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TRIBUTAÇÃO DE OPERAÇÕES INTERESTADUAIS

4 GUERRA DOS PORTOS E RESOLUÇÃO DO SENADO FEDERAL Nº 13/

4.1 TRIBUTAÇÃO DE OPERAÇÕES INTERESTADUAIS

Primeiramente é importante tecer alguns comentários quanto ao modelo de tributação de operações interestaduais concernentes ao ICMS, adotado no país, modelo esse que se mostra um difusor de celeumas entre os entes da federação. Como a seguir demonstra Vogas (2011, p. 47):

Parece elementar que o atual modelo brasileiro de tributação das operações interestaduais agrava o cenário de guerra fiscal entre os estados. Obviamente que se a arrecadação do ICMS fica vinculada à localização da atividade produtiva, já que maior parcela do imposto cabe ao estado de origem, os entes políticos atuarão com as armas que tiverem e do jeito que puderem para atrair o investimento privado para os seus territórios.

O Brasil adota um modelo misto de tributação icemista. A Constituição Federal não prescreveu expressamente se o modelo de tributação brasileiro, quanto ao ICMS, seria o de destino ou o de origem. “[...] Na verdade, acabou criando um sistema misto ou híbrido, objetivando distribuir a receita entre o estado produtor e o estado consumidor”. (VOGAS, 2011, p. 46).

Para a mesma autora, esse modelo de tributação “[...] apesar de ser misto (possibilitando o compartilhamento de receitas com o estado de destino), privilegia a tributação no estado de origem”. (VOGAS, 2011, p. 48).

Alexandre (2012, p. 585) discorre com maestria sobre o assunto:

Decidido que o ICMS seria um imposto estadual, a polêmica subsequente seria com relação às operações interestaduais. Na operação realizada entre contribuintes situados em Estados diferentes, a quem deveria caber o produto da arrecadação? Ao Estado que produziu a mercadoria (alienante) ou àquele em que vai ocorrer o consumo (adquirente)?

A primeira solução, favorável aos Estados produtores, premia os Estados mais industrializados, mais desenvolvidos, os que mais produzem mercadorias. A segunda solução, favorável aos Estados consumidores, propicia um incremento na arrecadação dos Estados menos desenvolvidos, contribuindo para a diminuição das desigualdades regionais, um dos objetivos da República Federativa do Brasil [...]. Nas discussões ocorridas na Assembleia Nacional Constituinte, venceram os Estados produtores (mais desenvolvidos), mas em contrapartida foram criadas regras que garantem que nas operações interestaduais realizadas entre contribuintes boa parte da arrecadação da cadeia produtiva ficará com o Estado em que irá ocorrer o consumo.

Nesse sentido, a Magna Carta em seu artigo 155, § 2º, inciso VI, determina que “as alíquotas internas, nas operações relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, não poderão ser inferiores às previstas para as operações interestaduais”, a única forma de modificar isso seria se Estados e Distrito Federal deliberassem em contrário nos termos do inciso XII, alínea “g”. (BRASIL, 1988).

Mantendo- se as alíquotas internas maiores do que as interestaduais, fica garantido que o Estado de destino, ou seja, o Estado consumidor, ficará com uma parcela do imposto em questão. (ALEXANDRE, 2012).

A Constituição Federal, dessa forma, estabelece as regras para a divisão da arrecadação do ICMS nas operações interestaduais no seu artigo 155, in verbis:

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: [...]

II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;

[...]

§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: [...]

VII - em relação às operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final localizado em outro Estado, adotar-se-á:

a) a alíquota interestadual, quando o destinatário for contribuinte do imposto; b) a alíquota interna, quando o destinatário não for contribuinte dele;

VIII - na hipótese da alínea a do inciso anterior, caberá ao Estado da localização do destinatário o imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna e a interestadual. (BRASIL, 1988).

Para tornar mais clara a sistemática de divisão acima transcrita, um exemplo prático será apresentado. Suponha-se que um comerciante de Santa Catarina realize a venda de uma mercadoria a um adquirente residente na Bahia. Suponha-se, para a análise do exemplo, que a alíquota interna de Santa Catarina (SC) para a mercadoria em questão seja de 18% e a alíquota interna da mercadoria na Bahia (BA) seja de 17%. Como a operação interestadual é de um Estado do Sul com destino a um Estado do Nordeste a alíquota interestadual é de 7%. Três situações são cabíveis nessa operação. (ALEXANDRE, 2012).

Na primeira situação possível, o adquirente da Bahia é um comerciante (contribuinte do ICMS), mas não está adquirindo a mercadoria para revenda e, sim, como consumidor final. Neste caso, a arrecadação do ICMS será repartida entre o Estado de origem e de destino. Santa Catarina ficará com o montante referente à alíquota interestadual de 7% e a Bahia receberá a diferença entre sua alíquota interna e a alíquota interestadual (17% - 7%= 10%). Essa diferença entre alíquota interna do Estado de destino e alíquota interestadual é denominada diferencial de alíquota. (ALEXANDRE, 2012).

Sobre o diferencial de alíquota Koch (2006, p. 86) explica:

[...] o diferencial de alíquota só existe em operações interestaduais com destino a um contribuinte do ICMS, sendo que este seja consumidor final. Caso o destinatário não se enquadrar como contribuinte do imposto, aplica-se a alíquota interna, que é a alíquota maior, não dando margem ao surgimento do diferencial de alíquota.

Prosseguindo com o exemplo, na segunda situação possível, que é a situação mais usual, o adquirente baiano é contribuinte e tem a intenção de revender a mercadoria adquirida a seus clientes. Nesse caso, Santa Catarina ficará com a alíquota interestadual de 7%. O adquirente baiano terá direito a se compensar do valor pago na transação quando for realizar a futura venda da mercadoria, por exemplo, a transação interestadual foi no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) e será revendida posteriormente por R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). O Estado de Santa Catarina terá arrecadado R$ 7.000,00 (sete mil reais), ou seja, 7% de R$ 100.000,00. Quando o comerciante da Bahia efetuar a venda da mercadoria em seu Estado, o ICMS dessa operação será de R$ 34.000, 00 (trinta e quatro mil reais), isto é, 17% (alíquota interna da Bahia) sobre o montante de R$ 200.000,00. Levando em conta o princípio da não cumulatividade, o crédito de R$ 7.000,00 (sete mil reais) decorrentes da operação anterior será compensado, sendo assim, o contribuinte da Bahia recolherá a esse Estado o valor de 27.000,00 (vinte e sete mil reais). (ALEXANDRE, 2012).

Na terceira situação, o adquirente na Bahia não é contribuinte e, sim, mero consumidor final, como, por exemplo, um consumidor baiano que compra algo pela internet em uma loja de SC. Nessa situação não será cobrada a alíquota interestadual, o que será cobrado é a alíquota interna de SC de 18%, que irá integralmente para SC. (ALEXANDRE, 2012).

Interessante ressaltar que tramita no Senado Federal o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 7/2015, de 5/2/2015 que visa repartir a arrecadação do ICMS sobre as operações e prestações que destinem bens e serviços ao consumidor final, que não seja

contribuinte do imposto (3ª situação do exemplo supracitado), localizado em outro Estado. A PEC 7/2015, conhecida como “PEC do comércio eletrônico”, visa deixar o Estado de origem apenas com a alíquota interestadual, e o Estado de destino com o diferencial de alíquota, nas operações onde o consumidor final adquire, diretamente de outro Estado, mercadorias e serviços. Se a PEC 7/2015 for aprovada, os Estados terão um tempo para se adaptar à mudança, sendo assim, o diferencial de alíquota será gradativamente repassado ao Estado de destino. Com a aprovação, esse tipo de situação deixará de seguir o modelo de tributação na origem para seguir o modelo misto de tributação (BRASIL, 2015).

No tocante ao comércio internacional, o princípio do destino é a regra nos países da União Europeia. O Brasil também segue essa sistemática quando realiza operações internacionais, tanto que a Lei Kandir não tributa as exportações e determina a tributação das importações. (BALEEIRO, 2005).

Nesse sentido, Fonseca e Borges (2005, p. 20) esclarecem que no “[...] princípio do destino, o imposto incide sobre as importações, ou seja, elas ficam sujeitas ao mesmo sistema de tributação e vendas que os produtos domésticos, enquanto que as exportações são completamente desoneradas de tributação”.

Consoante Fonseca e Borges (2005), o modelo de tributação adotado nas operações interestaduais reflete de forma direta na repartição da receita do ICMS entre os entes da federação e a alíquota interestadual tem um papel fundamental nessa questão da divisão da arrecadação do imposto em comento.

Importante ressaltar que a Resolução do Senado Federal nº 13 de 2012, objeto da presente pesquisa, altera a alíquota da operação interestadual de mercadorias e bens oriundos do exterior, e não a alíquota do ICMS na operação de importação propriamente dita. As operações interestaduais com esses bens e mercadorias importados ocorrem num momento posterior à operação de importação, e com ela não se confunde. Dito isso, no próximo tópico será explicada essa operação de importação, que também gera desentendimentos intergovernamentais e incendeia a Guerra Fiscal.

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