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2.2 TEORIAS DOS SINTOMAS OTOLÓGICOS RELACIONADOS ÁS DTMS

2.2.4 Tuba auditiva e disfunção temporomandibular

Araújo (1973) avaliou a influência das DTMs sobre o funcionamento da tuba auditiva. Foram examinados 40 pacientes, os quais passaram a constituir dois grupos. O controle, com pacientes sem afecções da ATM, e o grupo-disfunção, constituídos por pacientes portadores de DTM. Todos os pacientes passaram pelos seguintes exames: exame otorrinolaringológico, exame clínico da ATM, exame audiométrico, exame funcional da tuba auditiva. Os pacientes foram submetidos ao teste com pneumofone de Van Dishoeck, através do qual verificou-se o estado funcional da tuba auditiva. Nenhuns dos pacientes de ambos os grupos apresentaram afecção otológicas que pudessem causar influência sobre a tuba

auditiva. No grupo-controle dezenove pacientes (95%), apresentaram resultado audiométricos normais; apenas um (5%) apresentou surdez discreta. No grupo-disfunção, dezessete pacientes (85%) apresentaram audiométria normais; dois (10%), neurossensorial leve; um (5%), surdez de condução. Ao exame pneumofônico, dezessete pacientes (85%) apresentaram índice maior de obstrução tubária, no lado correspondente à disfunção de ATM; dois (10%) não apresentaram obstrução tubária nenhuma, com resultado zero em ambos os ouvidos; um (5%) apresentou 4 cm H20 nos dois ouvidos. Os autores concluíram que os pacientes portadores de DTM têm em sua maioria (85%), uma leve obstrução da tuba auditiva. Em casos de disfunção unilateral da ATM ao lado da disfunção corresponde sempre o· lado da obstrução da tuba auditiva. Essa obstrução não é perceptível pelo paciente, mas somente é detectada clinicamente por meio de aparelhos destinados a medir a permeabilidade da tuba auditiva.

Malkin (1987) afirma que o relaxamento do músculo tensor da membrana timpânica pode alcançar determinado nível, a ponto de disparar o componente aferente de um arco reflexo, estimulando o núcleo motor do nervo trigêmeo. A partir deste estímulo excitatório, o músculo tensor do véu palatino e tensor do tímpano aumentam a sua tonicidade e no próximo ato de deglutição ocorrerá a abertura da tuba auditiva, igualando a pressão no interior do ouvido médio com a pressão atmosférica. A abertura da tuba também ocorre durante bocejos e espirros. Assim como os músculos da mastigação, estes músculos tensores também têm a inervação motora feita pelo ramo mandibular do trigêmeo, particularmente por um ramo direto do nervo que supre o músculo pterigóideo medial. Além disso, afirma que em caso de um distúrbio temporomandibular onde espasmo do músculo pterigóideo medial pode ser induzido, o arco reflexo envolvendo o músculo tensor do véu palatino e o tensor do tímpano pode não ocorrer. Estando em hipertonicidade,a o músculo pterigóideo medial induz reflexamente o músculo tensor do tímpano a um estado de tonicidade também aumentada. Desta maneira, mesmo quando a pressão atmosférica força a membrana timpânica deslocando-a em direção ao ouvido médio não ocorrerá o relaxamento do músculo tensor da membrana timpânica, pois este está em hiperatividade. Sendo assim, não atingirá o ponto de iniciar o arco reflexo que induziria ao estado de hipertonicidade do músculo tensor do véu palatino e, portanto, levaria à abertura da tuba auditiva. Nessa situação, para que o impulso

aferente de relaxamento do músculo tensor da membrana timpânica ocorra, faz-se necessário que a membrana timpânica seja deslocada de maneira acentuada. Este fato acontecerá sempre que a tuba auditiva permanecer fechada por um período de tempo mais longo, o que equivale a afirmar que o ouvido médio ficará com intervalos de ventilação aumentados, caracterizando uma disfunção tubária. Provavelmente esta situação seria responsável pela presença de sintomas otológicos.

Apoiados em estudos epidemiológicos de DTM em crianças e pré-adolescentes, os quais mostram a prevalência de sinais e sintomas na faixa de 21 a 67%, Marasa & Ham (1988) correlacionaram alterações no sistema estomatognático com a otite média com efusão, muito comum em crianças. Esta se caracteriza pelo acúmulo de secreção no ouvido médio, podendo ser estéril ou eventualmente infectada e ocorre principalmente por razões anatômicas, visto que a tuba auditiva nesta idade caracteriza-se por ser curta, posicionada horizontalmente e ter lume amplo. Nestas condições, a partir de infecção alta do trato respiratório (nariz e garganta), pode ocorrer a contaminação do ouvido médio através da tuba auditiva, visto que esta estrutura tem o seu orifício de comunicação com a nasofaringe. No exame das condições dentárias de cinco crianças observaram alterações oclusais que, uma vez tratadas, levaram a uma diminuição na ocorrência de otite em quatro dos pacientes. Entre as suas conclusões, os autores alegam que as discrepâncias oclusais levam a um possível estado de hiperatividade muscular, que por sua vez altera o funcionamento normal da tuba auditiva. Esta disfunção tubária é a responsável pelo acúmulo de fluidos no ouvido médio. Além disso, afirmaram que é possível haver passagem de infiltrado inflamatório através da fissura petrotimpânica, atingindo a orelha média. Essa alteração inflamatória se formaria pelo deslocamento posterior do côndilo mandibular, traumatizando a região retrodiscal, ricamente vascularizada. Os autores apóiam esta teoria de permeabilidade através da fissura petrotimpânica pelo fato de que antes do advento das drogas antibióticas, crianças com otite média crônica com efusão podiam desenvolver anquilose da ATM.

Penkner et al. (2000) testaram a hipótese neuromuscular de Myrhaug (1964). A atividade do músculo tensor do véu palatino em repouso e durante a deglutição foi investigada através de registros eletromiográficos (EMG) e o funcionamento da abertura da tuba auditiva foi avaliada através de endoscopia. Foram avaliados 16 indivíduos (12 mulheres, 4 homens) com média de idade de 36.6 anos (20 a 57

anos) que apresentavam queixas de DTM, além de sintomas como zumbido e perda auditiva. O diagnóstico de DTM foi baseado no guia da Academia Americana de Dor Orofacial. Foram realizados questionário de sintomas subjetivos, anamnese, RX dental, e exame clínico padronizado pesquisando sons articulares, amplitude de movimento mandibular, sensibilidade dos músculos por palpação e testes dinâmicos da articulação. De acordo com a severidade da DTM, os pacientes foram classificados em quatro grupos da seguinte maneira: Grupo 0 - sem disfunção, Grupo I - disfunção leve, Grupo II - disfunção moderada, Grupo III - disfunção severa. Foram realizados exames otológicos para descartar desordens auditivas orgânicas e, a seguir, audiometria tonal e timpanometria. Embora o zumbido tenha sido relatado por cinco pacientes e 11 manifestaram outros sintomas, como pressão e plenitude auricular, os exames audiológicos foram normais, exceto em um dos casos, no qual foi registrada perda auditiva neurossensorial. Nesse estudo, 93,75% dos pacientes apresentaram DTM moderadas e severas. Destes 100% apresentaram dor muscular à palpação, 75% click e 50% sensibilidade nas ATMs e 68.8% bruxismo. Nos registros de EMG 11 dos 16 participantes apresentaram padrões eletromiográficos normais. Em dois casos padrões eletromiográficos anormais foram obtidos, mas devido a incorreta posição das agulhas do aparelho de EMG. Os resultados indicaram que o espasmo dos músculos mastigatórios nos pacientes com DTM não parece causar espasmo reflexo no músculo tensor do tímpano nem apresentar alterações significativas no funcionamento da tuba auditiva.

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