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Tal como asseverámos na revisão de literatura acerca da crítica à perspectiva estratégica (Anexo 24), Moreira (1997, citado por Moreira, 2007), afirma que Sthal, Nyhan e D’Aloja (1993, citados por Moreira, 2007) encaram a aprendizagem organizacional como um modelo empresarial da Sociedade do Conhecimento, na medida em que atribuem aos recursos humanos um carácter decisivo para as escolhas tecnológicas e de mercado, transformado por conseguinte toda a organização. Citando Pfeffer (1994), Moreira (1997, citado por Moreira, 2007) considera que são os recursos humanos a base da competitividade, algo que inverte a lógica taylorista. Segundo Rodrigues (1991), igualmente citado por Moreira (1997, citado por Moreira, 2007), é a partir do recurso humano que os restantes recursos são potenciados: a informação; os equipamentos; as infra-estruturas; a organização; os recursos naturais, entre outros.

Neste sentido, consideramos fulcral analisar a importância do tirador, da sua formação profissional e da sua representatividade enquanto profissão.

Segundo o proprietário-gestor do Montado 1, o tirador de cortiça tem, por regra, uma idade compreendida entre os 40 e os 50 anos. Aprenderam o descortiçamento com os pais e avós e acabam por estar ocupados o ano inteiro com as várias ocupações sazonais dos Montados de Sobro e das explorações agrícolas. O proprietário-gestor do Montado 1 desconhece a existência de qualquer representação associativa ou se há uma carta profissional de tirador de cortiça, afirmando que estes não têm representação associativa porque não o querem.

A contratação dos tiradores no Montado 1 é feita com recurso a uma empresa da região especializada no descortiçamento. De acordo com o entrevistado, tem sido progressivamente mais difícil arranjar tiradores, pois os mais jovens não aderem a esta ocupação (apesar de ser bem paga), factor que tem provocado um aumento na requisição de tiradores de cortiça ao longo dos anos. Segundo o proprietário-gestor do Montado 1, o descortiçamento “é um trabalho violento, é preciso força para puxar a cortiça da árvore, que está cheia de abelhas, formigas, poeira, sob uma temperatura de 35º a 40º. Chegam ao fim do dia cansados e moídos”.

Segundo o proprietário-gestor do Montado 2, existem pequenas firmas organizadas que se dedicam apenas ao descortiçamento, contratando ranchos nas populações. Este considera a tiragem de cortiça um serviço “especializado” e “arriscado, que os mais velhos têm dificuldade de exercer”. Apesar de verificar que há falta de tiradores de cortiça, o que por

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vezes prolonga o tempo de tiragem em 2 meses, tem visto mais tiradores entre os 20 e os 25 anos, pois o valor pago por este trabalho sazonal torna-o atractivo.

Quanto ao proprietário-gestor do Montado 3, o facto de este ter dado respostas diametralmente opostas no que respeita à representação do tirador da cortiça e à facilidade com que encontra tiradores inviabiliza qualquer análise ao seu depoimento neste aspecto. Recordamos que este é o único dos entrevistados que não exerce a tempo inteiro a actividade de gestão do Montado. De facto, este foi o proprietário-gestor que demonstrou maior falta de conhecimento da actividade, de que é exemplo o facto de não saber o que é o falquejamento. Indo agora ao proprietário-gestor do Montado 4, verificamos que este define o tirador de cortiça como “mão-de-obra especializada”. Afirma que os manageiros não têm tido dificuldades em encontrar tiradores e que “têm aparecido aprendentes do ofício, porque é uma actividade muito bem remunerada”. No que respeita à representatividade associativa da profissão e à carta profissional, o entrevistado não tem conhecimento de que existam, embora afirme que antes de 1974 existia carta profissional de tirador. Segundo este proprietário-gestor é necessário que haja da sua parte conhecimento dos processos que compõem a tiragem de cortiça, para que seja possível controlar correctamente a qualidade do descortiçamento efectuado pelos tiradores contratados (“é fundamental”).

Segundo o Boletim do Trabalho e Emprego, n.º 28 de 29 de Julho de 2008 (Boletim do Trabalho e Emprego, 2008), as ocupações ligadas ao descortiçamento estão regulamentadas em termos de funções e remunerações. O descortiçamento reparte-se em três ocupações: “Emetrador ou ajuntador. — É o trabalhador que procede ao emetramento e ao ajuntamento de lenha e de cortiça, depois daquela cortada ou extraída. (...) Tirador de cortiça amadia ou empilhador. — É o trabalhador que executa trabalhos necessários e conducentes à extracção de cortiça amadia ou ao seu empilhamento. Tirador de cortiça falca. — É o trabalhador que executa necessários e conducentes à extracção de cortiça falca (Boletim do Trabalho e Emprego, 2008: 2876 e 2879).

Verificou-se que nenhum dos entrevistados soube distinguir as três funções do descortiçamento. Ao perguntarmos se o tirador de cortiça tem carta profissional, pretendíamos saber se existe formação profissional na área do descortiçamento e se os proprietários- gestores tinham conhecimento de tal. A nossa investigação constatou que não existe formação profissional nesta área e que, tal como os entrevistados referiram, as competências dos tiradores são passadas de pais para filhos e entre amigos, sobretudo dos mais velhos para os mais novos. As restantes ocupações referentes à actividade de manutenção do Montado (como

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as podas ou as desmatações) estão igualmente descritas no Boletim do Trabalho e Emprego, n.º 28 de 29 de Julho de 2008 (Boletim do Trabalho e Emprego, 2008).

Neste sentido, consideramos que as ocupações sazonais de descortiçamento e manutenção dos Montados de Sobro são o factor primordial sobre o qual devem recair possíveis iniciativas de cooperação entre os Montados de Sobro. O emetrador ou ajuntador, o tirador de cortiça amadia ou empilhador, o tirador de cortiça falca e as funções de manutenção do Montado são tarefas que determinam, desde o ponto de partida, a competitividade e toda a cadeia de valor da cortiça portuguesa, na medida em que é a partir destes recursos humanos que a organização (Montado) e os seus recursos naturais (sobreiro e cortiça) podem ser potenciados.

Por conseguinte, consideramos essencial o início da formação profissional das funções que envolve o descortiçamento. Tal poderia ser iniciado pelos proprietários-gestores dos Montados analisados. Como verificámos, as iniciativas de cooperação propostas aos entrevistados tinham como fundamental entrave os custos implicados. Mas verificámos igualmente uma concordância entre os Montados 2, 3 e 4, no que respeita a uma partilha de custos entre Montados, ou entre o Estado e os mesmos, para iniciar actividades conjuntas de investigação e desenvolvimento. O proprietário-gestor do Montado 1 foi o único que não fez referência à possibilidade de cooperar em iniciativas deste género partilhando custos financeiros. Ora, o fomento das competências, conhecimentos e capacidades dos tiradores de cortiça é um factor crucial para o desenvolvimento do sector produtor nacional de cortiça onde se incluem os Montados 1, 2, 3 e 4. Por arrastamento, todo o sector corticeiro de Portugal sairia beneficiado de tal iniciativa.

Todavia, antes de aprofundarmos como se poderia edificar esta iniciativa de cooperação, é peremptório concluirmos se é possível a Constituição de uma iniciativa de Cooperação

Inter-organizacional a partir dos 4 Montados de Sobro estudados.