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Um outro lugar da docência no REM: professores orientadores de área

No primeiro ano de implantação do REM nas escolas do Vetor Norte – Território Educativo, o Projeto garantiu a presença de um professor na função de orientador, entendido como o mediador entre professores e tutores com o propósito de criar e organizar um currículo de acordo com as experiências em cada escola.

Essa função só existiu nas escolas dessa fase e, portanto, a EE “Presidente Tancredo Neves” contou com o trabalho de Ana Beatriz, uma jovem professora de Língua Portuguesa, formada e com mestrado em linguística pela Universidade Federal de Ouro Preto. Ana Beatriz é professora há mais de dez anos, efetiva, e trabalha exclusivamente nessa escola há quase dez num cargo dividido entre aulas da manhã e da noite.

Dos professores remanescentes desse período, com a função de orientação no REM, somente a Ana Beatriz foi localizada. Essa função era compartilhada entre três professores, cada qual atuando numa determinada área da empregabilidade. A professora Ana Beatriz orientava e acompanhava a elaboração do currículo e os trabalhos na área da Comunicação Aplicada.

É desse lugar que ela nos reporta sua experiência no REM.

4.3.1 Ana Beatriz: Na verdade não é um projeto.

A orientadora o foi sem que tivesse conhecimento prévio dessa escolha feita pela direção da escola. Por ocasião dos estudos para implantação do REM como Projeto Piloto na Região Norte onde está a EE “Presidente Tancredo Neves’, em 2011, Ana Beatriz, professora de Língua Portuguesa, participava do movimento grevista acontecido na Rede Estadual com duração de 112 dias. “Não tive muita opção não. Mas eles já enviaram o meu [nome] porque eles sabiam que eu toparia – e que eu fiz com muito gosto”. (Depoimento de Ana Beatriz, 2015).

Recebeu todas as informações básicas e demonstrou ter compreendido a proposta do Projeto desde o princípio.

No seu entendimento, “trazer coisas novas, inserir coisas novas no currículo, isso é uma coisa interessante”. E em janeiro de 2012, junto com as outras escolas que aderiram ao Projeto, recebeu uma semana de treinamento na Magistra, depois de uma reunião geral de apresentação com os idealizadores do REM, na Escola Estadual “Donato Werneck”.

No seu ponto de vista, o tempo não foi suficiente para a “magnitude do que era o Projeto”, mas considerou bom. Foi nessa oportunidade que manifestou publicamente seu ponto de vista sobre a proposta:

Olha, na verdade não é um Projeto, isso é uma reformulação do Ensino Médio porque se fosse um Projeto, se fosse realmente piloto, ele ficaria nas 11 escolas e só depois de terminado ele se expandiria. Se vocês já estão dizendo que ele vai se expandir para mais 110 escolas ano que vem, e em 2013 ele vai para toda a rede, então isso já está definido, já tá posto. Isso não é um Projeto. (Depoimento de Ana Beatriz, 2015).

Segundo Ana Beatriz, o primeiro ano foi muito bom. A escola contou efetivamente com muito recurso material e verba para implantação de laboratório de informática e para visitas técnicas.

No segundo ano, sentiram redução nas verbas e já no terceiro não tiveram mais recurso nenhum. O que, para ela, obrigou-os a usar mais a criatividade e ter mais liberdade para a experimentação. O período de experimentações apontado pela orientadora é

apresentado como um momento de criatividade e oportunidade e comenta a importância da tutoria oferecida pela professora Beatriz Bretas, da Comunicação Social da UFMG. Reportar as experimentações nos encontros quinzenais com a tutora é reconhecido por Ana Beatriz como enriquecedor, considerando o perfil da professora.

Através da tutoria, passou a compreender a proposta da comunicação a partir de duas vertentes que considerou: a questão da empregabilidade em si, de uma área científica e com mercado amplo; e o pressuposto da projeção pessoal.

Com esse entendimento, Ana Beatriz compreende que a Comunicação possibilitaria aos alunos uma visão mais ampla do mundo e de horizontes. Citando como exemplo:

[...] nós temos alunos que não foram para a área da comunicação, mas que ampliaram seus horizontes. Eu lembro que tinham duas alunas que o negócio era só fazer book para ser modelo, era a visão que elas tinham de futuro e de mundo. Elas descobriram o mundo da fotografia, não para ser modelo, mas sim como fotógrafas isso graças às disciplinas da Comunicação Aplicada então elas estão se tornando profissionais, tendo seu espaço. Algumas tiveram experiência com promoções de eventos. Nós temos um aluno que a gente fala que é a nossa vitrine, Lúcio Augusto, ele começou ganhando concurso de logomarcas na época pelo Projeto do Unibanco e como a gente ainda tava no primeiro ano da Comunicação Aplicada que foi o ano que começou, ele começou a empolgar com essa coisa e ele começou o primeiro emprego dele numa gráfica e foi entrando, foi entrando, ele casou, inclus ive no final de semana passado, nos comunicou que ele está abrindo uma agencia de comunicação visual. (Depoimento de Ana Beatriz, 2015).

A tutora buscou parceria com outras instituições e ofereceu condições para o entendimento mais amplo do campo da Comunicação o que para e la, profissional de Letras, “foi uma descoberta”.

A lamentar? O tempo escasso. As reuniões com os tutores aconteciam a cada quinze dias num período de duas a três horas, apenas.

A organização da instituição pública foi apontada como um dificultador para o andamento dos trabalhos em equipe. Ana Beatriz comenta sobre a falta de tempo para o repasse do material produzido, discutido nos encontros com a tutora.

Outro ponto crucial foi a falta de licenciamento de professores das aulas regulares, de modo que pudessem se dedicar mais ao currículo do REM. Ou seja, alguns professores tiveram que se dedicar a dois conteúdos porque as disciplinas da área da empregabilidade foram assumidas para complementar o cargo de 16 aulas desses professores. Para Ana Beatriz, a pesquisa que cabia ao professor dentro do novo conteúdo a ser aplicado era mais ampla e mais trabalhosa. Não foi ofertada nem mesmo uma compensação financeira para os professores.

A falta de tempo para os encontros com a equipe de professores das áreas de empregabilidade foi indicada como fator de desmotivação para os professores do Projeto, o que afastava do ideal os demais.

E no ponto de vista de Ana Beatriz, seria necessário treinamento, formação também para os professores das disciplinas do Regular, para que fosse aberto um diálogo mais amplo na escola.