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Toxicomania e laço social

No documento RODRIGO ALENCAR São Paulo 2012 (páginas 60-70)

3. DROGAS E PSICANÁLISE: PROBLEMATIZAÇÕES NECESSÁRIAS

3.3. Toxicomania e laço social

Ao atentarmos para as drogas enquanto produto de um trabalho discursivo, buscamos passagens nos autores que compõe o eixo de interpretação e análise dos dados desta pesquisa. No entanto, neste momento recorremos a estes autores com a pretensão de localizar passagens que dizem respeito às drogas em seu aspecto psicopatológico. Este movimento se faz necessário, visto que a droga facilmente surge enquanto sabotadora do laço social nos trabalhos de orientação lacaniana que propõe trabalhar este tema.

Na literatura consultada, a classificação da droga como algo que possibilita o rompimento com o gozo fálico, é quase um consenso entre diversos autores na psicanálise (ALMEIDA, 2010; CRUGLAT, 2001; SOLER apud RIBEIRO, 2008; NOGUEIRA FILHO, 1999). Localizamos que esta concepção descende de duas passagens, consideradas referências para o entendimento das drogas na teoria psicanalítica:

• Freud em o Mal Estar na Civilização:

devemos a tais veículos [substâncias tóxicas], não só a produção imediata de prazer, mas também um grau altamente desejado de independência do mundo externo, pois sabe-se que com esse “amortecedor de preocupações”, é possível em qualquer ocasião, afastar-se da pressão da realidade e encontrar refúgio num mundo próprio (...). Sabe-se igualmente que é essa propriedade dos intoxicantes que determina o seu perigo e a sua capacidade de causar danos. São responsáveis em certas circunstâncias, pelo desperdício de uma grande quota de energia que poderia ser empregada para o aperfeiçoamento do destino humano (1930, pág. 27);

• Freud em uma carta à Fliess: “o primeiro e único dos grandes hábitos, a protomania, e que todas as demais adicções como a do álcool, da morfina, do tabaco e etc. Só aparecem na vida como substitutos daquela” (FREUD APUD NOGUEIRA FILHO,

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1999, pág. 38)

• Lacan na jornada de encerramento dos cartéis em 1975 (apud SANTIAGO, 2003):

é por que eu falei do casamento que eu falo disso; tudo o que permite escapar a este casamento é evidentemente bem-vindo, daí o sucesso da droga, por exemplo; não existe outra definição da droga que esta: é o que permite romper o casamento com o faz-xixi. (LACAN apud SANTIAGO, 2001).

A partir destas citações, podemos compreender porque alguns analistas compreendem as drogas como algo avesso ao laço social. No entanto, não concordamos com tal posição. Assim, se faz necessário abordarmos um exemplo para que possamos fazer a crítica.

Almeida localiza o lugar da relação com a droga como “falência no laço” (2010), tratando o termo falência, com uma conotação que representa uma queda da função fálica. Cruglat (2001), também trabalha o uso de drogas como uma espécie de gozo autístico. Esta visão pressupõe que aquele que faz uso de drogas não tem maiores relações de gozo com seus pares, como se sua forma de gozar estivesse deslocada do laço social. Curiosamente este entendimento sobre a questão das drogas e a célebre frase de Carlos Lehder Rivas citada no início deste trabalho conflui na mesma direção. Se levarmos a cabo a frase de Rivas sobre a cocaína como uma “bomba atômica”, podemos olhar o que está implícito em seu discurso: esta substância há de proporcionar o pior e acabará com nossa sociedade. Se de fato o toxicômano não faz parte de uma ordem fálica e se aprisiona no ultrapassamento progressivo das fronteiras da capacidade de gozar de um corpo, temos aí a atomização de indivíduos no campo social, paradoxalmente alienado numa ordem que impossibilita laço, sem dúvida, um gozo atomizado38.

38 Se pensarmos o significante atômico por meio da ciência, podemos nos remeter ao

“atomismo lógico”: O atomismo lógico propõe, (...) que o mundo decomponha-se em uma série de entidades isoladas e independentes que não têm nada a ver umas com as outras. Cada objeto é como um átomo e pode ser conhecido diretamente por ele mesmo; diferem- se muito mais por sua independência do que por sua relação com o conjunto, isto é: com o todo. O único caminho para conhecer o universo será decompo-lo em elementos simples

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Porém, devemos nos deter acerca do que supostamente impossibilita laço, tal concepção acata uma fantasia de que aquele que usa drogas está do outro lado da barreira do interdito, visto que o ideal fálico e o laço social é algo que submete a todos os seres que vivem na cultura, consequentemente à interdição imposta pela castração. Deste modo, se as drogas realmente possibilitassem tal gozo, de maneira grosseira poderíamos justificar a fantasia proibicionista de erradicação das drogas – visto que sem drogas podemos nos fiar ao limite imaginário de que seria difícil alguém se tornar toxicômano – isto é: se a proibição realmente atingisse este suposto objetivo, seria compreensível que uma substância de alto potencial de prazer e destruição contaminasse cada vez mais usuários, com esta suposta auto-suficiência. Sob tais premissas esta sociedade de fato teria um inimigo público a combater.

Entretanto, se fiar a uma alienação ao ideal fálico e interpretar as drogas como uma chaga civilizatória, talvez não seja a melhor maneira de elaborar tal questão. Em contraste com este posicionamento, Melman (1992) coloca em cheque a efetividade da política proibicionista. Contra a proibição estatal ele sugere que às drogas sejam tratadas exclusivamente pela saúde:

“Não a da liberalização (...) nem mesmo a de uma substituição de drogas como na Holanda, mas a de uma transformação dos lugares onde hoje os toxicômanos são tratados, em locais onde os médicos e o pessoal especializado nos cuidados teriam a faculdade de um contato permanente com eles, graças às drogas, estariam em condições de lhes fornecer dentro da plena legalidade. Pode se apostar, pelo menos a título de tentativa, na deserotização do produto que seria introduzida por esta medida” (1992, pág. 124). Assim, fica evidente como Melman se propõe a pensar a psicanálise para além de seu consultório e, de certa forma, se antecipa a colocar possíveis caminhos com saídas menos 'avassaladoras' para o tratamento das toxicomanias. Porém, como o mesmo afirma nesta citação que acabamos de apresentar: “a título de tentativa” (Ibidem), um possível resultado é o que

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consta anteriormente em seu próprio texto:

Os produtos de síntese, assim como os benzodiazepínicos, revelam-se perfeitamente eficazes contra a dor de existir (…) a revolta e a indignação, o desgosto ou a piedade, a depressão e a insônia podem ser assim tratados como sintomas mórbidos. A passividade assim obtida se fará ao preço de uma adição, desta vez legal” (Ibidem, 1992, pág. 120).

Deste modo, Melman, ainda que baseado na erotização que o usuário faz com a proibição das drogas, ao buscar neutralizar este jogo, não trata necessariamente da questão. Concordamos que caso as pessoas tivessem meios mais seguros para utilizar suas substâncias seria mais fácil estabelecer um trabalho que envolvesse uma melhor e mais acessível oferta de tratamento. No entanto, permanece a questão de uma crescente medicalização do cotidiano. A epígrafe de Fitzgerald(2007)39 diz justamente sobre isso, servindo de alerta para as estratégias adaptativas, na sua tentativa de calar o sofrimento. Assim, pode ser no silêncio de uma trégua que as contradições inerentes ao sujeito apareçam de maneira trágica.

Portanto, se o discurso do mestre lança mão da proibição como estratégia para justificar uma guerra contra as drogas. O discurso da ciência tende a submeter o sofrimento sob procedimentos rigorosamente administrativos.

Assim, para que não nos limitemos à definição de toxicomanias somente pela lente da psicanálise, buscamos nos texto de um importante psiquiatra brasileiro, a definição que este faz de dependência química. Ainda que não possamos escorregar de um termo a outro tratando como se fossem o mesmo, a dependência química pode ser trabalhada como correlata da toxicomania para a psiquiatria, com a ressalva de que esta nomeação dá maior

39 Crack up, traduzido em português como O Colapso, foi escrito em 1936, neste ano

Fitzgerald já sofria sérias complicações decorrentes do uso de bebida alcóolica, e no texto relata inúmeras situações de sua época, dentre elas os suicídios de amigos e os crimes que acompanharam a crise da bolsa de valores de Nova Iorque em 1929. Não por menos, em tempo de pleno progresso capitalista, o sistema financeiro também sofreu um colapso (crack).

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enfoque ao funcionamento biológico de um corpo. Não obstante o termo ter esta conotação, o psiquiatra brasileiro Dartiu Xavier Silveira Filho, descreve o dependente químico como “um indivíduo que se encontra diante de uma realidade objetiva ou subjetiva insuportável, realidade essa que não consegue modificar e da qual não pode se esquivar restando como única alternativa a alteração da percepção da realidade” (1996, pág. 7). A definição de Silveira Filho passa por uma leitura motivacional da conduta de um sujeito, sendo esta motivação encurralada por uma realidade. É sabido que na psicanálise lacaniana, a realidade tem estrutura de ficção (LACAN, 1965-1966), e talvez frente ao impasse posto nessa definição de dependência química, Melman tenha a melhor resposta:

poderíamos aconselhar àqueles que trabalham com os toxicômanos (…) a serem extremamente prudentes com sua linguagem. Quando, por exemplo, dizem a um toxicômano ‘você está chapado, eu o verei quando estiver mais claro’ (...) não é pelo fato de estarmos em nosso estado que estamos particularmente claros (MELMAN, 1992: 72).

Este apontamento é justamente a referência à mediação da fantasia na nossa relação com o outro, dando destaque à impossibilidade de vivência de uma realidade objetiva pura por parte de qualquer sujeito.

No entanto, a definição Silveira Filho (1993) também tece um apontamento que revela uma tentativa de aliviar o peso moral, suscitado pelo uso de drogas como se o desejo fosse sempre o desejo de uma liberdade moderada, sob os ditames do bom senso. O psiquiatra afirma que “não se trataria, portanto, do desejo de consumir drogas, mas da impossibilidade de não consumi-las” (1996, pág. 7).

Quando nos referimos às toxicomanias ou dependência química, concordamos que se trata de uma impossibilidade e, curiosamente, há algo de freudiano na frase de Silveira Filho, ainda que seu texto faça referência ao que ele nomeia de dependência química. Seu lembrete, sobre a impossibilidade de não consumi-las, diz da condição humana, que desde tempos remotos e em

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variadas sociedades, lançamos mão de tais recursos. Podemos arriscar afirmar que a humanidade nunca deixou de ser dependente química em menor ou maior grau. Apesar deste joguete de significações que fazemos com a terminologia psiquiátrica, não podemos ignorar que se as mais diversas sociedades humanas não abrem mão de tais recursos é porque algo inerente a humanidade se mantém, de modo imprescindível, vinculado ao uso do que nós chamamos de drogas.

Entretanto, salientamos que este trabalho não tem o objetivo de discutir o estatuto do desejo para a psiquiatria contemporânea, ainda que, devamos reconhecer que o que chamam de dependência química, de certa maneira, responde a uma impossibilidade em determinado momento, de não o ser. Todavia, não seria ético por parte da psicanálise subtrair a dimensão da escolha quanto ao posicionamento do sujeito neste processo. Devemos considerar que o lugar que estas drogas de modo geral ocupam, de certa maneira, já compõe uma escolha que antecede a condição de sujeito.

Assim, o que nos serve à reflexão é a necessidade de considerarmos o próprio termo toxicomania, como termo que nos dias atuais tem suas maiores repercussões na psicanálise. Porém, trabalhar com a toxicomania como categoria clínica, envolve a escolha de um caminho refutado por vários autores pesquisados para a realização deste trabalho (GIANESI, 2005; ROSA, 2006; PACHECO FILHO, 1999; SANTIAGO, 2001; VORCARO, 2009). Esta classificação aparece como algo atrelado a sintoma social e não algo estrutural do sujeito (MELMAN, 1992; ROSA, 2006; VORCARO, 2009) ou não necessariamente se entra neste mérito (CRUGLAT, 2001).

Não obstante Melman (1992) trabalhe com a toxicomania, colocando esta como uma discursividade e do toxicômano como produto deste discurso, foi Santiago (2001) quem pormenorizou a toxicomania enquanto efeito de discurso.

Para trabalhar com as consequências do discurso científico, o autor se implica na compreensão e no uso do termo 'phármakon' enquanto significante em suas funções de símbolo e, distintamente: letra. Por meio do diálogo escrito por Platão denominado Fedro. Santiago explora os usos do 'phármakon' onde o termo é trabalhado como remédio que facilmente passa a veneno. Porém o

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que é denominado remédio no diálogo não é simplesmente uma substância – droga – em contato com o organismo como a estatutamos contemporaneamente40

, mas como técnica, no caso: a técnica de escrever como um remédio para a memória, e é na reposta do rei Tamuz, rei do Egito, a Troth, pai da escritura, que Santiago (2001) faz um recorte perspicaz para ilustrar o termo:

E eis que agora tu que és o pai da escritura [pater ôn grammaton], tu lhe atribuis, por complacência, um poder contrário àquele que ela possui. Na verdade, essa arte produzirá o esquecimento na alma daqueles que a terão aprendido, porque cessarão de exercer sua memória [mnéme] com efeito, confiando na escrita, é de fora [allotriôn tupôn], e não de dentro, graças a si mesmos, que poderão rememorar [anamimnes-komenous]; não é, pois, para a memória [mnéme], mas para a rememoração [hypomneseôs] que descobriste o remédio [phármakon]. Quanto à ciência, é a aparência que oferece a seus discípulos, não a realidade (Platão apud Santiago, 2001, pág. 34).

Talvez se confirme nesta passagem, um dos estatutos da droga enquanto 'phármakon', sobre o qual Santiago lançará mão até o final de sua tese. Ainda parafraseando o autor: “segundo Tamuz, Troth desconhece o fato de que a letra nunca terá virtude própria e imanente. Para este, ela está destinada, para sempre, a ser apenas suplemento, aparência, simulacro” (Santiago, 2001, pág. 34).

Estas afirmações condizem com o que é apontado como desenvolvimento de tecnologias de prolongamento da vida, dada uma instrumentalização de uma classe para o trabalho (FOUCAULT, 2008; VARGAS, 2008). Argumentos como estes, estão presentes até mesmo nos textos de Benjamin, dentre eles “Experiência e pobreza” (1994) e “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” (1994), a lógica sustentada seria: quanto mais técnica, menos experiência. Entretanto a questão que se faz para

40 Segundo a definição da OMS: droga é qualquer substância não produzida pelo organismo

que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas produzindo alterações em seu funcionamento.

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a psicanálise acerca deste debate é de como a ciência foraclui a verdade do sujeito (LACAN, 1965-1966), bem como a que isso serve à política quando nos referimos às drogas. Todo o trabalho psicofarmacológico vem justamente nesta direção, por meio das catalogações de efeitos das substâncias e de seus usos em massa.

Porém, assim como afirma Agamben (2009), cabe lembrarmos que dentre os primeiros dispositivos técnicos utilizados por seres humanos, está a linguagem e é a linguagem que possibilita o distanciamento da experiência. Deste modo, não acreditamos que se possa voltar ao nível da experiência pura, sem mediação da linguagem. Assim, nossa crítica se direciona a primazia da técnica fria e procedimental, destituída de valor humano, sem os seus impasses e sua ética.

Portanto, o sujeito, qual nos referimos aqui, “continua a ser o correlato da ciência, mas um correlato antinômico, já que a ciência mostra-se definida pela impossibilidade do esforço de suturá-lo.” (LACAN, 1965-1966, pág. 875). É justamente neste correlato antinômico que nos detemos para pensar a ameaçada do crack para a psicanálise. Esta construção, do sujeito da ciência, não tem outro objetivo senão negar um vazio. No entanto, vem em nosso auxílio para que em nossa análise, não nos rendamos à suposta saída de pensar a toxicomania como fuga da égide fálica.

Assim, se faz imprescindível ressaltar aqui a perspicácia que Santiago teve na denominação do nono capítulo de sua tese: “Vontade de ser infiel ao gozo fálico” (2001, pág. 161). Concordamos com a formulação de Santiago, visto que a vontade de ser infiel a este gozo é aquilo que revela a fidelidade aquém dessa vontade. Ou seja, só há vontade de ser infiel a este gozo, porque se vivencia seu peso e sua importância. Consideramos esta formulação, uma versão mais precisa à formulação feita por Lacan de que a droga permite o rompimento do casamento com o falo.

A crítica desta posição fálica pode ser apontada por Dias (2005) acerca de uma razão toxicômana, “os pais que ao chegarem em casa, alegam que 'se matam' de trabalhar não podem reclamar que seus filhos tenham problemas com drogas” (2005). Tal afirmação corresponde ao modo que Lacan se referiu ao uso metódico das drogas (LACAN apud SANTIAGO, 2001), ou seja: um uso

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submetido a um imperativo categórico sob o qual não há saída caso o sujeito não se implique em seu desejo e, colateralmente, em suas formas de gozo.

Portanto, se “a droga e a toxicomania são, afinal, resultantes do que ocorre na incidência do discurso da ciência nos interstícios do saber, como fenômeno de gozo” (Santiago, 2001, pág. 61) e “o valor de gozo da droga define-se portanto, como excedente da renúncia ao gozo do sentido, operada pelo sujeito da ciência nas tradicionais formas de conhecimento phármakon” (Idem), poderíamos atribuir unicamente ao desenvolvimento científico, as ditas toxicomanias? Não é o que sustentamos. Isto, de certa maneira, seria fechar os olhos para diversos dados já levantados neste trabalho, visto que a ciência detém um saber que opera a serviço de um mestre, todo este desenvolvimento, serve a uma ideia de progresso, que concomitantemente comportou como imprescindível a regulamentação, a proibição e inúmeros jogos econômicos nos quais drogas e armas se convertem em moeda como exposto no exemplo de Noriega.

No tratamento entre ciência e política, consideramos que a necessidade imperiosa de se intoxicar apontada por Régis, encontra sua resposta no apontamento feito por Rosa (2006), já que a toxicomania “é um fenômeno que circunstâncias históricas e ideológicas cristalizaram como uma identidade: a toxicomania”. Tal identidade não pode, nem mesmo ser compreendida como exclusiva das sociedades capitalistas41

, visto que tanto o bloco socialista quanto o bloco capitalista, durante a guerra fria, acusaram seus inimigos de traficarem drogas para seu território para corromperem sua juventude (ARBEX & TOGNOLLI, 2004). Talvez neste sentido, devamos discordar de Santiago. Este afirma que as drogas ganham espaço na era dos gadgets, objetos que ganham a caracterização de artigos de luxo inúteis (2001). Devemos frisar que não queremos escalar a pirâmide de Maslow42

, e classificar o que é supérfluo ou não, não passa pelos objetivos deste trabalho.

Portanto, pensamos que a categoria Toxicomania diz muito mais do

41 O desenvolvimento do discurso toxicomaníaco está inegavelmente atrelado ao

desenvolvimento da sociedade capitalista. Porém, sua existência não se restringiu somente a este sistema econômico.

42 Fazemos referência, ao trabalho de Abraham Maslow que hierarquizou as necessidades humanas em uma pirâmide.

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impossível governar a especificamente do impossível de analisar. Fazemos tal afirmação, por reconhecer que as drogas como um problema de saúde, nunca abandonaram seu marco histórico como questão para governabilidade, da política de gerenciamento à de tratamento, este campo frequentemente pauta seus indicativos de avanço no tratamento, uma maior regulação comportamental e adaptabilidade à formas legalmente reconhecidas de se gozar.

É no mínimo impressionante e até mesmo irônica, a maneira como os analistas se fiam em explicitar como funciona a toxicomania, obscurecendo a singularidade do falasser, tentando decifrar uma modulação de gozo que seja padrão no uso de drogas. Este movimento foi adotado por vários autores pesquisados e várias citações presentes em outros trabalhos levantados (ALMEIDA, 2010; CRUGLAT, 2001; NOGUEIRA FILHO, 1999; MELMAN, 1992). Talvez caiba aos psicanalistas reconhecerem, assim como afirmado por Lacan (apud SANTIAGO, 2001), quando alguém se propõe a tratar da toxicomania, isso só se faz de modo policialesco.

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4. O CRACK DO SUJEITO CONTRA A AMEAÇA IMPOSTA PELA POLÍTICA

No documento RODRIGO ALENCAR São Paulo 2012 (páginas 60-70)

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