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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. MARIANA SABINO PETEAN GALVÃO. A SINGULARIDADE E A CONSPICUIDADE DAS CERIMÔNIAS DE CASAMENTO NA CIDADE DE SÃO PAULO. São Paulo 2017.

(2) MARIANA SABINO PETEAN GALVÃO. A SINGULARIDADE E A CONSPICUIDADE DAS CERIMÔNIAS DE CASAMENTO NA CIDADE DE SÃO PAULO. Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre.. Orientadora: Profª. Drª. Regina Célia Faria Amaro Giora. São Paulo 2017.

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(5) Aos meus pais, Maria Cândida Sabino Petean e Vanderli Clemente Galvão, pelo apoio e ensinamentos; em especial à minha mãe, a quem devo tudo o que sou hoje. À Universidade Presbiteriana Mackenzie, pela confiança na realização de meu trabalho..

(6) AGRADECIMENTOS. À professora Regina Giora, a minha imensa gratidão. Gratidão pelo incentivo ao meu projeto e por todas as sugestões que foram fundamentais durante todo o processo. O nosso convívio deu-me o privilégio de aprender muito com a sua sensibilidade profissional e experiências de vida. À profª. drª. Rosana Mara Schwartz e à profª. drª. Liana Gotlieb pelo apoio e contribuições ao desenvolvimento do tema proposto. A todos os professores do curso de Mestrado do programa de pós-graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie pelo aprendizado ofertado, apoio e acolhida durante todo o processo. Ao prof. dr. Paulo Roberto Monteiro de Araújo pelo incentivo à minha pesquisa e pela oportunidade de produções de artigos e comunicações sobre o tema. Agradeço à Universidade Presbiteriana Mackenzie pela atribuição do Auxílio-Taxa – CAPES/PROSUP. À amiga Paula Cristina Breseghello pela parceria de trabalho na área de Eventos e por sua contribuição às minhas inspirações e pesquisas. À celebrante de casamentos Beatriz Moura Leite pela inspiração e indicação de referenciais para o projeto de mestrado. Aos colaboradores entrevistados, a minha gratidão pela disponibilidade e interesse de todos em contribuir com a minha pesquisa. A todos os meus mentores pelas inspirações e oportunidades concedidas. Por último, agradeço a Deus..

(7) RESUMO. A presente dissertação traz uma análise da singularidade nas cerimônias de casamento do Brasil contemporâneo. Trabalhando sob uma perspectiva histórica a respeito do amor e do matrimônio, propõe-se a reflexão sobre a importância do rito de passagem do casamento para um indivíduo dentro do seu grupo social. Nesse sentido, foi possível reconhecer os principais símbolos presentes nesse tipo de cerimônia e sua representatividade e permanência mesmo em celebrações consideradas personalizadas. Na contemporaneidade, elementos tradicionais como o véu, as alianças e o buquê de flores se apresentam em novas configurações e em diferentes tipos de solenidade, com ou sem cunho religioso. Além disso, há uma maior participação dos noivos na condução das ações do ritual, apresentadas ao celebrante por meio de roteiros mais aproximados de suas crenças e desejos. A partir da análise aqui desenvolvida, conclui-se que há uma crescente valorização da identidade dos casais na confecção dos artefatos a serem utilizados nos eventos. Considerando a conspicuidade associada ao desejo de valorização social presente na realização de um evento de casamento, compreende-se, portanto, a relevância dada à autenticidade na personalização de elementos para esse tipo de celebração.. PALAVRAS-CHAVE Casamento temático. Contemporaneidade.. Cerimônia.. Singularidade.. Personalização..

(8) ABSTRACT. The present dissertation presents an analysis of the singularity seen in the contemporary Brazilian wedding ceremonies. Based on historical perspectives in relation to love and marriage, this work calls the attention to the importance of the wedding´s rite of passage to the individual within its social group. In this sense, it was possible to recognize the main symbols present in this type of ceremony and their representativeness and permanence, even in celebrations considered personalized. In the contemporary times, traditional elements as the veil, the wedding rings and the flower bouquet present themselves in new configurations and in different types of solemnity, with or without religious nature. In addition, there is a larger participation of the bride and groom in the conduction of ritual actions, presented to the celebrant, who follows the scripts prepared according to their beliefs and wishes. Based on the analysis presented here, one concludes that there is an increasing emphasis on the couples´ own identity in the confection of the artifacts to be used in the events. Considering the conspicuity linked to the search for social valuation presented in the performance of a wedding event, the relevance given to authenticity in the personalization of the elements for this type of celebration is duly understood. KEY WORDS Thematic wedding. Ceremony. Singularity. Personalization. Contemporaneity..

(9) LISTA DE FIGURAS. Figura 1. Casamento na praia .................................................................................. 12 Figura 2. Troca de alianças ...................................................................................... 17 Figura 3. Cerimônia das Velas ................................................................................. 22 Figura 4. Ritual da areia ........................................................................................... 22 Figura 5. Benção do sal ........................................................................................... 23 Figura 6. Benção de casamento no século XIX ........................................................ 26 Figura 7. Baile de Debutante do Século XIX ............................................................ 27 Figura 8. Ensaio fotográfico de noivos ..................................................................... 31 Figura 9. Casamento em igreja católica ................................................................... 33 Figura 10. Casamento do início do século XX .......................................................... 34 Figura 11. Casamento espetáculo............................................................................ 36 Figura 12. Ato da troca de alianças em cerimônia de casamento ............................ 41 Figura 13. Vestido branco de noiva .......................................................................... 42 Figura 14. Personagens de O Senhor dos Anéis ..................................................... 43 Figura 15. Trajes dos noivos Bruna e Felipe ............................................................ 43 Figura 16. Véu cobrindo o rosto ............................................................................... 44 Figura 17. Grinalda em formato coroa ...................................................................... 44 Figura 18. Buquê de flores ....................................................................................... 45 Figura 19. Buquê personalizado em papel ............................................................... 45 Figura 20. Buquê de bonecos Sto. Antônio .............................................................. 46 Figura 21. Buquê de fitas ......................................................................................... 46 Figura 22. Bolos de casamento ................................................................................ 48 Figura 23. Bolo estilizado Star Wars ........................................................................ 49 Figura 24. Bolo estilizado ......................................................................................... 49 Figura 25. Topo de bolo personalizado tema Tango ................................................ 50 Figura 26. Dama de honra Pit Bull ........................................................................... 51 Figura 27. Arco de flores .......................................................................................... 54 Figura 28. Altar personalizado ................................................................................. 55 Figura 29. O espetáculo da noiva............................................................................. 56 Figura 30. Padrinhos super-heróis ........................................................................... 58 Figura 31. Artefatos e trajes personalizados ............................................................ 61 Figura 32. Brasões figurativos .................................................................................. 63 Figura 33. Brasões figurativos .................................................................................. 63.

(10) Figura 34. Figurinos e adereços com tema Medieval ............................................... 64 Figura 35. Vestimenta personalizada ....................................................................... 64 Figura 36. Baile Rockabilly ....................................................................................... 65 Figura 37. Divulgação do casamento de Kátia e Alexandre ..................................... 67 Figura 38. Divulgação do casamento de Kátia e Alexandre ..................................... 67 Figura 39. Caixa-convite para padrinhos .................................................................. 68 Figura 40. Registro Civil com elementos tradicionais ............................................... 69 Figura 41. Lenços “lágrimas de alegria” ................................................................... 71 Figura 42. Noivos e convidados com trajes Rockabilly ............................................. 72 Figura 43. Celebração personalizada ....................................................................... 75 Figura 44. Casamento customizado...........................................................................77.

(11) SUMÁRIO. 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10 2. AS DIFERENTES NARRATIVAS DO CERIMONIAL DE CASAMENTO CONTEMPORÂNEO ............................................................................................... 18 3. LAÇOS E ENLACES: O AMOR E O CASAMENTO NA MODERNIDADE .......... 24 4. UM BREVE HISTÓRICO SOBRE O CASAMENTO NO BRASIL ........................ 32 5. O SIMBÓLICO E O CONTEMPORÂNEO PRESENTES NAS CELEBRAÇÕES DE CASAMENTO .................................................................................................... 37 6. MY SELF WEDDING: A CONSPICUIDADE DO CASAMENTO CONTEMPORÂNEO ............................................................................................... 52 7. CELEBRAÇÃO À MODA DA CASA: A SINGULARIDADE E A CONSPICUIDADE DAS CELEBRAÇÕES DE CASAMENTO EM SÃO PAULO ..... 59 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 73 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 78 ANEXO A – QUESTIONÁRIO KÁTIA E ALEXANDRE ........................................... 81 ANEXO B – QUESTIONÁRIO PAULA E LUCAS .................................................... 83 ANEXO C – QUESTIONÁRIO JAMILLY E RODRIGO ............................................ 86 ANEXO D – QUESTIONÁRIO VANESSA E RONALDO ......................................... 88 ANEXO E – TRECHOS DE ENTREVISTA COM BRUNA E FELIPE ....................... 90.

(12) 10. 1. INTRODUÇÃO O casamento é uma das mais complexas relações humanas, que, por meio de sua evolução sócio-histórica, deixa marcas dos mitos, crenças, regras e valores que influenciam as condutas e concepções de um casal. O rito do casamento redefine a identidade dos noivos, criando um novo papel para os mesmos na sociedade, assim como a aprovação de seus familiares e do seu ciclo social reafirma a escolha do casal em relação à união. Inicialmente restrito às relações familiares, com o tempo o casamento foi integrado às normas do Estado e aos sacramentos da Igreja.. Na. contemporaneidade, sob a influência de diferentes tipos de fé, a maioria das famílias ainda educa os filhos desde pequenos para a união, ou seja, as crianças são orientadas para seguir a linha dos pais, casar e ter filhos. Nas primeiras décadas do século XXI, novas ideias e interesses nas relações sociais foram sendo incorporados, mas o casamento, ainda hoje, continua a expressar uma importante ação de representação do amor entre duas pessoas. Dentre os principais ritos de passagem, a celebração do casamento possui grande significado social, principalmente para as mulheres, que consideram o evento “a realização de um sonho”. Nos cerimoniais de casamento contemporâneos, apesar do desejo de utilização de elementos como o véu e a grinalda, há um desapego dos rituais tradicionais, com a oportunidade de aplicação de novos rituais, influenciados pela mídia e por uma cultura globalizada de culto ao luxo, ao belo e ao tecnológico. No novo contexto ritualístico, é também notória a influência de rituais místicos e de rituais importados de culturas estrangeiras, que revelam aos noivos a oportunidade de criar roteiros para celebrações singulares ou mais aproximadas de suas crenças. Essa singularidade na maneira de conduzir as cerimônias desperta reflexões sobre como são expressas tais particularidades por meio de elementos específicos escolhidos pelos noivos, somados aos signos tradicionais que caracterizam um ritual de matrimônio. Nesse propósito, a presente pesquisa se faz relevante ao estudar como estão representados os símbolos sagrados em uma cerimônia de casamento no.

(13) 11. Brasil. contemporâneo,. investigando. a. singularidade. presente. nessas. cerimônias. A partir da utilização de referências bibliográficas e da análise de dados obtidos por entrevistas individuais, obteve-se um conteúdo essencial para a melhor interpretação das características singulares apresentadas na concepção desse importante rito de passagem. Ao planejar este estudo por meio de um programa de Mestrado, busquei linhas de pesquisa que melhor se adequassem ao tema. A proposta de estudo interdisciplinar oferecida pelo programa de Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, possibilitou adequar o meu projeto à sua área de concentração. A ênfase na contemporaneidade contribuiu para a escolha desse programa, bem como a oportunidade de voltar a estudar em uma renomada instituição de ensino como a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Dentro da linha de pesquisa Culturas e Artes na Contemporaneidade, o meu projeto se adequa ao investigar tendências e particularidades dos rituais de casamento na sociedade contemporânea. Na linha de Linguagens e Tecnologias, houve a oportunidade de interpretação das linguagens utilizadas pelo Homem para expressar-se em sua comunidade, trazendo o recorte das imagens, símbolos e roteiros utilizados nas cerimônias de casamento. Destarte, tomando por base a análise do comportamento social contemporâneo diante à diversidade de valores estéticos e culturais presentes em ritos de passagem como o casamento, essa dissertação procura proporcionar aos interessados a identificação desses valores sob diferentes pontos de observação: o caráter romântico1 da celebração de um matrimônio, o desejo de singularidade almejado pelos noivos e a linguagem simbólica do matrimônio, observada na composição dos diferentes perfis de cerimônias de casamento.. 1. Termo utilizado em sua acepção coloquial, sem relação com o período do Romantismo..

(14) 12. Figura 1. Casamento na praia (Casamento Celta)2. A história do casamento é a história da reprodução da vida, associada a ritos e significados que expressam, ao longo da História, por meio de manifestações diversas, a preocupação com a pureza e a fidelidade, a família e a reprodução, a bênção e as oferendas, a descendência e a virgindade, o amor e o companheirismo. Com relevância dada às considerações materiais e ao prestígio social envolvido na escolha do cônjuge, a união entre um homem e uma mulher primeiramente acontecia por fatores determinantes, como a procriação e a preservação da espécie. Já no século XVII3, os ideais do movimento romântico enfraqueceram o propósito dos considerados “casamentos arranjados”, fortalecendo o sentimento do amor que une o casal para o matrimônio. Desde então, o vínculo do amor passa a ser reconhecido pela sociedade como o sentimento fundamental para o matrimônio, porém os valores morais dos indivíduos ainda prevalecem até os dias de hoje, devotando-se ao sagrado, ao místico, para a consumação da união. Além da oficialização jurídica, para muitos. 2. INSTAGRAM. Casamento celta. In: Itamambuca EcoResort. Disponível em: <https://www.instagram.com/p/BUt_Lp6AtXW/>. Acesso em: 27 JUL 2017. 3 Philippe Ariés, em Sexualidades Ocidentais: contribuições para a história e para a sociologia da sexualidade, ressalta sobre a valorização do amor iniciada no século XVII, com grandes mudanças no casamento (1987)..

(15) 13. fiéis é somente por meio de uma benção religiosa que se tem o consentimento para o início desta nova fase da vida. A festa de casamento, devido à sua série de regras, identificáveis e reproduzíveis, concede uma ideia sobre protocolos junto à composição de um cenário representativo dos noivos em seu grupo social. O estudo do protocolo garante o cumprimento das normas adequadas de condução de uma solenidade, bem como a realização de um bom planejamento de celebrações por parte do profissional responsável. O cerimonialista é o responsável por estudar os rituais solenes de um evento de qualquer natureza, desenvolvendo roteiros que possam ser conduzidos de maneira a respeitar os seus protocolos e as possíveis adaptações aos mesmos. No papel de cerimonialista e profissional atuante no mercado de casamentos desde 2001, tive a oportunidade de investigar os aspectos singulares presentes nas cerimônias de casamentos realizados nos últimos anos na cidade de São Paulo. No pensamento de Graham Gibbs (2009) os pesquisadores fazem parte do processo de pesquisa de forma relevante, seja por meio da atuação como investigadores, ou por suas experiências em seu campo de atuação. Como pesquisadora e docente da disciplina de Cerimonial e Etiqueta em cursos especializados, também havia a curiosidade de investigar os propósitos da utilização de diferentes símbolos místicos para customizar a realização dessas solenidades. Artigos e ensaios sobre os rituais de casamento têm sido apresentados pelo meio acadêmico no Brasil nos últimos anos, assim como são divulgadas especulações sobre a customização4 de produtos no segmento de eventos sociais, porém sob um viés mercadológico. Pretendo contribuir com esses estudos ao analisar os símbolos místicos e as peculiaridades das solenidades. Termo traduzido do inglês “customize” que caracteriza a alteração de algo aos requisitos de alguém, personalizar de acordo com as suas necessidades. Neste trabalho, o termo foi utilizado como um correlato dos verbos personalizar e singularizar, aproveitando-se da contemporaneidade do termo que também sugere uma apropriação de diferentes ideais e valores adaptados a um grupo ou a alguém. 4.

(16) 14. do evento casamento, sem a pretensão de avaliar ou categorizar elementos utilizados nas recepções posteriores à cerimônia. As primeiras páginas deste trabalho apresentam a relevância dos ritos para o homem moderno, até hoje acompanhados por símbolos e mitos religiosos. No casamento, importantes símbolos são trabalhados de forma personalizada, adequando-se ao perfil da solenidade e às crenças dos noivos. As considerações sobre a linguagem simbólica, trazidas por Carl Gustav Jung (1964) e Ernst Cassirer (1956), foram estudadas com o objetivo de compreender e aprofundar a temática da singularidade referenciada pela simbologia. A análise sobre os ideais românticos, embasada pelos pensamentos de Anthony Giddens (1993), contribuiu para a avaliação da importância do casamento nas relações sociais ao longo da História. Autores como Maria Luiza Puglisi Munhoz (2001), Martine Segalen (2002), Mary Del Priore (2006) e Peggy Post (2006) também deram subsídios a essas reflexões sobre o tema. Um breve estudo sobre a evolução dos arranjos matrimoniais desde o Brasil Colônia abre a oportunidade de observação da relevância dos eventos de casamento realizados no país até os dias de hoje. No Brasil contemporâneo, além da identificação de um evento de grande valor social, é possível observar aspectos conspícuos e singulares nos mais variados tipos de celebrações de casamento. O conceito de singularidade é trazido por Jean Baudrillard (1995), Richard Sennett (1999) e Paula Sibília (2008) ao abordarem a subjetividade das experiências humanas. A fim de investigar a singularidade presente nas cerimônias de casamento realizadas no Brasil contemporâneo, foi feito um recorte para os casamentos considerados temáticos, realizados na cidade de São Paulo nos últimos cinco anos. Foram entrevistados casais que optaram por uma celebração personalizada, influenciados por temáticas diferenciadas. Ou seja, foram selecionados os casais que não seguiram os rituais tradicionais de matrimônio e buscaram individualizar o roteiro de sua celebração de casamento. Quanto à metodologia, autores como Martin W. Bauer e George Gaskell (2015) apresentaram opções de investigação por meio de pesquisa qualitativa, auxiliando na análise de imagens e na interpretação de dados coletados em.

(17) 15. entrevistas individuais. Diante da temática contemporânea aqui proposta, a análise de discurso avaliada por Laurence Bardin (1977) contribuiu para a observação das comunicações verbal e não-verbal presentes nas narrativas dos entrevistados, assim como para a objetividade na transcrição das respostas coletadas. A minha atuação como cerimonialista permitiu o contato com noivos e celebrantes que indicaram possíveis entrevistados. Na intenção de realizar uma pesquisa. qualitativa,. foram. aplicadas. entrevistas. com. questões. predeterminadas, tendo como amostra um grupo de cinco casais. Tal escolha se deu pela oportunidade de reconhecimento de elementos representativos ofertados por esse grupo de amostragem, por meio de palavras, atos ou atuações. A utilização do método de entrevistas aplicado com casais que optaram pela celebração temática e personalizada possibilitou a obtenção de um rico material para análise, permitindo a interpretação dos dados coletados também de forma qualitativa. Toda pesquisa com entrevistas é um processo social, uma interação ou um empreendimento cooperativo, em que as palavras são o meio principal de troca [...] é uma interação, uma troca de ideias e de significados, em que várias realidades e percepções são exploradas e desenvolvidas. (BAUER; GASKELL, 2015, p. 72). Houve também a coleta de fotografias apresentadas pelos casais no ato da entrevista, ou enviadas por correio eletrônico. Desse modo, foi possível avaliar características de singularidade nos artefatos produzidos para as celebrações. Contextualizar os registros dos símbolos do sacramento, associados aos materiais singulares utilizados nesses rituais, foi de extrema relevância para o resultado da pesquisa. Por meio de narrativas ou descrições, os casais entrevistados ofereceram dados importantes para a investigação de um evento singular, tais como as fundamentações utilizadas para os roteiros adaptados para a solenidade e os comentários de terceiros sobre as suas celebrações. Foram também.

(18) 16. encaminhadas fotografias dos ambientes dos eventos e dos artefatos customizados para os mesmos. Em. consonância. às. narrativas. dos. entrevistados,. as. imagens. apresentadas por eles incrementaram a análise dos dados, ao “ressoar memórias submersas” que ajudam “a libertar memórias” (BAUER; GASKELL, 2015). Mesmo sendo consideradas documentos restritos de exploração, as imagens oferecem registros de ações temporais e de acontecimentos reais e concretos, possibilitando, assim, valiosas interpretações. Seguindo o objetivo da apuração qualitativa e no intuito de apresentar uma amostra do espectro dos pontos de vista, a transcrição dos trechos de discurso dos entrevistados se fez necessária. Além da confirmação de argumentos, a transcrição possibilita ao leitor uma melhor interpretação dos elementos relevantes da pesquisa. Não obstante a dificuldade de obtenção da historicidade dos elementos que compõem uma solenidade de casamento, bem como a sua fundamentação teórica, a presente dissertação pode ser considerada uma contribuição para a reflexão. sobre. os. aspectos. particulares. dessas. cerimônias. na. contemporaneidade. Nesse primeiro recorte, analisando uma pequena amostragem, foi possível observar a singularidade e a conspicuidade presentes nos eventos realizados nos últimos anos no Brasil, especialmente em São Paulo. Devido à complexidade do tema e ao curto espaço de tempo para a apresentação de uma dissertação de Mestrado, não foi possível acolher todas a questões que, de certo, resultariam em uma pesquisa mais detalhada. Consequentemente, há a preocupação em dar continuidade ao estudo, com uma futura análise mais aprofundada sobre os símbolos que envolvem o ritual de casamento, assim como aumentar a amostragem de exploração, abrangendo outras regiões do país..

(19) 17. Figura 2. Troca de alianças (Casamento Celta)5. 5. INSTAGRAM. Casamento celta. In: Ibiúna. Disponível em: <https://www.instagram.com/p/BTSvSe7gzQa/?takenby=casamentocelta>. Acesso em: 27 JUL 2017..

(20) 18. 2. AS DIFERENTES NARRATIVAS DO CERIMONIAL DE CASAMENTO CONTEMPORÂNEO As sociedades humanas celebram, por meio de cerimônias e rituais, eventos importantes na vida das pessoas ou de grupos. A comemoração da passagem de um período de vida para outro assume um modelo social e é assim comunicado através de um ritual. Utilizando-se de narrativas e símbolos, o homem demonstra suas percepções sobre vários aspectos cotidianos, e estes variam conforme a pluralidade de ações inseridas em cada ritual específico. Em sua reflexão sobre a proximidade significativa entre o mito e o rito, Raphael Patai (1972) argumenta que a postura e o ato presentes no ritual confirmam a palavra verdadeira presente no mito. Entretanto, Patai também aborda a diferença entre os dois: (...) no ritual, o homem se eleva até o divino e, de certo modo, atua juntamente com ele, ao passo que no mito o divino desce, assume, como palavra, a forma humana ou quase-humana, e atua de maneira humana. (PATAI, 1972, p. 44). Ao estudar o papel do mito nas religiões do mundo moderno, Patai compreende que todas as religiões históricas possuem “um vigoroso componente mítico”, ao passo que as principais religiões modernas são “uma herança do passado e, em última análise, dos tempos antigos” (1972, p. 121). No judaísmo e no cristianismo modernos, por exemplo, é relevante o suporte do mito aos rituais de suas doutrinas, tendo este o poder de motivar o comportamento social de indivíduos ou grupos de fiéis. Contudo, apesar dos mitos religiosos conservarem sua força até os dias atuais, muitos desses velhos mitos perderam a sua pertinência para segmentos cada vez maiores das populações do Ocidente. Muitas vezes desiludidas com as formas tradicionais e dogmas da religião, as pessoas professam o agnosticismo ou buscam credibilidade em outras manifestações desmistificadas. Para Patai (1972), há também quem conserve certo interesse pela religião e seus rituais, porém para esses fiéis: (...) as leis da natureza, quais as conhecemos hoje, já não admitem a interferência de uma vontade divina absoluta, nem podem ser rompidas por ela, entendendo, portanto, que os.

(21) 19 velhos mitos, que desempenharam papel tão importante como sustentadores dos ensinamentos e valores religiosos, já não podem reivindicar para si credibilidade, significação nem pertinência. (Op. Cit., p. 131). Entretanto, Patai compreende que desmistificar é “substituir os velhos mitos por novos”, sendo estes menos inteligíveis e com diferente linguagem simbólica, mas ainda mitos (1972, p. 143). Mesmo criando os próprios mitos, o homem moderno continua sofrendo a influência de protótipos e imagens míticas na composição das suas práticas rituais. Em sua obra Ritos e Rituais Contemporâneos, Martine Segalen, no intuito de observar o significado essencial dos ritos relacionados aos seus conjuntos cerimoniais, identifica as práticas rituais como um encadeamento prescrito de atos de um grupo social: O rito é caracterizado por uma configuração espaço-temporal específica, pelo recurso a uma série de objetos, por sistemas de linguagens e comportamentos específicos e por signos emblemáticos cujo sentido codificado constitui um dos bens comuns do grupo. (SEGALEN, 2002, p. 31). Na visão da Segalen (2002, p. 11), há uma “constante recomposição das formas simbólicas” que compõem um ritual, compreendida por meio do caráter contemporâneo do rito e pela constante transformação do homem na sociedade. Da mesma forma, para Arnold Van Gennep (1978, p. 30), variações como essas “não são igualmente desenvolvidas em uma mesma população nem em um mesmo conjunto cerimonial”, o que caracteriza uma flexibilização de uma sociedade aos rituais pré-estabelecidos. Em consonância com os pensamentos de Van Gennep e de Segalen, compreende-se que os ritos de passagem não são somente meras repetições de comportamento e, sim, uma composição de valores evidenciados por uma determinada cultura, transpassando gerações e sofrendo interpretações constantes nas sequências cerimoniais de caráter distintos. Na sociedade contemporânea, as diferentes culturas, religiões, e até mesmo a globalização da informação, propiciam um despertar de consciência diante de novas situações, ocasionando transformações simbólicas que levam a um desprendimento da dinâmica sequencial dos ritos..

(22) 20. A forma estrutural de um ritual, portanto, é relacionada à maneira como os indivíduos classificam o mundo e constroem a sua realidade. Momentos ritualizados formam identidades e imagens de grupos, que se fortalecem em sua dimensão simbólica, composta por gestos, palavras, imagens e objetos. Consequentemente, cada grupo possui sua identidade, que se constrói e reconstrói constantemente em uma dinamicidade de interações e diferenciações. O casamento é um rito de passagem considerado por Diana Lúcia Teixeira Carvalho e Rita de Cássia de Faria Pereira (2013) como uma transição social, caracterizada por comportamentos simbólico-expressivos que marcam mudanças na identidade de um indivíduo em uma sociedade. Para Maria Lúcia Bettega: o casamento é uma instituição que marca a vida do ser humano pela passagem que gera. Ele tem se manifestado ao longo dos tempos em um mecanismo encontrado para a manutenção dos grupos sociais como parte da cultura que representa. (BETTEGA, 2007, p. 27). Desde a Antiguidade, as formalidades do casamento variam de acordo com cada religião. Os rituais e os costumes do casamento também podem variar de uma cultura para outra, mas a sua importância institucional é de conhecimento universal. Ou seja, todas as religiões são legalmente válidas e possuem rituais oficiais de matrimônio, que procuram preservar o envolvimento das famílias e respeitar as regulamentações e os documentos oficiais locais exigidos. No entanto, apesar da orientação religiosa preparar famílias para esse ritual de passagem, a proporção de casamentos entre pessoas de crenças diferentes tem aumentado consideravelmente nas primeiras décadas do terceiro milênio. Além da escolha por casamentos inter-religiosos há também a opção por rituais sem princípios religiosos. Desse modo, compreende-se que há um novo formato de cerimônia, contornando diferenças religiosas ou culturais, não descaracterizando, contudo, o casamento como um ritual de simbolismo universal, o qual representa a oficialização da união entre duas pessoas que se amam..

(23) 21. A cerimonialista americana Peggy Post, em seu livro Wedding Etiquette, estuda o comportamento e as tendências do mercado de casamento contemporâneo e afirma que os noivos de hoje querem que a sua celebração seja “um reflexo íntimo de si mesmos, de suas tradições e de seu amor”. De fato, a tendência atual é a personalização, com a liberdade de realizar um casamento considerado “singular”. You have the best of both worlds – new and novel ideas reflecting your personal interests and values, combined with timeless traditions. (POST, 2006, p. 222)6. No entanto, para Post, cerimônias não convencionais só podem agradar o público quando ele compreende os elementos que compõem a celebração, ou seja, quando costumes e rituais são explicados pelo celebrante ou por meio de um programa entregue na solenidade. Dessa forma, as experiências de vida, fé e heranças culturais do casal podem ser interpretadas de maneira harmoniosa e respeitadas pelos convidados como atos solenes de celebração. Atualmente, além de personalizados, os casamentos também são considerados uma fusão de antigos e novos costumes, extraídos de culturas e tradições de todo o mundo. Com a globalização, rituais estrangeiros e diferentes tipos de fé influenciam na composição dos rituais de casamento conduzidos no Brasil, principalmente em metrópoles como São Paulo. Um exemplo é o ritual Unity Candle, aqui conhecido como Cerimônia das Velas. Ecumênica e sem princípios religiosos, a Cerimônia das Velas (figura 3) é uma benção de matrimônio que consiste na união de duas velas acesas, representando a família de cada um dos noivos e que, juntas, acendem uma terceira vela, a qual configura a nova família que está sendo formada. Na imagem a seguir, é possível observar as velas sendo acesas pelos noivos, mas em outras situações as mães deles podem ser as representantes das famílias.. Vocês têm o melhor de ambos os mundos – novidades e tendências refletindo seus interesses pessoais e valores, combinados com tradições atemporais. (Tradução nossa) 6.

(24) 22. Figura 3. Cerimônia das Velas (Blog Planejando Meu Casamento)7. Outro. ritual. também. presente. nas. celebrações. de. casamento. contemporâneas é o ritual da areia, representado abaixo na figura 4. Nesse, cada noivo possui um recipiente com areia de uma cor que o represente. Durante a cerimônia ambos vertem as areias para um recipiente maior, simbolizando, assim, a união dos seres por meio da mistura dos grãos.. Figura 4. Ritual da areia. (casamentos.com.br)8. 7. PLANEJANDO MEU CASAMENTO. Rituais e simbolismos para cerimônia de casamento. Disponível em: <https://planejandomeucasamento.com.br/rituais-e-simbolismos-para-cerimonia-de-casamento/>. Acesso em: 27 JUL 2017. 8 LOMBARDI, Tina. Tradições e superstições de casamento: cerimônia das areias. 31 DEZ 2013. Disponível em: <https://www.casamentos.com.br/artigos/cerimonia-das-areias--c5419>. Acesso em: 27 JUL 2017..

(25) 23. As cerimônias simbólicas são, portanto, mais uma maneira de expressar a união de um casal, com uma celebração diferente da tradicional com bênção religiosa. E a possibilidade de utilização de diferentes símbolos místicos para sacramentar um ritual de casamento revela aos noivos a oportunidade de celebrações singulares ou mais aproximadas de suas crenças.. Figura 5. Benção do sal. (Casamento Celta)9. 9. CASAMENTO CELTA. Fotos e vídeos. Disponível em: <http://www.casamentocelta.com.br/galeria/>. Acesso em: 27 JUL 2017..

(26) 24. 3. LAÇOS E ENLACES: O AMOR E O CASAMENTO NA MODERNIDADE Ao longo da Idade Média10, a Igreja condenava todo amor profano, considerando o mesmo uma antítese do amor sagrado, ressaltando sobre os perigos do excesso de amor entre esposos. Para a Igreja, não era necessário que o amor preexistisse ao casamento e o mesmo só era considerado legítimo se colocado a serviço da família e da prole. Mais tarde, com a reforma religiosa11, a cisão entre católicos e anglicanos promoveu uma nova postura sobre a proposta do casamento, valorizando o amor entre os cônjuges e enfraquecendo o ideal de procriação, virgindade e o controle familiar proposto pelo catolicismo. Para Maria Luiza Puglisi Munhoz: A introdução do casamento por amor facilitou a passagem do familismo para o individualismo, possibilitando aos filhos maior ascensão social e afastamento das gerações dos pais. Ocorreu a valorização das relações marido/mulher ao invés de pai/filho, tornando-se o mais importante elo psicossocial das sociedades industriais do ocidente. (MUNHOZ, 2001, p. 20). Se no passado o casamento estava longe de ser a oportunidade de um encontro amoroso entre homens e mulheres, na modernidade12, a valorização do casamento por amor é crescente em todo o mundo, principalmente nos países ocidentais. O que se compreende por amor na modernidade? No final do século XVII os ideais de amor romântico incorporaram elementos de paixão, distinguindo-se em significados socialmente desejáveis. Enquanto o primeiro se articulou no amor sublime e afetuoso, a paixão qualificouse como libertadora, quebrando a rotina e valorizando o desejo e a sexualidade. A análise de Anthony Giddens (1993), em sua obra A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas Sociedades Modernas, também considera que nesse momento promoveu-se uma ênfase à dimensão da 10. Mary Del Priore, em Pequena história de amor conjugal no Ocidente Moderno (2007) refere-se ao período da Idade Média quando cita teólogos como Santo Agostinho, que no século V resumia o casamento à procriação e ao cuidado com os filhos. (p.123) 11 A reforma religiosa foi difundida na Europa, no século XVI, com uma série de movimentos que contestavam abertamente os dogmas da igreja católica e a autoridade do papa. 12 Anthony Giddens refere-se à modernidade como "estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência". (1991, p. 11).

(27) 25. privacidade e das relações estabelecidas na intimidade, concedendo ao homem a construção de sua própria história de maneira individualizada. Homens e mulheres passaram a identificar-se como sujeitos ativos na intimidade presente em suas relações afetivas. O que antes era visto como um compromisso de ideal futuro, torna-se efetivamente uma parceria em uma narrativa de troca, porém ainda reforçada pelas diferenças estabelecidas entre masculinidade e feminilidade, latentes na concepção de casal romântico. No decorrer do século XIX, os ideais românticos projetados por casais cuja intimidade era caracterizada pelo desejo de exclusividade e plenitude da relação, perdem força para uma nova condição, denominada por Giddens (1993) como “amor confluente”. Identificado pela vulnerabilidade presente na intimidade entre parceiros, o “amor confluente” pressupôs um modelo de relação pura, em que o fundamental é o desejo de convívio humano. Nos dias de hoje, esse desejo é reforçado (...) pelo que cada um pode ganhar” e se “continua apenas enquanto ambas as partes imaginem que estão proporcionando a cada uma, satisfações suficientes para permanecerem na relação. (BAUMAN, 2004: p. 111). Giddens (1993) também denomina "relacionamento puro" o fato de as relações entre pares não se pautarem por padrões estabelecidos ou impostos pelo seu meio, mas sim por definições de seus parceiros em torno daquilo que consideram ser a qualidade intrínseca da relação. Ao referir-se a uma situação na qual entra-se em uma relação social apenas pela própria relação, considera que essa só continua enquanto ambas as partes julgarem que extraem dela satisfações suficientes para permanecerem. Esta igualdade entre as partes é condição ideal para a manutenção da relação por ela própria e não por ideais sociais: interesses familiares ou econômicos. Com propósitos de dotes, honrarias, enriquecimentos e, principalmente, para perpetuar o nome da família por meio de filhos legítimos, o casamento, por muitos séculos, representava o desejo de um homem e uma mulher em constituir uma família. Desde então, o noivado ganhou muita importância, com a troca de alianças entre as famílias, unidas através do compromisso dos noivos..

(28) 26. O rito do noivado tinha um caráter familiar, social e religioso e implicava no consentimento das famílias dos noivos e na autoridade do homem sobre a mulher. Podendo durar muitos anos, o noivado era consumado por meio da entrega de um anel e de um presente e, até mesmo, por arras (garantias) que confirmavam a promessa e serviam de contrato de casamento. Nesse período, as reuniões para matrimônio aconteciam na casa da futura esposa, onde parentes do noivo e testemunhas acompanhavam a transferência de tutela da filha ao marido, “com trocas de palavras e bens”. Após uma grande festa, já na casa da família do noivo, finalizava-se a cerimônia “no leito conjugal, com a presença de testemunhas”, constatando a união e a intenção de procriação. (MUNHOZ, 2001, p. 18). Inicialmente não era obrigatório ter a bênção de um sacerdote, este costume só foi oficializado depois do Concílio de Trento13, no século XIV, quando o casamento se consagra como instituição de domínio público. Os atos matrimoniais passam então a ser realizados e documentados nas igrejas e não mais nas residências, transferindo ao padre a benção que concede a união conjugal.. Figura 6. Benção de casamento no século XIX. (Sociedade Histórica Destherrense)14. 13. Reunião de cunho religioso, realizada no período de 1545 a 1563, na cidade de Trento, convocada pelo papa Paulo III para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica. 14. BRIÃO, Joaquina. O casamento no século XIX. Disponível em: <http://shdestherrense.com/home/o-casamento-noseculo-xix/>. Acesso em: 27 JUL 2017..

(29) 27. No século XIX, para realizar um casamento, uma jovem mulher, pertencente às classes médias e altas, deveria cumprir com algumas obrigações, sendo a principal delas a oferta de um dote ao noivo e sua família. Dessa forma, era oferecida uma determinada quantia em dinheiro, terras, rendas ou mesmo um título de nobreza que a noiva levava consigo para o casamento e transmitia ao marido e aos filhos. Atualmente, mesmo sendo considerado uma atitude ultrapassada, a prática do dote ainda é notada em algumas nações da Ásia e da África. Ainda no século XIX, esses grupos de mulheres só poderiam se casar após serem apresentadas formalmente à sociedade, por meio de um baile de debutante. Em territórios de monarquias, tal baile era uma ocasião muito formal durante a qual as filhas dos nobres eram apresentadas à Corte e passavam a existir oficialmente entre a nobreza. Já entre os burgueses, os bailes de debutante eram eventos nos quais as moças eram apresentadas à sociedade e avaliadas pelos futuros noivos.. Figura 7. Baile de Debutante do Século XIX. (Sociedade Histórica Destherrense)15. Ao longo do século, conforme a ideia de amor romântico vai se disseminando na sociedade, as famílias começam a considerar as afeições dos 15. BRIÃO, Joaquina. O casamento no século XIX. Disponível em: <http://shdestherrense.com/home/o-casamento-noseculo-xix/>. Acesso em: 27 JUL 2017..

(30) 28. filhos, e muitas vezes o cônjuge poderia ser escolhido dentro das relações da própria família, considerando amigos, primos distantes, ou até mesmo vizinhos. O importante era que os arranjos matrimoniais fossem praticados dentro de uma mesma posição social ou segundo interesses das famílias. E mesmo considerando os enlaces por afeição, os casamentos ainda priorizavam o desejo de continuidade da família. Segundo Munhoz (2001), com a queda do Império Romano e a notável expansão da Igreja e do Cristianismo, a prática social de compromisso com a educação de descendência fortaleceu o desejo de união dos futuros cônjuges e não mais somente a vontade de seus pais. Entretanto, segundo Jean-Louis Flandrin (1991), um novo ideal de casamento foi se constituindo aos poucos no Ocidente e o amor conjugal começa a ser tratado com maior valor para os cônjuges. O amor-paixão, considerado antes como extraconjugal, passa então a ser valorizado ao longo dos séculos, sendo atualmente condição necessária para o casamento. Philippe Ariés (1987), corrobora a ideia de Flandrin sobre a valorização do amor, iniciada no século XVII, quando houve grandes mudanças no casamento, com o ideal de amor-paixão e a presença do erotismo na relação conjugal. Todavia, para Ariés, este ideal passou a exigir do casal expectativas a respeito do amor e da felicidade no casamento, ao mesmo tempo acentuando os conflitos resultantes da desilusão e do não atendimento das expectativas de vida dos cônjuges. Carl Gustav Jung (1986) defende que os ritos de passagem, como o casamento, podem proporcionar um renascimento psicológico e, consequente, uma ampliação da personalidade do homem. A imagem do casamento sagrado na psiquê do homem moderno corresponde ao processo de individuação, com um desenvolvimento de personalidade que envolve principalmente a união dos opostos, dos princípios masculino e feminino. Além de marcar a passagem no ciclo de vida individual e familiar, o ritual do casamento parece reafirmar a identidade dos cônjuges, em uma conjunção de valores e tradições. Nesse sentido, compreende-se que, ao unirem-se no matrimônio, os cônjuges adquirem em suas identidades uma parte comum ao outro, o que lhes.

(31) 29. dá o significado de uma identidade como casal. Há a formação de um conjunto de valores, atitudes, lealdade e companheirismo que servem por considerar as necessidades de ambos. Tem-se, então, a importância da construção de uma base necessária para “a fertilização e manutenção do vínculo, do contrário não há terreno para o florescimento do mesmo” (RICOTTA, 2002, p. 54). O casamento, apesar das constantes mudanças dos costumes nas últimas décadas, continua sendo considerado por muitos indivíduos um precioso sonho a realizar. Ao longo dos séculos, além dos ideais românticos, foram criados novos modelos e conceitos relativos à familiaridade e à vida conjugal. Hoje, para o homem contemporâneo, além dos valores e sentimentos envolvidos, o encantamento de um pelo outro em relação às suas expectativas de vida é fator determinante para a sua união. No entanto, é preciso avaliar se as expectativas do casal são congruentes ou se estão conjecturadas pela idealização do amor. Na visão de Giddens, o amor idealizado “se projeta em dois sentidos: apoia-se no outro e idealiza o outro, e projeta um curso do desenvolvimento futuro” (1993, p. 56). Ou seja, o amor influencia e afeta diretamente as perspectivas da vida de um casal. Para o autor, essas influências se dão principalmente na vida social das mulheres, que associam o amor romântico à instituição do lar e à idealização do casamento. No pensamento de Giddens (1993), no casamento, a mulher realiza seus desejos reprimidos através da fantasia, preenchendo um vazio diretamente relacionado com a sua identidade, tornando-se plena e realizada. Como em um conto de fadas, a mulher sonha com um amor mágico, que lhe traga um “príncipe encantado”, que lhe dê o que for desejado. Este príncipe também é requerido para ser extremamente sensível, admirá-la, entender seus sentimentos e atitudes, ser gentil, amoroso, carinhoso, bonito e sensual. Nesse sentido, para a mulher, a iniciação do matrimônio pode corresponder ao desenvolvimento de sua personalidade, maturidade e individuação, com a concretização de sua união com o ser amado. E, muitas vezes, o exercício da sexualidade feminina torna-se sagrado com esse rito de passagem..

(32) 30. Ainda nesse contexto, compreende-se que os seres humanos trazem consigo desde a infância, idealizações quanto ao relacionamento amoroso, ao casamento, a vida a dois, bem como sonhos românticos e fantasias. Influenciados pelas histórias infantis, estas também chamadas de contos de fadas, meninos e meninas sonham com um casamento romântico, acreditando que o mesmo dará a garantia de completude eterna, amor incondicional, sem sofrimento; na certeza de que o vínculo construído é forte o suficiente para superar qualquer obstáculo. Entende-se ainda que a imagem do matrimônio sagrado e romântico leva à suposição de que os rituais de casamento podem ter um arcabouço arquetípico de uma iniciação desde a puberdade (OSÓRIO, 2002), ascendida pela religião ou pelo meio social tanto de homens quanto de mulheres. Destarte, a mudança de status social, a separação dos pais, a busca pela maturidade e até mesmo a iniciação da sexualidade, fazem parte da transformação psíquica decorrente do casamento. Seguindo esse pensamento e, sob o efeito dos ideais românticos, até os dias de hoje, o matrimônio é para muitos indivíduos a realização de um sonho, quando “amar e ser amado” passam a ser condições para a felicidade, combinando sexo, amizade, afeto e procriação. Pois o amor não se apresenta mais como uma imaginação, mas sob forma real, palpável e visível..

(33) 31. Figura 8. Ensaio fotográfico de noivos. (Revista case com estilo)16. 16. MACIEL, Mariana; KLEIN, Maria Claudia Aravecchia (Eds.). Case com estilo. São Paulo: Just Editora: Mc Will Editores, 2012, p. 7..

(34) 32. 4. UM BREVE HISTÓRICO SOBRE O CASAMENTO NO BRASIL Segundo Mary Del Priore (2006), no Brasil Colônia as relações sociais e amorosas sofreram verdadeiras cruzadas espirituais, influenciadas pela catequese, orientação ética, e pela educação espiritual, com severa vigilância doutrinal provinda da Santa Inquisição dos séculos XVI a XVIII. A ação da Igreja atuava no campo da organização familiar e do controle da sexualidade. A Igreja apropriou-se também da mentalidade patriarcal presente no caráter colonial e explorou relações de dominação que presidiam o encontro entre os sexos. (DEL PRIORE, 2006, p. 17). Por um lado, uma parcela da população buscava no matrimônio a união de interesses como a estabilidade social, a manutenção de prestígio e riquezas. Valores como religião, raça, ocupação e origem das famílias dos cônjuges eram altamente significativos. Por outro lado, uniões ilegítimas e o celibato aconteciam como resistência aos apelos da Igreja, principalmente nas camadas mais pobres da sociedade. Pelo Concílio de Trento, aqueles que pretendiam se casar no Brasil sofriam exigências burocráticas como cartões de batismo, atestados de residência, de solteiro e outras provisões antes que se dirigissem ao altar, como o voto de castidade e religião. A igreja impedia o casamento entre padrinhos e afilhados, entre parentes até o quarto grau de consanguinidade e, até mesmo, entre os que houvessem tido cópula ilícita com parentes até o quarto grau de consanguinidade do outro cônjuge. A doutrina tridentina reforçava que a escolha do futuro cônjuge exigia do homem razão e entendimento, em busca de uma vida conjugal estável, sem relevância na atração física e na paixão amorosa. Segundo Silva: A indissolubilidade do matrimônio, estabelecida pela doutrina da Igreja Católica, era usada como principal argumento a favor de uma escolha maduramente pensada do futuro cônjuge. O princípio básico que norteava tal escolha era o princípio da igualdade, claramente enunciado quer nos adágios e provérbios, quer nos textos dos moralistas. (SILVA, 1984, p. 66).

(35) 33. Figura 9. Casamento em igreja católica. (Cerimonial do casamento)17. Mary Del Priore (2006) avalia as relações sociais do século XVIII, quando se considerava o casamento (...) uma instituição básica para a transmissão do patrimônio, sendo sua origem fruto de acordos familiares e não da escolha pessoal do cônjuge. (DEL PRIORE, 2006, p. 22). Segundo Del Priore, os casamentos de pobre com rico, de branco com negro ou de católico com judeu ou muçulmano eram severamente criticados e considerados desiguais. A legalização das uniões dependia do consentimento paterno e, quando contestada, poderia ocasionar em punições como a exclusão do filho na participação do patrimônio da família. Del Priore (2006) também recorda que foi na reforma da legislação sobre o casamento da nobreza, levado a efeito pelo marquês de Pombal, que se reforçou a autoridade paterna para impedir os casamentos desiguais. Casamentos desiguais eram malvistos no Brasil Colônia. Quando a sociedade julgava um casamento desigual, pressionava os parentes do casal a. 17. WOLF, Maria de Lourdes de Faria Marcondes. Cerimonial do Casamento. São Paulo: Madras, 1999, p. 169..

(36) 34. recorrerem ao governador para impedir tal enlace. Considerado um contrato sujeito às leis da Natureza, do Estado e da Igreja, o matrimônio vislumbrava uma igualdade social, etária, física e moral. E essas uniões por afinidade estenderamse, por gerações, até o século XIX, quando modificações na estrutura familiar foram apresentadas, decorrentes de novas relações sociais.. Figura 10. Casamento do início do século XX. (História Hoje.com)18. No século XX, comportamentos marcados por enorme transformação social e econômica influenciaram as formas de viver e pensar dos brasileiros, provocando novas configurações na história das relações entre homens e mulheres. Dentre outras rupturas de modelos impostas pela sociedade, o “casamento arranjado” sofreu grande transformação. Ainda sob a influência da religião, da família e da comunidade, as relações matrimoniais passam a valorizar o sentimento recíproco do amor, acompanhado do desejo sexual entre marido e mulher. Quanto à manutenção do casamento, o Código Civil Brasileiro de 1916, mantinha o compromisso com a indissolubilidade do vínculo matrimonial.. 18. DEL PRIORE, Mary. Casamento e divórcio: as famílias modernas. 04 JUL 2014. Disponível em: <http://historiahoje.com/casamento-e-divorcio-as-familias-modernas/>. Acesso em: 27 JUL 2017..

(37) 35 Nele, a mulher era considerada altamente incapaz para exercer certos atos e se mantinha em posição de dependência e inferioridade perante o marido. (DEL PRIORE, 2006, p. 259). À mulher, conformada com sua posição dentro do casamento, cabia a responsabilidade perante o lar e a família. Ao homem, o trabalho e o sustento dos mesmos. Aos poucos, sob a influência de diferentes culturas, derivadas de imigrações e novos arranjos matrimoniais, o posicionamento da mulher perante o casamento foi trazendo novos significados às relações conjugais. As mudanças do novo século, como a emancipação feminina e a liberdade sexual, causaram transformações significativas na imagem da família e do casamento. Mesmo assim, o sonho feminino da união por amor e o desejo de procriação e manutenção da herança familiar ainda se fazem presentes. Segundo a última análise do IBGE19, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2015 o Brasil registrou 1.137.321 casamentos civis, sendo 99,5% entre pessoas de sexos opostos. Por meio de parcerias entre prefeituras, cartórios e igrejas, houve um relevante crescimento do número de casamentos oficiais em alguns estados brasileiros. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE20 aponta que a faixa etária das mulheres que tem registrado 75% dos matrimônios no Brasil está entre os 20 e 39 anos. Em relação aos gastos com as festividades do casamento, o estudo mais recente mostra que somente a classe média movimentou R$ 328 bilhões em 2015. Com mais renda e maior acesso a serviços, as regiões Sudeste e Sul têm a maior taxa de casamentos oficializados no Brasil na última década. Para oficializar a união entre os cônjuges, além do registro civil, no Brasil, assim como em muitos países do Ocidente, é também de grande relevância a celebração do matrimônio por meio da benção religiosa. E a festividade que. 19. R7. Casamentos aumentam e divórcios caem no Brasil, aponta IBGE. 24 NOV 2016. Disponível em: <http://noticias.r7.com/brasil/casamentos-aumentam-e-divorcios-caem-no-brasil-aponta-ibge-24112016>. Acesso em: 30 ABR 2017. 20. Idem..

(38) 36. acompanha essa cerimônia é trabalhada pelos noivos e seus familiares de forma representativa, apresentando o novo casal à sociedade. Com produtos criativos e diferenciais de serviços e tecnologia, as inovações no mercado de casamentos são constantes. Assim como vestidos e acessórios, até os dias de hoje muitos artefatos são produzidos, reproduzidos ou customizados para consumo em celebrações de matrimônio. E a personalização desses artefatos é vislumbrada pelos noivos no intuito de transmitir a sua identidade em um ritual de passagem de grande relevância em seu meio social.. Figura 11. Casamento espetáculo (Inesquecível Casamento)21. 21. INSTAGRAM. Inesquecível casamento. In: Inesquecível casamento. Fotografia Edemir Garcia. Disponível em: <https://www.instagram.com/p/BW6Pbz_hyqV/>. Acesso em: 27 JUL 2017..

(39) 37. 5.. O. SIMBÓLICO. E. O. CONTEMPORÂNEO. PRESENTES. NAS. CELEBRAÇÕES DE CASAMENTO Ao analisar as formas simbólicas utilizadas pelo homem no decorrer dos últimos séculos, Ernst Cassirer (2001), se volta para o problema do formato lógico-expressivo das diversas elaborações simbólicas feitas pelo homem por meio do seu desenvolvimento cultural. Considerando o mito, a religião, a arte e a ciência como formas simbólicas, Cassirer afirma que o homem não pode subtrair as condições de existência criadas por ele, mas sim, integrar-se a elas. Nesse pensamento, Cassirer descreve o homem como um animal symbolicum que desenvolve conhecimento por meio de percepções e juízos relacionados à sua realidade (verdade das coisas), somadas ao sentido que cada símbolo faz transparecer. Ou seja, cada forma simbólica configura conteúdos sensíveis, em uma forma particular e específica para quem a observa ou experimenta. Jean-Marie Schaeffer (1996), em sua análise sobre imagens e símbolos, associa a significação dos mesmos a um pensamento lateral relacionado ao repertório do observador. Nesta perspectiva, (...) para que um signo possa nos transmitir as informações que ele veicula, é sempre necessário que intervenha um conhecimento lateral já formado que permita inserir o signo que "sobrevém" em um conjunto de estímulos e conhecimentos organizados. (SCHAEFFER, 1996, p. 50).. Esse "conhecimento lateral" é bastante variável, podendo ser, conforme Schaeffer, tanto estímulos sensoriais preservados na memória, como também representações ou conhecimentos mais abstratos com relação a esses estímulos. Neste aspecto, o pensamento de Schaeffer se aproxima ao de Cassirer na preocupação com o material sensível presente no conteúdo significativo das diversas construções simbólicas elaboradas pelo homem. Jung (1964) corrobora essas relações simbólico-expressivas humanas, atribuindo-as à possibilidade de manifestação do símbolo por meio da interação do consciente com a energia arquetípica do mundo. Jung também considera que os arquétipos, tendências herdadas para construir representações análogas ou semelhantes, estão presentes em todos os símbolos como fator essencial, que.

(40) 38. somados a outros elementos, podem traduzir conceitos ou significados expressivos. Ao estudar o inconsciente humano, Jung compreende que o mesmo se manifesta em todas as atividades culturais por meio das quais o homem se expressa. O inconsciente pessoal, representado pelos sentimentos e ideias reprimidas, é desenvolvido durante toda a vida de um indivíduo. Já o inconsciente coletivo é um reservatório de arquétipos, imagens latentes que cada indivíduo herda de seus ancestrais. De acordo com Jung, os arquétipos, firmam no inconsciente como elementos estruturais formadores, originando tanto fantasias individuais quanto mitologias de um grupo social. Sendo o arquétipo considerado uma herança comum de padrões de comportamento emocional e intelectual, é natural que os seus pensamentos ou ações apareçam nos campos da atividade humana como forças criadoras, ao inspirar novas ideias; ou destruidoras, quando geram preconceitos e julgamentos. Portanto, compreende-se que, para evitar estereótipos e a influência direta do inconsciente coletivo na interpretação dos símbolos, os valores intelectuais e culturais de cada indivíduo ou grupo social devem ser considerados. Ainda sobre a concepção de um símbolo, considera-se que o mesmo se faz presente cognitivamente por meio de seu sentido, muitas vezes caracterizando um conceito através de uma forma. E essas relações imaginárias humanas facilitam uma significação de conceitos, podendo também traduzir fenômenos, impressões ou resultados de relações conexas entre objetos. Segundo Cassirer (1956): Através da capacidade de produzir imagens e signos, o homem consegue determinar e fixar o particular na sua consciência, em meio à sucessão de fenômenos que se seguem no tempo. Os conteúdos sensíveis não são apenas recebidos pela consciência, mas antes são engendrados e transformados em conteúdos simbólicos. (CASSIRER, 1956, p. 165). Logo,. ao. se. apropriar. de. novos. materiais. palpáveis. e. sem. representatividade direta, o homem os associa a símbolos para caracterizá-los, podendo, até mesmo, transformá-los em novos objetos. Sendo assim, entendese que um símbolo “é capaz de transformar-se em fonte de ideias, possibilitar.

(41) 39. novas compreensões, estimular formas diferenciadas de expressão. ” (FURLANETTO, 2001, p. 65). Na contemporaneidade, muitas imagens e ações ganham novos sentidos, mas, ao mesmo tempo, trazem uma sobrevivência simbólica, persistente em uma razão vista pelo homem dentro de um contexto confortavelmente inteligível. Ao repetir a sua experiência passada, muitas vezes, o homem a reconstrói por meio de sua memória simbólica. E estas referências contribuem com fenômenos cotidianos presentes em rituais, manifestações artísticas, culturais, e até mesmo, filosóficas. Nos rituais, o símbolo é a linguagem formal que expressa o sagrado e o profano. Na perspectiva de Jung (1998), os símbolos “sob a forma abstrata, são ideias religiosas; sob forma de ação, são ritos ou cerimônias” (1998, p. 46). Nesse contexto, é possível observar que os elementos visuais presentes nos rituais, representados por objetos ou atos específicos, contribuem para dar corpo e caracterizar os mesmos. Em uma cerimônia de casamento, por exemplo, os símbolos ajudam na identificação do ritual, percebido por indivíduos de uma mesma cultura ou de uma mesma comunidade. Em um ritual canônico, além das palavras proferidas pelo sacerdote, podem ser identificados símbolos específicos e atuações, como a troca de alianças, que dão significado ao ato solene. Os principais símbolos das cerimônias de casamento, como as alianças, o vestido da noiva e o bolo confeitado estão presentes nos mais diversos formatos de cerimônias, sofrendo adaptações e transformações constantes no Brasil contemporâneo. Os anéis de casamento são usados pelos noivos na cerimônia de casamento religioso ou civil, em diversas culturas. Representando a fidelidade e o elo entre um casal, o anel do matrimônio é designado como “aliança” e o seu formato circular simboliza “algo que não tem fim”. No Brasil, a troca destes anéis é iniciada no momento do noivado, mas é somente no ato do juramento do matrimônio, perante testemunhas, e sob a bênção de um celebrante, que a união é considerada. Desde o século XX, as alianças são banhadas a ouro, em seus diversos tons, tendo os nomes dos cônjuges gravados em sua parte interna e.

(42) 40. podendo também carregar pedras preciosas. As pedras mais populares utilizadas são o rubi, a safira e o diamante. Utilizados pelo homem como objetos de adorno que carregam características e relações simbólicas, estéticas e, algumas vezes, funcionais, a existência dos anéis data de 2.500 anos a.C. Na Antiguidade, muitos anéis eram usados como selos ou distintivos e eram considerados símbolos de autoridade e do poder de dispor (LURKER, 1993, p. 8). Confeccionados por meio de metais preciosos, com gemas ou brasões, os anéis também podiam representar eventos comemorativos, como nascimentos, posses ou matrimônios. Como um gesto simbólico de vinculação mútua, a troca de anéis entre um homem e uma mulher era um costume romano, que foi introduzido no ritual de casamento cristão, representando a fidelidade entre o casal. Seguindo as tradições romanas, até hoje, na maioria das culturas, as alianças de matrimônio são colocadas no dedo anelar da mão esquerda dos cônjuges, dedo onde acredita-se passar uma veia diretamente ligada ao coração 22. A partir do século IX, a igreja cristã adotou a aliança como símbolo de união e fidelidade entre os casais. cristãos,. devendo. ser. usada. cotidianamente. pelos. mesmos,. demonstrando o vínculo. Destarte, compreende-se que as alianças de casamento carregam em sua essência uma simbologia muito importante no momento da cerimônia de casamento, como uma verdadeira estampa da mutualidade de um sentimento matrimonial. Na vida cotidiana do casal, as alianças também têm a função de mostrar à sociedade o status do indivíduo, ou seja, que o mesmo possui um companheiro. Na contemporaneidade, além do matrimônio entre um homem e uma mulher, as alianças podem significar uma união homo afetiva e até mesmo de namoro, sendo denominadas alianças de compromisso.. 22. vena amoris: Termo em italiano. Na cultura greco-romana, acreditava-se que no quarto dedo da mão esquerda passava uma veia (vena amoris) diretamente ligada ao coração..

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