• Nenhum resultado encontrado

Corpus BNC e

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

1. TERMINOLOGIA BILÍNGUE

1.5 Tradução e Terminologia

Em seu mapeamento dos Estudos da Tradução, Williams e Chesterman (2002, p. 7) identificam doze áreas de pesquisa em tradução e exploram cada uma delas com o intuito de prover orientação para pesquisadores iniciantes na área29. A oitava área identificada por eles

concerne à ‘Terminologia e Glossários’. Nela, a pesquisa pode ter cunho teórico ou prático, sendo que para qualquer dessas abordagens é preciso buscar fundamentação teórica em teorias da Terminologia. Dependendo

29 As áreas de pesquisa em Tradução elencadas por eles incluem: Text Analysis and Translation, Translation Quality Assessment, Genre Translation, Multimedia Translation, Translation and Technology, Translation History, Translation Ethics, Terminology and Glossaries, Interpreting, The Translation Process, Translator Training e The Translation Profession (WILLIAMS; CHESTERMAN, 2002).

da abordagem metodológica escolhida, os autores também identificam como necessário o conhecimento de ferramentas de extração terminológica, assim como a noção de como se formular uma definição e como representar sistemas conceituais diferentes. Em seguida, os autores listam alguns exemplos de pesquisas teóricas e práticas, afirmando que em níveis avançados o domínio tende a ser muito restrito, como é o caso do presente estudo.

Para Cabré (1998b) não há dúvida acerca da relação existente entre Tradução e Terminologia. No entanto, essa relação se limita à tradução de textos de especialidade já que “a terminologia, com exceção de casos muito particulares, só é necessária para a tradução especializada”30 (CABRÉ, 1998b, p. 187). Por sua dimensão cognitiva e

comunicativa a Terminologia é “a base da comunicação entre os especialistas, e o tradutor de textos de especialidade, atuando como mediador, se converte em um tipo de especialista”31 (CABRÉ, 1998b,

187).

Como destacam Cabré (1998b, p. 191) e Williams e Chesterman (2002, p. 9), por conta da responsabilidade atribuída ao tradutor e pela importância que a Terminologia tem nos contextos de especialidade, é extremamente importante que o tradutor tenha uma sólida formação em Terminologia. Cabré (1998b) ressalta ainda que a Terminologia é imprescindível às dimensões teórica e prática da tradução de textos de especialidade por ser “ponto-chave nesse tipo de texto, já que os elementos que concentram maior densidade de conhecimento especializado são os termos”32 (CABRÉ, 1998b, p. 192).

Na presente proposta, procurei minimizar os problemas que podem surgir nos contextos das práticas tradutórias por meio de pesquisa extensiva no âmbito do corpus selecionado – privilegiando termos efetivamente em uso, assim como do aproveitamento do

30

“La terminología, con excepción de casos muy particulares, sólo es necesaria para la traducción especializada” (CABRÉ, 1998b, p.187). Tradução da autora.

31 “[...] la base de la comunicación entre los especialistas, y el traductor especializado, actuando de mediador, se convierte de hecho en una especie de especialista [...]” (CABRÉ, 1998b, p.187). Tradução da autora.

32 “Punto clave en este tipo de textos, ya que los elementos que concentran con mayor densidad el conocimiento especializado son los términos” (CABRÉ, 1998b, p.192). Tradução da autora.

ambiente virtual para confeccionar verbetes que contenham as informações necessárias para sanar essas possíveis dificuldades.

Esta pesquisa tem caráter interdisciplinar por englobar conceitos de três áreas – Terminologia, Tradução e Saúde – e pretende ser uma contribuição da lexicometria e da lexicologia para o estudo terminológico de textos da Área da Saúde, com vistas à Tradução.

1.5.1 A Terminologia nos Estudos da Tradução

Ao discorrer sobre a interface entre Terminologia e Tradução, Cabré (1998b, p.196) elencou uma série de princípios que caracterizam a atividade terminológica e a diferenciam da atividade tradutória.

O primeiro princípio destaca que o trabalho terminológico segue uma metodologia própria de acordo com a teoria trabalhada. Assim, a tradução de termos não deveria basear-se na tradução direta, mas na busca por “denominações naturais que em cada língua correspondem a um conceito especializado”33 (CABRÉ, 1998b, p. 196).

O segundo princípio reforça que, enquanto associação entre forma em conteúdo, o termo não pode ser reduzido “nem a um conceito independente de sua forma em uma dada língua, nem a uma denominação desassociada de um conteúdo”34 (CABRÉ, 1998b, p. 196).

O terceiro princípio destaca a diferença entre unidade terminológica e unidade de tradução. Para Cabré (1998b, p. 196) a unidade terminológica é “uma unidade de conhecimento lexicalizada em uma denominação, de uso frequente em textos especializados”35. Uma

das formas de compensar a falta de uma unidade terminológica na língua de chegada é por meio da lexicalização neológica, desde que convenientemente caracterizada. “Esse princípio proporciona uma das chaves da qualidade de uma tradução especializada que vem a ser a precisão.” (CABRÉ, 1998b, p. 197)

33 “[...] denominaciones naturales que en cada lengua corresponden a un concepto especializado” (CABRÉ, 1998b, p.196). Tradução da autora.

34 “[...] no puede reducirse ni a un concepto independientemente de su forma en una lengua determinada, ni a una denominación no asociada a un contenido” (CABRÉ, 1998b, p.196). Tradução da autora.

35 “Una unidad terminológica es una unidad de conocimiento lexicalizada en una denominación, de uso frecuente en los textos especializados” (CABRÉ, 1998b, p.196). Tradução da autora.

Pelo quarto princípio, as unidades terminológicas se relacionam às bases da língua geral e ao campo específico do qual fazem parte. Este princípio “é o que preserva o caráter linguístico da terminologia”36

(CABRÉ, 1998b, p. 197).

O quinto princípio ressalta que o termo se caracteriza, não em abstrato, mas a partir de um campo do conhecimento,. Dessa forma, “as unidades de comunicação só adquirem status de termo quando inscritos em uma área de especialidade definida”37 (CABRÉ, 1998b, p. 197).

O sexto princípio destaca que a “terminologia de uma área de especialidade não é preexistente”38 (CABRÉ, 1998b, p. 197), mas

construída em cada trabalho terminológico. Esse princípio pressupõe que “todo trabalho terminológico deve estabelecer e delimitar em primeiro lugar seu campo de trabalho e as dimensões sob as quais será concebido”39 (CABRÉ, 1998b, p. 198), o que nos leva a crer que os

textos de especialidade não escapam ao caráter intrínseco de todos os demais tipos de textos: a dialogia. A minha intenção com este comentário é antecipar argumentos diante de eventuais acusações de que os trabalhos terminológicos deixam supor que o texto de especialidade seria um gênero à parte, desmembrável da literatura e de outras modalidades de textos correntes.

O sétimo princípio trata do dinamismo dos âmbitos de especialidade e o oitavo princípio ressalta que para todo dado terminológico deve existir uma fonte real e concreta.