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2.1.4 Um caso português – Ilhas do Porto

No documento Habitação mínima (páginas 38-40)

Na cidade do Porto, encontram-se ainda importantes exemplos de bairros operários, conhecidos como ilhas [figura 6].

As ilhas são por definição uma unidade urbanística de construção espontânea que não se identifica com nenhum tipo de construção anterior urbana ou rural. Estas unidades urbanas são descritas pela primeira vez em Portugal no Vocabulário Portuguez e Latino em 1713, como sendo

huma ou muytas casas juntas, que em huma cidade tem ruas ao redor de si por todas as partes. 12

A origem das ilhas é desconhecida, sendo certo que no século XVIII já era utilizada essa designação. Estas habitações caracterizam-se por serem pequenas estruturas que os senhorios construíam, nos seus logradouros estreitos e compridos, por trás das suas habitações voltadas para a rua .

A localização das ilhas nas traseiras das casas burguesas era fruto do declínio na procura deste tipo de habitação e da resultante degradação física destes bairros, associado, ainda à reforma do Código Civil em 1867, que alterava o regime dos contratos de emprazamento dos terrenos, através do qual o proprietário transferia o seu domínio útil a outra pessoa, tendo esta obrigação de lhe pagar anualmente uma determinada renda, o foro. Esta reforma converteu os aforamentos de tempo limitado em perpétuos, o que levou a um enfraquecimento do controlo dos solos por parte dos senhorios e criou condições favoráveis ao desenvolvimento das ilhas .

As ilhas surgiam como resposta ao aumento da procura de habitação de baixo custo e começavam a ser construídas após a saturação dos velhos edifícios do centro histórico, quando a crescente migração para a cidade exigia uma nova solução para abrigar a classe trabalhadora, com modestos recursos económicos. Desta forma, estas unidades de habitação mínimas eram vistas como adequadas às condições de oferta, pois permitiam a aplicação de pequenos capitais visto que a sua construção era possível com um capital reduzido. O solo não pesava muito no processo construtivo, visto que elas surgiam nos quintais das casas dos seus promotores ou em

13

terrenos com localizações desprestigiadas, as suas característica construtivas implicavam também um fraco investimento, e dada a grande procura, o capital investido era facilmente reembolsado.

Arquitectonicamente a ideia de pátio ou rua cercada por pequenas casa térreas represen- tava a imagem destes conjuntos habitacionais. Na sua forma mais simples, as ilhas consistiam em

14

filas de 10 a 12 pequenas casas com áreas mínimas que não excedem os 16m².

12

BLUTEAU, R. Vocabulário Portuguez e Latino. No Collegio das Artes da Companhia de Jesus, Coim- bra 1721-1728. 8 V.

13

A pequena dimensão das casas, a utilização de materiais de fraca qualidade e a própria forma da ilha, em que cada casa apenas tinha uma parede livre, permitindo uma grande redução de paredes exterio- res, características estas que diminuíam substancialmente os custos de construção e também de manuten- ção. Além disso muitas vezes a construção da ilha era feita gradualmente, ao longo dos anos, à medida dos recursos do seu construtor. A má qualidade da construção e o clima húmido do Porto, contribuiu para que as ilhas se degradassem rapidamente.

14

TEIXEIRA, Manuel C., Habitação Popular na cidade Oitocentista - As Ilhas do Porto. FCG/JNICT, Lisboa 1996, p. 143-156

6. Planta de morfologia básica das ilhas do Porto.

Instalações sanitárias comuns

Unidade de alojamento

Corredor de acesso

Edifício do proprietário

Acesso à ilha

Rua

2.1.4- Um caso português – Ilhas do Porto

Na cidade do Porto, encontram-se ainda importantes exemplos de bairros operários, conhecidos como ilhas [figura 6].

As ilhas são por definição uma unidade urbanística de construção espontânea que não se identifica com nenhum tipo de construção anterior urbana ou rural. Estas unidades urbanas são descritas pela primeira vez em Portugal no Vocabulário Portuguez e Latino em 1713, como sendo

huma ou muytas casas juntas, que em huma cidade tem ruas ao redor de si por todas as partes. 12

A origem das ilhas é desconhecida, sendo certo que no século XVIII já era utilizada essa designação. Estas habitações caracterizam-se por serem pequenas estruturas que os senhorios construíam, nos seus logradouros estreitos e compridos, por trás das suas habitações voltadas para a rua .

A localização das ilhas nas traseiras das casas burguesas era fruto do declínio na procura deste tipo de habitação e da resultante degradação física destes bairros, associado, ainda à reforma do Código Civil em 1867, que alterava o regime dos contratos de emprazamento dos terrenos, através do qual o proprietário transferia o seu domínio útil a outra pessoa, tendo esta obrigação de lhe pagar anualmente uma determinada renda, o foro. Esta reforma converteu os aforamentos de tempo limitado em perpétuos, o que levou a um enfraquecimento do controlo dos solos por parte dos senhorios e criou condições favoráveis ao desenvolvimento das ilhas .

As ilhas surgiam como resposta ao aumento da procura de habitação de baixo custo e começavam a ser construídas após a saturação dos velhos edifícios do centro histórico, quando a crescente migração para a cidade exigia uma nova solução para abrigar a classe trabalhadora, com modestos recursos económicos. Desta forma, estas unidades de habitação mínimas eram vistas como adequadas às condições de oferta, pois permitiam a aplicação de pequenos capitais visto que a sua construção era possível com um capital reduzido. O solo não pesava muito no processo construtivo, visto que elas surgiam nos quintais das casas dos seus promotores ou em

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terrenos com localizações desprestigiadas, as suas característica construtivas implicavam também um fraco investimento, e dada a grande procura, o capital investido era facilmente reembolsado.

Arquitectonicamente a ideia de pátio ou rua cercada por pequenas casa térreas represen- tava a imagem destes conjuntos habitacionais. Na sua forma mais simples, as ilhas consistiam em

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filas de 10 a 12 pequenas casas com áreas mínimas que não excedem os 16m².

12

BLUTEAU, R. Vocabulário Portuguez e Latino. No Collegio das Artes da Companhia de Jesus, Coim- bra 1721-1728. 8 V.

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A pequena dimensão das casas, a utilização de materiais de fraca qualidade e a própria forma da ilha, em que cada casa apenas tinha uma parede livre, permitindo uma grande redução de paredes exterio- res, características estas que diminuíam substancialmente os custos de construção e também de manuten- ção. Além disso muitas vezes a construção da ilha era feita gradualmente, ao longo dos anos, à medida dos recursos do seu construtor. A má qualidade da construção e o clima húmido do Porto, contribuiu para que as ilhas se degradassem rapidamente.

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TEIXEIRA, Manuel C., Habitação Popular na cidade Oitocentista - As Ilhas do Porto. FCG/JNICT, Lisboa 1996, p. 143-156

No documento Habitação mínima (páginas 38-40)