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Trabalhadores das autarquias em exercício de funções no setor empresarial

CAPÍTULO II INOVAÇÕES E ESPECIFICIDADES DO “NOVO” SISTEMA

3. Âmbito de aplicação e especificidades

3.1 Trabalhadores das autarquias em exercício de funções no setor empresarial

Com a simultaneidade da plena entrada em vigor, em 1 de janeiro de 2009, da Lei n.º 12-A/2008, de 27 de fevereiro110( doravante LVCR) e da Lei n.º 64-A/2008, de 31 de dezembro111, passou a assumir particular relevância, neste domínio, a aplicação da figura da cedência de interesse público112-113 aos trabalhadores do município que se encontrem a

110 A Lei n.º 12-A/2008 de 27 de fevereiro, estabelece os regimes de vinculação, de carreiras e de remunerações dos trabalhadores

que exercem funções públicas. Foi adaptada à administração local pelo Decreto-Lei n.º 209/2009, de 3 de setembro.

111 Aprovou o Orçamento de Estado para 2009.

112O capítulo IV da LVCR disciplina a mobilidade dos trabalhadores, prevendo dois grandes instrumentos de mobilidade geral

determinados por razões de interesse público: a mobilidade externa, regulada no art.58.º e a mobilidade interna disciplinada nos artigos 59.º a 65.º.

prestar serviço em empresas municipais114, mercê da nova redação introduzida ao n.º 1 do art. 46.º da Lei n.º 53-F/2006, de 29 de dezembro, pela Lei n.º 64-A/2008, de 31 de dezembro que estabelece que «os trabalhadores com relação jurídica de emprego público podem exercer funções nas entidades do setor empresarial local por acordo de cedência de interesse público, nos termos da Lei n.º 12-A/2008, de 27 de fevereiro»115.

Em sede de interpretação do art. 58.º da Lei n.º12-A/2008, destaca-se o disposto na al. a) do n.º 6 do preceito quando prescreve que «o trabalhador cedido tem direito à contagem, na categoria de origem, do tempo de serviço prestado em regime de cedência» bem como o estabelecido no n.º 9, quando dispõe que «não pode haver lugar, durante o prazo de um ano, a cedência de interesse público para o mesmo órgão ou serviço ou para a mesma entidade de trabalhador que se tenha encontrado cedido e tenha regressado à situação jurídico- funcional de origem».

Porém, e porque as empresas municipais estão excluídas do âmbito de aplicação da LVCR116, não podendo, assim, constituir relações jurídicas de emprego público por tempo

114 O setor empresarial local é regulado pela Lei n.º 53-F/2006, de 29 de dezembro. Sobre esta matéria ver Pedro GONÇALVES,

Regime Jurídico das Empresas Municipais, Almedina, Coimbra, 2007.

115Neste sentido ver ofício/circular n.º 12/GDG/08, Direção-Geral da Administração e do Emprego Público, consultável em:

http://www.dgap.gov.pt/index.cfm?OBJID=91f17207-d63e-4f78-a525-4e8140f46f49&ID=838, que refere que:

«13. Em 1 de janeiro de 2009 são ainda revogados os artigos 3.º a 10.º da Lei n.º 53/2006, de 7 de dezembro, passando a aplicar-se as formas de mobilidade previstas nos artigos 58.º a 65.º da LVCR” sendo uma delas a da “cedência de interesse público (artigo 58.º) (entre os órgãos ou serviços aos quais é aplicável a LVCR e as entidades às quais a mesma não é aplicável).

14. As conversões para as novas formas de mobilidade produzem também efeitos a 1 de janeiro de 2009” sendo que os “trabalhadores em situação de mobilidade para, ou de, entidade excluída do âmbito de aplicação objetivo da LVCR (ex: entidades públicas empresariais, empresas privadas) transitam para a situação jurídico-funcional de cedência de interesse público.

15. Em regra, quer a cedência de interesse público para o exercício de funções em órgão ou serviço ao qual é aplicável a LVCR quer a mobilidade interna têm a duração máxima de um ano (cfr. n.º 13 do artigo 58.º e artigo 63.º da LVCR). Para os trabalhadores que transitam para as novas formas de mobilidade geral, a contagem deste prazo inicia-se em 1 de janeiro de 2009.»

116O art. 2.º, sob a epígrafe “ âmbito de aplicação subjetivo”, dispõe que:

“1 - A presente lei é aplicável a todos os trabalhadores que exercem funções públicas, independentemente da modalidade de vinculação e de constituição da relação jurídica de emprego público ao abrigo da qual exercem as respetivas funções.

2 - A presente lei é também aplicável, com as necessárias adaptações, aos atuais trabalhadores com a qualidade de funcionário ou agente de pessoas coletivas que se encontrem excluídas do seu âmbito de aplicação objetivo.

(…)”

Nos termos do art. 3.º, relativo ao âmbito de aplicação objetivo:

“1 - A presente lei é aplicável aos serviços da administração direta e indireta do Estado.

2 - A presente lei é também aplicável, com as necessárias adaptações, designadamente no que respeita às competências em matéria administrativa dos correspondentes órgãos de governo próprio, aos serviços das administrações regionais e autárquicas.

indeterminado, sobrelevará, aqui, o disposto no n.º 13 do art. 58.º da Lei n.º 12-A/2008 quando refere que «o acordo de cedência de interesse público para o exercício de funções em órgão ou serviço a que a presente lei é aplicável tem a duração máxima de um ano, excetoquando tenha sido celebrado para o exercício de um cargo ou esteja em causa órgão ou serviço, designadamente temporário, que não possa constituir relações jurídicas de emprego público por tempo indeterminado, casos em que a sua duração é indeterminada»117.

Tendo presente que a avaliação de desempenho respeitante ao período de cedência pode ter influência na determinação da posição e nível remuneratório na categoria de origem, e em ordem a permitir a concretização dessa avaliação, podemos equacionar duas hipóteses:

i. Ou a avaliação é efetuada nos serviços onde o trabalhador se encontra cedido, ao abrigo de uma extensão de aplicação operada nos termos do art. 83.º da Lei n.º 66- B/2007, não obstante a citada lei não se aplicar às entidades públicas empresariais (vide o n.º 3 do artigo 2.º da Lei n.º 66-B/2007);

ii. Ou, em alternativa, poderá ser efetuada a ponderação curricular do trabalhador, nos serviços de origem, nos termos do art. 43.º da Lei n.º 66-B/2007.118

3 - A presente lei é ainda aplicável, com as adaptações impostas pela observância das correspondentes competências, aos órgãos e serviços de apoio do Presidente da República, da Assembleia da República, dos tribunais e do Ministério Público e respetivos órgãos de gestão e de outros órgãos independentes.

4 - A aplicabilidade da presente lei aos serviços periféricos externos do Estado, quer relativamente aos trabalhadores recrutados localmente quer aos que, de outra foram recrutados, neles exerçam funções, não prejudica a vigência:

a) Das normas e princípios de direito internacional que disponham em contrário; b) Dos regimes legais que sejam localmente aplicáveis; e

c) Dos instrumentos e normativos especiais de mobilidade interna.

5 - Sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo anterior, a presente lei não é aplicável às entidades públicas empresariais nem aos gabinetes de apoio quer dos membros do Governo quer dos titulares dos órgãos referidos nos n.os 2 e 3”.

117

A cedência de interesse público para o exercício de um cargo ou funções em órgão ou serviço, designadamente temporário, que não possa constituir relações jurídicas de emprego público por tempo indeterminado, tem uma duração indeterminada (cfr. n.º 13 do art.º 58.º da LVCR), como ocorre, por exemplo, com trabalhadores das autarquias a desempenharem funções no setor empresarial local (cfr. Lei n.º 53-F/2006, de 29 de dezembro, na atual redação) e do Estado (Decreto-Lei n.º 558/99, de 17 de dezembro, na atual redação) e nas comunidades intermunicipais (cfr. art.º 21.º, n.º 3 da Lei n.º 45/2008, de 27 de agosto).

118 Neste sentido ver FAQ's - SIADAP (Lei n.º 66-B/2007, de 28 de dezembro) Direção-Geral da Administração e do Emprego

Público, consultável em: http://www.dgap.gov.pt/index.cfm?OBJID=b8a129f3-8eb7-4b56-932f-f084b9abab44&ID=13000000, onde se tratou a seguinte questão:

A solução passará sem dúvida pela ponderação curricular, nos serviços de origem, uma vez que a Lei n.º 66-B/2007 não se aplica às entidades públicas empresariais.

3.2 TRABALHADORES VINCULADOS POR CONTRATO DE TRABALHO