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Tipos de ações empresariais de fomento aos Conselhos dos Direitos da

5 FOMENTO EMPRESARIAL AOS CONSELHOS DOS DIREITOS DA

5.3 Tipos de ações empresariais de fomento aos Conselhos dos Direitos da

O levantamento realizado não tem caráter de amostra estatística, mas permite identificar um conjunto de ações realizadas por atores relevantes do mundo empresarial na área de proteção à infância e à juventude.

O levantamento exploratório inicial foi seguido de entrevistas realizadas pela autora com pessoas que exerciam funções de direção na condução de projetos relativos às ações identificadas (Apêndice A).

O conjunto de respostas permitiu identificar diferentes tipos de ação empresarial de fomento aos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente. Cada tipo de ação oferece matizes específicos para subsidiar a análise da influência do setor privado nos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente.

O GIFE compreende empresas, institutos e fundações. Estes dois últimos tipos de organização não destinam recursos aos Fundos, pois são formalmente entidades sem fins lucrativos. Todavia, responderam que o grupo ou empresa que os originaram fazem esta destinação. Este é o caso, por exemplo, do Instituto Camargo Correa, da Fundação Telefônica, e do Instituto Votorantim.

Dos 33 respondentes, 12 indicaram como única ação junto a Conselhos o aproveitamento fiscal, sem nenhuma outra ação associada. Os demais respondentes indicaram outras ações associadas a esta, conforme abaixo:

Tabela 3 – Tipos de ações de associados ao GIFE junto a Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente

Tipos de ações Nº de

respostas * Destinação de recursos aos Fundos sem nenhuma outra ação associada (a) 12 Destinação de recursos aos Fundos com a eleição de projetos de atendimento

(b) 11

Destinação de recursos aos Fundos e capacitação de conselheiros (c) 10 Destinação de recursos aos Fundos e fomento à participação comunitária nas

reuniões ampliadas dos Conselhos (d) 3

Destinação de recursos aos Fundos e fomento à criação ou institucionalização

de Conselhos (e) 3

Total de respostas 39

Fonte: elaboração do autor * R.M. – Respostas Múltiplas

Nota: dos 33 respondentes, 6 que indicaram as ações “d” e “e” também realizam a ação “c”

As atividades de capacitação de conselheiros, fomento à participação comunitária e institucionalização de conselhos de acordo com as informações dos respondentes não se deram inicialmente com o uso de recursos incentivados, isto é: a empresa destinava recursos aos Fundos e, por outro lado, a empresa, instituto ou fundação de empresa realizava a capacitação, fomento à participação ou institucionalização de conselhos utilizando recursos próprios. Em alguns casos constatou-se que houve posterior aprovação pelos Conselhos de

projetos da empresa, do instituto ou da fundação de empresa relacionados à capacitação e desenvolvimento institucional que passaram a ser financiados, ao menos em parte, com recursos incentivados.

Comentam-se brevemente, a seguir, as ações identificadas.

a) Destinação de recursos aos Fundos da Infância e da Adolescência sem nenhuma outra ação associada

A empresa tem a opção de indicar o CONANDA, o Conselho de qualquer um dos 26 Estados da Federação ou qualquer um dos mais de cinco mil CMDCA com Fundos instituídos. Pode também pulverizar o valor a ser direcionado entre diversos Conselhos.

Algumas empresas indicaram que, embora não promovam outras ações junto aos Conselhos, estimulam seus empregados ou clientes a fazerem doações aos Fundos da Infância e da Adolescência. A Fundação Itaú Bank e a Fundação Romi atuam deste modo. O Banco Itaú de Investimentos promove um Programa denominado Itaú Voluntário, que oferece informações aos funcionários estimulando a doação aos Fundos da Infância37, sem orientar a doação à eleição de Conselhos ou de projetos específicos.

Neste primeiro tipo de ação identificada pelo trabalho, não há envolvimento direto entre o financiador (doador) e o Conselho, e sim o aproveitamento do incentivo fiscal.

b) Destinação de recursos aos Fundos, associada à indicação de projetos a serem beneficiados com a doação

Este tipo de ação só é possível para os Conselhos que admitam em suas respectivas resoluções o mecanismo das doações direcionadas.

A eleição de projetos pode dar-se mediante um “concurso” realizado pelo financiador, com prévia articulação com o(s) Conselho(s) a que destine o financiamento. A Fundação

37 O Itaú Voluntário tem proporcionado mais recursos aos Fundos da Infância e Adolescência do que o Itaú Solidário, outro programa do mesmo Banco comentado no item a seguir, conforme informação disponível no balanço social do Itaú (2006). Ana Beatriz Patrício, Superintendente da Fundação Itaú Social, explicou em entrevista concedida à autora em 18.IV.2007 que os funcionários e clientes do Banco de Investimentos têm salários superiores, o que explica o maior volume de recursos doados.

Telefônica, a Fundação Itaú Social e o Banco Real indicaram fazer a vinculação do financiamento à realização de “concurso de projetos”.

c) Programas de capacitação de Conselheiros

A capacitação de conselheiros supõe que a instância esteja institucionalizada, e pode incluir cursos, seminários, oficinas técnicas, desenvolvimento de estudos para elaboração de diagnóstico da situação do público infanto-juvenil, etc.

A Fundação Telefônica já desenvolveu ação deste tipo com recursos próprios (MARANHÃO, 2003), porém deixou de fazê-lo38. O Instituto Votorantim (SP), a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho (RS) e a Natura Cosméticos S/A indicaram este tipo de ação com recursos próprios. A Associação Itakyra (PA) indicou desenvolver este tipo de ação junto a conselheiros tutelares com recursos próprios.

A capacitação pode se dar no bojo de iniciativas mais amplas de fortalecimento comunitário (ação indicada em d, infra) ou como corolário natural do incentivo à institucionalização dos Conselhos (ação indicada em e, infra).

d) Ações de incentivo à participação comunitária nas reuniões ampliadas do CMDCA

Esta ação diz respeito ao incentivo à formação de uma rede de pessoas comprometidas e articuladas entre si no que tange à causa da criança e do adolescente no município. As ações identificadas foram realizadas com recursos próprios das fundações e institutos.

A Fundação BankBoston desenvolveu um projeto de fortalecimento comunitário em Russas (CE); a Fundação Belgo promoveu a formação de uma Rede Colaborativa em Sabará (MG), envolvendo diversos parceiros; o Instituto Camargo Corrêa desenvolveu de 2003 até 2007 um projeto de fortalecimento comunitário no município de Apiaí (SP). Esta ação foi percebida como necessária pelo Instituto Camargo Corrêa após uma doação ao Fundo pela empresa

(ação de tipo a) que não reverteu em benefício à comunidade39, pois o recurso foi aplicado em financiamento de campanha.

e) Fomento à criação e institucionalização de CMDCA

A criação dessas instâncias implica a elaboração de leis municipais e a participação de Fóruns locais para eleição de representantes da sociedade civil nos Conselhos. A obrigatoriedade legal de existência e funcionamento dos Conselhos Municipais pode ser exigida pelo Ministério Público aos chefes do Poder Executivo em cada município, mediante os instrumentos de inquérito civil, termo de ajustamento de conduta e ação civil pública.

Uma atuação deste tipo implicaria, em princípio, uma articulação do agente empresarial com instâncias governamentais e não governamentais, e foi indicada pela Fundação Odebrecht, pelo Instituto Telemig Celular e pelo Instituto Amazônia Celular.

A empresa Odebrecht, utilizando o incentivo fiscal de doação dedutível a entidades de interesse público, financia uma organização qualificada como OSCIP, que realiza o projeto de institucionalização de Conselhos, no sul da Bahia, em parceria com a Fundação Odebrecht. O Instituto Telemig Celular e o Instituto Amazônia Celular utilizaram recursos próprios no fomento à criação de Conselhos. Um projeto específico de desenvolvimento institucional posteriormente promovido pelo Instituto Telemig Celular contou com recursos incentivados.