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4. METODOLOGIA DE PESQUISA

4.6. MODELOS – CONCEITO, APLICAÇÃO E CONSTRUÇÃO

4.6.1. UMA REVISÃO SOBRE MODELOS

Como as propostas apresentadas nesta tese fazem uso de modelos para descrever e representar as interações entre DP e PCP, demonstrando oportunidades e necessidades de integração, uma breve discussão sobre o que vem a ser um modelo no contexto científico se faz necessária.

Antes de falar sobre modelos, destaca-se a importância de discussão sucinta sobre teoria. De acordo com Sutton e Staw (1995), a teoria trata das conexões entre o fenômeno, uma história sobre a razão de atos, eventos, estruturas e pensamentos. Para esses autores, a teoria enfatiza a natureza das relações causais, identificando o que vem primeiro, bem como o tempo de ocorrência dos eventos, aprofundando os processos essenciais e provendo um entendimento das razões sistemáticas para uma particular ocorrência ou não.

De acordo com Kerlinger (1980), uma teoria pode ser definida como um conjunto de constructos (conceitos), definições e proposições relacionados entre si, a qual apresenta uma visão sistemática de fenômenos. Segundo o autor, a teoria deve especificar relações entre variáveis com a finalidade de explicar e prever fenômenos da realidade.

Com base na literatura é possível destacar alguns papéis exercidos pela teoria, dentre os quais, destacam-se (ALVES, 1981; LAKATOS e MARCONI, 1995; KÖCHE, 1997 apud2 MARTINS, 2004; DEMO, 2001; WHETTEN, 2003; MIGUEL, 2010):

• Nortear os objetivos da ciência, restringindo a amplitude dos fatos a serem estudados;

• Definir os principais aspectos de uma investigação, determinando os dados que devem ser abstraídos;

• Servir para conceitualizar e classificar fatos;

2 KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática da

• Resumir o que já se conhece sobre o assunto ou objeto de estudo;

• Prever novos fatos e relações com base naquilo que já se conhece;

• Indicar lacunas no conhecimento que carecem de pesquisa;

• Oferecer um conjunto de meios de representação conceitual e simbólica dos dados de observação;

• Constituir um conjunto de regras de inferência que permita previsão de dados e fatos;

• Sistematizar e dar ordem ao conhecimento sobre um fenômeno da realidade.

Segundo Sampieri et al. (2006), para se avaliar o valor/qualidade de uma teoria, os seguintes critérios podem ser levados em consideração: a) capacidade de descrição, explicação e predição; b) consistência lógica; c) perspectivas; d) fertilidade lógica (aplicação em outras situações); e) parcimônia (moderação, sem extravagâncias).

Em relação à conceituação de modelo, em Morabito e Pureza (2010, p.166) encontra-se uma definição segundo a qual um modelo é uma “representação de uma situação ou realidade, conforme vista por uma pessoa ou um grupo de pessoas, e construída de forma a auxiliar o tratamento daquela situação de uma maneira sistemática”. Complementa-se, ainda, o fato de que um modelo deve ser suficientemente detalhado (deve captar elementos essenciais a fim de representar o sistema real) e simplificado (de modo a ser tratável por métodos de análise e resolução conhecidos).

De outro modo, Martins (2004) apresenta uma definição de modelo que o descreve como um elemento da teoria, o qual caracteriza as ideias fundamentais dessa teoria com auxílio de conceitos já familiares antes da elaboração da mesma. Esse autor enfatiza que uma teoria científica pode ser considerada consistente se possui modelo, porém adverte que o uso indistinto/abusivo de modelos tem distorcido sua finalidade principal (esclarecer o significado preciso de um conceito).

Uma classificação primária que pode ser feita dos modelos é classificá-los em “concretos ou abstratos” (MORABITO e PUREZA, 2010, p.166). De modo simplificado, modelos concretos podem ser definidos como uma representação física do objeto ou realidade em estudo/análise, já os modelos abstratos, são definidos como representações simbólicas, as quais não expressam de maneira direta o objeto ou realidade estudada (MARTINS, 2004; MORABITO e PUREZA, 2010). Como exemplo desses dois tipos de modelos tem-se (MORABITO E PUREZA, 2010): Planta-baixa de uma futura construção, a qual representa seu modelo abstrato; e uma maquete ou réplica física em escala da futura construção, seu modelo concreto.

Em um segundo nível de classificação, os modelos podem ser segmentados em: quantitativos ou qualitativos. Modelos quantitativos são “modelos abstratos descritos em linguagem matemática e computacional”, os quais utilizam técnicas analíticas e experimentais para calcular valores numéricos das propriedades da realidade modelada (MORABITO e PUREZA, 2010, p.167). Já os modelos qualitativos, representam uma dada realidade a partir de sua descrição, expressando relações causais sem necessariamente quantificá-las – a ideia nesse caso, também, é aumentar a compreensão daquilo que está sendo modelado (FELTRINI, 2009).

Uma classificação ou tipologia de modelos detalhada é apresentada por Martins (2004), explicitando os seguintes tipos de modelos:

Explicativos – consistem fundamentalmente em estruturas concretas, específicas, que

são isomorfas com relação a uma teoria ou parte dela;

Físicos – derivam de especificações dos modelos explicativos, geralmente construídos com materiais concretos e em escala;

Formais – consistem de uma abstração da forma lógica dos modelos físicos,

alcançando deste modo uma grande generalidade;

Icônicos – correspondem a representações em escala reduzida do objeto real,

incorporando as propriedades significativas do elemento descrito;

Analógicos – correspondem a um conjunto de propriedades utilizadas para representar

outro conjunto de propriedades associadas com o sistema que está sendo representado;

Simbólicos – correspondem a expressões matemáticas que procuram refletir a

estrutura do sistema que representam;

Taxonômicos – estruturam procedimentos para a classificação de eventos, entidades

ou dados;

Explanatórios ou descritivos – explicam algum fenômeno tal qual ele se apresenta ou

funciona, auxiliam na resolução de problemas específicos de tomada de decisão;

Preditivos – possuem o propósito explícito de prever o comportamento de eventos

futuros em função de um conjunto de variáveis de decisão e do ambiente;

Normativos – tratam de questões relativas ‘ao que deveria ser’ uma dada decisão,

referindo-se, portanto, à otimização de uma dada variável.

Nessa tipologia é notório observar certa sobreposição ou relação complementar entre os tipos apresentados, os quais poderiam ser combinados em uma quantidade menor de tipos.

De modo a complementar essa tipologia de modelos, pode-se acrescentar os modelos do tipo Prescritivo, os quais determinam o que deve ser feito, sem a preocupação com a otimização de variáveis, servindo como um guia para a ação em determinadas circunstâncias.

Martins (2004) aponta que um modelo pode desempenhar algumas funções, dentre elas:

Seletiva – permitir que fenômenos complexos sejam visualizados e compreendidos;

Organizacional – classificar os elementos da realidade segundo um esquema que

especifique adequadamente as propriedades ou características do fenômeno e tenha categorias mutuamente exclusivas e exaustivas;

De fertilidade – evidenciar aplicações em distintas situações;

Lógica – permitir explicar como acontece determinado fenômeno;

Normativa – permitir prescrições;

Sistêmica – mostrar interação entre partes de um todo maior.

A fim de consolidar as características dos modelos apresentadas até aqui, na seção 4.6.1 é apresentada uma proposta de classificação multidimensional de modelos com o intuito de caracterizá-los com maior precisão, eliminando redundâncias observadas na tipologia apresentada.