• Nenhum resultado encontrado

No início dos anos 1970, com a junção do Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá (ICLC), que congregava as Faculdades de Educação, Engenharia, Economia e Serviço

de Mato Grosso, inicia-se o percurso de se estabelecer uma universidade moderna no centro oeste brasileiro.

O ICLC foi o resultado do anseio da sociedade mato-grossense por ensino superior, que não existia no estado. Com o estabelecimento de uma escola de nível superior que tinha a finalidade de solucionar o problema da falta de quadros deste nível no estado, não se tinha a pretensão de ser uma academia científica produtora de conhecimentos.

Após a fundação da UFMT, começa o “fazejamento”, como definiu um de seus primeiros administradores, o vice-reitor (e posteriormente reitor) Benedito Pedro Dorileo (DORILEO, 1977), ou seja, a transformação de escolas de nível superior (ICLC e FDC) em uma universidade moderna, que além de formar pessoal em nível superior de educação almejava ser uma academia produtora de conhecimento nos mais diversos campos científicos, portanto, realizando ensino, pesquisa e extensão.

Para tanto, os diversos campos do saber deveriam ser contemplados, diversas disciplinas científicas deveriam ser estabelecidas. Foi o que se procurou realizar, instaurar disciplinas científicas para dar suporte as disciplinas acadêmicas constituintes em seus cursos de graduação.

Para que a UFMT participasse da produção de conhecimento científico, na perspectiva da “ciência normal” kuhniana, era necessário que se estabelecesse, em suas instâncias, partes da “comunidade científica” (KUHN, 1996), ou mais precisamente, de várias comunidades científicas que coadunem com seus respectivos paradigmas, juntando esforços para ampliar a “ciência normal”.

Por ser fundada pós-reforma do ensino superior brasileiro do final dos anos 1960, a estrutura da UFMT foi constituída na forma de departamentos acadêmicos aglutinados em centros e não mais pelas antigas cátedras universitárias. A finalidade dos departamentos era se tornarem redutos/embriões de uma possível disciplinarização científico/acadêmica. Espaços privilegiados para a produção científica das disciplinas acadêmicas. Dessa forma, nos anteriormente tratados, realizou-se uma investida para saltar a primeira etapa que Steven Woolgar (1991) caracteriza a produção do conhecimento científico, a amadora, e já estabelecer a segunda etapa, a acadêmica.

Desde sua criação no final dos anos 1960, a UFMT tem como um dos seus objetivos capacitar pessoal em nível superior de ensino. Consideramos que cursos de formação de professores são prioritários para a UFMT, pois desde a junção do ICLC e FDC para sua constituição uma parcela significativa dos cursos em funcionamento tinha essa finalidade.

Entre esses cursos constava o curso de Matemática para a formação de professores dessa área, que prontamente atendiam as diretrizes curriculares norteadas pelo governo federal.

A formação de professores se baseava nas primeiras resoluções do Conselho Federal de Educação (CFE), fixadas no inicio dos anos 60 do séc. XX, que eram uma tentativa de se romper com a clássica diretriz conhecida como “3+1” estabelecida na década de 30 para cursos de nível superior de formação de professores. Essa diretriz dividia a formação em duas etapas, a primeira com duração de três anos era dedicada à formação especifica só com disciplinas acadêmicas da área de conhecimento, ao final dessa etapa o aluno recebia diploma de bacharel específico. A segunda constituída por mais um ano para a formação “pedagógica”, constituído principalmente por disciplinas de didática geral, psicologia e estágio de docência. Concluída esta etapa o aluno recebia o diploma de licenciado que lhe dava o direito a ensinar a disciplina escolar correspondente à primeira formação.

As resoluções dos inícios dos anos 60 do recém-criado CFE foram uma tentativa de se romper com o “3+1”. As diretrizes do CFE para a formação de professores nortearam o curso de Matemática do antigo ICLC, incorporado na UFMT. Os cursos de formação de professores de matemática do ICLC e UFMT carregavam essa marca de divisão em dois blocos estanques, um de disciplinas acadêmicas de “matemática superior”, disciplinas científicas de referência, e outro de disciplinas pedagógicas. A diferença era que as disciplinas pedagógicas, com o passar das reformulações curriculares, foram distribuídas pelos anos de curso e não mais em um único ano, ao final do curso.

Nessa formação de professor de Matemática o que predomina são as disciplinas acadêmicas de matemática (mesmo com a UFMT produzindo pouco, quase nenhum, conhecimento matemático novo e sim reproduzido esse conhecimento nas diversas disciplinas de ensino superior de matemática) e as de formação pedagógica do professor, que tem como finalidade “fornecer o lubrificante” (CHERVEL, 1990) para o processo de ensino do conhecimento de referência, nesse caso a Matemática. A prática do futuro professor é vista como a instância de aplicação dos saberes adquiridos na formação pedagógica.

Outra característica que apresenta esse tipo de formação nos primeiros anos da UFMT é dada por CHERVEL (1990) para o ensino de nível superior, que considera que para esse nível a transmissão do saber é feito de forma direta, coincidindo com suas finalidades e suas práticas. Para tanto se julga não haver hiato entre os objetivos distantes com os conteúdos ensinados.

No trabalho de conclusão de curso do discente Igor Ferreira Ribeiro (2011) o professor Luiz Gonzaga Coelho, aluno da primeira turma do curso de Matemática do ICLC, informa que o corpo docente do curso era constituído na grande maioria por professores não formados em cursos de Matemática. Como exemplo, o professor Luiz afirma que seu professor de “Cálculo Diferencia e Integral” foi o engenheiro Luiz Lotufo, professor no ICLC e futuro professor do Departamento de Matemática da UFMT, e o professor de “Prática de Ensino” o economista Leonardo Souza Lino. Com essa informação, consideramos que no momento de fundação da UFMT as condições para o estabelecimento de uma produção de conhecimento matemático autônomo estava longe do razoável, principalmente pela falta de pessoal capacitado para tanto.

Conforme o relato do professor Luiz Gonzaga Coelho, no trabalho já mencionado (RIBEIRO, 2011), infere-se que o quadro docente do Departamento de Matemática da recém-criada Universidade Federal de Mato Grosso não era constituído, em sua maioria, por pessoas com formação em cursos de Matemática, já que boa parte dos professores do ICLC foi integrada a recém-fundada universidade. Cogitamos que esses primeiros docentes de Matemática da UFMT consideravam, conforme afirmação de Chervel, que não há “necessidade de adaptar a seu público os conteúdos de acesso difícil, e de modificar esses conteúdos em função das variações de seu público” (1990, p. 185) tomando como invariante o conteúdo em suas relações pedagógicas, muito menos levavam em conta a distância entre objetivos e conteúdos ensinados.

A UFMT nasce pela necessidade de se formar quadros de nível superior, mas também com a finalidade de se constituir como instituição produtora de conhecimento, ou seja, institucionalizar a pesquisa acadêmica científica no estado de Mato Grosso.

Como já ocorrera anteriormente com o ICLC, na UFMT foi aglutinando o pessoal de nível superior disponível para compor seu quadro docente, até mesmo os recém-formados pela própria instituição foram contratados. Como exemplo, da primeira turma (UFMT, 1973) formada ainda pelo ICLC, os discentes Luiz Gonzaga Coelho e Nilda Gomes Bezerra foram contratados como docentes, dois de três alunos que concluíram o curso, e da segunda turma se tornaram professores do Departamento de Matemática da UFMT Carlos Antônio Dornelas, Elizete de Miranda, José Figueira de Gusmão e Nilson José Alves Negrão, quatro de sete concluintes.

O catálogo de 1986 da UFMT (UFMT, 1986) apresenta a lista de professores do Departamento de Matemática do Campus de Cuiabá da UFMT, com 10 (dez) docentes

formados pela UFMT de um total de 49 (quarenta e nove). Desse total de docentes do departamento 24 formados em cursos de matemática e 25 formados em outros cursos (3 em Estatística, 3 em Engenharia, 6 em Arquitetura, 6 em Economia, 3 em Agronomia e um não identificado). Portanto, aproximadamente 50% do quadro de docentes do departamento eram formados em Matemática. Para efeito de comparação no ano de 2013 todos os professores, incluídos os docentes com contratos temporários (substitutos), do Departamento de Matemática do Campus de Cuiabá da UFMT eram formados em cursos de Matemática.

Na história do Departamento de Matemática até o ano de 1993 contabiliza-se que, além dos 6 formados nas primeiras turmas, mais 12 formados no curso de Matemática do Campus de Cuiabá da UFMT foram integrados ao quadro docente do Departamento. Daqueles seis formados nas primeiras turmas cinco já se aposentaram. Atualmente o departamento conta, em seu quadro com 17 docentes formados no curso de Matemática da UFMT do Campus de Cuiabá (6 com contratos temporário), de um total de 34.

5.2 O Movimento das Disciplinas no Curso de Formação de Professores de