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Um olhar sobre uma escola: o desenho da pesquisa

No documento 2007OseiasSantosdeOliveira (páginas 71-75)

4 ÂNGULOS METODOLÓGICOS: ALICERCES PARA A TRAJETÓRIA DE IDEAR O OBJETO DA PESQUISA

4.2 Um olhar sobre uma escola: o desenho da pesquisa

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima, localizada no Bairro Sulina, município de Santa Rosa - RS constitui-se no campo onde esta pesquisa acadêmica busca subsídios e materiais para análise sobre a escola pública e suas peculiaridades. A escola, inserida num bairro de classe popular, é o maior educandário da rede de ensino municipal. Conta, quando da coleta dos dados desta pesquisa14 com funcionamento nos turnos matutino, vespertino e noturno e um corpo docente de 58 educadores, 751 alunos e cerca de 600 famílias.

14 Os dados aqui expostos referem-se ao período de coleta de material para esta pesquisa, ou seja, tem-se

como referência o mês de setembro de 2006. Ainda neste ano, a escola funcionou nos três turnos, porém, cabe ressaltar que quando da conclusão deste trabalho o ensino noturno havia sido desativado na escola. Pela baixa procura pelo ensino noturno e por medida de contenção de despesas os alunos matriculados neste turno foram remanejados para outra escola pública municipal, localizada em outro bairro, para prosseguirem seus estudos.

A fundação da escola acontece numa época histórica onde houve um forte apelo pela educação e uma ampla discussão sobre o papel da escola pública. Isto acontece com a chegada ao poder, no Estado, do então governador Leonel Brizola (1959-1963).

Segundo consulta eletrônica, no site de Leonel Brizola, em seu período, enquanto governador do Rio Grande do Sul, ele:

multiplicou as salas de aula, criando uma rede de ensino primário e médio que antigiu os municípios mais distantes, inclusive nas zonas do pampa, de baixa densidade populacional, criando 5.902 escolas primárias, 278 escolas técnicas e 131 ginásios, colégios e escolas normais, totalizando 6.302 novos estabelecimentos de ensino. Abriu 688.209 novas matrículas e admitiu 42.153 novos professores. Para possibilitar isso, houve mobilização da população e apoio dos prefeitos. As prefeituras cediam terreno e transporte, e mão de obra com os mutirões populares, ao passo que ao estado cabia o fornecimento dos recursos materiais e financeiros. Isso possibilitou a construção de muitas escolas em pouco tempo. (LEONEL BRIZOLA, internet)

Conforme consta no Projeto Político-Pedagógico da escola, em sua contextualização histórica, a escola foi criada por decreto em 16 de março de 1959, no estilo das chamadas “brizoletas”, a escola era uma pequena casa de madeira com suporte para atendimento de 1ª a 4ª série e contava com apenas duas salas de aula e uma pequena sala para direção e professores. Com o aumento populacional do bairro, que crescia graças ao êxodo rural, que levava muitas famílias a buscarem no centro urbano melhores condições de trabalho e renda, o espaço da pequena escola foi sendo adaptado para atender até a 5ª série, sendo seu funcionamento mantido em parceria entre os governos estadual e municipal.

No ano de 1970, por pressão da própria comunidade e constatação do grande crescimento da demanda estudantil, as autoridades municipais iniciam a construção de prédio de alvenaria, em nova localização, onde situa-se até hoje, sendo este inaugurado no mesmo ano e contava com quatro salas de aula, uma secretaria, sala de professores e cozinha. Entre 1977 e 1979 foi ampliada a oferta de novas séries, sendo então autorizado o funcionamento da sexta, sétima e oitava série, respectivamente, consolidando-se assim o 1º Grau completo na escola, anseio antigo da comunidade escolar, que, buscava, até então, a

complementação de seus estudos nas séries finais desta modalidade de ensino em outras escolas, situadas em outros bairros ou no centro da cidade. Neste mesmo período a escola passa a atender também aos alunos jovens e adultos trabalhadores, o que aumenta significativamente o número de matrículas e também de profissionais que passam a atuar no ensino.

A primeira grande ampliação do prédio aconteceu no ano de 1986, com criação de espaços para biblioteca, secretaria, sala de professores e novos banheiros, sendo que construiu-se a primeira quadra para práticas esportivas. O bairro continua a sofrer um amplo crescimento demográfico e mais uma vez surge a necessidade de ampliação, sendo esta efetivada com a construção de mais quatro salas de aula para comportar a demanda de alunos, no ano de 1991. Neste mesmo período foi construída a segunda quadra esportiva no pátio da escola.

Em 1996, mais espaços são agregados ao já existente, sendo então edificados novos banheiros e mais quatro salas de aula, incluído sala especial e adaptada para acolher os alunos da pré-escola. Em 1997, a escola recebe a cobertura de uma das quadras esportivas, o que contribui para o desenvolvimento das atividades esportivas e também como espaço para recreação e eventos sociais, que congregam a comunidade escolar. Esta mesma quadra coberta é transformada, já em 2002 em um Ginásio Poliesportivo que recebe, no ano de 2006, a denominação de Ginásio Poliesportivo Luiz Alberto Aurélio, em homenagem ao grande líder comunitário e presidente do CPM – Círculo de Pais e Mestres. Neste ambiente, não só a comunidade escolar, mas também a comunidade externa encontram espaço para integração, festividades, palestras e práticas desportivas.

Até o ano de 1993, a direção da escola foi exercida por um docente indicado pelo chefe do executivo municipal em acordo com o responsável pela Secretaria Municipal de Educação. A abertura para a escolha democrática do dirigente da escola só ocorre neste período em decorrência de entendimento do então prefeito da época, que atende aos apelos de todas as escolas da rede municipal, que querem, a exemplo das escolas públicas estaduais, que já haviam iniciado este processo democrático, exercer o direito a escolha de seus representantes entre os próprios educadores ligados à rede de ensino público municipal. Desde então, seis eleições foram realizadas e quatro professores desempenharam a função de gestor escolar, sendo o autor desta pesquisa um destes dirigentes da referida unidade escolar.

O Projeto Político-Pedagógico, contemplando as peculiaridades da escola, foi construído no ano de 2002 e, desde então, passa por constantes discussões no sentido de sua atualização. Inclusive, quando do levantamento destas informações, aspectos como visão, missão e objetivos da escola estavam sendo rediscutidos e em elaboração, contando sempre com a participação de toda a comunidade escolar, na definição dos objetivos, metodologias e proposta de trabalho para a escola.

É notório que, ao considerar a escola, não se pode limitar o olhar apenas aos aspectos estruturais, sendo assim, optou-se por apresentar, nesta dissertação, algumas das principais idéias que dão suporte ao efetivo compromisso da escola frente ao planejamento e considerações expostas no atual Projeto Político-Pedagógico15 que assim refere quanto a busca da:

construção de uma sociedade mais justa e igualitária defendemos a formação do cidadão crítico-reflexivo. Nesta visão, o nosso aluno deverá ter seu espaço para questionar , sugerir e refletir. A educação deverá fornecer meios para que o educando possa progredir no trabalho e em estudos posteriores. (2002, mimeo)

É possível perceber que a escola assume, no seu PPP, uma postura crítica frente à realidade social e de vivência do educando. Buscando oportunizar espaços para que se concretize a prática da reflexão e da conquista tanto profissional quanto acadêmica.

O trabalho pedagógico da escola é pautado em alguns valores, conforme citado no PPP: “a ênfase sobre alguns valores que devidamente definidos e compreendidos tornarão a aprendizagem mais significativa e comprometida com a realidade” (2002, mimeo). Defende-se, como valores prioritários: “a dignidade, a responsabilidade e o respeito”. Estes valores possibilitarão o “avançar na construção de uma vida mais digna”.

15 O Projeto Político-Pedagógico da E. M. E. F. Nossa Senhora de Fátima encontra-se em discussão e

reformulação. É um documento que foi produzido em 2002, quando então a comunidade educativa pensou e sistematizou as ações da escola, e o fazer pedagógico da instituição. O envolvimento da comunidade educacional na definição de seus próprios objetivos e metas, conteúdos e projetos constituiu-se numa experiência muito exitosa e, pela vez primeira foi realizada na própria escola, com autonomia para definição de particularidades locais. Até então o Projeto Político-Pedagógico era pensado no coletivo de toda a rede pública municipal de ensino e trazia pouco de identidade da própria escola.

A relação professor-aluno é assim manifesta no PPP da escola: “Ao valorizar o potencial do aluno, ao desafiá-lo em suas descobertas, o professor terá seu papel definido como mediador do processo ensino-aprendizagem. A troca de saberes será um estímulo à interação ao conhecimento socialmente construído” (2002, mimeo).

4.3 Da sala de aula à gestão: um envolvimento do profissional/pesquisador na escola

No documento 2007OseiasSantosdeOliveira (páginas 71-75)

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