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Com o Tratado de Amesterdão, celebrado em 2 de Outubro de 1997 (e com entrada em vigor em 1 de Maio de 1999), cujo objetivo central consistiu na reforma das instituições comunitárias para preparar a adesão de futuros países membros, a competência legislativa em matéria de políticas sociais europeias foi, finalmente, reforçada com a incorporação no seu texto do Protocolo e Acordo Social anexo ao Tratado de Maastricht (já com a adesão do Reino Unido). Aí passou, então, a assumir-se (art 1º) que a União e os Estados membros confirmam “o seu apego aos direitos sociais fundamentais, tal como definidos na Carta Social Europeia (assinada em 1961) e na Carta Comunitária dos Direitos Socais dos Trabalhadores (assinada em 1989)”e que a União se atribui, entre outros, o objetivo da “ promoção do progresso económico e social e de um elevado nível de emprego”. A UE pode, daqui em diante, atuar (incluindo a adoção de Diretivas por maioria qualificada) não só no domínio tradicional da saúde e segurança dos trabalhadores, mas, também, nos domínios das “condições de trabalho” (agora, enquanto conceito amplo), da integração das pessoas excluídas no mercado de trabalho e da igualdade de tratamento entre homens e mulheres. E, as Diretivas de prescrições mínimas no âmbito da SST e que dizem respeito às condições de trabalho, passam a ser adotadas em codecisão com o Parlamento Europeu. Quanto especificamente à SST, o texto do Tratado refere que a ação a desenvolver será no sentido da “melhoria, principalmente do ambiente de trabalho, a fim de

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proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores” . Pode considerar-se que, com este enquadramento, as medidas comunitárias têm um objetivo “a obtenção de um local de trabalho plenamente seguro e, não, como se poderia deduzir dos argumentos estritos do anterior enquadramento normativo da segurança e saúde, a mera prevenção dos riscos físicos associados aos meios de produção ou à unidade de trabalho”88

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No contexto da implementação do Tratado de Amesterdão, há a assinalar, desde logo, a adoção do “4º Programa de Ação Comunitária para a Saúde e a Segurança no Trabalho” para o período 1994-200089, o qual se centrou nas preocupações decorrentes da invasão do mundo do trabalho pelas tecnologias de informação, estabelecendo-se ações a desenvolver nos domínios seguintes: i) consolidar e ampliar a legislação em novas áreas, ii) incrementar ações de informação e formação com particular enfoque nas PME, iii) desenvolver estudos e códigos de boas práticas para melhora a abordagem preventiva, iv) avaliar o impacto socioeconómico das medidas adotadas em articulação com as outras políticas comunitárias. Toda a ação aqui prevista para além da abordagem normativa vai estar particularmente relacionada com a atividade da “Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho” criada no primeiro ano da vigência deste Programa90.

É, ainda, de referir o contexto gerado pela “Estratégia de Lisboa” (2000)91 onde se fixa para a UE uma estratégia de crescimento económico baseado no conhecimento, “capaz de garantir um crescimento económico sustentável”, referindo-se, expressamente, o objetivo não só de mais, mas, também, de melhores empregos e, daí, a SST passar a ser muito referenciada às políticas de emprego (aliás, já na linha das políticas decorrentes do Tratado de Amesterdão) e representar uma das vertentes mais importantes e avançadas da política social da UE. Por isso mesmo, a “Agenda Social Europeia” (adotada em 2000) vem reforçar o sentido estratégico que deve ser conferido à área da SST, interligando as suas ações num quadro de políticas comunitárias mais amplas (com vista à melhoria do emprego), preconizando, em tal contexto, que a estratégia comunitária em matéria de SST deve orientar-se no sentido de “i) codificar, adaptar e eventualmente simplificar as normas legais existentes; ii) fazer face aos novos riscos, como, por exemplo, o stress no trabalho, através de iniciativas normativas e intercâmbios de boas práticas;

87 Atual artigo 153º do TFUE (antigo artigo 137º do Tratado da Comunidade Europeia). 88

Roncero, Rosario (2004); La Protección de la Seguridad y Salud en el Trabajo en el Derecho Social Comunitario”, in Revista del Ministerio de Trabajo y Asuntos Sociales – Derecho del Trabajo, nº 53, p 22.

89 O 4º Programa de Ação Comunitária para a Saúde e a Segurança no Trabalho foi adotado pela Comissão em 19 de Novembro de 1993.

90 A Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho foi criada pelo Regulamento (CE) n.º 2062/94 do Conselho, de 18 de Julho de 1994.

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iii) favorecer a aplicação da legislação nas PME, tendo em conta as contingências específicas a que estas são expostas, nomeadamente através de um programa específico; iv) desenvolver o intercâmbio de boas práticas e a colaboração entre os serviços de inspeção do trabalho, para responder melhor às exigências essenciais comuns”. Subsequentemente, foi adotada uma nova “estratégia comunitária da segurança e saúde do trabalho para o período 2002-2006”92

sob o lema de “uma abordagem global do bem-estar no local de trabalho”, salientando-se a importância do desenvolvimento da cultura de prevenção do risco profissional no contexto da gestão das organizações produtivas e uma melhor aplicação da legislação em vigor. Sintomaticamente, a formulação destes objetivos é contextualizada com os novos cenários do mundo do trabalho na Europa, destacando-se i) a evolução da população ativa (feminização e envelhecimento, ii) a diversificação das formas de emprego (trabalho temporário, horários atípicos, teletrabalho e outras novas formas de emprego), e iii) as transformações da natureza dos riscos associadas às mudanças da organização do trabalho (vinculação dos trabalhadores à obtenção de resultados e maior flexibilidade) de que resulta o desenvolvimento de um cenário de doenças profissionais de novo tipo (stress, depressão, violência, assédio e intimidação no trabalho). Em função de tais objetivos são equacionadas três vias principais de ação: i) adaptar o quadro jurídico, ii) fomentar a elaboração de melhores práticas, o desenvolvimento do diálogo social e da responsabilidade social das empresas, e iii) integrar a problemática da SST nas demais políticas comunitárias.