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Tornando os sonhos realidade

Os sonhos são os segredos mais extraordinários do líder.

inha 17 anos de idade. Estudava o segundo ano do ensino médio numa escola pública e fazia paralelamente um curso preparatório pré-universitário. Estudei um ano todo, e, quando chegou novembro, um sonho surgiu dentro de mim, e os meus planos mudaram. De um momento para o outro, eu não conseguia continuar na rota que havia trilhado até então, e um incômodo começou a tomar conta do meu coração.

T

Num dia chuvoso de novembro, sentado por seis horas nesse curso preparatório, tomei uma decisão. Desistir daquele vestibular e cursar outra faculdade. Não avisei meus pais nem fui para casa como costumava fazer. Saí de lá e fui direto ao escritório de uma organização que trabalhava com jovens. Eu também havia tomado outra decisão. Como só estudava, eu me prontificaria a trabalhar numa ONG para jovens e adolescentes, que, naquele momento, eram minha paixão.

Como chovia muito no dia, tive de esperar por mais de uma hora na recepção do prédio, até que minha roupa secasse. Já no escritório, conheci pessoalmente um homem chamado Abel Alves, a quem já admirava muito, e que era o secretário administrativo da organização. Ele tinha uns 35 anos, e eu, 17. Em nossa conversa, ele me deu todo apoio à decisão de cursar outra faculdade, e aquilo me serviu de confirmação.

comprovação. Eu queria me dedicar a um trabalho daquele tipo, e ali era o lugar. Pensei por um momento que seria muita ousadia querer substituí- lo. Eu não tinha nenhuma experiência, nem sequer estava na faculdade. No entanto, a ousadia falou mais alto. Quando ele acabou de falar, eu disse:

— O meu propósito é dedicar-me a um trabalho como este. Já que você está saindo, o que acha de eu ser seu sucessor?

Eu estava tão entusiasmado, que não tinha noção de minha ousadia, mas certamente ela era o combustível de meus sonhos. Lembro-me perfeitamente que Abel quase caiu da cadeira, e, por alguns instantes, ficou constrangido olhando para mim e provavelmente pensando: “que moleque petulante”. Logo em seguida, disse:

— Precisamos conversar com Bento Ribeiro, o presidente da organização, pois a decisão final é dele.

Minha ousadia era tanta, que deixei o telefone de recados (da vizinha) e pedi que ele marcasse o encontro imediatamente.

Saí dali e fui para casa. É comum que toda ousadia murche quando chegamos à nossa casa. Meu medo era dizer a meus pais que um ano de investimento em mim — só para falar nos estudos — seria jogado fora, uma vez que eu não faria o exame vestibular para o curso universitário que eles imaginavam e para o qual eu havia me preparado; além disso, eu faria outro curso e trabalharia em algo com o qual eu começava a sonhar. Quando cheguei, a coragem correu para um lado e a ousadia para o outro, pois minha mãe estava me esperando no portão. Tive de encher o peito e dizer tudo que estava acontecendo. Surpreendentemente, minha mãe me abraçou, chorou e começou a contar uma longa história.

Sou filho temporão. Tenho apenas uma irmã, Marlene, quinze anos mais velha que eu. Quando nasci, minha irmã completaria dezesseis anos, e minha mãe já passava dos trinta e seis. Minha mãe começou a dizer que os médicos não queriam fazer o parto, pois temiam ou pela minha vida, ou pela vida dela. Ela e meu pai fizeram um propósito. Se eu nascesse com saúde, gostariam que minha vida fosse usada para algo especial.

Eles combinaram que nunca me contariam nada até o dia em que eu me decidisse. Aquele era o momento. Tudo isso para mim foi um alívio. No dia seguinte, fiz a inscrição para o exame vestibular em outra faculdade e dois dias depois recebi um telefonema daquela organização marcando a reunião com o presidente. Lá fui eu com toda minha ousadia e cheio de sonhos pleitear um cargo que estava muito acima de minha capacidade.

Ao final do encontro, estava contratado. Yes! Toda vez que me lembro disso meu coração bate mais forte!

Comecei a trabalhar naquela organização como secretário administrativo. Logicamente eu não teria todas as funções de meu antecessor, uma vez que eu era menor. Se não bastasse começar a trabalhar numa organização que atuava apenas no Estado de São Paulo, alguns dias depois fiquei sabendo que o secretário-geral da organização nacional também era demissionário. Quando soube disso, meu coração disparou, mas eu não entendi bem o motivo.

Cerca de dois meses depois, o sucessor do secretário nacional ainda não tinha sido escolhido, e aquilo continuava me incomodando. Resolvi fazer um dia de retiro pessoal — pela primeira vez na vida —, para refletir e saber por que eu me sentia daquela forma. Lembro-me perfeitamente de que a certa hora do dia, sonhei acordado. Tive a sensação de que um dia eu seria o secretário-geral nacional da organização. Era algo impossível naquele momento; no entanto, cedo ou tarde aquilo se concretizaria.

A partir daquele dia, eu comecei a viver esse sonho. Levantei-me, peguei o telefone e liguei para o presidente nacional da organização, que morava em outra cidade. Eu só o conhecia de vista e nunca tínhamos nos falado. Disse a ele:

— O senhor não me conhece, mas eu sou leitor assíduo dos artigos que escreve. Sei que a nossa organização está prestes a escolher um novo secretário-geral nacional. Estou à disposição.

Fiz isso na maior inocência do mundo, como quem se oferece para ajudar a fazer algo que ninguém quer fazer. Ele me fez uma única pergunta:

— Quantos anos você tem? Respondi:

— Tenho dezessete, mas já estou para completar dezoito.

Eu nem mesmo sabia que uma pessoa precisava ter mais de 21 anos para responder por uma organização. O presidente foi muito educado, finalizou a conversa comigo e creio que nunca deve ter comentado o assunto com ninguém.

Quando desliguei o telefone, fui tomado por uma paz que extravasava — era como lutar por um sonho. Alguns dias depois, uma pessoa bastante conhecida em âmbito nacional era eleita como secretário-geral da

e a paz que senti no coração, ao pôr o telefone no gancho, me acompanhou durante todo esse tempo.

Fui o secretário administrativo da organização em São Paulo por um ano. Em seguida, trabalhei por mais quatro anos no serviço público. Nesse período, concluí a faculdade que desejava.

Depois trabalhei como secretário-geral da organização por mais quatro anos e meio, especificamente com jovens e adolescentes. Durante esses anos, nunca deixei de sonhar em atuar na mesma organização em âmbito nacional.

Por quase sete anos, somente três pessoas souberam de meu sonho. Minha esposa e meus dois melhores amigos na época — ninguém mais. Prometi que só tornaria esse sonho público quando ele se concretizasse. Exatamente sete anos depois o sonho tornou-se realidade, e fui eleito o secretário-geral nacional daquela organização. No dia em que fui eleito, chorei bastante ao lembrar do sonho e contei isso ao conselho que me elegeu.

Nunca lutei politicamente para buscar aquele cargo, mas eu sabia que o sonho de querer fazer diferença na vida de pessoas se concretizaria. Nunca mencionei o assunto com outros para não influenciar alguém a votar em mim. Sentia que minha trajetória me havia preparado por sete anos para aquele cargo, e haveria muitos desafios pela frente.

Durante os sete anos, por mais que eu não pensasse naquele sonho, ele sempre estava em meu coração. O sonho não me atormentava nem me causava ansiedade, mas vinha à minha memória.

P

ARA PENSAR NO CHUVEIRO

Estou contando tudo isso para que você pense a respeito:

• Líderes que desejam fazer diferença no mundo sempre sonham com o futuro. Essa é uma verdade ontem e hoje.

• Não se assuste se você tiver sonhos como líder. Na verdade, o mundo precisa de líderes que queiram viver intensamente sonhos que tornem este mundo melhor.

• Não se preocupe também com o tempo. Os sonhos podem vir aos dezessete anos de idade e só se concretizarem cinco ou dez anos depois. Contudo, em momento algum os abandone.

• O tempo é apenas uma escola preparatória para a execução de nossos sonhos. Nem sempre estamos preparados para pôr em ação todos eles.

• O mundo receberá o impacto de líderes que estão mais preocupados em concretizar sonhos que fazem diferença na vida de pessoas do que em atingir objetivos egoístas.

• Procure descobrir os sonhos de sua vida e liderança. Quando descobri- los, viva-os intensamente. A descoberta dos sonhos pode ser o primeiro dia do restante de sua vida.

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