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Capítulo 5. Metodologia

5.3. Recolha empírica de dados

5.3.1. Tipologias de inquérito utilizadas

Tendo como pano de fundo as perspetivas metodológicas acima mencionadas, e pretendendo validar o objetivo geral desta investigação, esta secção irá centrar-se, fundamentalmente, nas tipologias de inquérito utilizadas na recolha de opiniões junto dos residentes, relativamente aos impactes que a apropriação dos espaços públicos surte junto destes. A utilização do inquérito, enquanto estratégia metodológica, será devidamente contextualizada e apresentadas as vantagens da sua aplicação ao universo em causa. Serão também referidas as dimensões em análise na investigação.

Neste sentido, justifica-se a opção por metodologia mixed methods12, materializada num processo misto de recolha de dados, com destaque para a análise de entrevistas e questionários.

5.3.1.1.O inquérito por questionário

A realização de um inquérito por questionário é um procedimento prévio à aplicação das técnicas quantitativas, sendo muito usado na investigação em turismo e lazer. Um inquérito por questionário permite a recolha de informação sobre as unidades estatísticas em estudo, através de um conjunto de questões pré-formatadas. Isto é, “os inquéritos são modos relativamente sistemáticos e estandardizados de recolher informações sobre indivíduos sistematicamente identificados” (Rossi, Wright, & Anderson, 1993, p. 1).

Na Figura 8 ilustram-se as etapas na investigação por inquérito segundo Schuman e Kalton (1985), citados por Alferes (1997), a saber: quem (1) pergunta o quê (2), a quem (3), como (4), onde (5), quando (6) e porquê? (7); quais são as interpretações e implicações (9) das respostas obtidas (8)? Estas questões estabelecem as diferentes etapas de uma investigação por inquérito (Alferes, 1997, p. 231).

Fonte: Kalton e Schuman (1985)

A recolha de informação através do inquérito por questionário está, como é óbvio, dependente das informações dadas pelos participantes. Assim sendo, a qualidade da informação obtida depende de determinados fatores individuais, como o interesse em

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participar e a própria veracidade das respostas dadas pelo participante. Nesta perspetiva, é importante, aquando da elaboração das questões, que estas sejam elaboradas de uma forma apelativa, clara, bem estruturada e numa linguagem facilmente compreensível e adequada (Finn, Elliott-White & Walton, 2000; Gray, 2004; Hill & Hill, 2005; Jennings, 2001; Veal, 1997; WTO, 1998).

A aplicação do inquérito por questionário apresenta vantagens em termos de custos, tempo, deslocação e também possibilita a obtenção de um grande número de dados, na medida em que pode alcançar um elevado número de pessoas em áreas geograficamente dispersas, pode também determinar maior segurança das respostas, reduzir o risco de distorção por influência do investigador e aumentar a uniformidade da avaliação em virtude da natureza impessoal do instrumento (Lakatos & Marconi, 1996). Apresentam-se alguns dos méritos, referidos por Jennings (2001), da utilização de inquéritos por questionário:

i. Sendo o lazer, recreação e o turismo frequentemente considerados como fenómenos de massas, requerem um grande envolvimento por parte do governo e das organizações, que necessitam de informação quantitativa para o seu processo de tomada de decisão. De acordo com este autor, os questionários são a forma ideal para fornecer este tipo de informação;

ii. Ainda que a objetividade absoluta seja impossível, o recurso a um questionário estabelece um determinado conjunto de procedimentos de investigação transparentes;

iii. A quantificação pode fornecer informação complexa de uma forma sucinta e percetível;

iv. Em estudos que implicam análises longitudinais, com pesquisas repetidas periodicamente, proporcionam a oportunidade para estud ar a mudança ao longo do tempo, usando uma metodologia comparativa;

v. O turismo e o lazer compreendem um variado conjunto de atividades, com um múltiplo conjunto de características, localizações e níveis de satisfação. Os questionários são uma boa forma de avaliar a complexidade dos padrões pessoais de satisfação;

vi. O método do questionário fornece meios para reunir e captar informações simples, sobre a incidência de atitudes, valores e perceções, entre a população como um todo.

5.3.1.2. Inquérito por entrevista

O inquérito por entrevista é entendido como a estratégia mais adequada para avaliação dos impactes que a apropriação dos espaços públicos tem junto dos residentes. A opção por uma entrevista semiestruturada ou semidiretiva justifica-se ao considerarem-se as potencialidades desta estratégia. Por um lado, permite reorientar o guião da entrevista em função das verbalizações e reações dos entrevistados (Bardin, 2004). Por outro, nem todas as intervenções do entrevistador são previamente determinadas (Bisquerra, 1989; Fox, 1981; Ketele & Roegiers, 2009). Acresce o facto de possibilitar a expressão dos entrevistados, uma vez que as informações recolhidas refletem o melhor das suas representações sobre a temática em análise.

Esta estratégia de recolha de dados é especialmente adequada quando o investigador tem por objetivos: analisar o sentido que os atores atribuem às suas práticas e aos acontecimentos com os quais são confrontados, analisar um problema específico e reconstituir um processo de ação, experiências ou acontecimentos do passado (Bogdan & Biklen, 1994; Ghiglione & Matalon, 1997).

A entrevista assume um conjunto de particularidades e vantagens, entre elas: o grau de profundidade do elemento de análise, a flexibilidade, o fraco foco do dispositivo, que permite recolher os testemunhos e as interpretações dos interlocutores, respeitando os seus próprios quadros de referência, garantindo, por isso, menor ambiguidade (Bogdan & Biklen, 1994; Ghiglione & Matalon, 1997; Quivy & Campenhoudt, 2008), a possibilidade de recolha de informação válida junto de informadores privilegiados, influentes e proeminentes da realidade em análise (Demazière & Dubar, 1997; Olabuénaga, 2003; Ruquoy, 1997) e a obtenção de uma perspetiva global sobre o objetivo em análise. Os dados recolhidos, numa etapa final do processo, serão comparáveis entre os vários participantes no estudo.

Como procedimentos de recolha e análise de dados, após a transcrição e leitura de todas as entrevistas realizadas, serão construídas as sinopses das entrevistas (Guerra, 2006). Seguem-se as análises descritivas. A este propósito, importa aqui destacar algumas especificidades da análise tipológica e da análise categorial. A análise tipológica é o método de análise de dados da entrevista por excelência (Bogdan & Biklen, 1994; Guerra, 2006; Ghiglione & Matalon, 1993; Poirier, Valladon, & Raybaut, 1999), permitindo ordenar os materiais, classificá-los segundo critérios pertinentes, bem como encontrar as dimensões de

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semelhanças e diferenças e as variáveis mais frequentes e particulares. A análise tipológica pode ser de dois tipos: a) construção de tipologias por semelhança; b) análise categorial: identificação das unidades pertinentes que influenciam determinado fenómeno em estudo reduzindo o espaço de atributos de forma a retirar apenas as variáveis explicativas pertinentes (Bogdan & Biklen, 1994; Demazière & Dubar, 1997; Guerra, 2006; Ghiglione & Matalon, 1993; Poirier, Valladon, & Raybaut, 1999). A análise categorial permite a identificação das variáveis cuja dinâmica é potencialmente explicativa de um fenómeno, proporcionando a possibilidade de percorrer os dados na procura de regularidades e padrões, bem como de tópicos presentes nos dados (Demazière & Dubar, 1997; Guerra, 2006; Poirier, Valladon, & Raybaut, 1999).

Para concluir, apresentam-se algumas das vantagens adjacentes a esta tipologia de inquérito, (Bogdan & Biklen, 1994; Ghiglione & Matalon, 1997; Quivy & Campenhoudt, 2008), a saber:

i. Permite recolher informação rica, em certos casos com bastante profundidade;

ii. Possibilita recolher testemunhos e as interpretações das pessoas dentro dos seus quadros de referência, contexto cultural e linguagem;

iii. Permite identificar as atitudes do grupo;

iv. Possibilita estabelecer hipóteses iniciais para as motivações subjacentes a atitudes e comportamentos;

v. Possui grande flexibilidade e adaptabilidade, o que permite explorar grande parte da informação;

vi. Permite interação entre o entrevistador e o entrevistado; vii. As informações apresentam-se com maior precisão;

viii. Possibilita a obtenção de dados em profundidade sobre aspetos da vida social; ix. Técnica com poucos custos.