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5.2 ANÁLISE DO USO DO TWITTER

5.2.1 Uma análise preliminar

Uma primeira análise da atuação de Plínio Arruda no Twitter realizada por nós e já mencionada anteriormente foi apresentada no X Congresso do Compolítica, em 2011. Consideramos fundamental abordá-la aqui, por ter sido o primeiro passo que nos encaminhou até o presente estudo e pelo fato de os resultados encontrados reforçarem as nossas hipóteses e achados.

Naquele trabalho, fizemos uma análise comparativa das conversações dos quatro primeiros candidatos durante a campanha, realizada em três etapas. Primeiro, recortamos dois momentos distintos da eleição para a coleta de tweets. O primeiro momento foi entre os dias 9 e 16 de agosto, ou seja, depois de um mês de campanha, por considerarmos que, naquele momento, os candidatos já tinham domínio sobre a ferramenta. O segundo recorte, entre os dias 13 e 20 de setembro, a campanha chegava à sua reta final. Ao todo foram coletados 489 tweets.

Depois da coleta das mensagens tweetadas em ambos os períodos, foram selecionados os tweets classificados como conversação a partir de dois critérios: 1. respostas e perguntas direcionadas a alguém, contendo ou não a “@”; 2. questões direcionadas a toda a rede.

Na terceira etapa, classificamos o conteúdo das conversas em quatro tipos: 1. Conversas sobre programa de governo do candidato e suas opiniões sobre temas relevantes no cenário político; 2. Assuntos relacionados à campanha e às eleições, como agenda de compromissos, materiais de campanha, comitês, entre outros; 3. Conversas triviais sobre assuntos diversos; 4. Agradecimentos às manifestações de apoio.

No tipo 1 estão as mensagens baseadas na argumentação, na racionalidade (logos); já no tipo 2, encontram-se as mensagens que tentam sensibilizar e mobilizar militantes e seguidores (pathos); por fim, nos tipos 3 e 4, nota-se a intenção de estabelecer uma identificação com o usuário, forjando uma aproximação a partir de conversas sobre assuntos corriqueiros, além de criar uma imagem para o candidato (pathos e ethos).

A candidata do PT, Dilma Rousseff, teve fraca atuação no Twitter em seu perfil pessoal (@dilmabr), deixando a sua campanha na rede a cargo de perfis criados pela militância como “Dilma na Web”, “Mulheres com Dilma” e “Galera da Dilma”. No primeiro período analisado, entre 9 e 16 de agosto, ela twittou apenas dez vezes, e nenhuma mensagem foi classificada como conversação. No segundo período, de 13 a 20 de setembro, a candidata postou apenas nove mensagens e repetiu o desempenho anterior, sem conversas.

Vale a pena destacar que, no primeiro período, 60% das mensagens foram comentários sobre assuntos variados. A candidata lembrou o aniversário da cantora mineira Clara Nunes, que faria 68 anos, e comentou sobre o Dia Mundial da Juventude, ambos no dia 12 de agosto. Já no segundo, a preocupação da candidata foi divulgar a sua agenda de compromissos, com 55,5% de tweets sobre eventos, comícios e viagens.

José Serra, candidato tucano, foi usuário assíduo na rede. No primeiro período analisado, ele deixou 41 mensagens em seu perfil pessoal (@joseserra_), sendo 26,8% delas conversações. No segundo momento, a sua participação cresceu, tendo 71 tweets, e a quantidade de conversações também aumentou, correspondendo a 35,2% do total de mensagens. Com relação ao conteúdo das conversas, 38,9% se referiam à campanha e questões relacionadas à eleição, como por exemplo:

- Exatamente @elizandra_nando, como diz você esses boatos são “sem noção”. Aqui você ajuda a conbate-los. (13 de agosto)

Também foi expressiva a quantidade de conversações sobre temas variados como livros, filmes, fotos, futebol, lugares, dentre outros assuntos (36,1%).

- Sim @deiasanrafa, comprei O Médico Doente, Borboletas da Alma e Teoria das Janelas Quebradas. (15 de agosto)

- @jucorreasilva É muito emocionante. Se um dia tiver a oportunidade, vale a pena ir. Abs. (16 de setembro)

Conversas sobre programa de governo e opiniões acerca da agenda temática do candidato somaram 25%.

A candidata do PV, Marina Silva, também marcou forte presença no Twitter com o seu perfil @silva_marina. Analisando o primeiro momento, período em que a candidata twittou 67 vezes, 40,3% das mensagens correspondeu a conversas com seguidores. No segundo momento, Marina manteve o desempenho de conversações, com 39,7%, dentre as 83 mensagens postadas.

O conteúdo da maior parte das conversas foram assuntos relacionados à campanha. Respostas a questões como onde encontrar material de campanha, como montar uma “Casa de Marina” (os comitês residenciais), além de convocações à militância para comícios e mobilizações corresponderam a 55% das conversas.

- Oi @renatocenografo Você pode falar com seus conhecidos e ajudar a mobilizar simpatizantes. (16 de agosto)

- @domingosdias @bibicofm @Pitaluga @Limax_ Obrigada pelo envolvimento. Aqui diz como encontrar material de campanha http... (20 de setembro)

Em seguida, aparecem os assuntos relacionados ao seu programa de governo e temas da agenda política da candidata e daquela colocada pelo cenário eleitoral, tais como aborto, drogas e pesquisas com células-tronco, correspondendo a 35% das conversações. Conversas sobre assuntos triviais somaram 6,7% e agradecimentos à manifestações de apoio 3,3%.

- Das embrionárias, sim http://... RT @fabi_toyama Por que a Senhora é contra a pesquisa com células tronco? (13 de agosto)

- @pedremidio Temos que trabalhar para viabilizar as duas coisas: cotas e melhoria e ampliação de vagas nas universidades. (9 de agosto)

O socialista Plínio Arruda, candidato do PSOL, apresentou, no primeiro período analisado, um desempenho acima da média dos demais candidatos, tanto no número total de mensagens, como na quantidade de conversações. Entre 9 e 16 de agosto, o seu perfil @pliniodearruda teve 134 tweets, sendo 61,2% classificadas como conversações. No segundo momento, de 13 a 20 de setembro, sua participação caiu um pouco, mas continuou expressiva, com 74 mensagens, sendo 33,8% de conversações.

Opiniões sobre temas e fatos políticos e informações sobre o programa de governo do partido foram os assuntos mais comentados, totalizando 41,1% das conversas.

- @doydera Não conheço detalhes desse programa. Mas sustento que o Brasil precisa ter um programa nuclear. (10 de agosto)

- @DjeisaGarcia Legalizar (a maconha) não é liberalizar. É colocar sob o controle da lei. Peço ler minha proposta no meu site: plinio50.com.br. (18 de setembro)

- @mirelapink A implantação do socialismo é um processo de muito longo prazo, porque depende da mudança de consciência da maioria. (18 de setembro)

Em seguida, aparecem as conversas sobre a campanha e eleições, tais como agenda do candidato e mobilização (25,2%), agradecimentos às manifestações de apoio (20,56%) e assuntos corriqueiros (13,08%).

Os resultados obtidos estão sintetizados na seguinte tabela:

Tabela 1: Resultados da análise das conversações

Candidato Total de Tweets Percentuais de

Conversações Análise do Conteúdo

10 0% Dilma 9 0% - 41 26,8% Serra 71 35,2%

38,9% Campanha, 25% Programa e Opiniões, 36,1% Assuntos Diversos

67 40,3%

Marina

83 39,7%

55% Campanha, 35% Programas e Opiniões, 6,7% Assuntos Diversos, 3,3% Agradecimentos.

134 61,2%

Plínio

74 33,8%

25,2% Campanha; 41,1% Programas e Opiniões; 13,1% Assuntos Diversos; 20,6%

Agradecimentos. 1º Período 9/08 a 16/08

Os resultados mostram que, com exceção de Dilma Rousseff, os candidatos conseguiram explorar o potencial de interatividade da rede, com destaque para Marina Silva e Plínio de Arruda. O conteúdo das mensagens, por sua vez, evidencia importantes diferenças na utilização da ferramenta pelos candidatos.

José Serra se destacou por ser aquele que mais tentou uma aproximação com outros usuários a partir de conversas com conteúdo não político, comentando assuntos como futebol, filmes e livros, e falando sobre gostos pessoais. Assim, ele tentou produzir a sua imagem “na intimidade”, mostrando-se como uma pessoa simples e acessível. Portanto, as mensagens dele no Twitter tentaram persuadir, sobretudo, pelo ethos e pelo pathos. Esta estratégia estava colada com as linhas mais gerais da campanha evidenciada também no jingle que dizia "Para o Brasil seguir em frente, sai o Silva e entra o Zé".

Já Marina Silva apostou na mobilização da militância e simpatizantes, convidando os usuários a participarem de debates e eventos, e oferecendo informações sobre materiais de campanhas, comitês e agenda de compromissos. Assim, as suas mensagens persuasivas foram baseadas no pathos, na tentativa de envolver o seu eleitorado em potencial no Twitter pela emoção da campanha. A mobilização marcou tanto a campanha de Marina que, nas últimas três semanas anteriores ao pleito, militantes ganharam as ruas em várias cidades do país, movimento que foi apelidado de “Onda Verde”.

Por outro lado, Plínio Arruda tentou ganhar o voto dos seguidores através da exposição de opiniões e argumentos sobre variados temas, ou seja, com mensagens nas quais o logos era o elemento principal. O grande número de conversas do candidato com este conteúdo se deu também pelo fato dele ter concedido entrevistas online a jornalistas na rede e promovido debates online no Twitter, com dia e horário previamente marcados.

Portanto, não basta estabelecer conversações nas redes sociais para contribuir com o debate público, visto que essas interações com os cidadãos podem ser “utilizadas” apenas para construir imagem, ganhar visibilidade e conquistar empatia. A discussão política exige a troca de opiniões e argumentos, através de discursos com dimensão afetiva, mas, também, racional.