• Nenhum resultado encontrado

A Associação Cultural Grupo Unido para Educação e Trabalhos de Orientação (G.U.E.T.O.) é uma entidade privada sem fins lucrativos, reconhecida enquanto Utilidade Pública Estadual na Bahia, desde o ano de 2002, e como Ponto de Cultura do Estado da Bahia, através da SE- CULT em parceria com o Governo Federal, desde o ano de 2008. Possui experiência com projetos sócio-educativos e culturais, atuando em comunidades de baixa renda há pelo menos 23 anos com recursos próprios, doações esporádicas e apoios pontuais de organizações esta- duais, municipais, empresas privadas e outros organismos. A sua fundação se deu no início da década de 90 a partir da crença no voluntariado dos então estudantes de capoeira e sócio- fundadores Jean Adriano Barros da Silva - Presidente (professor de Educação Física), Cássio Adriano Barros da Silva – Vice-presidente (professor de História), Benedito Carlos Libório Caires (professor de Educação Física), Carlos Emilio Libório Caires (turismólogo) e Daniel Ramos Moreira (médico veterinário).

As ações tinham público alvo variado, dentre eles a terceira idade, os portadores de necessi- dades educacionais especiais e, principalmente, as crianças e jovens filhos de amigos do bair- ro que se encontrava em vulnerabilidade social em Pituaçu e invasões7 adjacentes, áreas con-

sideradas de alto índice de violência urbana, violência contra a mulher, prostituição infantil e rota de tráfico de drogas e entorpecentes na região metropolitana de Salvador.

Assim, em 1992 deram início às ações do Projeto Social Camaradinhas e sob o pretexto do ensino da capoeira e outras práticas culturais crianças e jovens foram acolhidos no salão da

casa de um dos fundadores do projeto recebendo para além dos fundamentos destas expres- sões culturais, alimento e cuidados especiais muitas vezes negligenciados pelos seus respon- sáveis.

O projeto acabou se destacando de tal forma que foi reconhecido socialmente sendo convida- do a apresentar-se na edição anual do Programa Criança Esperança em 1996, mantido pela rede Globo de televisão, tendo ainda muitas reportagens e documentários projetados em pro- gramas de televisão da rede local, nacional (ESPN Brasil) e internacional (Nathional Geogra- phyc), jornais impressos locais (A Tarde, Tribuna da Bahia e Correio da Bahia) e em eventos culturais e de responsabilidade social de grande repercussão no Estado da Bahia.

O projeto Camaradinhas é, portanto, o grande motivador para que a GUETO fosse fundada. Tal iniciativa se deu pelo fato do projeto ter sensibilizado muitos empresários que ao procura- rem o projeto não encontravam mecanismos legais para doação de recursos financeiros e ma- teriais, pois a mesma ainda não se encontrava juridicamente consolidada para receberem doa- ções de maneira legalizada. Foi assim que em 1998 foi fundada a GUETO, com perfil jurídico de associação sem fins lucrativos, que passa a contar esporádica e pontualmente com doações de empresas parceiras do projeto.

Neste ínterim alguns sócio-fundadores do projeto Camaradinhas se afastaram restando apenas os irmãos Jean Adriano Silva e Cássio Adriano Silva, que continuaram a frente do projeto e a praticar a capoeira, tendo inclusive seu reconhecimento público e título de mestre sido entre- gues no ano de 2005. Esta então é a história de uma instituição que teve sua origem a partir de um grupo informal de capoeira, e que foi fundada justamente para subsidiar e dar sustentação às ações projetadas dentro do âmbito do ensino e gestão da capoeira.

De acordo com a missão institucional da GUETO, conforme ressalta o artigo 1º do seu Esta- tuto, ela foi constituída “para fins de promover a educação de crianças das comunidades em geral, através da prática de atividades culturais brasileiras para formação do cidadão” (Estatu- to da Associação Cultural GUETO, 1999), ou seja, sua missão se consolida na promoção da educação de crianças e jovens em sua grande maioria afrodescendentes vivendo em situação de risco social e pessoal, através de práticas culturais brasileiras (em especial a capoeira) para atuar na formação desses cidadãos e evitar a marginalização destes indivíduos.

Em seu artigo 2º, o Estatuto social revela a finalidade da associação dividida em três pontos. São eles:

ART . 2ª A associação terá como finalidade a de promover: A sociabilização de crianças de baixa renda através de atividades culturais. Desenvolver atividades que fortaleçam a ligação entre o meio acadêmico e a cultura popular. Fazer da cultura popular um instrumento social, que possa contribuir para diminuição da miséria, dos vícios e analfabetismo.

Na alínea a, o estatuto apresenta a sua primeira finalidade já citada em parágrafo anterior e que guarda similaridade com a missão institucional da organização.

Na alínea b, a organização revela a intenção de subsidiar ações que promovam a ligação dos saberes acadêmicos e populares, muito por conta da formação dos seus fundadores em pleno curso do ensino superior no momento de sua fundação, e do entendimento que são saberes complementares e que se retroalimentam.

Na alínea c, explicitado está o entendimento que as práticas que tem origem na cultura popu- lar por emergirem do povo e de seus anseios e forma de ver o mundo, têm o poder e por isso devem ser utilizadas como tecnologias de gestão social.

Parágrafo único – Constitui - se ainda como objetivos desta associação: Promover o intercâmbio com entidades congêneres e com instituições culturais, educacionais e outras afins. Promover junto à sociedade atividades como: prática de desportos, oficinas de trabalho, shows folclóricos e o ensino da capoeira; Desenvolver todas as atividades sem fins lucrativos e com número ilimitado de associados (GUETO, 1999).

O envolvimento através da cultura afro-brasileira regional propunha uma educação baseada na pedagogia dos sentidos, tornando os educandos mais sensíveis e cônscios do grande valor inerente aos saberes populares e seus mestres “Griôs8” (“guardiões”, “bibliotecas vivas”),

comportamento esse que, atualmente, segue na contramão dos valores da nossa sociedade brasileira que privilegia o conhecimento científico, nem sempre acessado pelas comunidades menos favorecidas, taxando o mais velho enquanto símbolo do ultrapassado e improdutivo.

8 Termo do vocabulário franco-africano criado na época colonial para designar o narrador, cantor, cronista e genealogista que, pela tradição oral,

transmite a história de personagens e famílias importantes para as quais, em geral, está a serviço. Presente, sobretudo na África ocidental, no- tadamente onde se desenvolveram os faustosos impérios medievais africanos (Gana, Mali, Songai etc.), recebe denominações variadas, dyéli ou diali, entre os Bambaras e Mandingas, guésséré entre os Saracolês, wambabé, entre os Peúles, aoulombé, entre os Tucolores , e guéwel, (do árabe qawwal) entre os Uolofes. (Diáspora Africana - Ney Lopes)

A instituição foi fundada também com a preocupação da renovação do espaço público, do resgate da solidariedade e cidadania, da humanização do capitalismo e na busca da superação da pobreza. Seu discurso se baseia no bem comum como base para o bem estar de cada indi- víduo, passando a refletir sobre questões relativas à responsabilidade social, aos direitos e deveres dos cidadãos e das organizações, assim como padrões éticos e morais comuns, além das necessidades de investimento no bem cultural.

5.2 ANALISANDO AS PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS À LUZ DA CULTURA DA

Documentos relacionados