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4 PRODUÇÃO E COMUNICAÇÃO DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA

4.3 Canais de Publicação da área de Educação

4.3.3 Trabalhos monográficos (livros)

Os livros são fontes primárias de publicação e representam a produção exaustiva de um autor em relação a uma temática. Os livros, ao longo da história, assumiram várias facetas: dos papiros, passando para os pergaminhos até chegarem aos textos manuscritos. Hoje exemplares de livros podem ser encontrados na Internet, ou mesmo em formato de e-

books (livros eletrônicos). A transição de sua forma em papel para a modalidade eletrônica

parece estar acontecendo de forma lenta, já que os pesquisadores quando recorrem a Internet acabam usando o print para ler seus livros, o que evidencia que os livros impressos ou eletrônicos constituem um instrumento indispensável para o avanço da ciência.

Os manuais, os tratados, os ensaios, as coletâneas podem conter uma diversidade de dimensões nas Ciências Humanas e Sociais. Observa-se, porém, que, em muitos campos da ciência, o tratado erudito ou a monografia já não encontram tanto espaço como antes. Segundo Nascimento (2005, p. 72):

O trabalho de coletar e cotejar qualquer fragmento do conhecimento existente acerca de um determinado tópico, eventualmente apresentando um ponto de vista mais integrado, tornou-se um trabalho longo e árduo. É possível que a velocidade com o conhecimento esteja mudando, seja rápida demais para que possa ser acompanhada por um único autor, trabalhando por conta própria.

Nascimento (2005) acredita que, no cenário atual, nenhum pesquisador pode esperar as revelações impressas de um tratado, para dar andamento às suas atividades de pesquisa, nem tampouco dedicar boa parte de sua vida em elaborar uma monografia. Embora essa seja uma constatação coerente para a época atual, não se pode deixar de ressaltar a importância dessas obras para as pesquisas. A divulgação científica mais rápida encontrou espaço nos artigos científicos e nos ensaios, isto é, nas compilações de capítulos, com textos mais reduzidos, escrito por diversos autores. O livro publicado em colaboração vem ocupando lugar de destaque na pesquisa científica.

Outra característica inerente aos livros é o sistema de arbitragem. Os livros são submetidos à avaliação dos pares mesmo depois de serem publicados, diferentemente dos artigos de periódicos, por exemplo, que dificilmente estão sujeitos a críticas após a publicação. As críticas aos livros são realizadas sob a forma de resenhas. A elaboração de resenhas ou críticas de livros é uma atividade muito mais comum em Ciências Humanas e Sociais. (NASCIMENTO, 2005).

Sobre a relação dos livros com a área de Ciências Sociais e Humanas, Carvalho e Manoel (2006, p. 200) fazem as seguintes considerações:

Nas Ciências Sociais e Humanas, os meios de comunicação da produção estão centrados, tradicionalmente, nos livros. Nessa cultura, o livro é o veículo mais apropriado, pois ele, por natureza, instiga à reflexão, por meio da interpretação ou explicação, ao propor questões teórico-conceituais e metodológicas que subsidiam novas idéias, pesquisas, ou ainda remete à análise crítica acerca de um tema ou área de investigação. Por tudo isso o livro pode determinar um tempo de impacto mais lento.

Hayashi (2007), com o objetivo de estudar o campo da História da Educação no Brasil, realizou uma análise dos grupos de pesquisa que integram o Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil/CNPq, objetivando verificar a sua contribuição para a consolidação dessa área de pesquisa no País. O autor, ao analisar a produção científica dos pesquisadores que integram os Grupos de Pesquisa, verificou, entre outras características, que os pesquisadores publicaram 336 livros e capítulos de livros no período de 1993 a 2006 e, neste mesmo período, foram publicados 226 artigos. O autor observou, ainda, uma tendência de crescimento na publicação

dos livros. Esse levantamento indica a prevalência dos livros e capítulos de livros no campo educacional.

Ao analisar os dados relativos às publicações do tipo de livros e capítulos de livros, Hayashi (2007) verificou que há predominância da autoria individual sobre a co-autoria na publicação. A pesquisa de Hayashi (2007), apesar de demonstrar a existência de um número crescente de grupos de pesquisa em História da Educação, confirma a tendência da área de Humanas, ou seja, uma predileção pela autoria individual e pelos livros como canais de publicação. Essa característica, porém, pode ser modificada, já que se observa certa pressão das agências de fomento, com o intuito de diminuir custos para a pesquisa em co-autorias; além disso, há uma tendência geral para a publicação rápida dos resultados de pesquisa.

As especificidades das várias áreas do conhecimento também são fatores que determinam a publicação nos diferentes canais de publicação. Velho (1997) assinala que alguns tipos de publicações predominam sobre outros. Os livros, por exemplo, sobrepõem-se em relação aos periódicos, em algumas áreas. Os pesquisadores das ciências exatas e naturais publicam em maior número em línguas e veículos estrangeiros do que os das ciências humanas e sociais.

Em relação aos aspectos quantitativos, é perigosa a comparação entre áreas do conhecimento. Geralmente, a área de ciências exatas e naturais possui mais publicações em números absolutos. No entanto, compreende-se que os trabalhos científicos da área de humanas e sociais sejam de outra natureza. Não há como divulgar resultados parciais. Até se corre o risco de “maquiar” resultados. A pesquisa científica, para ter sentido, tem de ser lida no todo. Como já foi dito em pesquisa anterior (SILVA, 2004), o modo ensaístico, em geral, não é bem aceito, haja vista a simplicidade de sua análise. É por isso que a maior parte dos trabalhos publicados na área de humanas e sociais são livros e teses, pois contêm um estudo mais rigoroso do ponto de vista científico.

Na visão de Schelp (2004), as ciências sociais e a economia são duas áreas que têm repercussão internacional “insignificante”. Ele diz que, segundo a explicação “oficial”, os principais sociólogos, historiadores, antropólogos e filósofos brasileiros não têm tradição em produzir trabalhos de teoria geral, que possam ter aplicação universal, limitando-se a reflexões locais. E acrescenta que, por sua “vocação paroquial”, a produção sociológica

brasileira e sua historiografia atraem a atenção “apenas” dos estrangeiros que se especializaram em estudar a realidade brasileira – os chamados “brasilianistas”.

Além disso, que interesse teria para um país de língua inglesa, por exemplo, um livro intitulado “História da escola em São Paulo”? Obras das Ciências Humanas não têm o caráter de “universalidade” que outras áreas têm. De acordo com Lopes e Piscitelli (2004, p.117), “esse não-reconhecimento pelos cientistas estrangeiros está vinculado a uma série de fatores político-culturais e, inclusive, lingüísticos”. Observam-se barreiras lingüísticas que se impõem no cenário das publicações científicas para as publicações que não são redigidas e publicadas em inglês. Meadows (1999, p.129) menciona que “o crescente emprego da língua inglesa na comunicação científica tenha levado a uma internacionalização da edição científica”.

O perigo da afirmação da “não-universalidade” das obras das Ciências Humanas e Sociais recai no equívoco, para não dizer no erro, de acreditar que as áreas de conhecimento podem ser comparadas somente pelo impacto internacional. A produção brasileira nas áreas de humanas e sociais tem uma importância local significativa, pois é muito difícil encontrar “trabalhos de teoria geral” nesta área, mais apropriados à área de exatas, devido às leis imutáveis da física e da química. No âmbito social, como é o caso da Educação, recorre-se a diversas variáveis impossíveis de generalização, tendo o pesquisador de assimilar e analisar as diferenças culturais que podem modificar o objeto. (SILVA, 2004).

Além disso, diversos autores, entre os quais Sérgio Buarque de Holanda, Antonio Candido e Roberto Schwarz, insistem que nós, brasileiros, temos a mania de “macaquear”, “importar” as “idéias que vêm de fora”, não as adaptando à realidade brasileira. Por isso a nossa tradição “paroquial” ser predominantemente brasileira, mas imensamente rica e desconhecida lá fora, infelizmente. Apesar de esses autores realizarem estudos em épocas diferentes das que vieram a predominar com a pós-graduação brasileira, acredita-se na riqueza dos trabalhos realizados por eles e na assertiva e atualidade de suas constatações.

Se considerarmos os padrões atuais de avaliação da produção científica e aplicarmos esses critérios aos autores deste mesmo nível, talvez os resultados fossem bastante negativos, seja em termos de tempo decorrido entre a formulação de uma teoria e a conseqüente materialização em uma obra, seja quanto à quantidade de obras publicadas pelos autores durante suas trajetórias acadêmicas. Portanto, é inegável que se torna frágil utilizar o critério

quantidade de publicações para medir o impacto das mesmas. A participação brasileira na produção científica mundial é de apenas 1,5%, concentrando-se basicamente na área de ciências exatas e naturais. Se essa análise não for feita com cuidado, corre-se o risco de acreditar na falsa idéia de que a área de humanas e sociais é “insignificante”, portanto desnecessária para o investimento de maiores recursos financeiros pelas agências de fomento à pesquisa (SILVA, 2004).

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Procurou-se até o momento enfatizar a importância dos estudos e das técnicas existentes para a avaliação da produção científica, buscou-se também, no capítulo 4, apresentar um esboço teórico das questões que permeiam a elaboração e comunicação da pesquisa educacional no Brasil. Pretende-se, a seguir, apresentar os resultados obtidos com a análise dos artigos publicados na RBHE e na RBE.

Classificar não é apenas constituir grupos: é dispor estes grupos segundo relações muito especiais. Nós os representamos como coordenados ou subordinados uns aos outros, dizemos que estes estão incluídos naqueles. Há os que dominam, outros que são dominados, outros que são independentes entre si. Toda classificação implica uma ordem hierárquica da qual nem o mundo sensível nem nossa consciência nos oferecem o modelo.

Émile Durkheim & Marcel Mauss (1903)

INDICADORES BIBLIOMÉTRICOS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM