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Uma maneira totalmente nova de pensar sobre o comportamento humano

No documento Terapia Familiar Conceitos e Métodos (páginas 98-124)

A terapia familiar muitas vezes é mal- compreendida como apenas mais uma varia- ção de psicoterapia, na qual a família inteira é levada a tratamento. É isso, claro, mas o mais importante é que envolve uma maneira nova de pensar sobre o comportamento humano – isto é, como fundamentalmente organizado pelo contexto interpessoal.

Antes do advento da terapia familiar, o indivíduo era visto como o lócus dos problemas psicológicos e o alvo óbvio do tratamento. Se uma mãe telefonasse dizendo que o filho de 15 anos estava deprimido, o terapeuta atenderia o menino para descobrir o que havia de errado com ele. Um rogeriano poderia procurar uma baixa auto-estima; um freudiano, raiva repri- mida; um comportamentalista, ausência de ati- vidades reforçadoras; mas todos eles acredita- riam que as principais forças que moldam o com- portamento do menino estavam localizadas den- tro dele e que a terapia, portanto, requeria ape- nas a presença do paciente e de um terapeuta. A terapia familiar mudou tudo isso. Hoje, se uma mãe buscasse ajuda para um adoles- cente deprimido, a maioria dos terapeutas aten- deria o menino e os pais, juntos. Se um adoles- cente de 15 anos estiver deprimido, não é in- sensato supor que pode estar acontecendo algo na família. Talvez os pais do menino não este- jam se relacionando bem e ele esteja com medo de que se divorciem. Ou talvez ele esteja com

CIBERNÉTICA

O primeiro e talvez mais influente mode- lo de como as famílias funcionam foi a ciber- nética, o estudo dos mecanismos de feedback em sistemas que se auto-regulam. O que a fa- mília compartilha com outros sistemas ciberné- ticos é uma tendência a manter a estabilidade usando como feedback informações sobre seu desempenho.

No âmago da cibernética está o circuito de feedback, o processo pelo qual um sistema obtém a informação necessária para manter um curso estável. Esse feedback inclui informações sobre o desempenho do sistema em relação ao seu ambiente externo e sobre as relações entre as partes do sistema. Circuitos de feedback po- dem ser negativos ou positivos. Essa distinção refere-se ao efeito que eles têm sobre os desvi- os em relação a um estado homeostático, não significando que são benéficos ou prejudiciais. O feedback negativo indica que o siste- ma desvia-se do alvo e quais as correções ne- cessárias para trazê-lo de volta ao curso. Ele sinaliza que o sistema precisa restaurar seu status quo. Assim, o feedback negativo não é de forma alguma algo negativo. Sua informação vital para corrigir erros dá ordem e autocon- trole a máquinas automáticas, ao corpo e ao cérebro e às pessoas em seu cotidiano. O feed- back positivo é a informação que confirma e reforça a direção que o sistema toma.

Um exemplo conhecido de feedback ne- gativo ocorre no sistema de aquecimento de uma casa. Quando a temperatura cai abaixo de certo ponto, o termostato aciona a fornalha para aquecer novamente a casa até os limites preestabelecidos. É este circuito de feedback autocorretivo que constitui a cibernética dos sistemas e é a resposta do sistema à mudança como um sinal para restaurar seu estado pré- vio que ilustra o feedback negativo.

A Figura 4.1 mostra a circularidade básica envolvida em um circuito de feedback. Cada elemento tem um efeito sobre o seguinte, até que o último elemento “retroalimente” o efeito cumulativo para a primeira parte do ciclo. As- sim, A afeta B, que por sua vez afeta C, que retroalimenta para afetar A, e assim por diante. No exemplo do sistema de aquecimento da casa, A poderia ser a temperatura da sala; B, o termostato, e C, a fornalha. A Figura 4.2

mostra um circuito de feedback semelhante para um casal. Nesse caso, as tarefas de limpe- za e arrumação da casa que Jan realiza (output) afetam quanto do trabalho doméstico é feito, o que subseqüentemente afeta quantas tarefas de limpeza e arrumação Billie precisa fazer, o que então retroalimenta (input) quantas tare- fas de limpeza Jan acha que ainda precisam ser realizadas, e assim por diante.

O sistema cibernético acabou se tornan- do uma metáfora particularmente útil para descrever como as famílias mantêm sua esta- bilidade (Jackson, 1959). Às vezes isso é bom, por exemplo, quando uma família continua funcionando como uma unidade coesa apesar de estar ameaçada por um conflito ou estresse. Outras vezes, no entanto, não é bom resistir à mudança, como quando uma família não con- segue se reajustar para acomodar o crescimento ou a mudança de um de seus membros.

Como no feedback negativo, o feedback positivo pode ter conseqüências desejáveis ou indesejáveis. Se não forem verificados, os efei- tos reforçadores do feedback positivo tendem a compor os erros de um sistema, levando a

FIGURA 4.1 Causalidade circular de um circuito de feedback.

A

B C

FIGURA 4.2 Circuito de feedback nas tarefas de limpeza e arrumação da casa de um casal.

Limpeza e arrumação da casa Contribuição de Jan

processos de descontrole. O infeliz motorista em uma estrada gelada que envia feedback po- sitivo para o motor de seu carro, pisando no acelerador, pode derrapar fora de controle, por- que o freio será inútil para fornecer o feedback negativo que vai parar o carro. Igualmente, a preocupação perniciosa, a evitação fóbica e outras formas de comportamento neurótico podem começar com uma preocupação relati- vamente trivial e ir aumentando, em um pro- cesso destrutivo fora de controle.

Considere, por exemplo, como um ata- que de pânico pode começar como uma situa- ção relativamente inócua de respiração ofegan- te, mas uma resposta de pânico à dificuldade de respirar pode se transformar em uma expe- riência aterrorizante de perda de controle. To- mando um exemplo um pouco mais comple- xo, considere a estrutura de funcionamento do governo federal. Já que o presidente geralmen- te se cerca de conselheiros que compartilham seu ponto de vista e estão ansiosos para man- ter este contato, esses conselheiros tendem a apoiar qualquer posição que o presidente as- sume. Este feedback positivo pode resultar na adoção e implementação de uma política ina- dequada – como na época de Lyndon Johnson, com a escalação da Guerra do Vietnã. Feliz- mente, no entanto, a fiscalização e o equilí- brio exercidos pelos poderes Legislativo e Ju- diciário normalmente fornecem o feedback ne- gativo que impede a administração de ir longe

demais em direções imprudentes. Para sobre- viver e se adaptar ao mundo que os cerca, to- dos os sistemas de comunicação – inclusive as famílias – precisam de um equilíbrio saudável de feedback negativo e positivo. Como veremos, todavia, os primeiros terapeutas familiares ten- diam a enfatizar demasiado o feedback negati- vo e a resistência à mudança.

Aplicada às famílias, a cibernética con- centrou-se em diversos fenômenos:

1. regras familiares, que governam a varia- ção de comportamento que um sistema familiar é capaz de tolerar (a variação homeostática da família);

2. mecanismos de feedback negativo que as famílias empregam para impor essas re- gras (culpa, punição, sintomas);

3. seqüências de interação familiar em torno de um problema que caracterizam a rea- ção de um sistema a ele (os circuitos de feedback em torno de um desvio); 4. o que acontece quando o feedback nega-

tivo costumeiro do sistema é inefetivo, de- sencadeando circuitos de feedback positivo. Exemplos de circuitos de feedback positi- vo são aqueles “ciclos viciosos” incômodos, nos quais as ações postas em prática só pioram as coisas. A bem-conhecida “profecia autocumpri- dora” é um desses circuitos de feedback positi- vo: as apreensões da pessoa levam a ações que

A cibernética foi fruto da imaginação do matemático do MIT (Massachussets Institute of Technology) Norbert Wiener (1948), que desenvolveu o que se tornaria o primeiro modelo de dinâmica familiar em um ambiente muito improvável. Durante a Segunda Guerra Mundial, Wiener foi solicitado a estudar o problema de como as armas de defesa antiaérea poderiam derrubar os aviões alemães, que voavam tão rápido que era impossível ajustar as baterias de artilharia com rapidez suficiente para atingir os alvos. Sua solução foi incorporar um sistema de feedback interno, em vez de confiar em observadores para reajustar as armas depois de cada erro de alvo.

Gregory Bateson entrou em contato com a cibernética em uma série notável de encontros multidisciplinares, as conferências Macy, que iniciaram em 1942 (Heins, 1991). Bateson e Wiener travaram uma camaradagem imediata nesses encontros, e seus diálogos tiveram um profundo impacto sobre Bateson, levando-o a aplicar a teoria dos sistemas à terapia familiar.

Visto que a cibernética surgiu do estudo das máquinas, em que os circuitos de feedback positivo levavam a “descontroles” destrutivos, fazendo com que a máquina estragasse, a ênfase foi no feedback negativo e na manuten- ção da homeostase. O ambiente do sistema mudaria – a temperatura subiria ou baixaria – e esta mudança desencadearia mecanismos de feedback negativo para reconduzir o sistema à homeostase – o calor aumentaria ou diminuiria. Os circuitos de feedback negativo controlam tudo, do sistema endócrino ao ecossistema. As espécies animais são equi- libradas pela morte por inanição e por predadores, quando ocorre uma superpopulação, e por aumento nos índices de nascimento, quando seu número se reduz demais. Os níveis de açúcar no sangue são equilibrados pelo aumento da produção de insulina quando sobem demais e pelo aumento do apetite quando baixam demais.

precipitam a situação temida, o que, por sua vez, justifica os medos do indivíduo, e assim por diante. Outro exemplo de feedback positi- vo é o “efeito modismo” – a tendência de uma causa de ganhar apoio simplesmente devido ao crescente número de adeptos. Podemos pen- sar em algumas modas passageiras e um bom número de grupos de música pop que devem muito de sua popularidade ao modismo.

Como exemplo de uma profecia autocum- pridora, imagine uma jovem terapeuta que es- pera que os homens não se envolvam na vida familiar. Ela acredita que o pai deveria desem- penhar um papel ativo na vida dos filhos, mas sua experiência a ensinou a não esperar muito dos homens. Suponha que ela está tentando agendar uma consulta familiar e a mãe diz que o marido não poderá estar presente. Como a nossa terapeuta hipotética provavelmente res- ponderá? Ela poderia aceitar ao pé da letra a declaração da mãe e, assim, entrar em um con- luio para garantir exatamente o que esperava. Ao contrário, ela poderia objetar agressivamen- te à afirmação da mãe, deslocando assim para o relacionamento com a mãe a sua atitude em relação aos homens – ou empurrando a mãe para uma posição antagonista em relação ao marido.

Passando a um exemplo familiar, em uma família com baixo limiar para a expressão da raiva, Marcus, o filho adolescente, explode com os pais diante de sua insistência para que ele esteja em casa antes da meia-noite. A mãe fica chocada com sua explosão de raiva e começa a chorar. O pai responde deixando Marcus de castigo por um mês. Ao invés de reduzir o des- vio de Marcus – fazendo sua raiva voltar para os limites homeostáticos –, este feedback nega- tivo produz o efeito oposto: Marcus explode e desafia a autoridade deles. Os pais respondem com mais choro e castigos, o que aumenta ain- da mais a raiva de Marcus, e assim por diante. Desta maneira, o feedback negativo pretendi- do (choro e castigo) se torna um feedback po- sitivo. Ele amplifica, ao invés de diminuir, o desvio de Marcus. A família fica presa em um “descontrole” de feedback positivo, também conhecido como ciclo vicioso, que aumenta até Marcus fugir de casa.

Mais tarde, ciberneticistas como Walter Buckley e Ross Ashby reconheceram que os cir- cuitos de feedback positivo nem sempre são

ruins: se eles não escapam ao controle, podem ajudar o sistema a se ajustar às circunstâncias modificadas. A família de Marcus precisaria recalibrar suas regras relativas à raiva, para acomodar a assertividade aumentada de um adolescente. A crise que esse circuito de feedback positivo produziu poderia levar ao reexame das regras familiares, se a família conseguisse sair do circuito o tempo necessário para obter cer- ta perspectiva. Ao fazer isso, eles estariam fa- zendo uso da metacomunicação, comunican- do-se a respeito de sua maneira de se comuni- car, um processo que pode levar a uma mu- dança nas regras do sistema (Bateson, 1956). Como já deve estar claro, os ciberneticis- tas familiares focaram os circuitos de feedback dentro das famílias, também conhecidos como padrões de comunicação, enquanto a fonte fun- damental de disfunção familiar. Por isso, os teóricos da família mais influenciados pela ci- bernética passaram a ser conhecidos como a escola das comunicações (ver Capítulos 3 e 6). Comunicações falhas ou pouco claras resultam em um feedback inadequado ou incompleto, de modo que o sistema não consegue se autocorri- gir (mudar suas regras) e, conseqüentemente, reage à mudança de modo exagerado ou insu- ficiente.

TEORIA DOS SISTEMAS

O maior desafio enfrentado por aqueles que tratam famílias é enxergar além das per- sonalidades e perceber os padrões de influên- cia que determinam o comportamento dos mem- bros da família. Estamos tão acostumados a ver o que acontece nas famílias como produto de qualidades individuais, como egoísmo, gene- rosidade, rebeldia, passividade, tolerância, sub- missão e assim por diante, que aprender a ver padrões de relacionamento requer uma mudan- ça radical de perspectiva.

A experiência ensina que o que se mani- festa como o comportamento de uma pessoa pode ser produto de relacionamentos. O mes- mo indivíduo pode ser submisso em um relacio- namento e dominante em outro. Como tantas qualidades que atribuímos aos indivíduos, a submissão é apenas metade de uma equação de duas partes. De fato, os terapeutas familia- res empregam vários conceitos para descrever

como duas pessoas em um relacionamento con- tribuem para o que acontece entre elas, incluin- do ciclos de perseguidor-distanciador, superfun- cionamento-subfuncionamento, controle-rebel- dia, e assim por diante. A vantagem desses con- ceitos é que qualquer uma das partes do rela- cionamento pode mudar sua participação no padrão. Contudo, embora seja relativamente fácil descobrir temas no relacionamento entre duas pessoas, é mais difícil enxergar padrões de interação em grupos maiores como famí- lias inteiras. É por isso que os terapeutas fami- liares passaram a considerar tão útil a teoria dos sistemas.

A teoria dos sistemas teve origem na matemática, física e engenharia da década de 1940, quando os teóricos começaram a cons- truir modelos da estrutura e funcionamento de unidades mecânicas e biológicas organizadas. O que esses teóricos descobriram foi que coisas tão diversas como máquinas simples, aviões a jato, amebas e o cérebro humano compartilham os atributos de um sistema – isto é, uma mon- tagem organizada de partes que formam um todo complexo. Bateson e seus colegas con- sideraram a teoria dos sistemas o veículo per- feito para esclarecer as maneiras pelas quais as famílias funcionavam como unidades or- ganizadas.

Segundo a teoria dos sistemas, as proprie- dades essenciais de um organismo, ou siste- ma, vivo são propriedades do todo, que nenhu- ma das partes tem. Elas surgem das interações e relações entre as partes. Essas propriedades são destruídas quando o sistema é reduzido a elementos isolados. O todo é sempre maior que a soma de suas partes. Assim, sob uma pers- pectiva sistêmica, não faria muito sentido ten- tar entender o comportamento de uma crian- ça entrevistando-a sem o restante da família.

Embora algumas pessoas usem termos como teoria dos sistemas ou sistêmica para sig- nificar pouco mais do que considerar as famílias como unidades, o sistema na verdade possui algumas propriedades mais específicas e inte- ressantes. Para começar, a mudança de olhar apenas para o indivíduo e passar a considerar a família como um sistema significa mudar o foco dos indivíduos para os padrões de seus relacionamentos. De uma perspectiva sistê- mica, a família é mais que uma coleção de in- divíduos – ela é uma rede de relacionamentos.

Vamos tomar um exemplo simples. Se uma mãe repreende o filho, o marido lhe diz para não ser tão dura e o menino continua se comportando mal, uma análise sistêmica se concentraria nesta seqüência, pois é esta interação observável que revela como o siste- ma funciona. Para focar os inputs e outputs, uma análise sistêmica evita perguntar por que os indivíduos fazem o que fazem. A expressão mais radical dessa perspectiva sistêmica foi a metáfora da “caixa-preta”:

A impossibilidade de ver a mente “em ação” levou, nos últimos anos, à adoção do conceito de caixa-preta das telecomunicações [...] apli- cado ao fato de que o hardware eletrônico é atualmente tão complexo que às vezes é mais vantajoso desconsiderar a estrutura interna de um aparelho e se concentrar no estudo de suas relações específicas de input-output [...] Esse conceito, se aplicado aos problemas psicoló- gicos e psiquiátricos, apresenta a vantagem heurística de não se precisar invocar nenhu- ma hipótese intrapsíquica não-verificável e de podermos nos limitar às relações de input-out- put observáveis, isto é, à comunicação (Watz- lawick, Beavin e Jackson, 1967, p. 43-44).

Ver as pessoas como caixas-pretas pode parecer a expressão máxima do pensamento mecanicista, mas esta metáfora tem a vanta- gem de simplificar o campo de estudo ao eli- minar especulações sobre a mente e as emo- ções e se concentrar no input e output das pes- soas (comunicação, comportamento).

Entre as características dos sistemas per- cebidas pelos primeiros terapeutas familiares, poucas foram mais influentes – ou posterior- mente mais controversas – do que a homeos- tase, a auto-regulação que mantém os siste- mas em um estado de equilíbrio dinâmico. A noção de Don Jackson de homeostase fami- liar enfatizou que a tendência das famílias disfuncionais de resistirem à mudança expli- cava por que, apesar de esforços heróicos para melhorar, tantos pacientes continuavam na mesma (Jackson, 1959). Hoje, vemos essa ên- fase na homeostase como uma injustiça com as famílias, um exagero de suas propriedades conservadoras e uma subestimação de sua fle- xibilidade e recursos.

Portanto, embora muitos dos conceitos cibernéticos utilizados para descrever as má-

quinas possam ser estendidos, por analogia, a sistemas humanos como as famílias, acontece que os sistemas vivos não podem ser adequa- damente descritos pelos mesmos princípios dos sistemas mecânicos.

Teoria geral dos sistemas

Durante os anos de 1940, um biólogo aus- tríaco, Ludwig von Bertalanffy, tentou combi- nar conceitos do pensamento sistêmico e da biologia em uma teoria universal dos sistemas vivos – da mente humana à ecoesfera global. Partindo de investigações do sistema endócrino, ele começou a extrapolar para sistemas sociais mais complexos e desenvolveu um modelo que passou a ser conhecido como a teoria geral dos sistemas.

Mark Davidson (1983, p. 26), em sua fas- cinante biografia Uncommon sense, resumiu a definição de sistema de Bertalanffy como:

qualquer entidade mantida pela mútua inte- ração de suas partes, do átomo ao cosmo, e incluindo exemplos mundanos como os siste- mas telefônico, postal e de trânsito rápido. Um sistema bertalanffiano pode ser físico, como um aparelho de televisão, biológico, como um cocker spaniel, psicológico, como uma perso- nalidade, sociológico, como um sindicato, ou simbólico, como um conjunto de leis [...] Um sistema pode ser composto por sistemas me- nores e também pode ser parte de um sistema mais amplo, exatamente como um estado ou província é composto por jurisdições meno- res e também é parte de uma nação.

O último ponto é importante. Todo siste- ma é um subsistema de um sistema maior, mas, quando adotaram a perspectiva sistêmica, os terapeutas familiares tendiam a esquecer essa rede de influência que se alastra. Eles trata- vam a família como um sistema, enquanto ig- noravam em grande parte os sistemas mais amplos da comunidade, cultura e política em que as famílias estão inseridas.

Bertalanffy foi o pioneiro da idéia de que um sistema é mais que a soma de suas partes, no mesmo sentido de que um relógio é mais que uma coleção de engrenagens e molas. Não há nada de místico nisso; acontece apenas que, quando as coisas estão organizadas em um sis-

tema, surge algo novo, como quando a água surge da interação do hidrogênio com o oxigê- nio. Aplicadas à terapia familiar, essas idéias –

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