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O “caminho metodológico” escolhido para o desenvolvimento desta pesquisa, da forma como se deu, proporcionou subsídios para olhar e analisar os processos autorais de construção de conteúdos digitais, bem como sua relação com a apropriação científico-tecnológica por professores em formação. A imersão nos contextos formativos possibilitou a coleta de dados em diversos suportes e linguagens, a qual suscitou um esforço na organização e tratamento dos mesmos, para que fosse possível uma análise que relacionasse aspectos sobre os temas de interesse desta pesquisa, que apareciam em diferentes materiais coletados. Para isso, foi muito pertinente o uso da Análise Textual Discursiva (ATD) (MORAES, 2003; MORAES;

GALIAZZI, 2006; MORAES; GALIAZZI, 2007), uma vez que, dessa forma, foi possível construir o texto desta tese, articulando, desde o início, os resultados da pesquisa aos já descritos na literatura, tecendo assim, ao longo do texto, os argumentos que sustentam a tese sobre as construções dos conteúdos digitais e de quais formas podem ser promissoras na apropriação científico-tecnológica por professores em formação.

A análise textual discursiva é uma abordagem que abre possibilidades importantes para a pesquisa qualitativa em educação, ampliando o repertório disponível para captar realidades complexas e subjetivas, interlocuções com os sujeitos em seus contextos habituais, além de explorar o potencial expressivo das criações digitais dos próprios sujeitos da pesquisa. Para tanto, os autores propõem um processo de tratamento dos dados e escritas, composto de três etapas: a unitarização, a categorização e a construção textual, também chamada de metatexto. Na primeira, os textos passam por um processo desconstrutivo, “de identificação e expressão de unidades elementares obtidas a partir do material do corpus da pesquisa” (MORAES; GALIAZZI, 2006, p. 123). Encontrando as unidades de sentido, criam-se condições para a categorização, com emergências de novos entendimentos e sentidos. Por fim, estabelece-se um movimento de relações entre as partes e o todo, por meio da produção de argumentos em torno das categorias, o que constitui-se na construção do metatexto. De acordo com Moraes e Galiazzi (2007, p. 12), “a intensa impregnação nos materiais da análise desencadeada nos dois focos anteriores possibilita a emergência de uma compreensão renovada do todo”, ou seja, “o metatexto resultante desse processo representa um esforço de explicitar a compreensão que se apresenta como produto de uma nova combinação dos elementos construídos ao longo dos passos anteriores” (MORAES; GALIAZZI, 2007, p. 12).

Segundo Minayo (2004), a compreensão das categorias, que emergem do próprio campo de pesquisa, a partir do ponto de vista dos atores sociais, possibilita desvendar relações específicas do grupo em questão. "Essa categoria empírica, construída a partir dos elementos dados pelo grupo social, tem todas as condições de ser colocada no quadro mais amplo de compreensão teórica da realidade, e de, ao mesmo tempo, expressá-la em sua especificidade" (MINAYO, 2004, p. 94). Com a Análise Textual Discursiva, este movimento de categorização é um passo para a leitura a partir da perspectiva do outro, o que ocorre num constante ir e vir com as teorias:

Toda leitura é feita a partir de alguma perspectiva teórica, seja esta consciente ou não. Ainda que se possa admitir o esforço de pôr entre parênteses essas teorias, qualquer leitura implica ou exige algum tipo de teoria para poder concretizar-se. É impossível ver sem teoria; é impossível ler e interpretar sem ela. Diferentes teorias possibilitam os diferentes sentidos de um texto. Como as próprias teorias podem sempre modificar-se,

um mesmo texto sempre pode dar origem a novos sentidos. (MORAES; GALIAZZI, 2007, p. 15)

O primeiro material coletado, durante o decorrer da pesquisa, foi o mapeamento da realidade tecnológica dos cursistas da Licenciatura em Educação do Campo. Na época, foi desenvolvido um extenso trabalho de leitura e categorização destes materiais, com a colaboração de outras bolsistas do projeto de pesquisa que investigava a relação das tecnologias na formação de professores do campo. Uma primeira leitura dos relatórios já indicou traços comuns entre os contextos analisados, mas, apenas a partir da identificação das categorias empíricas, seria possível fazer uma análise transversal, compreendendo melhor os aspectos que caracterizam esses contextos. Assim, seguiu-se uma leitura criteriosa de todo o material, identificando as categorias, procedendo a sua tabulação e registrando-as em planilhas que, depois, possibilitaram o acesso transversal a cada uma delas, como é descrito abaixo.

Para a demarcação das categorias, foram adotados alguns procedimentos específicos, adaptados ao formato em que os dados se apresentavam, como também às necessidades da pesquisa. Para facilitar o trabalho e também para não comprometer a identidade dos cursistas, o nome de cada um foi substituído por uma sigla, por mim atribuída, e o relatório passou a ser identificado apenas por ela. A mesma sigla também foi utilizada, adiante, para identificar outros dados coletados junto aos mesmos cursistas.

Todos os relatórios foram submetidos a uma formatação padrão: margens superior, inferior e direita reduzidas (0,7 cm); margem esquerda aumentada (7 cm), para facilitar as anotações; numeração contínua no canto direito superior desde a primeira página, letra e espaçamentos reduzidos (Times New Roman 11 e 10, espaçamento simples) e, talvez o mais importante, numeração das linhas, reiniciando a cada página. Depois de formatados desta forma, foram gerados arquivos PDF destes relatórios, de maneira que o conteúdo presente em uma determinada linha permanecesse sempre nessa mesma linha, independente do editor utilizado para sua visualização.

Os arquivos gerados foram impressos e procedeu-se uma leitura inicial dos relatórios, o que contribuiu para a elaboração de uma forma de organização dos dados, além de um primeiro grande conjunto de categorias. Inicialmente, tomou-se como “categoria” uma lista de termos definidos à priori, como, por exemplo, informações referentes aos “municípios”, aos “cursistas” ou seus “alunos”. Com o decorrer das leituras, emergiram outros elementos significantes dos escritos dos cursistas, configurando a necessidade de adotar novas categorias, que também apontavam para a releitura de todos os escritos em busca de outras significações

para a mesma categoria. A possibilidade de utilização de categorias emergentes é uma das características da Análise Textual Discursiva, que possibilitou, assim, uma “compreensão renovada do todo” (MORAES; GALIAZZI, 2007, p. 12). Ao longo das leituras, ao identificar, nos relatórios, uma destas categorias, anotava-se, em uma planilha para cada cursista, a página e a linha onde elas se encontravam. Tais planilhas foram assim organizadas:

Aspecto Categoria Página Linhas Cursista Fórmula Município

Aspecto: Município, Sujeito, Escola ou Alunos

Categoria: lista definida a priori e na leitura dos textos dos sujeitos Página: onde se encontra tal categoria em cada relatório

Linhas: as linhas correspondentes ao trecho

Cursista: nome completo do cursista (o conteúdo desta coluna é suprimido em todas as publicações) Fórmula: sigla atribuída a cada relatório, para identificar o cursista nos documentos a serem publicados Município: local de residência do cursista

Quadro 02 - Demonstrativo da organização da planilha de tabulação dos dados coletados com os relatórios produzidos pelos cursistas da Licenciatura em Educação do campo

Para esse registro, foi utilizado o editor on-line do GoogleDocs, o que permitiu editar tal planilha junto com as demais integrantes da referida pesquisa, ao mesmo tempo, mesmo estando em lugares distintos. A web como plataforma tem sido incrementada com os dispositivos da web 2.0 (COBO; PARDO, 2007)57, uma vez que a internet está cada vez mais presente, facilitando as produções colaborativas e exigindo menos capacidade de processamento das máquinas, cada vez mais portáteis, o que, por sua vez, contribui na mobilidade das pessoas e dos produtos. Neste caso específico, este editor de planilhas on-line facilitou e agilizou o trabalho, possibilitando a edição colaborativa entre sujeitos geograficamente separados, uma vez que mais de um autor poderia editar ao mesmo tempo e os mesmos conteúdos eram visualizados por todos assim que eram atualizados.

Após a tabulação de todos os relatórios, seu conteúdo foi registrado em planilhas interconectadas, que podiam ser organizadas por cada categoria analisada em cada momento, assim como também facilitavam o cruzamento de dados. Este processo facilitou imensamente o trabalho de tratamento dos dados e a análise dos relatórios, pois existia um volume grande de informações e os dados poderiam servir tanto para a pesquisa matricial do curso, quanto para outros estudos que utilizassem este mesmo material. Desta forma, foi possível,

57Os autores definem o que chamam de sete princípios da web 2.0: a própria web como plataforma; o

aproveitamento da inteligência coletiva; a gestão da base de dados como competência básica – sendo este um forte valor agregador para o usuário; o fim do ciclo de atualizações de versões do software; modelos de programação rápida, buscando a simplicidade; a não-limitação do software a um único dispositivo; e as experiências enriquecedoras que surgem para os usuários (COBO; PARDO, 2007).

transversalmente, coletar todas as informações sobre cada categoria, presente em todos ou qualquer dos relatórios. Assim realizada, a tabulação também permitiu uma fácil identificação dos trechos dos dados coletados, uma vez que, no texto, sempre aparecem com a fórmula/sigla referente ao sujeito e a localização da fala (página/linha).

As análises dos materiais produzidos pelos cursistas ocorriam em paralelo às leituras de outros autores, que possibilitavam melhor compreender, fundamentar e tecer análises a respeito. Concordando com Moraes e Galiazzi (2007, p. 15), admite-se que “toda leitura é feita a partir de alguma perspectiva teórica, seja esta consciente ou não. Ainda que se possa admitir o esforço de pôr entre parênteses essas teorias, qualquer leitura implica ou exige algum tipo de teoria para poder concretizar-se”. Assim, a leitura dos autores, que se fazem presentes neste trabalho, precedeu, em partes, as análises, ao mesmo tempo que as próprias análises demandavam novas leituras para a compreensão das características que emergiam dos contextos e situações analisadas. Esta opção teórica também acabou por estruturar esta tese, que não tem um capítulo específico para um referencial teórico definido a priori, mas traz os dados da pesquisa logo após a explicitação metodológica, sempre intrinsecamente entrelaçado ao referencial, construído em paralelo das análises, que também aparecem ao longo de cada um dos capítulos desta tese.

O procedimento descrito, aplicado aos relatórios elaborados pelos cursistas da Licenciatura em Educação do Campo, serviu como guia para o tratamento e organização dos demais dados coletados, a saber:

Licenciatura em Educação do Campo Licenciatura em Física Mapeamento

da realidade tecnológica

Feita por meio de relatórios descritivos produzidos pelos próprios cursistas, o que se constituiu em movimentos recursivos de construções individuais e em grupo, momentos de comunicação e aprofundamento das escritas.

Inicialmente, os dados foram coletados por um questionário de preenchimento on-line. Em um segundo momento, os próprios cursistas discorreram sobre os dados coletados, trazendo as suas formas de ler tais resultados.

Observações e registros

Foram realizadas anotações, muitas delas também disponibilizadas no relatório da pesquisa sobre a articulação das tecnologias neste contexto formativo58. Também foram utilizados registros fotográficos e fílmicos.

De forma bem mais estrita, as observações junto ao curso de Licenciatura em Física foram realizadas apenas no âmbito da disciplina

Educação e Tecnologias

Contemporâneas, constando de anotações e registros fotográficos. Análise Devido à implicação com o Foram utilizados, basicamente, o

58O relatório desta pesquisa pode ser acessado em

documental planejamento contínuo do curso, foi possível ter acesso à construção dos documentos do curso, no seu processo e com todos os seus conflitos, o que gerou uma importante compreensão das tecnologias na concepção do curso.

projeto e o ementário do curso. Como a articulação desta disciplina era bastante pontual no curso como um todo, não foi

possível fazer o mesmo

acompanhamento feito na outra licenciatura.

Entrevistas Realizadas com alguns cursistas e coordenação.

Devido a outros registros, não foi considerado necessário este instrumento neste contexto, uma vez que o acesso aos cursistas também era bem mais restrito.

Registros on- line

Durante o período observado, nenhum ambiente virtual de aprendizagem foi efetivamente utilizado nas disciplinas. Contudo, duas listas de discussão (uma dos professores e coordenação, outra dos cursistas) trouxeram importantes subsídios.

Foi criada uma lista de discussão, mas que trouxe parcos elementos para a análise. No ambiente Moodle, eram disponibilizados diversos materiais para leitura, assim como espaços de interação, a construção coletiva de um glossário, chats e fóruns temáticos. Além disso, cada cursista possuía um blog, onde deveria registrar suas compreensões sobre os temas abordados em cada semana de aula.

Conteúdos digitais

Foram considerados quatro conteúdos, levando-se em conta o processo de construção e os produtos: escrita digital dos relatórios da realidade tecnológica, produtos sonoros (programas de rádio) sobre a realidade tecnológica em cada município/região; relatórios de uma “visita técnica” realizada à empresa de tratamento de água e esgoto, tendo gerado produtos sonoros, fílmicos e fotográficos; vídeos com imagens estáticas sobre as demandas para os Centros Digitais Pedagógicos em cada município.

Neste contexto foi produzido apenas um conteúdo digital, sendo que os cursistas, em pequenos grupos, deveriam escolher um tema da Física que estivessem tendo contato no semestre em curso, criando um produto sonoro ou uma imagem (como uma história em quadrinhos) ou um vídeo.

Quadro 03 - Sistematização dos instrumentos, circunstâncias e análise dos dados

Em todos os casos acima, a Análise Textual Discursiva demonstrou-se muito promissora para a organização e tratamento dos dados coletados, respeitadas as especificidades e fazendo- se as adaptações necessárias. Ressalta-se, aqui, que todos os dados coletados, assim como os processos vivenciados em cada contexto formativo, contribuíram na construção dos argumentos que sustentam esta tese. Entretanto, para a redação final, elencaram-se os elementos que mais traduziam as principais ideias das análises tecidas ao longo dos capítulos. Por conta disso, alguns dos materiais coletados, como os relatórios e mapeamentos, assim como as entrevistas e questionamentos feitos com/aos cursistas, são citados com mais

frequência que outros, como os documentos dos cursos. É importante ressaltar também que, em relação aos conteúdos produzidos, a maior fonte de informações para a construção desta tese veio dos processos autorais de sua construção, sendo que a análise dos produtos em si não foi objeto deste estudo.

Dos materiais coletados, citados acima, nem todos permitiam as marcações de página e linha, como foi o caso das produções on-line, as fotografias, os vídeos, além de a maioria dos conteúdos digitais. Nestes casos, foram adotadas outras marcações, que permitissem a localização da unidade de sentido. Outra alteração importante realizada durante o processo investigatório foi em relação às anotações e análises parciais: notou-se que a articulação dos diferentes dados e escrita das análises era muito facilitada quando, junto com as marcações das unidades de sentido e categorias, faziam-se anotações sobre como tais dados poderiam ser analisados, bem como quais informações da literatura poderiam ser utilizadas para fundamentar os argumentos a serem desenvolvidos.

Todo este processo investigatório demonstrou a importância da vivência dos fenômenos para sua compreensão. Assim como afirma Almeida (2004, p. 80), “prestar atenção, observar com cuidado e intensidade o conjunto, o entorno e a forma como os experimentamos em nosso interior, pode se tornar uma atitude precatória contra a superficialidade de nossos atos”. Desta forma, foi possível vivenciar boa parte das características atribuídas à pesquisa qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 101). No início, foi desenvolvida uma primeira definição da pesquisa, entretanto, esta foi sendo refinada ao longo do tempo, delimitando melhor o problema, o tema, os contextos e os sujeitos a serem investigados. A comparação e definição dos dados, à medida que estes foram recolhidos, permitiram, por diversas vezes, retornar ao campo para novas coletas e aprofundamento das observações, possibilitando uma leitura mais profunda dos fenômenos. Notando insuficiências durante este processo, foram realizadas reconduções, ou, até mesmo a imersão em outros contextos formativos, até serem estabelecidas relações satisfatórias à compreensão do tema, gerando esta tese na forma como se apresenta.

A partir destes procedimentos, foi possível estabelecer novas relações e compreender diferentes aspectos da realidade investigada. Partiu-se de um contexto mais global para casos mais específicos, procedendo, primeiramente, a caracterização da realidade vivenciada pelos sujeitos e os sentidos que eles a atribuíam. Posteriormente, foi possível destacar, dos diversos materiais coletados, elementos que levavam a compreender aspectos relacionados à produção autoral e suas relações com a apropriação científico-tecnológica e a produção dos conteúdos

digitais. Todo este processo conduziu a um reolhar das concepções de produção da ciência e tecnologia, assim como sua abordagem nos processos educacionais. A formação de professores, com todas as suas características, dá contornos também muito importantes para esta pesquisa, sendo que conclui-se as análises com elementos da construção das culturas docentes, assim como as permanências e superações das práticas docentes.

3C

ONTEXTOS FORMATIVOS E SEUS SUJEITOS

Para compreender os processos de construção de conteúdos digitais, foi necessário lançar um olhar para os sujeitos e seus contextos formativos. Com isso, buscou-se compreender as relações circunstanciais da produção de conteúdos digitais, assim como o papel – condicionante ou determinante – do acesso à infraestrutura tecnológica nestes processos. Para tanto, além da constante observação e implicação da pesquisadora nos processos investigados, foram utilizados os métodos de coleta de dados considerados mais pertinentes a cada uma das situações. Dessa forma, na Licenciatura em Educação do Campo, os próprios cursistas produziram relatórios sobre as suas realidades, enquanto que, na Licenciatura em Física, foi utilizado um questionário, posteriormente discutido em aula e comentado em uma plataforma on-line no espaço fórum. Os resultados apontaram que a produção de conteúdos digitais é muito influenciada pelas circunstâncias vivenciadas, social e historicamente construídas, na formação dos professores. Através da observação destes dois contextos, também foi possível perceber que o acesso à infraestrutura tecnológica dá condições para a produção de conteúdos digitais, mas não determina os resultados, tampouco garante a apropriação científico-tecnológica, a qual, por sua vez, é influenciada pelas concepções dos sujeitos e dos grupos envolvidos na produção dos conteúdos digitais.

A criação de conteúdos digitais é, antes de tudo, um fenômeno social humano, estando, assim, condicionada às circunstâncias vivenciadas pelos sujeitos. Parte destas circunstâncias está relacionada ao acesso às tecnologias e à conectividade em rede. Contudo, estas condições são determinantes nos processos autorais de conteúdos digitais e seus desencadeamentos cognitivos? O acesso à infraestrutura tecnológica é condição necessária e/ou suficiente para a produção de conteúdos digitais?

Os contextos analisados demonstraram que não há uma resposta única, fácil e linear para estas questões. A complexidade das relações, tecidas pelos sujeitos nas condições circunstanciais vivenciadas por eles, faz com que diferentes apropriações emerjam. As próprias condições infraestruturais envolvem questões relativas a equipamentos e software, indo muito além do seu mero uso instrumental. De acordo com o que foi possível constatar,

não há uma relação linear proporcional entre riqueza de condições infraestruturais e produção de conteúdos digitais, assim como não existe esta relação entre acesso a determinados equipamentos e a apropriação científico-tecnológica pelos sujeitos.

Tal constatação permitiria, simplesmente, que se concluísse que as condições infraestruturais são subjacentes ou secundárias para a expressão das vozes dos sujeitos pela produção dos conteúdos digitais? Muito pelo contrário, esta é uma questão merecedora de profunda análise, na medida em que, se a riqueza de infraestrutura não provoca, necessariamente, uma elevação da capacidade cognitiva, sua privação pode, sim, representar