em apoio à instituição da família. A verdade é que, no início, os terapeutas encara-ram o sistema familiar como um adversário.

Referências

Documentos relacionados

Consoante à citação acima, destaca-se mais uma vez a contraposição de Pascal em relação ao racionalismo hegemônico no século XVII, pois, enquanto os filósofos implicados

O sistema de interpolação contém três componentes principais: um upsampler que insere L − 1 zeros entre cada amostra de entrada, um filtro de tempo discreto passa baixas, para

Estes eventos complementam os iniciais, sendo responsáveis por uma série de informações que validam os eventos não periódicos e periódicos, e buscam otimização na geração

Para que a região não perca o ritmo de vacina- ção, nova remessa de vaci- nas começou a ser entre- gue, nesta segunda-feira (6), pela Superintendência Regional de Saúde de

Portanto não deveria ser estranho, para um estudioso de Peirce, aceitar o convite de subir no “bote do musement ” e imaginar que os conceitos da Ética, que valem

Be Bop: Início dos anos 40 até década de 50, esse período foi bem virtuoso para a guitarra, tanto é que até hoje o Be Bop é um dos estilos mais complicados que existe na guitarra

a) Existe apenas uma afirmativa correta. b) Existem apenas duas afirmativas corretas. c) Todas as afirmativas estão corretas. Em Python, após um condicional if podemos utilizar elsif

Neste trabalho, demonstraremos, por força da Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988; da Constituição do Estado de São Paulo de 5