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3 ASSÉDIO MORAL

3.3 Tipos de Assédio

O assédio moral pode acontecer de diversas direções, vertical descendente (superior hierárquico), horizontal (colegas), misto e vertical ascendente (subordinado ao superior). Hirigoyen (2006) apresenta um levantamento oriundo de sua pesquisa na França, onde demonstra que 58% dos casos de assédio moral advêm da hierarquia, 29% dos casos o assédio vem de diversas pessoas (colegas e superiores), com 12% o assédio vem de colegas e 1% dos casos de um subordinado. Zapf, Einarsen, Hoel e Vartia (1993) no Quadro 4 a seguir apresentam diversas pesquisas sobre a posição hierárquica dos assediadores, nele é possível visualizar em porcentagem (%) os índices da posição hierárquica dos agressores.

Localidade

(autor) Amostra Supervisores Colegas Subordinados

Áustria (Niedl, 1995 - Hospital) 76 75 55 13 Áustria (Niedl, 1995 - Instituto de Pesquisa) 11 73 45 0

Finlândia (Björkqvist et al., 1994) 137 55 32 12 Finlândia (Vartia, 1993) 98 59 70 4 Finlândia (Vartia e Hyyti, 2002) 145 43 55 5 Alemanha (Zapf, 1999 - estudo em DAG) 56 91 71 16 Alemanha (Zapf, 1999 - estudo em Gießen) 50 82 78 18 Alemanha (Zapf, 1999 - estudo em Konstanz) 86 67 80 16 Alemanha (Mackensen von Astfeld, 2000) 115 62 53 4 Alemanha (Zapf et al., 1996) 119 82 78 18 Alemanha (zur Mühlen et al., 2001 - Administração Comunal) 55 58 37 27 Alemanha (zur Mühlen et al., 2001 - Administração do Exército) 55 41 67 9 Irlanda (O'Moore, 2000) 248 70 32 9 Irlanda (O'Moore et al., 1998) 30 93 7 0 Itália (Ege, 1998) 301 87 40 2 Noruega (Einarsen e Skogstad, 1996) 489 54 54 15 Portugal (Cowie et al., 2000) 74 45 71 0 Suécia (Leymann, 1993) 85 47 54 9

Suíça (von Holzen

Beusch et al, s/d) 28 85 59 26

Reino Unido

(Rayner, 1997) 582 71 12 3

Reino Unido

Reino Unido

(Quine, 1999) 421 54 34 12

Reino Unido

(Cowie et al., 2000) 59 71 17 0

Reino Unido (Hoel

et al., 2001) 553 75 37 7

Quadro 4: Posição Hierárquica dos Assediadores Fonte: adaptado de Zapf, Einarsen, Hoel e Vartia (2003, p. 117) No assédio vertical descendente, a agressão e os comportamentos hostis partem de um superior hierárquico, tal classificação engloba a maioria dos casos de assédio. Segundo Hirigoyen (2006) quando a agressão parte do superior apresenta consequências muito mais graves sobre a saúde do alvo, pois, a vítima sente-se isolada e sem tem a quem reportar a situação ocorrida. Ainda segundo a autora, existem diversos subgrupos no assédio descendente:

a) assédio perverso: exercido com o objetivo da eliminação do outro ou a valorização do próprio poder, neste caso como uma forma de se engrandecer o superior sente a necessidade de rebaixar os demais;

b) assédio estratégico: tem o intuito de forçar o alvo a pedir demissão, tornando assim um processo legal de dispensa sem “prejuízos” para a organização;

c) assédio institucional: um instrumento/forma de gestão do coletivo.

O Workplace Bullying Institute – WBI19 (Instituto de Assédio Moral no Trabalho) realizou uma pesquisa nos Estados Unidos em 2007 com 7.740 adultos, nesta pesquisa constatou o que a teoria explica, em 72% dos casos o assédio é realizado por um superior hierárquico (WORKPLACE BULLYING INSTITUTE, 2007). A subordinação em si nos remete a uma relação de desigualdade, o que torna difícil distinguir muitas vezes os comportamentos abusivos. Barreto (2005) relata que o assédio descendente é o mais comum no Brasil, alcançando índices de 90%.

O assédio horizontal, proveniente de colegas de posição ou poder equivalente, “é mais frequente quando estes disputam a obtenção de um mesmo cargo ou posição” (HIRIGOYEN 2006, p. 113), ou seja, existe a competitividade e o sentimento de inveja. Entretanto, existe a questão

do convívio com a diferença: religião, posição social, homem trabalhando em grupo de mulheres, homossexualidade, mulher trabalhando em grupo de homens e outros.

Em certas categorias tradicionalmente reservadas aos homens, não é fácil a uma mulher fazer-se respeitar quando chega. São brincadeiras grosseiras, gestos obscenos, menosprezo por tudo que ela diz, recusa a levar seu trabalho em consideração. Parece até “trote de calouros”, e todo mundo ri, inclusive as mulheres presentes. Elas não têm escolha (HIRIGOYEN, 2008, p. 70).

Diversas organizações e muitas pessoas são incapazes de conviver com as diferenças, quaisquer que elas sejam. O discurso de Hirigoyen apresentado acima demonstra claramente esta indiferença, não somente de gênero, mas também religiosa (a vítima é constantemente questionada e provocada devido a sua escolha religiosa) e tantas outras já mencionadas. O assédio é muitas vezes suscitado como um sentimento de inveja em relação a outrem, seja algo relacionado à beleza, juventude, riqueza, relações influentes ou até mesmo o conhecimento acerca de uma área ou mais áreas.

O assédio misto envolve indivíduos de diversas posições hierárquicas. Neste, a agressão pode surgir no nível horizontal e posteriormente do superior hierárquico, ao contrário, ou por ambos ao mesmo tempo. Hirigoyen (2006, p. 114) “[...] é raro um assédio horizontal duradouro não ser vivido, depois de algum tempo, como assédio vertical descente, em virtude da chefia ou do superior hierárquico. É ou se torna, portanto, cúmplice”.

Como mencionado, a inveja pode ser um gatilho para o início das agressões e comportamentos hostis. Neste caso, quando jovens entram no mercado de trabalho, muitas vezes possuem um alto grau de conhecimento e grande vontade de propor melhorias e mudanças, acabam por encontrar colegas de função equivalente e chefias que não possuem o mesmo nível de estudo (HIRIGOYEN, 2008). Assim, os colegas e chefias ficam com “medo” e tentam diminuir o ritmo da nova aquisição da organização com receio de que este demonstre maior desempenho e se eleve na organização. A partir da percepção desta nova ameaça iniciam-se os comportamentos sutis e/ou agressivos ao alvo.

Já no assédio vertical ascendente, o subordinado ou um grupo de funcionários utilizam-se de estratégias para agredir ou denegrir a

imagem do seu superior. Esse tipo de assédio é o mais raro segundo Hirigoyen (2006; 2008). Reações coletivas de grupo e falsa alegação de assédio sexual são duas formas de assédio apresentadas por Hirigoyen (2008). A falsa alegação de assédio sexual tem como objetivo desqualificar o indivíduo, além de sujar sua reputação. A falsa acusação pode ser reforçada pela repercussão que a mídia dá a estes casos. Já as reações coletivas de grupo é a união dos indivíduos para livrar-se do superior hierárquico que foi imposto e não é aceito. Por exemplo, na compra ou fusão de um grupo empresarial por outro (HIRIGOYEN, 2006).

3.4 Estrutura do Assédio Moral – Explicando o Assédio Moral em