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41 Capítulo

4.3 Unidade de análise

De acordo com Yin (2005), a definição da unidade de análise ou de caso, prende-se com a forma como o investigador definiu as suas questões de investigação. A questão de investigação deverá subentender se a investigação recairá sobre indivíduos, grupos, processos, relações, mercados, aspetos políticos etc. Para Yin (2005), se as questões formuladas pelo pesquisador não derem preferência a uma unidade de análise em prol de outra, podemos estar perante uma questão de pesquisa vaga demais, potencialmente geradora de problemas ao investigador no decorrer da condução da investigação. Contudo, e ainda para o mesmo autor, quando o investigador conseguir obter uma definição sobre a unidade de análise, não a deve considerar como definitiva, uma vez que esta deve ser revisitada em função dos dados que se vão recolhendo ou dos resultados que se vão apurando ao longo da investigação.

Para o presente estudo, a unidade de análise foram os indicadores de partilha de conhecimento tácito, os facilitadores, as barreiras à partilha do conhecimento tácito, e as lições apreendidas pelos corpos de bombeiros voluntários em Portugal. A opção por estas unidades de análise foi baseada na revisão de literatura, considerando para o efeito o apuramento dos indicadores, facilitadores, barreiras à partilha de conhecimento tácito mais prevalentes e às lições apreendidas no seguimento de eventos operacionais marcantes. Em função da escassez de estudos centrados nesta problemática da partilha de conhecimento tácito nas organizações sem fins lucrativos, foram considerados indicadores, facilitadores e potenciais barreiras estudadas noutros estudos de casos, em organizações do setor público e no setor privado. Importa referir que em termos operacionais, o desempenho dos bombeiros voluntários é determinante no que respeita à salvaguarda de bens patrimoniais e de vidas humanas, onde o domínio das técnicas do bem “saber fazer” e a presença do conhecimento tácito adquire uma importância fundamental, seja na perspetiva de melhor fazer ou de melhor decidir. A partir desta constatação, pretendeu- se investigar se existe uma efetiva partilha de conhecimento tácito no seio destas organizações e quais os facilitadores e barreiras mais prevalentes que se levantam à implementação de medidas que visem um reforço desta partilha de conhecimento tácito.

Desta forma foram selecionados 14 indicadores que visam apurar a existência de partilha de conhecimento tácito no seio dos corpos de bombeiros, selecionados 2 facilitadores (intenção e disponibilidade) e 3 tipologias diferentes de barreiras a essa partilha (pessoais, organizacionais e tecnológicas). Foram ainda considerados 6 itens de análise tendo em vista o apuramento de informação relativa à partilha de conhecimento tácito por via de lições apreendidas na sequência de eventos operacionais marcantes. Estes indicadores, facilitadores e barreiras organizadas por diferentes tipologias constituem a unidade de análise do presente estudo.

4.3.1 Indicadores que compõem a unidade de análise

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organização que partilham ideias relevantes para a tarefa (habilidades, experiência e compreensão), pelas informações e sugestões entre pesquisadores, pelos formuladores de políticas e pelos provedores de serviços. Para Hong et al. (2011), a partilha de conhecimento indica a difusão do conhecimento para melhorar o trabalho de toda a organização e pode ser caracterizada pela transferência de até à totalidade de conhecimento de uma pessoa para outra. Para estes autores, esta partilha de conhecimento é o processo pelo qual o conhecimento, mantido por um indivíduo, é convertido numa forma que pode ser compreendido, absorvido e usado por outros indivíduos. Através da revisão da literatura relativa à partilha de conhecimento tácito, foi possível apurar os seguintes indicadores que se constituem como unidades de análise: tempo e oportunidade, linguagem comum, confiança mútua, rede de relacionamento, hierarquia, reconhecimento e recompensa, tipo de treino para a tarefa, transmissão de conhecimento, armazenagem de conhecimento, poder, ambiente favorável questionamento, tipo de conhecimento valorizado, comunicação e espaço físico.

4.3.2 Facilitadores que compõem a unidade de análise

A partilha de conhecimento tácito, como um processo dinâmico que ocorre em contexto organizacional conta com facilitadores e barreiras à sua efetivação. A este respeito importa referir o contributo de Hendricks (1999), que nos diz que em sentido literal e estrito, o conhecimento não pode ser partilhado como uma mercadoria que passa livremente das mãos de uma pessoa para outra; ao invés disto, Boer et al (2002) afirmam que a partilha de conhecimento deve ser entendida como um processo que envolve pelo menos dois atores, onde principio e fim não são claramente definidos. Para Hendricks (1999), o interveniente em posse do conhecimento dá aval ao processo de partilha, pelo meio de externalizações, que podem ser mais ou menos conscientes, sendo que o outro interveniente conduz um ato de internalização do que lhe está a ser transmitido. De acordo com Rêgo et al. (2012), quando uma pessoa é abordada para partilhar o que sabe, pede- se que ela invista o seu tempo e dedicação, normalmente sem qualquer recompensa ou reconhecimento, o que já foi confirmado que é o que se verifica no presente estudo. Assim, importa aferir a prevalência, na organização em estudo, os dois facilitadores considerados necessários para que ocorra o referido processo de partilha de conhecimento tácito: intenção e disponibilidade.

4.3.3 Barreiras que compõem a unidade de análise

Para Riege (2007), no nível individual ou do funcionário, as barreiras à partilha de conhecimento estão geralmente relacionadas a fatores tais como falta de habilidades de comunicação e redes sociais, diferenças culturais, ênfase excessivo nos status da posição ocupada e a falta de tempo e confiança. Para Awad e Ghaziri (2007), a personalidade, o temperamento, a atitude, as habilidades interpessoais e o orgulho sobre a propriedade ou sobre a ideia de ser o detentor exclusivo de algo, são fatores individuais como que

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dificultaram a gestão do conhecimento tácito. Para estes autores, em alguns casos, os indivíduos evitam partilhar conhecimento pelo risco de expor seus conhecimentos.

De acordo com Riege (2007), ao nível organizacional, as barreiras tendem a estar ligadas, entre outras, à viabilidade económica, à falta de estrutura e de recursos humanos, à acessibilidade aos espaços formais e informais de reunião e ao meio ambiente. Para Joia e Lemos (2010), a liderança em qualquer organização é trabalhada para o desenvolvimento dos processos e das estratégias nessa organização, tendo em vista o sucesso no ambiente de negócios ou no cumprimento da missão, contudo, os líderes de algumas dessas organizações podem ser vistos como barreiras à partilha do conhecimento tácito, pois criam estruturas organizacionais hierárquicas que são inflexíveis e, portanto, dificultam a transferência de conhecimento dentro das organizações.

Ainda para Riege (2007), ao nível tecnológico, as barreiras parecem estar relacionadas com fatores como a falta de vontade de usar os aplicativos adequados, a uma irrealista expectativa dos sistemas informáticos ou tecnologias de informação e as dificuldades de construir, integrar e modificar sistemas baseados em tecnologia. Para Riege (2005), a tecnologia mudou a forma como as organizações operam, forneceu meios para o acesso instantâneo a informações e dados, mesmo em longas distâncias, contudo, a tecnologia não opera num vácuo e as organizações estão a adaptar-se ao uso de soluções híbridas, por forma a facilitar a partilha de conhecimentos tácitos.

Desta forma, as barreiras consideradas para o presente estudo e que compõem a unidade de análise são de cariz individual, organizacional e tecnológico.