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4 O SABER QUE SÓ SE APRENDE FAZENDO

4.1 TRASMISSÃO DO SABER E O APRENDER BRINCANDO

4.1 TRASMISSÃO DO SABER E O APRENDER BRINCANDO

As narrativas sobre transmissão de saberes que inevitavelmente aparecem nas histórias de vida dos ceramistas são agora analisadas, em aspectos como a atuação ou não em uma escola formal de artesãos, as novas modalidades de aprendizado subordinadas a novas situações localizadas na comunidade estudada, as inovações tecnológicas associadas ao saber tradicional e os parâmetros estabelecidos atualmente sobre a frequência de crianças e adolescentes dentro dos espaços de trabalho (Olarias).

O estreitamento das relações pessoais, fruto dos laços familiares, de vizinhança e de amizade, facilitou a reprodução social do saber, de pai ou mãe para filhos e filhas, irmãos mais velhos para irmãos mais novos e os vizinhos que vão se agregando, principalmente quando há grandes encomendas. Muitos começam só fazendo a parte de acabamento, principalmente mulheres e crianças, tarefas mais simples como o polimento ou a nicação. Depois passam para uma etapa da pintura que consiste em aplicar a primeira tinta ou engobe e findam por se especializar. Alguns com mais habilidades tornam-se exímios pintores ou desenhistas.

A pesquisa realizada demonstrou que, por necessidade imediata, ocorre um aprendizado que difere do processo do aprendizado dos meninos e meninas que brincavam por dentro das olarias e iam conhecendo e exercitando na brincadeira todas as etapas até se formarem artesãos. Hoje muitos adultos aprendem uma etapa do ofício e trabalham na mesma ocupação (pintor, desenhista, oleiro) em várias olarias, em troca do pagamento por peça produzida ou por hora de trabalho. Estes, com exceção dos oleiros, vivem do artesanato de forma imediata e temporária sempre na expectativa de arranjar uma colocação no mercado formal de trabalho. A especialidade no torno se apresenta como a mais difícil e mais rara, mas também se inclui na categoria da mão de obra terceirizada11. Apesar de que a maioria das famílias tradicionais possuem pelo menos um oleiro entre seus membros, hoje a falta de aprendizes de oleiros é algo que preocupa a continuidade da produção.

Essa constatação é analisada no contraponto com outras iniciativas como a Escola Municipal Liceu Mestre Raimundo Cardoso, fundada há 15 anos, que traz nas suas diretrizes

11 Modalidade de trabalho realizado por pessoas que normalmente não tem vínculo com a família, são chamados

para trabalhar em funções específicas, principalmente nas grandes encomendas, são pagos pelo nº de peças ou horas trabalhadas.

o fortalecimento da tradição ceramista do Paracuri por meio da formação no núcleo de oficinas, com instrutores experientes e habilidosos. O Liceu, que apresenta uma estrutura composta de instrumentos e equipamentos que favorecem a produção, proporciona uma nova ocupação para os artesãos, no papel de instrutores na escola e tenta contribuir para transmissão do saber a alunos matriculados, sendo ou não filhos de artesãos. No entanto, não apresenta dados visíveis que demonstrem a formação de artesãos e ou continuidade do ofício. Dona Inês Cardoso, artesã e coordenadora do núcleo de oficinas da escola na época da pesquisa, detalha a metodologia e suas conclusões reforçam o que foi identificado pela pesquisa.

Ensinamos cerâmica a partir de seis anos, ensinamos a manusear com a argila fazendo rolinho, letras, o nome delas, depois tem a oficina só de argila, a turma de 4ª, 5ª a 8ª série aprende a conhecer a argila, tirar as impurezas, como se faz a retirada a argila, ensinamos a trabalhar com a maromba na limpeza, a usar os corantes para misturar na argila. Depois no torno ensinamos como manusear a argila no torno, fazer a peça, levantar a peça. Temos 04 partes de cerâmica, trabalhar com plaqueira, orientar sobre a parte da geologia, a parte das esculturas, depois a parte da pintura e desenho. Algumas crianças que se formaram foram para algumas cerâmicas, quando criança, mas cresceram e fizeram outras coisas, nenhuma abriu uma cerâmica, porque teve uma caída muito grande. Eu acredito que se os governantes tiverem interesse é possível que a cerâmica volte a ter destaque e gerar renda (Inês Cardoso, 2011)

Não identificamos, com a pesquisa, nenhum jovem artesão formado na escola, assim como não conseguimos identificar artesãos experientes com menos de 30 anos, ressaltando que nos relatos de história de vida dos artesãos entrevistados, a maioria que se formou por dentro das olarias na década de 1960, 1970, 1980 se tornou profissional antes dos 20 anos. A pesquisa demonstra essa lógica própria das relações sociais e da organização interna do grupo com sistemas próprios e complexos que aparecem nas afirmações de artesãos com mais de 30 anos de profissão sobre o aprendizado como algo infinitamente contínuo e consideram que só sabem uma parte porque no exercício do ofício se aprende sucessivamente.

Essa complexidade de entendimento para quem está de fora exige um esforço que implica romper com preconceitos ou formulações previamente elaboradas visto que o processo de aprendizado básico na cerâmica segue as mesmas fases desde a era neolítica, como afirma Levi-Strauss (1976). O que singulariza o grupo é exatamente esse aprendizado artesanal em pleno século XXI, em um espaço entranhado nas teias urbanas, o que provoca a reprodução dos métodos de aprendizagem principalmente caracterizado pela observação e exercício mas se traduzem por novas exigências e necessidades: Os artesãos experientes se

aperfeiçoam para atender o mercado e conviver com as novas realidades; os terceirizados são moradores do bairro com disponibilidade do tempo (adultos desempregados) e necessidade imediata de garantir renda formam um grupo contemporâneo de artesãos que conhecem o processo, mas aprendem o suficiente para ajudar no sustento; Os alunos de uma escola municipal que inclui a formação de artesãos.

Um dado importante refere-se aos artesãos que começaram crianças, brincando por dentro das olarias da família ou da vizinhança, ou seja, aprenderam por dentro das olarias em décadas passadas, permanecem no ofício e estão se aperfeiçoando, buscando também novas tecnologias. Esses artesãos informam-se, atualizam-se sobre os avanços na produção que ocorrem há muitos anos na Europa e no Sul do Brasil. A partir disso, começam a adentrar timidamente num processo de produção que requer a busca de conhecimento em livros, o experimento, a criatividade e o uso de novos equipamentos que, por vezes, são adquiridos ou inventados.

Entre esses, encontramos, mais uma vez, Josué e seus experimentos na criação de joias; Guilherme, que sugere a criação de uma nova tecnologia social resultado da composição de um saber ancestral, incluindo na confecção de peça com desenhos arqueológicos novas tecnologias como o beneficiamento da argila, que se reflete no acabamento final da peça; Sarmento, que conhece e trabalha em todas as etapas do ofício e, depois de trabalhar muito tempo como artesão, cursou bacharelado em Turismo e pretende fazer curso de marketing por acreditar na essencialidade futura de um profissional daquela área na produção de cerâmica; Marcelo, que, contrariando a tradição, veio para cerâmica depois da formação de nível superior, possui um ateliê com estrutura inovadora e diz que é um privilégio aprender de maneira bem artesanal. Os três últimos fazem parte do grupo Candéa junto com Levy Cardoso filho do Mestre Cardoso, uma as maiores referências em Icoaraci.

Outro ponto importante é a compreensão que muitos artesãos têm sobre o repasse do conhecimento através de cursos, como já assinalamos anteriormente. É complicado estabelecer carga horária para se formar um artesão, mas, para alguns dos contratados como instrutores do Liceu do Paracuri, essa função indica vários aspectos importantes para o artesão, tais como a possibilidade de contribuir para o repasse do conhecimento, o reconhecimento do seu próprio saber e uma remuneração a mais.

Quando a professora (Secretária de educação) e o Hélio (Prefeito- 1993/1996) abarcou esse projeto eu fui chamada, o projeto vai além de fazer

só uma escola, hoje é visitada por grupos internacionais para ver a escola que tem a finalidade de repassar esses conhecimentos milenares e técnicos (Dinaura, 2011).

Observa-se que é difícil estabelecer um método na formação de artesãos por meio de cursos e oficinas, mas sim, experimentar uma metodologia que proporcione ao aluno ter noções sobre o ofício. Por outro lado, artesãos com experiência nessas propostas de transmissão formal alegam dificuldades que implicam o tempo destinado ao curso, a estrutura necessária e retorno financeiro:

Ainda é um privilégio. É interessante repassar conhecimento e até louvável a oportunidade, mas em termos financeiros, as propostas que tem pra repassar ficam aquém. Não só financeiro, mas até mesmo em estrutura física. Aí nisso aí a pessoa perde a vontade de ministrar aula, eu pelo menos eu perdi minha vontade de ministrar aula (Marcelo, 2011).

Sobre torno, por exemplo, eu ministrei aula no projeto (Geração Cerâmica) só que é difícil você dá esse tipo de profissão pra alguém aprender, porque não é tão fácil, você tem que ter paciência. Aí o instrutor, se não sabe passar, ensinar aquele aluno, o aluno nem pode estar prestando atenção, você pode se estressar, mas você tem que ter um autocontrole. Isso é muito complicado, pra pessoa aprender. No meu caso, eu aprendi torno, porque eu gostava de torno, pela persistência, Também teve aquele lance do meu tio, que precisava, como eu tinha uma iniciação, o que aconteceu? Eu tive que praticar. Praticando eu fui aprendendo mais, nesse caso, adquirir experiência dentro do nosso ramo, você tem que ter muita experiência pra ser profissional, com pouca experiência, você não tem profissionalismo até pra você analisar mesmo a parte teórica. Às vezes você falando, dando uma teoria, a pessoa vai achar que aquilo ali é fácil. Aconteceu uma vez com uma freira que veio no Paracuri, na teoria ela achava que era fácil, na hora que ela foi para a prática ela caiu do torno e se bateu (Carlos Natividade, 2011).

Constatamos a facilidade com que eles descrevem as tarefas e, para os desavisados, as explicações singelas, no que diz respeito ao alto ou baixo relevo no desenho, por exemplo, podem simplificar uma tarefa bem complexa.

Eu faço isso aqui (desenhando), eu estou fazendo uma incisão e o que ele está fazendo é uma excisão, ele está tirando. Eu vou cortar (incisão) mas não vou tirar nada e a excisão eu vou tirar pedaços. Como ele está fazendo ali, ele está tirando pedaços, por isso que fica pedaços de barros no chão (Carlos Natividade, 2011).

As controvérsias sobre as dificuldades de ensinar o ofício envolvem outros pormenores como o desempenho, força de vontade e dom, ou seja, algo que já nasce com a pessoa, além de treinamento e muita prática, é necessário que a pessoa “leve jeito pra coisa”.

Uma senhora de Marabá queria que eu ficasse trinta dias lá, ela viu, começou a bater foto, fez uma relação de material pra levar aí ela disse: se você ficar um mês, tem condições de formar algum profissional? Eu disse não. Se eu for calcular, desde quando eu comecei a trabalhar até agora, eu não aprendi tudo, eu não sei quase nada, sei algumas coisas. O saber tudo não existe. Tem uma pessoa que é boa, que é habilidoso. Mas não tem o melhor de todos. Aqui no Paracuri, tem muitos oleiros bons. Inclusive pessoas que estão se aposentando, como o Massu, que está cego. Uma pessoa que é um mestre. Foi um mestre, já não trabalha mais. Tudo exige a técnica, é uma pessoa ser técnica no que faz. Eu tenho um irmão, ele trabalha na parte do desenho pra mim, sem querer ser pretensioso, mas é uma pessoa que é boa de desenho, mas não só ele, têm muitas pessoas boas também (Henoque, 2011).

O autodidatismo é enfatizado quando se aprende sem ensino sistematizado: idas e vindas às olarias pelo prazer, o fascínio pela modelagem na argila como expressão artística através das formas, a princípio os brinquedos (bonecos, panelinhas), a herança familiar, como enfatiza Ciro: ”Se não brincar, não aprende a gostar do ofício”. O exercício pela prática que proporciona a assimilação do processo e o aprimoramento técnico e artístico por meio de estudos e pesquisas individuais. Essa foi a trajetória de todos os artesãos entrevistados (com relação a estudos e pesquisas individuais), mais frequente num grupo de artesãos na faixa etária entre 35 e 50 anos. Foi possível constatar que os artesãos mais novos contribuem também para mudanças na produção dos mais velhos, apesar da resistência de alguns.

Na década de 70 que me entendi, meu pai já trabalhava com meu avô que também era artesão e músico, que era autoditada. O papai herdou do meu avô o lado artístico, fazer peça no torno como outras coisas como pescar, trabalhar com embarcação, papai tinha o trabalho na olaria do meu avo na 1ª Rua entre Berredos e Andradas e o barracão ainda está lá o barraco tem forno, mas está abandonado, eu sempre gostei de manipular argila por que a argila é fascinante quando começa a modelar por que você começa a descobrir a arte e ia pra olaria todo dia porque gostava, ia pegando peça sem pressão, conforme a prática ia assimilando, via o processo, fui assimilando, fui aprendendo fui praticando e fui me identificando com o trabalho e depois comecei a fazer a nicação, que é o acabamento do desenho, depois de gravar vem o outro e faz a limpeza, no risco grosso e no risco fino é diferente tem que ser um esteque de risco fino, ponta aguda e tem que ser um esteque de grampo de cabelo. Eu fazia minha produção, eu brincava,fazia bicho, fazia boneco, fazia muita coisa o papai me deixava à vontade. Ao todo somos seis irmãos, eu sou o segundo, nem todos trabalham com cerâmica, a minha irmã pinta as peças em miniatura, ela ajuda muito o papai, nessa parte do desenho (Josué, 2011).

Quando buscamos referências teóricas entre pesquisadores do tema, encontramos certo consenso que coincide com as observações dos portadores do saber fazer cerâmica, ou seja, de

que os conhecimentos tradicionais são adquiridos em consequência de engajamento prático e diário. É no dia-a-dia, e ao longo de muitas gerações, que os conhecimentos são repetidos, reforçados, modificados e até mesmo abandonados em decorrência das mudanças de condições de sua produção e/ou aplicação e transmissão. Os portadores do saber tradicional pensam sobre ele e elaboram categorias próprias com as quais nomeiam, classificam, ordenam e experimentam a sua eficácia nos planos prático, simbólico e espiritual (DIEGUES; ARRUDA, 2001).

A transmissão do saber de pai e mãe para filho ou filha, irmão(ã) para irmão(ã) tende ao associativismo, mas ocorrem também desmembramentos nos casos em que cada um cuida da própria produção ou concilia ajuda mútua nas grandes encomendas com trabalho individual que pode ser determinado pela especificidade. É possível perceber ainda que ter especialistas no grupo, seja familiar ou não, é imprescindível, visto que a terceirização envolve questões de ordem financeira e de disponibilidade.

O papai não tinha desenhistas, ele fazia as peças no torno e chamava outras pessoas para trabalhar, terceirizava o trabalho de gravação, sempre teve essa dificuldade, porque as pessoas tinham o hábito de acabar o desenho e querer logo o dinheiro então quando ia atrás o pessoal estava ocupado ou não estava aí eu aprendi desenhar para superar essa dificuldade da família e a partir daí comecei a me dedicar no desenho e desenhar toda a produção que ele fazia, me especializei mais no risco fino, comecei a desenhar toda a produção que ele fazia. O desenho foi autodidata, a gente olha presta atenção, mas quando vai fazer a peça é tu e a peça, mesmo que copie de outro desenho tem que ter habilidade, firmeza na mão (Josué,2011).

Identificamos, portanto, duas categorias: uma delas, a referida acima, trata de artesãos com domínio de todas as etapas, com trajetórias que se constituem na tradição familiar. A outra categoria é de pessoas que aprenderam o necessário para executar uma etapa do serviço, esses não estão essencialmente ligados por laços familiares e são identificados por vezes como mão de obra terceirizada e sem vínculo com a produção.

Na busca de aperfeiçoamento, os membros de ambas as categorias afirmam haver troca de informações, discutem constantemente uns com os outros ceramistas, conversam com os mais antigos (mestres), apesar de, muitas vezes, imporem-se barreiras entre os que dominam todo o processo. Por isso, algumas vezes, quando os mais novos tentam intercalar novos processos nas formas tradicionais, não são bem recebidos, pois, segundo os mais antigos, a demora para se obter a argila atrapalha. O imediatismo prevalece, portanto, em relação às formas que envolvem novas tecnologias. O aperfeiçoamento vem se dando

individualmente e os mais antigos têm muita dificuldade para aceitar, consequentemente, aprender e utilizar as inovações.

A formação ofertada pela Escola Liceu do Paracuri propicia um anseio e uma crença entre os instrutores das oficinas de cerâmica numa perspectiva inversa de transmissão, ou seja, os filhos de artesãos devem orientar os pais sobre mudanças que possibilitem melhoria na produção, alterando práticas como a secagem ao sol, o uso de forno de cúpula fechada, o tratamento da argila, entre outras, além de despertar o pertencimento desse patrimônio nos mais jovens e a valorização do saber dos mais velhos.

Fica evidente que o aprendizado dos exímios artesãos que hoje dominam o ofício de ceramistas se deu por influências de familiares, dentro das olarias. Na vivência veio o despertar do interesse e a necessidade de buscar mais conhecimento a partir da base que receberam. Os mais novos (a média geral é de 35 a 50 anos) que tomamos por referência em vários momentos deste estudo, são pessoas abertas aos novos processos produtivos, planejam a produção conforme o objetivo, e fazem levantamento de custos, que inclui desde o processo da aquisição da argila até a embalagem. Isso tudo aprenderam sozinhos e, por vezes, com a ajuda de alguns cursos ofertados pelo SEBRAE. Para Sarmento, ceramista e turismólogo, existem muitas dificuldades, mas viver desse ofício significa ter o livre arbítrio na criação, e isso é uma das partes mais realizadoras, apesar de a criação estar subordinada ao mercado que exige padrões, mas também, mudanças e a busca de novos conhecimentos.

Identificamos no Paracuri várias formas de aprendizado. O aprender sozinho condiciona-se por fatores que incluem vivência no local de trabalho, observação e prática, exigência do mercado, experimentos a partir da criação e o exercício como instrutor/mestre, pois apesar das queixas, a maioria gosta de ensinar em cursos e oficinas programados porque também aprendem, apesar da ressalva em relação ao resultado, observando que só a experiência forma um artesão, e o que repassam é um complemento para quem já possui habilidade e tem muita força de vontade.

Eu não posso passar o que não aconteceu, eu fiz aqui, tá tudo escrito mas se eu não sei qual foi o resultado. Então pra mim o resultado é colocar em prática. É justamente o que acontece comigo, não só a parte teórica como a prática, pra mim é fundamental. Eu vou ministrar umas horas, um curso pra 20 alunos, eu vou ver realmente o que eles querem, não adianta eu passar o que o pessoal (artesão experiente) faz, eu tenho que fazer algo diferente. Vejo o que ele gosta de fazer, se é desenho, escultura, sempre explorando o que as pessoas querem fazer. Eu não posso dizer: você só vai levantar daí quando terminar este vaso, eu não posso fazer isso (Henoque, 2011).

Outro ponto importante é gostar do que faz para superar as dificuldades. Entre as etapas de superação, elenca-se a busca do conhecimento que, segundo os entrevistados, facilita muito, e essa busca ocorre de forma quase espontânea, pois o exercício da atividade ainda ocorre prazerosamente, tanto que é perceptível a referência ao ofício também como terapia. Não obstante as regras ditadas pelo mercado, a exigência de novos designs, o contato com outros profissionais, criar pensando no uso e funcionalidade demanda mais conhecimento.

No trabalho na cerâmica [...] a gente começa a ver uma peça não como um objeto ali qualquer que tu faz da tua cabeça. Então quando eu vou criar uma peça, eu penso muito na questão da funcionalidade, na forma, na utilidade dela, no que é que ela vai ser utilizada, a gente tem que buscar, criar uma necessidade para aquele produto que esta fazendo. Por exemplo, agora estamos fazendo pequenas garrafas pra colocar licor de cupuaçu, açaí (Guilherme, 2011).

Independente do processo produtivo em que se encontram, tradicional ou com acesso a novas tecnologias todos referendam o saber tradicional como a base de tudo. O aprendizado ainda ocorre pela observação dentro das olarias, ditado por outras situações que não incluem