• Nenhum resultado encontrado

Segundo Mary Del Priore (2006), no Brasil Colônia as relações sociais e amorosas sofreram verdadeiras cruzadas espirituais, influenciadas pela catequese, orientação ética, e pela educação espiritual, com severa vigilância doutrinal provinda da Santa Inquisição dos séculos XVI a XVIII. A ação da Igreja atuava no campo da organização familiar e do controle da sexualidade.

A Igreja apropriou-se também da mentalidade patriarcal presente no caráter colonial e explorou relações de dominação que presidiam o encontro entre os sexos. (DEL PRIORE, 2006, p. 17)

Por um lado, uma parcela da população buscava no matrimônio a união de interesses como a estabilidade social, a manutenção de prestígio e riquezas. Valores como religião, raça, ocupação e origem das famílias dos cônjuges eram altamente significativos. Por outro lado, uniões ilegítimas e o celibato aconteciam como resistência aos apelos da Igreja, principalmente nas camadas mais pobres da sociedade.

Pelo Concílio de Trento, aqueles que pretendiam se casar no Brasil sofriam exigências burocráticas como cartões de batismo, atestados de residência, de solteiro e outras provisões antes que se dirigissem ao altar, como o voto de castidade e religião. A igreja impedia o casamento entre padrinhos e afilhados, entre parentes até o quarto grau de consanguinidade e, até mesmo, entre os que houvessem tido cópula ilícita com parentes até o quarto grau de consanguinidade do outro cônjuge.

A doutrina tridentina reforçava que a escolha do futuro cônjuge exigia do homem razão e entendimento, em busca de uma vida conjugal estável, sem relevância na atração física e na paixão amorosa.Segundo Silva:

A indissolubilidade do matrimônio, estabelecida pela doutrina da Igreja Católica, era usada como principal argumento a favor de uma escolha maduramente pensada do futuro cônjuge. O princípio básico que norteava tal escolha era o princípio da igualdade, claramente enunciado quer nos adágios e provérbios, quer nos textos dos moralistas. (SILVA, 1984, p. 66)

Figura 9. Casamento em igreja católica

(Cerimonial do casamento)17

Mary Del Priore (2006) avalia as relações sociais do século XVIII, quando se considerava o casamento

(...) uma instituição básica para a transmissão do patrimônio, sendo sua origem fruto de acordos familiares e não da escolha pessoal do cônjuge. (DEL PRIORE, 2006, p. 22)

Segundo Del Priore, os casamentos de pobre com rico, de branco com negro ou de católico com judeu ou muçulmano eram severamente criticados e considerados desiguais.

A legalização das uniões dependia do consentimento paterno e, quando contestada, poderia ocasionar em punições como a exclusão do filho na participação do patrimônio da família. Del Priore (2006) também recorda que foi na reforma da legislação sobre o casamento da nobreza, levado a efeito pelo marquês de Pombal, que se reforçou a autoridade paterna para impedir os casamentos desiguais.

Casamentos desiguais eram malvistos no Brasil Colônia. Quando a sociedade julgava um casamento desigual, pressionava os parentes do casal a

recorrerem ao governador para impedir tal enlace. Considerado um contrato sujeito às leis da Natureza, do Estado e da Igreja, o matrimônio vislumbrava uma igualdade social, etária, física e moral. E essas uniões por afinidade estenderam- se, por gerações, até o século XIX, quando modificações na estrutura familiar foram apresentadas, decorrentes de novas relações sociais.

Figura 10. Casamento do início do século XX

(História Hoje.com)18

No século XX, comportamentos marcados por enorme transformação social e econômica influenciaram as formas de viver e pensar dos brasileiros, provocando novas configurações na história das relações entre homens e mulheres. Dentre outras rupturas de modelos impostas pela sociedade, o “casamento arranjado” sofreu grande transformação. Ainda sob a influência da religião, da família e da comunidade, as relações matrimoniais passam a valorizar o sentimento recíproco do amor, acompanhado do desejo sexual entre marido e mulher.

Quanto à manutenção do casamento, o Código Civil Brasileiro de 1916, mantinha o compromisso com a indissolubilidade do vínculo matrimonial.

18 DEL PRIORE, Mary. Casamento e divórcio: as famílias modernas. 04 JUL 2014. Disponível em: <http://historiahoje.com/casamento-e-divorcio-as-familias-modernas/>. Acesso em: 27 JUL 2017.

Nele, a mulher era considerada altamente incapaz para exercer certos atos e se mantinha em posição de dependência e inferioridade perante o marido. (DEL PRIORE, 2006, p. 259)

À mulher, conformada com sua posição dentro do casamento, cabia a responsabilidade perante o lar e a família. Ao homem, o trabalho e o sustento dos mesmos.

Aos poucos, sob a influência de diferentes culturas, derivadas de imigrações e novos arranjos matrimoniais, o posicionamento da mulher perante o casamento foi trazendo novos significados às relações conjugais. As mudanças do novo século, como a emancipação feminina e a liberdade sexual, causaram transformações significativas na imagem da família e do casamento. Mesmo assim, o sonho feminino da união por amor e o desejo de procriação e manutenção da herança familiar ainda se fazem presentes.

Segundo a última análise do IBGE19, Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística, em 2015 o Brasil registrou 1.137.321 casamentos civis, sendo 99,5% entre pessoas de sexos opostos. Por meio de parcerias entre prefeituras, cartórios e igrejas, houve um relevante crescimento do número de casamentos oficiais em alguns estados brasileiros.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE20 aponta

que a faixa etária das mulheres que tem registrado 75% dos matrimônios no Brasil está entre os 20 e 39 anos. Em relação aos gastos com as festividades do casamento, o estudo mais recente mostra que somente a classe média movimentou R$ 328 bilhões em 2015. Com mais renda e maior acesso a serviços, as regiões Sudeste e Sul têm a maior taxa de casamentos oficializados no Brasil na última década.

Para oficializar a união entre os cônjuges, além do registro civil, no Brasil, assim como em muitos países do Ocidente, é também de grande relevância a celebração do matrimônio por meio da benção religiosa. E a festividade que

19 R7. Casamentos aumentam e divórcios caem no Brasil, aponta IBGE. 24 NOV 2016. Disponível em:

<http://noticias.r7.com/brasil/casamentos-aumentam-e-divorcios-caem-no-brasil-aponta-ibge-24112016>. Acesso em: 30 ABR 2017.

acompanha essa cerimônia é trabalhada pelos noivos e seus familiares de forma representativa, apresentando o novo casal à sociedade.

Com produtos criativos e diferenciais de serviços e tecnologia, as inovações no mercado de casamentos são constantes. Assim como vestidos e acessórios, até os dias de hoje muitos artefatos são produzidos, reproduzidos ou customizados para consumo em celebrações de matrimônio. E a personalização desses artefatos é vislumbrada pelos noivos no intuito de transmitir a sua identidade em um ritual de passagem de grande relevância em seu meio social.

Figura 11. Casamento espetáculo (Inesquecível Casamento)21

21 INSTAGRAM. Inesquecível casamento. In: Inesquecível casamento. Fotografia Edemir Garcia. Disponível em: <https://www.instagram.com/p/BW6Pbz_hyqV/>. Acesso em: 27 JUL 2017.

5. O SIMBÓLICO E O CONTEMPORÂNEO PRESENTES NAS

Documentos relacionados