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Fornecimento de Energia Elétrica e Gestão do Conhecimento

DIMENSÕES VALORIZADAS PELO CLIENTE FINAL

2.6 Gestão do Conhecimento (GC)

2.6.7 Tipos de Conhecimento

Na obra Criação de Conhecimento na Empresa , os professores Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi, da Universidade Hitotsubashi, no Japão, apresentam uma teoria sobre a criação do conhecimento organizacional baseada no estudo de casos de empresas japonesas e com forte vínculo à tradição filosófica oriental. Nonaka e Takeuchi (1997), classificaram o conhecimento humano em dois tipos: conhecimento tácito e conhecimento explícito.

2.6.7.1 Conhecimento tácito

De acordo com Nonaka e Takeuchi (1997), o conhecimento tácito corresponde a conhecimento pessoal embutido em experiência individual e envolve fatores intangíveis como crenças pessoais, perspectivas, e o sistema de valores. É um componente crítico do comportamento humano.

Um texto clássico do cientista convertido a filósofo, Michael Polanyi, The Tacit

Dimension, publicado orginalmente em 1966, é um marco para a conceituação do que vem a ser o

conhecimento tácito (TERRA, 1999).

Polanyi apud Terra (1999) introduz o tema do conhecimento tácito dizendo que muito do que sabemos não pode ser verbalizado ou escrito através de palavras. Isto fica mais claro a partir de alguns exemplos cotidianos e científicos apresentados por ele:

• Nossa capacidade de conseguirmos distinguir o rosto de uma pessoa conhecida entre tantas outras, mas não sermos capazes de explicitar os particulares que compõem o todo. Daí os artifícios usados pela polícia que, para fazer retratos falados, utiliza uma vasta coleção de fotos de partes específicas do rosto, como narizes, bocas e outros detalhes; • O fato de pianistas virtuosos tenderem a ficar paralisados, quando fixam sua atenção

ao movimento de seus dedos;

O conceito de conhecimento tácito também ajudaria a explicar por que a compreensão de assuntos complexos pode ser prejudicada, quando se busca fazê-lo, primordialmente, a partir de sua decomposição em partes e análises estritamente racionais (TERRA, 1999).

Nonaka e Takeuchi (1997) vêem a criação de conhecimento como um processo iterativo entre o racional e o empírico, entre a mente e o corpo, entre a análise e a experiência e entre o implícito e o explícito. Os mesmos autores destacam que o principal conhecimento é o tácito. Estes autores acreditam que o conhecimento tácito envolve duas dimensões: uma técnica, do tipo

know-how e outra cognitiva, que envolve modelos mentais, crenças e percepções. Dessa maneira,

a noção de conhecimento destes autores confere grande ênfase aos "insights", intuições, ideais, valores, emoções, imagens e símbolos. Além disso, questionam o papel central da educação e treinamento formal, como forma de aprendizado.

Apesar de aparentemente não ser tão valorizado nas empresas, Mitzenberg apud Terra (1999) mostrou através de uma pesquisa que a intuição ou o conhecimento implícito tem um papel fundamental sobre o processo real utilizado pelos gerentes para a tomada de decisões, processamento e difusão de informação, ou seja, os gerentes utilizam-se, sobremaneira, do hemisfério direito do cérebro no seu dia-a-dia. Entre as evidências e inferências que sustentariam esta conclusão estão as seguintes:

• Gerentes utilizam-se, preferencialmente, de informação obtida pessoalmente, através de conversas, para a tomada de decisão;

• Muito da dificuldade em delegar advém do fato de os gerentes não conseguirem explicitar muito do seu conhecimento;

• O trabalho dos gerentes é relacional, simultâneo e experimental, ou seja, envolve poucas atividades planejadas e seqüenciais;

• Entre os principais papéis exercidos pelos gerentes encontram-se a capacidade de liderar, servir como elo de ligação entre várias partes dentro e fora de sua área primária de atuação, e lidar com perturbações. Todas estas atividades são de difícil explicação pelas abordagens mais racionalistas típicas da literatura organizacional;

• Os principais processos envolvidos na tomada de decisão estratégica são o

diagnóstico e a geração de soluções criativas. Ambos os processos não seriam explicados pelas abordagens racionalistas convencionais;

"Timing" é fundamental na tomada de decisão estratégica, ou seja, os gerentes utilizam-se de variados artifícios - como adiar reuniões - até que estejam "prontos" para a tomada de decisão;

• Ao tomar decisões estratégicas importantes, os gerentes se utilizam com maior freqüência da "capacidade de julgamento" do que de estudos analíticos;

• O processo de tomada de decisões organizacionais tem que se adaptar às condições e "inputs" irregulares em importância e relevância advindos do ambiente. O gerente, através de processos intuitivos, filtraria e daria a devida importância a diferentes mudanças ocorridas no ambiente;

• O processo de formulação de estratégias inovadoras não é facilmente

reconstituído, pois resulta, em geral, de processos informais, vagos, interativos e, acima de tudo, da síntese de elementos aparentemente desconexos.

Deste modo, pode-se concluir que o conhecimento tácito é associado ao conhecimento do "expert" na solução de problemas, ou ainda à intuição que permite a tomada de algumas decisões sem motivo ou razão, facilmente, explicável ou aparente.

2.6.7.2 Conhecimento explícito

Nonaka e Takeuchi (1997) define conhecimento explícito como sendo o conhecimento que pode ser articulado em linguagem formal, o que inclui sentenças gramaticais, expressões matemáticas, especificações, manuais, etc.

Leite (2001) cita que algumas empresas encorajam seus funcionários a transformar conhecimento implícito (tácito) em conhecimento explícito. Este conhecimento capturado é, então, guardado em depósitos como bancos de dados e Intranet, onde usuários podem realizar pesquisas.

2.6.7.3 As dimensões do conhecimento

Existem duas dimensões, de acordo com a teoria de Nonaka e Takeuchi, de criação do conhecimento organizacional: a ontológica e a epistemológica. Na ontológica, o conhecimento se desloca do nível individual até o interorganizacional, significando a difusão do conhecimento da pessoa até a construção de uma rede de conhecimentos entre organizações. Assim, “esse processo

de difusão de conhecimento ocorre dentro de uma ‘comunidade de interação’ em expansão, que atravessa níveis e fronteiras interorganizacionais” (NONAKA e TAKEUCHI, 1997).

A dimensão epistemológica é baseada na distinção entre conhecimento tácito e explícito de Polanyi.

A teoria de Nonaka e Takeuchi tem como foco central o conhecimento tácito, porque segundo estes autores, este tipo de conhecimento ficou relegado a segundo plano nos estudos organizacionais devido à sua dificuldade de quantificação, sua intangibilidade, por envolver o uso da experiência e a tomada de decisões sem suporte científico; por seu apreço a metáforas e analogias.

No entanto, Nonaka e Takeuchi (1997), deixam claro que distinção entre conhecimento tácito e explícito não implica uma separação das duas partes do todo; ao contrário, por seu caráter indivisível e de interdependência, envolve a constante troca, a permanente interação entre as duas dimensões, gerando formas de conversão particulares, conforme o relatado por eles:

Em nossa visão, [...] o conhecimento tácito e o conhecimento explícito não são entidades totalmente separadas, e sim mutuamente complementares. Interagem um com o outro e realizam trocas nas atividades criativas dos seres humanos. Nosso modelo dinâmico da criação do conhecimento está ancorado no pressuposto crítico de que o conhecimento humano é criado e expandido através da interação social entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. Chamamos essa interação de ‘conversão do conhecimento (NONAKA e TAKEUCHI, 1997).

A partir daí, são postulados quatro modos de conversão do conhecimento, conforme mostrado na figura 2.12:

Figura 2.12- Modos de Conversão do Conhecimento Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997)

1. Socialização (de tácito para tácito): é o processo através do qual experiências são