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S UCESSÃO ECOLÓGICA NO M ONTADO

No documento Necessidades hídricas do montado (páginas 39-42)

3.4 O C LIMA , E XIGÊNCIAS ECOLÓGICAS E FATORES LIMITANTES

3.5.1 S UCESSÃO ECOLÓGICA NO M ONTADO

BRAUN-BLANQUET et al., 1956, (citado por ONOFRE et al., 1986), situam a azinheira no domínio do agrupamento climácico Quercion faginae, definido como a aliança mediterrânico-atlântica que no oeste da Península Ibérica substitui a Quercion ilicis mediterrânica. Devido à forte influência do homem naquela aliança lusitana, os mesmos autores afirmam ser muito difícil, senão impossível, descriminar e delimitar as diversas associações vegetais que ela compreenderia.

As modificações ao longo do tempo da vegetação e da paisagem resultam, em parte, do mecanismo de sucessão. Sendo este, entendido como um conjunto de comunidades vegetais que se substituem sucessivamente (diferentes etapas da sucessão) e que se inicia após uma grande perturbação. Se não ocorressem perturbações naturais ou antropogénicas a sucessão terminaria numa comunidade “Clímax”, com uma composição relativamente estável.

A capacidade de sistemas, como o montado, suportarem uma exploração continuada relaciona-se com a sua capacidade de resistir a perturbações. O estudo da resposta dos ecossistemas às perturbações enquadra-se na teoria da sucessão que estabelece as etapas que ocorrem após a perturbação e as sequências de recuperação posterior (ALÉS, 1999).

No modelo clássico estabelecido para a vegetação mediterrânica (RIVAS & RIVAS, 1963; TOMASELLI, 1981, citados por ALÉS, 1999) as perturbações, como os desbastes, o fogo, o pastoreio, etc., causam a regressão das etapas dessa sucessão e o abandono das práticas humanas proporciona de novo a sucessão para o bosque.

Os montados, porém combinam espécies vegetais pioneiras e climácicas, e consequentemente, nestes sistemas, diferentes perturbações podem dar origem a diferentes sucessões ecológicas. Por outro lado ainda, as condições ambientais estão também em permanente mudança, e sucessões semelhantes poderão dar origem a “clímax” diferentes (ALÉS, 1999). Para melhor descrever estes sistemas, foram elaborados os Modelos de Estados e Transições (WESTOBY et al., 1989 citados por ALÉS, 1999), que consideram estados discretos e as transições entre estados, podendo assim, nestes casos descrever de forma mais adequada os mecanismos de sucessão.

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Nos modelos de sucessão ecológica clássicos para a vegetação mediterrânica descrevem-se quatro etapas principais: o Bosque ou Floresta Alta, o Mato Alto, o Mato Baixo (Sargaçal) e Pasto, e a etapa pioneira (ALÉS, 1999).

Os Modelos de Estados eTransições consideram estados discretos e as transições entre estados, podendo assim, descrever melhor os mecanismos de sucessão. Estes modelos não têm de ser obrigatoriamente graduais e reversíveis, existindo estados que podem surgir apenas como resultado de determinadas perturbações.

Um modelo de Estados e Transições permite apurar as “forças” que mantêm os montados, e quais os estados que com estes podem alternar. Podem-se considerar quatro estados: Bosque, Montado, Matos e Pasto (Figura 3). Cada estado é definido pelo predomínio de espécies com diferentes características o que confere ao sistema propriedades distintas (ALÉS, 1999).

Figura 3 – Estados e transições da vegetação mediterrânica no Sudoeste da Península Ibérica2.

(Extraído de NUNO LEITÃO- Naturlink (s/data) Adaptado de ALÉS, 1999)

2 Manutenção das etapas: T1 – Bosque a Matos: Com perturbações frequentes, muito drásticas ou muito prolongadas no tempo, que destruam os órgãos subterrâneos das espécies esclerófitas, por exemplo, fogo intenso e rotura do coberto por corte.

T2 – Bosque a Montado e Bosque a Pasto: Com a abertura da floresta e progressivo aumento do espaçamento entre as

árvores, seguido de uma fase de abandono e uma fase de forte pastoreio ou alqueive com sementeira de culturas cerealíferas, atinge-se o Montado e numa situação mais extrema, com a eliminação total das árvores, atinge-se o Pasto.

T3 – Montado a Pasto: Com a actividade humana de eliminação das árvores transita-se de Montado para Pasto.

T4 – Matos a Pasto: As situações em que se verificou esta transição ocorreram com a recuperação de Pastos abandonados

que tinham transitado para Matos, mas que ainda não tinham eliminado as espécies herbáceas do Pasto pré-existente, que voltaram a dominar.

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A etapa Bosque representa a Floresta Clímax. Esta etapa é dominada por árvores perenifólias e esclerófilas, de crescimento lento. Este estado é o que apresenta maior biomassa (100 a 350 t/ha) e o solo mais rico em matéria orgânica e nutrientes. A floresta clímax representa um complexo de formas diferentes, podendo, por exemplo, ser um bosque dominado pela azinheira ou um bosque dominado pelo sobreiro, muitas vezes misturados com pinheiros (ALÉS, 1999).

A etapa Montado é caracterizada por possuir um estrato arbóreo e um substrato herbáceo, por vezes com zonas dispersas de matos. Conserva árvores a uma baixa densidade (20 a 90 árvores/hectare), mas que se revelam muito importantes para a produção de forragens, rama e frutos para o gado, e importantes para a conservação do solo. O montado tem níveis de biomassa, de nutrientes e de matéria orgânica do solo mais baixos que os do estado clímax, mas tem níveis de biodiversidade superiores, resultado da enorme riqueza da flora herbácea. As árvores isoladas introduzem uma grande heterogeneidade no sistema, com a criação de microclimas e solos idênticos aos da etapa superior (Bosque), o que também contribui para o aumento da sua biodiversidade (ALÉS, 1999).

A etapa Matos é dominada por espécies lenhosas arbustiva (nomeadamente dos géneros Cistus, Erica, Rosmarinus e Lavandula), o que lhe confere características

T5 – Pasto ou Montado a Matos: Ocorre associado ao abandono agrícola, mas está dependente da presença de sementes das

espécies dos Matos, assim como da sua capacidade de competição com as espécies de pasto, nas condições ambientais presentes nesse período (em termos de solo, clima, etc.). Esta evolução pode incluir uma sub-etapa de um “paraclimax” de resinosas, que depois formam um misto de resinosas e matos.

T6 – Pasto a Montado: Só se verifica com práticas silvícolas, por plantação ou sementeira de árvores, não se conhecendo

casos de recuperação natural, o que se deve, sobretudo, ao fato de ser um processo muito lento. O desenvolvimento das árvores está dependente da capacidade destas competirem com as espécies características dos Matos, sob os fatores ecológicos presentes, pelo que em vez de haver uma evolução para Montado, poderá haver evolução para Matos.

T7 – Montado a Bosque: Com o abandono das práticas agrícolas e pecuárias no sub-coberto, poderá iniciar-se o lento

processo de transição para Bosque, com a invasão de espécies do Bosque que não existem no Montado e regeneração das árvores, com aumento da densidade. Esta transição está limitada pela capacidade das espécies características dos Matos ocuparem primeiramente o local, criando Matos com árvores dispersas, havendo a partir daqui a possibilidade de se evoluir também para o Bosque (T8). No entanto, o aumento da biomassa, propício ao fogo, na transição para Bosque, pode rapidamente favorecer a formação de novos matos e estabilizar a sucessão na etapa Matos.

T8 – Matos a Bosque: Por invasão de espécies arbóreas, sempre que não haja herbívoros, pode ocorrer o estabelecimento

das árvores. A transição pode ser ainda mais atrasada com a ocorrência de fogo, que favorece a regressão para Matos. Os Matos podem formar, como vimos, um misto com resinosas, e na sucessão para o Bosque as resinosas são depois substituídas por carvalhos (misto matos + carvalhos), até à altura em que estes passam a dominar.

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marcadamente diferentes das etapas dominadas por árvores. Tem uma funcionalidade mais variada, onde a fotossíntese e a transpiração estão mais dependentes das estações do ano. A riqueza de espécies de um mato é tipicamente muito inferior à de um montado, devido à quase ausência de herbáceas e por haver dominância de um pequeno número de espécies, de que são exemplo os matos de Cistus ladanifer (esteva).

Em média (por ser muito variável), a biomassa acaba por ser idêntica à de um montado, a matéria orgânica do solo idêntica à de um bosque, mas os nutrientes encontram-se emníveis mais baixos que os característicos do montado (ALÉS, 1999).

A etapa Pasto caracteriza-se pela ausência de espécies arbóreas ou arbustivas e é dominada por herbáceas anuais ou vivazes. Tem obviamente (devido à ausência de espécies lenhosas) os mais baixos níveis de biomassa. O solo é muito mais pobre em matéria orgânica e nutrientes que os dos bosques e montados, mas com a exceção do azoto, que aqui apresenta níveis mais elevados que nos matos. Esta etapa é, muitas vezes, resultante de ciclos característicos de uma agricultura extensiva (Pastagem – Lavoura – Cultura cerealífera – Pousio – Pastagem). Estes ciclos são também utilizados no sub- coberto do montado (ALÉS, 1999).

No documento Necessidades hídricas do montado (páginas 39-42)