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Tratamento e análise de dados

No documento Tese Escrita Final final (páginas 64-67)

Capítulo 2 Problematização e metodologia

2.5. Tratamento e análise de dados

A análise de conteúdo é uma técnica de tratamento da informação que Berelson (1952, 1968, citado por Carmo & Ferreira, 1998) define como: “uma técnica de investigação que permite fazer uma descrição objectiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações, tendo por objetivo a sua interpretação.” (p. 251). Permite fazer inferências sobre a informação recolhida, com base numa lógica definida (Vala, 1986), viabilizando a passagem da descrição para a interpretação, ao mesmo tempo que se atribui sentido às características do material recolhido (Bardin, 1977).

No processo de análise de conteúdo seguimos as etapas sugeridas na literatura (Vala, 1986; Carmo & Ferreira, 1998) e que a seguir se descrevem.

Definição dos objetivos e do quadro de referência teórico

Procurámos que a análise de conteúdo nos ajudasse a compreender, explorar e aprofundar, qualitativamente, as dimensões do fenómeno em causa: as perspetivas dos docentes do 1.º e do 2.º ano de escolaridade, sobre a promoção das aprendizagens ao nível da leitura e da escrita em alunos com Dificuldades de Aprendizagem Específicas da Leitura e da Escrita (DAE_LE), através da estimulação da Consciência Fonológica (CF). Assim, tanto os objetivos como o referencial teórico de análise corresponderam aos do estudo global.

Constituição do corpus da análise

As gravações áudio das entrevistas foram transcritas na íntegra (ver protocolos das entrevistas, anexo 2), constituindo-se assim o nosso corpus de análise (Bardin, 1977). Tivemos especial cuidado nesta tarefa no sentido de reproduzirmos em texto, o mais fielmente possível, o ambiente vivenciado durante as gravações (Ghiglione & Matalon, 2001; Sousa & Baptista, 2011).

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Unidades de análise

Definiram-se os três tipos de unidades de análise, conforme as indicações da literatura (Vala, 1986; Carmo & Ferreira, 1998):

- Unidades de Registo (UR) - corresponderam aos mais pequenos segmentos de texto com sentido, para promover a objetividade da análise e dos resultados;

- Unidades de Contexto - servem para contextualizar a UR, ajudando o analista a compreender a mesma (Bardin, 1977). Correspondeu a todos os enquadramentos verbais (frase, parágrafo, perguntas do entrevistador e respostas anteriores);

- Unidades de Enumeração (UE) - envolvem o processo de quantificação, possibilitando ao investigador “… contar a frequência de uma categoria…” (Vala, 1986, p. 115). No nosso estudo as UE corresponderam ao número de sujeitos que fez referência a uma dada (sub)categoria.

Categorização

As categorias são definidas, por Bardin (1977) como “… rubricas ou classes, as quais reunem um grupo de elementos (unidades de registo, no caso da análise de conteúdo)” (p. 117), agrupadas por forma a encontrar o que há de comum entre eles.

A elaboração do sistema de categorias pode ser definida “a priori” e “a posteriori” (Vala, 1986; Carmo & Ferreira, 1998, p. 255). No primeiro caso, as categorias são definidas antecipadamente pelo investigador, com base no quadro teórico. No segundo caso, as categorias não são definidas antecipadamente e não apresentam qualquer prossuposto teórico, uma vez que são “auto-geradoras dos resultados” (Ghiglione & Matalon, 1980, citado por Vala, 1986, p. 113). A construção do nosso sistema de categorias foi feita através da combinação destes dois processos, ou seja, adotámos uma abordagem mista e procurámos que todas as categorias respeitassem as características essenciais à sua validade interna (Vala, 1986; Carmo & Ferreira, 1998; Ghiglione & Matalon, 2001):

- exaustividade - o conteúdo considerado importante de classificar deve ser integralmente incluído nas categorias;

- exclusividade - os mesmos elementos devem pertencer a uma só categoria; - objetividade - as características de cada categoria devem ser explicitas, sem ambiguidade e claras, por forma a que outros codificadores classifiquem os mesmos elementos, nas mesmas categorias;

- pertinência - deve existir uma relação com os objetivos e com o conteúdo que está a ser classificado.

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A elaboração do sistema de categorias considerou ainda outros elementos sugeridos por Lima (2013, p. 10): “códigos numéricos” para identificar cada categoria e subcategoria; “designação curta” de cada categoria e subcategoria; “definição por extenso” de cada uma das categorias e subcategorias; “exemplos típicos” de UR que ajudam a ilustrar a natureza dos segmentos de informação presentes em cada categoria e/ou subcategoria.

Efetuámos também a análise de fiabilidade da grelha de categorias, seguindo as indicações da literatura para o efeito (Lima, 2013; Vala, 1986): selecionámos aleatoriamente uma amostra de 140 UR (20% do total dos segmentos de texto) e procedemos à identificação de inconsistências intracodificador (teste-reteste), isto é, procurámos medir o grau de invariabilidade ou estabilidade do processo de codificação (Lima, 2013). Neste tipo de fiabilidade um codificador volta a realizar o mesmo procedimento de codificação que aplicou anteriormente (Vala, 1986; Lima, 2013). O procedimento foi feito com um intervalo de 10 dias. Obteve-se uma concordância de 93%. Apesar de necessária, a estabilidade é uma medida de fiabilidade pobre ou fraca (Krippendorff, 2013) pelo que se mostrou necessário analisar igualmente a concordância entre codificadores ou fiabilidade intercodificadores (teste-teste). Este segundo tipo de fiabilidade envolve o trabalho de dois codificadores diferentes que codificam o mesmo material, trabalhando de forma independente (Lima, 2013). Para o efeito, recorremos a um analista externo, especialista em análise de conteúdo em contexto de investigação educacional. Ambos codificaram uma nova amostra aleatória de 140 UR, trabalhando de forma independente (Lima, 2013). Para o cálculo da fiabilidade intercodificadores, utilizámos o alpha de Krippendorff (Kalpha) calculado no IBM SPSS Statistics (versão 21) e com recurso à macro de Hayes (Hayes & Krippendorff, 2007). Obteve-se um Kalpha de .76 (para variáveis nominais e como uma bootstrap sample de 2000; ver anexo 3), o que para Krippendorf (2013) representa uma fiabilidade aceitável.

Importa salientar que o processo de categorização foi feito com recurso ao software MAXQDA (Qualitative and Mixed Methods Data Analysis Software - demo, versão 12.03). Trata-se de um recurso que promove substancialmente a validade interna da análise de conteúdo.

A grelha geral de categorias com as respetivas definições encontra-se em anexo (ver Dicionário de Categorias, anexo 4).

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