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Antes do início do trabalho de campo, além das etapas já descritas acima, foram feitas três entrevistas pré-testes com psicólogas que estavam atuando ou já haviam atuado em UBS com o objetivo de verificar qualquer alteração necessária no roteiro e para avaliar o tempo médio de cada entrevista. Estas duraram aproximadamente duas horas cada e não houve alterações significativas no roteiro.

Em seguida, foi feito um novo contato, agora direto com as participantes, para ser agendada uma data e horário para a realização das entrevistas, o que foi feito sem muitas dificuldades. A duração da coleta das entrevistas foi de quatro meses.

As entrevistas foram realizadas, em sua maioria, na própria UBS e o tempo de duração, além de outras especificações encontram-se no quadro abaixo.

Quadro 1 – Características das entrevistas

Entrevistada Local dos encontros Número de Encontros Tempo de duração total de cada entrevista E1 UBS 01 2h 30 min. E2 UBS 02 4h 05 min. E3 UBS 01 2h 15 min. E4 UBS 01 1h 40 min. E5 UBS 01 2h 20 min.

E6 Unidade de saúde 01 50 minutos

E7 UBS/Consultório 02 4h 55 min.

E8 UBS 02 2h 50 min.

E9 UBS 01 50 minutos

E10 UBS 02 1h 15 min.

E11 UBS 01 2h 18 min.

E12 UBS 01 2h 05 min.

E13 UBS 01 2h 10 min.

E14 UBS 01 2 horas

E15 UBS 02 1h 55 min.

E16 UBS 02 2h 45 min.

E17 UBS 02 2h 35 min.

Cabe comentar algumas das dificuldades relacionadas à escolha de local para a realização das entrevistas, a qual facilitou a disponibilidade das participantes em dar as entrevistas, mas trouxe alguns problemas à pesquisadora. Durante quase todos os encontros houve dificuldades em relação ao barulho e ao sigilo de informações. Apesar se ter sido avisado quanto à importância de se ter um local com pouco barulho e que garantisse a privacidade das participantes, a escolha por fazer a entrevista no próprio local de trabalho dificultou que estes dois requisitos fossem totalmente garantidos durante a entrevista. A UBS é um espaço de movimentação de pessoas e o barulho é constante. A maioria das salas onde foram realizadas as entrevistas era o local onde a participante atendia os usuários, mas nem todas dispunham de um isolamento sonoro mínimo. Uma das entrevistas ocorreu em uma sala ao lado da vacina e era separada apenas por uma divisória, sendo possível ouvir a fala das pessoas e o choro freqüente de crianças; outra sala estava localizada próxima ao pátio de uma escola, onde se ouvia muitas crianças conversando e gritando; em outras ainda era possível ouvir a buzina dos carros na rua e, quando não havia nenhuma interferência neste sentido, era o próprio barulho de dentro da UBS que se tornava um obstáculo sonoro. Outra entrevistada pediu para que a entrevista fosse finalizada dentro de seu carro, após fechamento da UBS. Diante destes fatos, a gravação das entrevistas também foi prejudicada devido às constantes e diferentes interferências sonoras que perpassavam as falas. Em alguns pontos não foi possível o entendimento, mas não houve prejuízo no conteúdo geral de nenhuma das entrevistas. O que ocorreu foi uma menor qualidade na gravação e uma maior dificuldade na transcrição do material.

O gravador foi usado em quase todas as entrevistas, exceto uma, em que os dados principais foram escritos à mão, posteriormente desenvolvidos em texto e compartilhados com a entrevistada para que ela fizesse os ajustes necessários.

Houve falhas de gravação em duas entrevistas e uma pequena parte do conteúdo foi perdida. Somente com uma das entrevistadas foi possível agendar um novo encontro. Com a outra, utilizou-se as informações que havia disponíveis, mas que correspondia a mais da metade do roteiro respondido.

Após o término de todas as entrevistas ainda foi feito contato com algumas das entrevistadas para esclarecer e/ou confirmar informações.

Como dado qualitativo, percebeu-se que uma das entrevistadas iniciou o segundo encontro com uma fala detalhada de sua experiência, mas, ao longo da entrevista, passou a responder rapidamente e pedia para que as outras perguntas fossem feitas, a fim de que ela própria não se prolongasse muito e conseguisse finalizar a entrevista. Esta pressa em terminar a entrevista também foi percebida com outras participantes, principalmente, naquelas que já estavam no segundo encontro. Uma hipótese levantada é que, por serem as entrevistas realizadas no expediente de trabalho, o horário disponibilizado à pesquisadora/entrevistadora tomava o lugar do atendimento a usuários; quanto mais encontros tivessem, menos usuários marcados para aquele horário seriam atendidos, o que pode se relacionar com o comprometimento do profissional, mas também com dados de produtividade. Uma das entrevistadas, por exemplo, considerou o tempo de entrevista como tempo de atendimento ao usuário e pediu o número SUS da pesquisadora. Outra entrevistada dizia não se sentir muito útil em suas informações por ter pouca experiência em UBS. Ao mesmo tempo em que algumas entrevistadas estavam dentro da entrevista, também estavam fora, pensando no usuário que faltou ou que estava para chegar ou em um telefonema que se esperava referente a um caso grave. As falas pareciam oscilar entre alegrias e frustrações, e momentos de ânimo e de desânimo com a atuação em UBS e no serviço público como um todo. Lembranças da própria vida, de gestões governamentais passadas e de atendimentos bem-sucedidos foram motivos de lágrimas para algumas delas. No geral, todas se mostraram disponíveis e receptivas e, algumas, perceberam a entrevista como uma oportunidade de exporem suas idéias, de deixarem seu recado, de (re)pensarem questões e rememorarem experiências.