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2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA REGIÃO FN

2.1 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL

A Região FN do RS, que é o foco do presente estudo, está situada no noroeste do Rio Grande do Sul, na fronteira com a Argentina, composta pelos vinte municípios que o COREDE FN compreende. Essa região abrange uma área total de 4.689,0 km² e uma população total de 203.494 habitantes, de acordo com os dados do Censo da Contagem da População de 2010, disponibilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

Observa-se pela imagem a seguir, a sua localização e os municípios que a região abrange:

Ilustração 1: Mapa da Região Fronteira Noroeste. Fonte: FEE (2008).

Primeiramente povoada por indígenas, assim compreendidos os primeiros cultivadores desse solo, como o restante do solo gaúcho, que além da agricultura, obtinham da caça, da pesca e do extrativismo seus meios de vida como Trennepohl (2011) destaca:

Isso requer lembrar, e levar na devida conta, que a ocupação do território [...] pela população que define suas características atuais foi um processo de expropriação das terras indígenas e de apropriação por parte dos homens brancos, “europeus – civilizados”, conflituoso e violento (TRENNEPOHL, 2011, p. 70).

Segundo Rotta e Dallabrida (2000) essa região origina-se da ocupação colonial resultante da Colônia Santa Rosa (Sede 14 de Julho), Colônia Boa Vista e parte da Colônia Guarani.

A Região FN foi a última a ser incorporada a então Província de São Pedro, atual Rio Grande do Sul, de acordo com Rotta, Brose e Dallabrida (2001).Pois “até 1801 ela pertenceu ao domínio espanhol, fazendo parte das Missões Orientais, que

se originaram do trabalho de catequese dos índios [...], pelos jesuítas, desde 1626” (Prefeitura Municipal de Santa Rosa, 1967, p. 27).

Mas, inicialmente, o processo de ocupação do território gaúcho se deu basicamente em duas dimensões.

O primeiro movimento dos colonizadores europeus ocorreu no contexto da conquista do próprio índio, em duas dimensões. Os missionários religiosos, especialmente os jesuítas, portugueses e espanhóis que tinham por objetivo a catequese dos índios para “salvar suas almas”, realizavam intenso trabalho de aculturação. Já os bandeirantes tinham por objetivo o aprisionamento dos índios e sua venda como escravos no mercado de São Paulo (TRENNEPOHL, 2011, p. 70).

Processo de ocupação esse, que pode ser visualizado pela ilustração 2, apresentada a seguir.

Posteriormente, a partir de 1682, os jesuítas dão início à formação dos “Sete Povos das Missões” como continuidade à experiência reducional no território rio- grandense consolidada em 1707 com a fundação do último deles, Santo Ângelo, (ROTTA; BROSE; DALLABRIDA. 2001). Surgindo na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, um modelo de organização social diferente dos demais modelos impostos pela ocupação portuguesa. Tornando-se assim (as regiões das Missões) objeto de conflitos entre Portugal e Espanha pela apropriação de suas terras, riquezas naturais e sua gente.

Ilustraçã o 2: Processo de Ocupação do território gaúcho.

Fonte: RIO GRANDE DO SUL (2004).

Porém, até 1756, os Sete Povos das Missões foram praticamente destruídos pela invasão dos exércitos aliados de Portugal e Espanha como resposta à resistência dos índios e jesuítas que se opunham ao Tratado de Madrid13 (de 1750).

Após o Tratado de Badajós, em 1801, que define a conquista do território dos Sete Povos das Missões pelos portugueses, é que se dá a destruição quase que completa daquela civilização, mas, como destacado por Trennepohl (2011):

[...] O processo de extermínio da população indígena da região, continuou ao longo do processo de ocupação das terras nas áreas de campo pelos luso-brasileiros e, posteriormente, nas áreas de mato pelos

13

O tratado de Madrid estabeleceu a troca da Colônia do Sacramento pelas terras ocupadas pelos Sete Povos das Missões e que a população indígena deveria ser transferida para a margem oeste do Rio Uruguai. (TRENNEPOHL, 2011, p. 72).

colonos imigrantes europeus e seus descendentes (TRENNEPOHL, 2011, p. 73).

Com o domínio dos portugueses sobre as Missões, um novo modelo de sociedade começa a se estruturar, fundado em duas atividades econômicas principais da época, sendo respectivamente: a pecuária extensiva nas áreas de campo e o extrativismo da erva-mate nas zonas de mato. Nova estrutura essa, extremamente excludente, do ponto de vista social e essencialmente conservadora e pouco integrada em sua dinâmica local (TRENNEPOHL, 2011).

Assim, os resultados mais importantes desse longo e conflituoso processo de ocupação do território regional podem ser apontados com relativa facilidade: a constituição de uma estrutura fundiária tipicamente latifundiária por meio da apropriação de extensas áreas de terras de campo pelos estancieiros mais influentes política e militarmente, e a estruturação de um sistema de produção com características extensivas, numa lógica extrativista e uma relação com os canais de comercialização junto aos mercados distantes (TRENNEPOHL, 2011, p. 76).

A Colônia de Santa Rosa foi criada em janeiro de 1915, pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul, com o objetivo de explorar seu potencial econômico, promover a regularização e valorização fundiária, bem como intensificar o controle sobre os caboclos, transformando-os em proprietários de lotes coloniais. Caracterizando-se por um quadro social diversificado, compreendendo distintos grupos étnico-culturais, com trajetórias históricas e condições socioeconômicas muito heterogêneas. Tendo o centro urbano de Santa Rosa, como o principal núcleo da colônia, mas acima de 80% dos habitantes da região estavam no meio rural desenvolvendo basicamente uma produção de subsistência (TRENNEPOHL, 2011).

A agricultura familiar, o comércio e a indústria foram as bases da estrutura de produção e de formação de grupos sociais no período compreendido entre o início da colonização da região da Grande Santa Rosa, sua ascensão econômica a partir da década de trinta e a crise na década de cinquenta (ROTTA, 1999, p. 46).

Apenas em 1940, pode-se dizer que houve uma efetiva integração da Região FN ao projeto de desenvolvimento nacional, pela substituição de importações e pelo fortalecimento do mercado interno, graças à extensão da rede ferroviária e que se consolida com a modernização da agricultura e da agroindústria a partir de 1960 (ROTTA; BROSE; DALLABRIDA. 2001).

Deste modo, o período de 1960 até 1980, caracteriza-se pela adoção e consolidação de um projeto de desenvolvimento voltado para a concepção moderna industrial de trabalho impulsionado pela cadeia suinícola da região.

[...] a região inseriu-se num processo de modernização da agricultura instituído em escala mundial desde os anos 40 e intensificado no Brasil nas décadas de 50 a 80. Profundas transformações na base técnico- produtiva que foram difundidas pelas empresas multinacionais, por meio da chamada “revolução verde”, com o uso intensivo de máquinas, equipamentos e insumos químicos, representavam alternativas tecnológicas ao esgotado modelo produtivo vigente. Novas configurações do mercado de insumos e de produtos agropecuários foram definidas com o surgimento das cooperativas tritícolas, de diversas empresas agroindustriais e de empresas exportadoras, o que passou a representar possibilidades distintas de viabilidade para os produtores rurais. Novas modalidades de crédito rural, de financiamento da produção e da comercialização foram oferecidas pelo governo federal em condições favoráveis de juros e prazos (TRENNEPOHL, 2011, p. 86 - 87).

Mas, na década de 80, esse modelo alicerçado em forte apoio estatal entra em crise, em função de problemas internos, crise do processo de modernização da agropecuária regional centrada no binômio trigo/soja e do novo cenário internacional que passou por profundas transformações, de acordo com Rotta, Brose e Dallabrida (2001):

[...] o surgimento de novos centros de poder econômico e tecnológico, a crise do socialismo real, a queda gradativa das barreiras para o comércio internacional, a emergência das politicas neoliberais, o aumento da influência do capital financeiro na economia mundial, a nova onda tecnológica de base microeletrônica, a robótica, a descoberta de novos materiais, a revolução tecnológica das comunicações, na produção e na circulação de informações, o acirramento da concorrência entre grandes empresas transnacionais, novas estratégias gerenciais e de organização do trabalho, a globalização da economia e a mundialização da cultura (ROTTA; BROSE; DALLABRIDA, 2001, p. 12).

Logo, a região passa a buscar “novas formas de inserção no processo de reestruturação das relações societárias via globalização e reestruturação produtiva”

(ROTTA; BROSE; DALLABRIDA. 2001). Repensando um modelo de

desenvolvimento regional possível, com perspectivas de sustentabilidade, mais equitativo e menos excludente, em que, basicamente: “A melhoria da “qualidade de vida” de toda a população regional deve permanecer como desafio e ser encarado quando se fala em desenvolvimento.“ (ROTTA; BROSE; DALLABRIDA, 2001, p. 15).

Portanto, pode-se dizer que ao longo de sua trajetória histórica de desenvolvimento, a Região FN vem caminhando em direção a um desenvolvimento sustentável. Visto que, com o passar dos anos, sua compreensão sobre desenvolvimento evoluiu, passando de indicadores quantitativos (como produção) para critérios mais qualitativos (com destaque para educação e saúde). Como exemplo dessa evolução, pode ser citada a formulação dos COREDEs, no RS, como poderá ser acompanhado no item 2.3, assim como os seus objetivos, estruturação e ferramentas de intervenção no planejamento regional.

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