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UM PANORAMA GERAL DO SISTEMA PRONOMINAL DE 3 a PESSOA

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 89-103)

O SISTEMA PRONOMINAL DE TERCEIRA PESSOA DO FALANTE DE PB APRENDIZ DE ESPANHOL

3.1 UM PANORAMA GERAL DO SISTEMA PRONOMINAL DE 3 a PESSOA

O estudo do sistema pronominal têm ocupado grande espaço em trabalhos comparativos entre línguas. Grande parte do interesse por esse tema pode estar relacionado ao fato de que mesmo em línguas consideradas tão próximas, como é o caso do PB e do espanhol, há diferenças em relação à composição do sistema pronominal de 3a pessoa, mais especificamente. Pesquisas recentes confirmaram uma tendência do PB para o não preenchimento da posição de objeto direto, ao passo que no espanhol há preferência pelo preenchimento do objeto direto pelos pronomes chamados clíticos.

Nas línguas naturais, os clíticos pronominais são elementos sintáticos que possuem deficiências prosódicas, pois são partículas desprovidas de acento que ocupam posição especial na sentença, isto é, trata- se de um sistema hospedeiro, já que necessita estar vinculado a um outro elemento sintático.

Entendemos ser necessária uma maior atenção as questões que envolvem os sistemas pronominais do PB e do espanhol. Claramente, o aprendiz de espanhol falante adulto de PB tem disponível o sistema pronominal da sua língua materna e ao adquirir o espanhol terá disponível o sistema dessa língua. As diferenças que possam estar presentes na configuração dos sistemas dessas línguas, ou seja, as particularidades desses sistemas pronominais repercutirão diretamente na produção dos aprendizes de espanhol falantes de PB. É inevitável tratar do sistema pronominal disponível aos

aprendizes, mas antes é preciso discutir os sistemas pronominais da língua materna que ele adquiriu e da língua estrangeira a ser adquirida.

Com relação ao preenchimento ou não do objeto direto a estrutura argumental interferirá diretamente, pois a gramática de uma língua fornece informação quanto à formação das sentenças nessa língua, ja que cada predicado apresenta uma estrutura argumental própria especificada pela gramática da língua à qual pertence.

A gramática especificará quais são os componentes da sentença, como eles interagem entre si, em que ordem eles ocorrem. Em parte, os princípios formulados serão de natureza universal; em parte serão parametrizados para revelar propriedaes específicas das línguas (HAEGEMAN, 1999, p. 33 – tradução nossa).47

Portanto, cada predicado verbal prossui especificidades dentro da estrutura argumental e essa especificação é determinada a partir do número de argumentos necessários dentro da estrutura argumental de cada verbo. Segundo Haegeman (1999) há um conhecimento internalizado responsável por elencar as possibilidades de seleção dentro de um sintagma verbal (VP de verbal phrase, em inglês). Essa subcategorização dos verbos deve compor o conjunto de informações contidas no léxico mental. Dessa subcategorização surgirá uma classificação dos verbos de acordo com o número de argumentos projetados pelo núcleo verbal. Os verbos podem ser classificados em pelo menos três categorias: transitivo, bitransitivo e intransitivo. Verbos transitivos projetam um posição argumento interno, tomando-o como seu complemento. Verbos bitransitivos projetam duas posições para argumento interno, uma posição ocupada por um complemento direto e outra posição que será ocupada por um complemento indireto. Por fim, se um verbo não projeta posição de argumento interno, estamos diante de um verbo intransitivo.

Um verbo não determina apenas o número de argumentos a ser projetado na sintaxe, como também especifica que tipos de relações semânticas se estabelecem entre tais argumentos e o processo descrito pelo verbo. A informação das relações temáticas entre o verbo e seus argumentos também está prevista dentro do conjunto de informações do conhecimento lexical que esgotará dentro do escopo de argumentos projetados, sendo este a atribuição dos papéis temáticos que estão previstos dentro da

47

Grammar specify what the sentence components, how they interact with each other , in what order they occur. In part, formulated principles are universal in nature; partly be parameterized to reveal specific propriedaes language, Haegeman (1999, p. 33).

grade temática do verbo.

No que diz respeito ao PB, Lobo (2002) ao analisar a questão da colocação dos clíticos a partir de um viés diacrônico verificou que o PB apresenta uma preferência pela colocação do clítico na posição pré-verbal. Além disso, a autora afirma que a colocação do clítico pós-verbal está em declínio no PB, (LOBO 2002, p. 98). Por outro lado, em espanhol a colocação pós-verbal do clítico é muito produtiva tendo em vista os verbos nominais (infinitivo e gerundo) e o modo imperativo.

Isto posto, investigaremos se há padrões que limitam a escolha pronominal realizada pelos falantes de PB aprendizes de espanhol. Isto se deve ao fato de que haveria opções abertas para preencher ou não a posição de objeto direto. Estas opções estariam apoiadas dentro do raio de atuação do sistema linguístico da língua materna e da língua estrangeira.

3.2

SOBRE O SISTEMA PRONOMINAL DO PORTUGUÊS DO

BRASIL

Para o PB, há uma vasta descrição sobre as mudanças sintáticas pelas quais passa o sistema pronominal dessa língua. O que nos interessa destacar, aqui, é a indiscutível mudança no sistema pronominal de 3a pessoa. O padrão de preenchimento da posição de objeto direto no PB atual não apresenta critérios “rígidos”.

Nominativo Acusativo Dativo Oblíquo

singular 1. eu me me mim

2. *tu/ você te/você/ lhe lhe/ a você Ti/você

3. ele (ela) ele (ela)/ o (a) A ele (a ela) Ele (ela)

plural 1. nós/ a gente nos/ a gente Nos/ a gente Nós/ a gente

2. vocês vocês A vocês Vocês

3. eles (elas) eles (elas)/ os

(as) A eles (a elas) Eles (elas) Figura 7: Paradigma pronominal do PB (norma culta) Tabela retirada de Galves (2001, p. 129)

Dentro dessa perspectiva o falante pode decidir, por meio dos dados fornecidos pelo contexto, se há necessidade de realizar fonologicamente o item referente a essa posição. Cyrino (1995) observou que a implementação da categoria vazia, ou seja, o objeto nulo no PB é uma variação paramétrica que diferenciou esta língua do português europeu. E ainda segundo as observações diacrônicas nos dados de Cyrino (op. cit), o objeto nulo no PB sempre foi possível dentro da estrutura argumental dessa língua. No entanto, a ocorrência de objeto nulo não afetou o PB como um todo de uma só vez, primeiro atingiu a posição com antecedente sentencial, depois a posição com antecedente [+] específico e por fim antecedente [-] específico. Veremos a seguir cada caso, respectivamente:

a) antecedente sentencial

Também satirizaras, se souberas (se o souberas) b) antecedente [+ específico]

Tem uma quinta tão grande, que é necessário 24 horas para se corre_ toda. c) antecdente [-] específico

Sabendo merecer prêmios não precisa suplicar_48

Outro fator relevante para a ocorrência do objeto nulo é a animacidade. Segundo Cyrino (op. cit), a partir do século XX, o PB apresenta uma mudança significativa com relação à produtividade da categoria vazia. A categoria vazia de antecedente [+] específico ocorre na maioria dos casos quando o traço desse antecedente é [-] animado. Para melhor visualizar os resultados encontrados por Cyrino segue a tabela de frequência de objetos nulos no PB de acordo com os antecedentes:

Antecedente Frequência de objetos nulos

Objetos nulos (em %)

+ animado; + específico 0/21 0%

+ animado; - específico 04/07 57%

- animado; + específico 64/74 86%

- animado; - específico 27/29 93%

Figura 8: Retirado de Cyrino 1995

Podemos observar a partir da tabela anterior e dos dados em A, B e C que o objeto nulo no PB pode ocorrer quando o traço do antecedente é [-] animado ou [+] animado seguido do traço [-] específico. Por outro lado, observamos claramente que a realização por um objeto nulo quando o traço do antecedente é [+] animado e [+] específico não parece possível.

Ao pesquisdar no PB sobre a representação do sujeito pronominal Duarte (1995) encontrou uma forte tendência pela realização fonológica do pronome sujeito nesta língua. A autora caracterizou o PB como um sistema em processo de mudança em relação ao preenchimento da posição de sujeito nessa língua. Ainda de acordo com a autora, para ocupar a posição complemento acusativo de 3a pessoa, no PB, são admitidos clíticos (como um resquício da ecolarização) objetos nulos e pronomes tônicos. Essas três diferentes formas de ocupar a posição de objeto direto distinguem o PB de línguas como o português europeu e o espanhol. O pronome tônico aparece para ocupar a posição de objeto direto e segundo Duarte (1989) há uma tendência para o aumento do uso do pronome tônico de 3a pessoa no PB. Obviamente, as outras posições argumentais seriam afetadas por mudanças de igual proporção.

Na mesma direção, Galves (2001), descreve o PB como uma língua que apresenta uma tendência a realização da posição de sujeito e de não preenchimento da posição de objetos, culminando, assim, em um aumento dos objetos nulos pronominais, diferetemente do português europeu.

De um ponto de vista descritivo, podemos também relacionar a frequência reduzida do clítico o/a à existência de um paradigma onde ele disputa a função de objeto direto com o pronome tônico. De fato, contrariamente ao que constatamos para o pronome de primeira pessoa, ele aparece (…) em posição de objeto direto (Monteiro,1991, p. 116) [grifo de Galves]

Galves (2001) apresenta a tabela de distribuição do clítico, pronome tônico e pronome nulo, de acordo com o grau de formalidade que foi formulada por Monteiro (1991 apud Galves 2001).

Clítico acusativo Pronome ELE Objeto nulo

EF 26 1 73

DID 7 2 91

Figura 9: Retirado de Galves 2001 A partir da tabela de distribuição de Monteiro, podemos observar um grande volume de ocorrências de objeto nulo tanto para as situações de EF49 quanto para as situações de DID50. Essa tendência não se mantém para o clítico acusativo que de uma situação (EF) para outra (DID) apresenta uma diminuição significativa de produção. Para os casos de ocorrências do clítico acusativo, Galves (2001) destaca a justificativa de Duarte (1989) para a produção do clítico no PB. Segundo Duarte (op. cit) a presença do clítico de 3a pessoa está relacionado à escolaridade e idade.

Em relação ao objeto nulo e ao clítico, o PB se distingue tanto do português europeu como de outras línguas românicas (o espanhol, por exemplo), já que no PB podemos observar quase que um desaparecimento total do clítico acusativo de 3a pessoa e uma produtividade do objeto nulo. No português europeu, segundo Galves (2001), a frequência do objeto nulo é muito pequena e alterna com a realização do clítico. No PB, há uma alternância de ocorrência entre o objeto nulo e pronome tônico. Em relação ao sistema pronominal composto pelo clítico de 3a pessoa o português europeu está mais próximo do espanhol, enquanto o PB se distancia dessas duas línguas.

49 Enunciação formal (EF)

Se compararmos superficialmente as ocorrências do objeto nulo no PB em em português europeu, há duas diferenças que imediatamente chamam atenção. A primeira diz respeito a sua frequência: o objeto nulo é marginal em português europeu e extremamente produtivo em PB, não apenas na língua oral, mas também na língua escrita. A segunda diferença reside no sistema pronominal com o qual a categoria vazia alterna: rponomes clíticos no português europeu e tônicos no PB. (GALVES, 2001, p. 74)

Em relação à proximidade do português europeu e do espanhol, nessas duas línguas há uma produtividade do clítico. O clítico de 3a pessoa nas duas línguas se mantém como estratégia de realização mais frequente. Ao contrastar o PB e o português europeu, Galves (op. cit) constatou uma assimetria no preenchimento dos argumentos. O objeto no PB tenderia cada vez mais a ser apagado ou retomado por um pronome tônico, o que o diferenciaria do espanhol, pois o fenômeno de apagamento ocorreria, nesta língua, em contexto restrito, predominando, assim, a estratégia de realização por clítico. E ainda segundo esta autora, o clítico de 3a pessoa não seria mais produzido pela gramática nuclear do português, que legitimaria apenas os clíticos de 1a e 2a pessoas.

Como vamos adiantar aqui, no espanhol para a posição de complemento direto de 3a pessoa há uma predominância da realização pelo clítico. Verificamos que o sistema pronominal do português Brasil e do espanhol apresenta algumas tendências no que diz respeito ao preenchimento do sujeito e dos objetos, vimos que no PB há uma tendência já descrita para a realização da posição de sujeito, ao passo que há nesta língua uma preferência pelo apagamento do objeto. Contudo, nesta dissertação, trataremos do objeto direto, mais precisamente. O objetivo, aqui, é fazer um estudo descritivo, que leve em consideração o preenchimento da posição de objeto direto no espanhol adquirido por aprendizes brasileiros, com o intuito de analisar os possíveis pontos de aproximação e distanciamento entre a produção do espanhol destes aprendizes e as respectivas línguas fonte (PB) e alvo (espanhol).

Destacamos abaixo exemplos nossos para ilustrar as diferentes tendências nas duas línguas:

Para o português:

(a) A bicicleta, eu dei ela pra você. (b) O restaurante, eu vendi Ø pra você.

Para o espanhol:

(c) El regalo, lo compré. (d) Lo vi a Juan en la playa.

Em relação ao tipo de preenchimento dos argumentos, Galves (op. cit) afirma que haveria no PB uma tendência cada vez maior ao apagamento do objeto ou à realização desse objeto por um pronome tônico ou pronome lexical. A realização do objeto direto por clítico no PB já não estaria presente na língua – I do falante, e sim na língua periférica, que seria aquela adquirida através da escolarização (GALVES, 2001, p. 141). Sendo assim, a produtividade de sentença x no PB estaria limitada e quase extinta em relação às outras estratégias (y, z e w).

Destacamos, aqui, a questão que envolve a realização fonológica do objeto direto no que diz respeito à realização. Para isso, ilustramos abaixo exemplos nossos levando em consideração o que foi exposto por Galves (2001).

Sistema de realização para o português do Brasil:

x. Comprei o livro, mas ainda não o li. (Clítico)

y. Comprei o livro, mas ainda não li ele. (tônico/ pronome lexical) z. Comprei o livro, mas ainda não li Ø.(apagamento)

w. Comprei o livro, mas ainda não li o livro (sintagma nominal/ determinante) Ao análisar as diferentes estratégias de relativização do PB, Kato (1981) propõe que haveria uma correlação entre estratégias de relativização e as estratégias de realização nas línguas. Dessa maneira, podemos evidênciar uma possível regularidade em relação às tendências do sistema pronominal do PB, pois como veremos mais adiante, as estratégias de relativização seriam similares as estratégias de realização de objeto produtivas nessa língua, como é o caso do sintagma nominal e do apagamento. A autora segue propondo algumas hipóteses:

(i) Se uma gramática tem como estratégia de realização o clítico, então tem como estratégia de relativização a relativa padrão,

(ii) Se uma língua faz uso do pronome pessoal para ocupar a posição da anáfora, então a estratégia de relativização será a copiadora.

(iii) Se o sistema da língua apresenta como estratégia a possibilidade da categoria vazia, apresentará como estratégia de relativização a cortadora.

No quadro dos pronome relativos, o português disporia de outras estratégias para retomar. Como veremos a seguir não foi só o paradigma pronominal do clítico que sofreu alguma alteração. Vimos que houve alteração no que diz respeito à realização do pronome na posição de sujeito, no pronome clítico de 3a pessoa, assim como no paradigma pronominal dos pronomes relativos. Segundo as análises de Kato (1981), as estratégias de relativização são argumentos favoráveis para a representação do sistema pronominal de uma língua, já que a presença versus ausência de um item linguístico pode afetar indistintamente o sistema pronominal, ou seja, a mudança no sistema pronominal pode atingir o sistema por completo e não apenas uma parte do paradigma pronominal.

No que tange às orações relativas no PB, Tarallo (1983) propõe que haja três tipos, a saber: estrátégia padrão, pronome resumptivo (copiadora) e a cortadora. Tais orações podem estar correlacionadas com o tipo de realização nas línguas das quais fazem parte, como propôs Kato (op. cit.). Para ilustrar tipos de realização em português, apresentaremos as estratégias de relativização: relativas padrão (com preposição) e relativas não padrão (cortadora e copiadora). Tais estratégias de relativização se assemelham às possibilidades de preenchimento ou não do objeto no PB.

1. “A senhora a quem cumprimentara era esposa do tenente coronel Veiga”

2. “Você acredita que um dia teve uma mulher que ela queria que a gente entrevistasse

ela por telefone.” 51 51 Exemplos retirados de Tarallo (1983).

3. “E um deles foi esse fulano aí que eu nunca tive aula. (com _)

De acordo com o autor, a (1) é o modelo canônico de relativização utilizada nas gramáticas tradicionais. Já a (2) é a estratégia com pronome resumptivo ou estratégia copiadora (estratégia evitada por falantes cultos urbanos) e a (3) seria a estratégia cortadora. Tanto no que diz respeito à relativização quanto no que diz respeito à realização a partir do que entendemos como “perda” da referência pronominal houve um rearranjo do sistema em questão, isto legitimou as estratégias que vão além da realização do item linguístico como representação da função baseado na representação do caso, surgindo, assim, a opção do apagamento como legítima no sistema do PB (TARALLO, 1991). A estratégia (3) segundo Ilari (1999, p. 13) é a estratégia de relativização mais antiga das três. De acordo com o mesmo autor em um trabalho posterior:

A perda quase total da declinação dos pronomes relativos fez com que aparecesse (já então) o tipo de construção que é hoje mais comum no português falado no Brasil, e que consiste em retomar o relativo por meio de um pronome pessoal, antepondo a ele, e não ao relativo a preposição exigida pelo verbo na subordinação. (ILARI, 2006, p. 113).

Tanto as estratégias de realização quanto as estratégias de relativização guardariam semelhança em relação à produtividade do apagamento – se tratando de realizações; e cortadora – para a estratégia de relativização, como estratégias mais frequentes, assim como o aparecimento de estratégias como a de realização por pronome tônico, no caso das estratégias de realização de objeto direto; e copiadora, no caso das estratégias de relativização.

Tarallo (op. cit) propõe ainda que a relativa padrão consiste no uso da preposição seguida do pronome relativo, já as relativas cortadoras possuem uma individualidade, não são marcadas por meio de preposição visível na forma fonética. No caso das copiadoras, essa seriam estruturas geradas na base e indexadas a seu referente, com representação na forma fonética. Os estudos desenvolvidos por alguns autores, mas inicialmente por Tarallo (op. cit) que analisou algumas transformações sofridas no âmbito da relativização no PB, como: a perda do traço de caso dos pronomes pessoais e relativos, além da reorganização do sistema de clíticos, mostrou que não se trata de “erros” e sim uma manifestação da adequação do falante ao processo de mudança no qual a língua se encontra.

Ao abordar esse tema da relativização no PB, Tarallo (op. cit) levanta a questão de que haveria mais de uma gramática produtiva nesta língua, o que significa inferir que o sistema mais produtivo se adequaria a não realização do clítico no PB. Nesta dissertação, retomamos a questão levantada por Tarallo sobre a possibilidade de existência de gramáticas que atuariam no caso das diferentes realizações ou quando se trata da não realização. Contudo, assumimos que não haja substituições e sim adequações no sistema do aprendiz. Levando em consideração o exposto acima para o sistema de clíticos do português do Brasil, teremos 3 possíveis estratégias de realizações, as já citadas X, Y, Z e W, sendo as estratégias Y e W compatíveis no nível de análise, por essa razão sugerimos 3 possiblidades e não 4, já que a estratégia em W pode ser considerada para a análise um desdobramento de Y. Contudo as mais produtivas, de acordo com os estudos, são os tipos de realizações por apagamento “Comprei o livro, mas ainda não li Ø” e por pronome tônico “Comprei o livro, mas ainda não li ele”, respectivamente Z e Y. Esses pronomes podem ser tripartidos em: fortes, fracos e clíticos. Os pronomes tônicos são considerados fortes, os pronomes átonos são considerados fracos e os clíticos são elementos parasíticos que necessitam se hospedar em outro elemento, sobre os clíticos trataremos mais adiante.

3.3

OS CLÍTICOS EM ESPANHOL

Como vimos no início deste capítulo, os clíticos são elementos pronominais que precisam de um hospedeiro sintático. Os clíticos pronominais apresentam características fônicas que estão vinculadas à sua distribuição, ou seja, a posição em relação ao elemento hospedeiro. Ainda sobre o elemento hospedeiro, o clítico selecionará o elemento no qual possa se hospedar. Em relação aos objetos pronominas, os clíticos são os complementos aceitos no espanhol. No espanhol, segundo Marcilese et ali (2008, p. 199), os objetos nulos ocorrem unicamente como objetos nulos anafóricos, ou seja, elementos que podem ser facilmente recuperáveis dentro do contexto discursivo no qual o falante está inserido.

Para a análise dos clíticos em espanhol, começaremos pela abordagem tradicional de Fernández Ordóñez (1999). A autora afirma que o sistema pronominal dessa língua está mais próximo do sistema pronominal latino, como um exemplo de conservação da língua latina. Por esta razão, tal sistema distinguiria o caso dativo e o

caso acusativo, que foram herdadas do sistema pronominal latino. O sistema pronominal de 3a pessoa estaria baseado no que a autora diz ser o sistema distinguidor de caso. No espanhol, os pronomes se distinguiriam por meio do que Fernández Ordóñez (op.cit.) clasiffica como uso do sistema casual ou “etimológico”, que são aqueles que desempenham a função distintiva entre dativo e acusativo, como os clíticos; daqueles pronomes de 3a pessoa cuja função não é determinada pela posição

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 89-103)