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Vantagens e Desvantages da Hierarquia e do Mercado

Vantagens e Desvantagens da Hierarquia e do Mercado

Apesar da teoria dar vantagem à governação pelo mercado, a Sociedade Industrial pautou-se geralmente pela integração hierárquica (Fukuyama, 1996, citado por Moreira), o que muitas vezes levou à cartelização e a alianças entre o Estado e monopólios privados (Moreira, 2007). A integração pela hierarquia está condicionada na sua acção pela obrigatoriedade de manter os espaços territoriais comercialmente fechados, na medida em que tanto negligencia a qualidade do serviço que presta aos clientes, como pode provocar custos de gigantismo (Moreira, 2000, prefácio).

Portugal, sobretudo durante o Estado Novo, cartelizou grande parte da actividade económica, criou monopólios com conivência e incentivos do Estado, fechou o seu espaço comercial da metrópole e das colónias, com o objectivo de escapar à concorrência externa e conseguir escoar produtos de fraca qualidade. Como não era conseguido o escoamento pretendido de muitos destes produtos para a metrópole, e sobretudo para o exterior, o mercado colonial (também fechado ao exterior) era usado como escape para os produtos inferiores e assim garantir a sua rentabilidade. No anexo 1, vimos como Portugal teve durante muitas décadas do séc. XX um avolumar de integrações hierárquicas que provocaram gigantismo e baixa qualidade na produção, na produtividade e em produtos em vários sectores.

Durante a Era Industrial, houve a prática da integração vertical, desde os fornecedores até ao marketing, o que fez com que os produtos se movimentassem e se fabricassem maioritariamente numa ordem interna e não pelas transacções de mercado (Fukuyama, 1996). De acordo com Chandler (1977, citado por Moreira, 2007), as empresas procuraram contrariar o sistema descentralizado de preços do mercado por via da integração hierárquica, integrando horizontal e verticalmente (intra-organizacionalmente) concorrentes, clientes e fornecedores, de forma a anular o mercado ao nível inter-organizacional. Mas a partir dos anos 80 e 90, a integração pelo mercado passou a governar a maioria das estratégias empresariais no mundo, com vantagens e desvantagens (Moreira, 2000).

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Quadro 4 – Vantagens e Desvantagens dos Modos Tradicionais de Governação

Formas Organizacionais Vantagens Desvantagens

Integração Baixos Custos Altas (des)economias

pela hierarquia de Transacção de escala

Integração Baixas (des)economias Altos Custos

pelo mercado de escala de Transacção

Fonte: Copiado integralmente de Moreira (2007: 59). Anteriormente adaptado de Fukuyama (1996) por Moreira (2000: 7).

A integração pela hierarquia acarreta mais custos burocráticos e mais custos de informação (Fukuyama, 1996).

Consequências do problema da informação

À semelhança do que já havia sido sumariamente exposto no anexo 2, na hierarquia, a informação centralizada implica uma estrutura onde é pedido ao empregado que reúna informação necessária e a envie a um coordenador central (chefe), para que este tome decisões e as envie de volta para o empregado, sob a forma de directrizes que terá de executar. Este processo é eficiente quando o processo de reunião de informação especializada necessária é demasiado complexo para ser executado por apenas um actor. Contudo, há quatro limitações à integração pela hierarquia no modo de resolução do problema de informação. A primeira diz respeito ao facto de os incentivos a uma colecta diligente e precisa de informação saírem enfraquecidos, porque quem tem essa função não é quem a irá utilizar (Hennart, 2010). A segunda limitação prende-se com o melhor acesso à informação que os actores no local podem ter em comparação com o chefe, que pode não saber tal facto e delegar directrizes que acabam por não incorporar toda a informação que realmente estava disponível (Hayek, 1945, citado por Hennart, 2010). A terceira limitação fala-nos da vulnerabilidade da informação, que ao subir e descer na cadeia de comando, pode ficar distorcida intencional ou acidentalmente. A quarta remete-nos para a sobrecarga de informação que um chefe pode ter (Hennart, 2010).

Neste sentido, a forma como a integração pela hierarquia resolve o problema dos custos de informação reduz os custos de transacção mas aumenta o problema da escala, ao contrário da

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integração pelo mercado, que, segundo Hennart (2010), usa uma estrutura descentralizada de informação para comunicar às partes que existe uma interdependência e que esta pode potencialmente gerar rendimentos. Os actores reúnem por si a informação necessária, que é providenciada pelos preços. Se este sistema governativo permitir obter a informação imprescindível ao benefício mútuo das partes, então revela-se eficiente, como nas situações em que o bem transaccionado é fácil de medir e a competição entre compradores e vendedores revela total informação (Hennart, 2010). Neste caso, os custos de transacção não saem inflacionados por dois factores que Fukuyama (1996) enunciou: custos de sintonização entre compradores e vendedores e custos de negociação dos preços.

A grande vantagem do mercado é o facto de o utilizador da informação e o responsável pela sua colecta serem a mesma pessoa, o que garante maior motivação para reunir informação e menos perda desta porque não é transferida (Hennart, 2010).

Os preços incentivam as transacções, porque os agentes económicos são remunerados proporcionalmente em relação ao output possível de ser medido pelo mercado. Portanto, o sistema de preços é eficaz se os outputs forem relativamente fáceis de medir em todas as dimensões relevantes. Quando tal não é possível, os agentes poderão tentar gerar rendimentos unilateralmente, cobrando aos compradores preços maiores sobre as dimensões da transacção difíceis de medir, algo que Hennart (1993, citado por Hennart, 2010) chamou de defraudar (cheating).

É aqui que consideramos que os maiores custos de transacção podem ser gerados. Uma das funções das formas organizacionais é o reforço à transacção. De acordo com Hennart (2010), enquanto que a hierarquia recompensa os actores com base no seu comportamento, o mercado fá-lo através dos outputs que são medidos. Reforçar o comportamento envolve directrizes externas (regras burocráticas ou supervisão pessoal) ou internas (doutrinação ou socialização, a que Ouchi (1979, citado por Hennart, 2010) deu o nome solução de Clã). Quando os outputs são difíceis de medir mas controlar o comportamento e obter o desempenho pretendido é fácil, a hierarquia leva vantagem sobre o sistema de preços (Hennart, 2010), porque não aumentam os custos de transacção.

Assim, o modo de partilha da informação e a maneira como as transacções são reforçadas/recompensadas são dois factores que têm fortes implicações no aumento ou não dos custos de transacção de uma organização, bem como nas consequências nefastas de uma alta (des)economia de escala.

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