• Nenhum resultado encontrado

5 INDICADORES BIBLIOMÉTRICOS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM EDUCAÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

5.3 Análise de Citações

5.3.2 Tipologia das fontes citadas

Sobre esse assunto, permeia uma discussão que envolve os programas de pós- graduação e as agências de fomento, como a Capes. A avaliação dos programas de pós- graduação abrange a análise da produção científica de pesquisadores e programas. Nessa avaliação tem sido atribuído maior peso à produção veiculada na forma de artigos em periódicos, desconsiderando as particularidades das áreas do conhecimento. Em decorrência, tem havido questionamentos quanto aos critérios de avaliação, devido à sua possível pouca sensibilidade para identificar e valorizar outras formas de veiculação da produção científica.

As críticas em relação às políticas de avaliação da produção científica também recaem na generalização da avaliação, ou seja, mesmo que haja o discurso da avaliação das particularidades das áreas, no final, acaba prevalecendo o aspecto quantitativo. Em conferência11 realizada na UFSCar, em abril de 2008, a professora Lea Velho assim argumentou: “Só se compara semelhante com semelhante”, ou seja, os indicadores de produção científica de uma área não devem ser comparados. As Ciências Humanas, por exemplo, necessitam de tempo maior para a publicação de seus resultados de pesquisa. Isso implica dizer que a quantidade de publicações de um pesquisador da área de Humanas não poderia ser comparada à de um pesquisador da área de Exatas. Talvez, a questão da

11 Conferência da aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da

periodicidada de publicação esteja relacionada com a prevalência maior de publicações em livros e capítulos de livros na área de Humanas.

Apesar de a Capes já ter demonstrado interesse em modificar essa estrutura, ao classificar também Livros e Eventos, nota-se que a publicação em periódicos possui grau de visibilidade maior dentro de determinado campo de pesquisa.

Tabela 26 – Tipo de Suporte das Fontes Citadas nos artigos da RBHE e da RBE TIPO DE PUBLICAÇÃO RBHE % RBE % Livro 1.269 56,7 1.917 50,1 Artigo de Periódico 313 13,9 702 18,3 Capítulo de Livro 270 12 641 16,8 Texto da Internet 7 0,3 167 4,4 Trabalhos em Evento 57 2,5 156 4,1 Dissertação 46 2,0 89 2,3 Tese 60 2,6 86 2,2 Jornal 84 3,7 56 1,5 Folder 0 0 2 0,05 Relatório 41 1,8 1 0,02 Documentos diversos* 86 3,8 5 0,1 CD-ROM 3 0,1 0 0 Texto Mimeografado e digitalizado 8 0,3 0 0 Monografia 1 0,04 2 0,05 Palestra 1 0,04 0 0 Programa de TV 1 0,04 1 0,02 Entrevista 8 0,3 0 0 TOTAL 2.255 100 3.825 100

(*) Documentos diversos: fontes primárias consultadas em arquivos, livros de ofício, projetos de pesquisa, cadernos de anotações, documentos jurídicos, comunicação pessoal e outros documentos avulsos.

Constata-se a presença de 17 tipos de suportes informacionais: livros, artigos de periódico, capítulos de livro, texto da Internet, trabalhos em evento, dissertação, tese, jornal, fôlder, relatório, documentos (diversos), CD-ROM, texto mimeografado e digitalizado, monografia, palestra, programa de TV e entrevistas.

No padrão de citação encontrado neste trabalho, foi observado maior percentual de citação de livros (56,7% RBHE e 50,1% RBE) do que a citação de artigos em periódicos (13,9% RBHE e 18,3% RBE). Esse cenário também foi observado em outros estudos sobre comportamento de citações na área de Humanas. Na área de saúde, ao contrário, os estudos indicam que há maior número de citações de artigos em periódicos. A comparação entre o padrão de citação nas duas revistas (RBHE e RBE) é similar em relação à citação de livros. Esse resultado, de certa maneira, confirma a predileção da área pela citação dessa fonte.

Tanto na RBHE como na RBE, são proporcionalmente baixas as citações de teses e de dissertações, documentos da Internet e a “literatura cinzenta” (trabalho em evento, fôlder, relatório, documentos diversos, texto mimeografado, monografia, palestra, programa de TV e entrevista), não alcançando 10% (13,46% RBHE e 4,7% RBE) do total.

Apesar de existirem importantes eventos na área de Educação e de História da Educação, nota-se que a citação de trabalhos publicados em eventos científicos é relativamente baixa nas duas revistas (RBHE, 2,5% e RBE 4,1%).

Observa-se que a RBE teve um índice de citação de 4,4% de documentos da Internet, enquanto a RBHE teve um índice de citação de apenas 0,3%. Em relação à divergência do número de citações de documentos da Internet entre as duas revistas, pode-se inferir que o comportamento de citação da RBHE reflete a necessidade da área de pesquisar em fontes primárias históricas para o desenvolvimento das pesquisas. O número relativamente baixo de citações de documentos da Internet indica que, apesar da expansão da Internet na última década, ainda prevalece a consulta a fontes impressas para o desenvolvimento da pesquisa educacional. Aliás, essa é uma característica dos estudos históricos, que recorrem mais à pesquisa documental e às fontes primárias, embora hoje seja possível consultar fontes primárias online.

Ainda sobre o padrão de citação dos dois periódicos, ressalta-se que o número de citação, somando-se as teses e dissertações, corresponde a 4,6% das citações na RBHE e 4,5%

das citações na RBE. Esses números indicam que esse tipo de literatura ainda é pouco consultado pelos pesquisadores da área de Educação e História da Educação. Trata-se de fontes importantes de pesquisas que merecem a atenção, já que refletem o interesse da produção acadêmica dos programas de pós-graduação, além de conter investimentos de recursos e tempo para o desenvolvimento. Essas fontes precisam ser mais bem divulgadas. Nota-se que, na última década, muitas iniciativas estão sendo realizadas nesse sentido. As bibliotecas das principais universidades brasileiras estão disponibilizando em on-line tanto as dissertações como as teses no formato completo, facilitando o acesso que antes se restringia a consulta local nas Instituições depositárias.

A análise de citações através da abordagem quantitativa permite o mapeamento de uma realidade sociocientífica extremamente complexa. Faz-se necessário atentar para os limites desse tipo de abordagem. Mesmo que seja evidente que livros e capítulos de livros, do ponto de vista quantitativo, sejam mais freqüentes nas citações nas áreas de Educação e História da Educação, não quer dizer que outros suportes informacionais não sejam relevantes para a área. Segundo comunicado da Presidência da Capes (2007, p. web):

Recordamos que nem todas as áreas consideram os trabalhos em anais ou os livros como produção científica relevante. A orientação da Diretoria da CAPES, contudo, desde abril de 2004, é que, nas áreas em que livros são considerados a produção científica mais importante, eles sejam avaliados e, por conseguinte, tenham o devido papel na avaliação dos programas. Não obstante, registramos, com satisfação, que todas as áreas da pós-graduação vêm produzindo livros de maneira crescente nos últimos anos.

A ampliação da avaliação da Capes para a publicação em outros suportes que não sejam somente os periódicos científicos, é importante para a área de Educação, já que observamos que a publicação em Livros nesta área é predominante. Os pesquisadores desse campo acabam deparando-se, em certo momento da carreira profissional, com a necessidade contínua de publicarem artigos científicos em periódicos reconhecidos. A pressão pela publicação contínua, muitas vezes, contribui para que o planejamento de elaboração de livros seja deixado para outro momento. A alternativa mais comum tem sido a publicação em coletâneas, onde vários pesquisadores se reúnem para publicar trabalhos que tenham interesses comuns.