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O estudo de caso único integrado teve como unidade de análise o estado da Paraíba, e foi desenvolvido nas quatro penitenciárias femininas subordinadas a Secretaria de Administração Penitenciária da Paraíba: O Centro de Reeducação Maria Júlia Maranhão em João Pessoa, a Penitenciária Feminina de Campina Grande, a Penitenciária Romero Nóbrega em Patos e a Penitenciária Feminina de Cajazeiras.

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De acordo com relatório de população carcerária da Gerência de Inteligência e Segurança Orgânica Penitenciária- GISOP e Secretaria de Administração Penitenciária da Paraíba, em janeiro de 2019, ao todo, a população carcerária feminina no estado da Paraíba é de 487 mulheres, sendo essas 184 em regime fechado provisório e 181 sentenciadas; 77 em regime semi-aberto e 45 em regime aberto.

O estudo foi desenvolvido com três grupos de participantes, denominados Informantes- chave (trabalhadoras da gestão penitenciária), colaboradoras cozinheiras - CC (mulheres em cárcere privado cozinheiras das penitenciárias) e colaboradoras mulheres, aquelas em situação de cárcere com no mínimo 12 meses cumprindo pena em regime fechado.

O primeiro grupo foi constituído pelos informantes-chave, trabalhadoras da gestão estadual da Secretaria de Administração Penitenciária da Paraíba (SEAP), as quais são diretoras das unidades penitenciárias de João Pessoa, Campina Grande, Cajazeiras e Patos, a nutricionista do Almoxarifado Geral da SEAP, a coordenadora da Saúde Prisional, uma médica e uma enfermeira da equipe de saúde prisional totalizando 8 informantes-chave, identificadas por GP (Gestão Prisional) 1 até GP8, escolhidas de forma aleatória entre os números 1 a 8. As informantes-chave trazem contribuições sobre a caracterização da alimentação de mulheres privadas de liberdade no estado da Paraíba e na identificação de desafios, alcances e iniciativas para a realização do Direito Humano à Alimentação Adequada no sistema prisional na Paraíba.

Minayo (1996) chama a atenção para a importância do processo de definição de informantes-chave em uma pesquisa qualitativa. Para a autora, deve-se, neste momento, preocupar-se mais com o aprofundamento e a abrangência da compreensão do s sujeitos da pesquisa com o qual a pesquisa se relaciona.

Para compreender as percepções das mulheres privadas de liberdade a respeito do direito à alimentação, participaram da pesquisa as colaboradoras que são mulheres em situação de cárcere com no mínimo 12 meses cumprindo pena em regime fechado e mulheres privadas de liberdade cozinheiras das penitenciárias para mulheres.

No grupo de colaboradoras cozinheiras, foi considerado o critério de inclusão mulheres privadas de liberdade que trabalhavam nas cozinhas das penitenciárias femininas na ocasião da pesquisa. Participaram duas cozinheiras de cada penitenciária, apontadas pela direção como cozinheiras-chefe, totalizando em 8 (oito) mulheres.

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Para o grupo de colaboradoras mulheres em cárcere privado, estas foram selecionadas considerando o critério de inclusão: mulheres com permanência em cárcere, em regime fechado, há pelo menos 12 meses e que não mudaram o regime prisional durante esse período. Foram excluídas do estudo as mulheres que não aceitassem assinar o TCLE.

Participaram do estudo 12 (doze) mulheres privadas de liberdade em regime fechado há pelo menos um ano, três de cada penitenciária, alcançando a saturação na coleta de dados. Portanto, participaram do estudo um total de 28 pessoas.

Houve a tentativa de entrevistar o Secretário de Administração Penitenciária da Paraíba. O contato foi estabelecido com os assessores que responderam que o Secretário aceitava participar da pesquisa se fosse enviado por e-mail (o mesmo usado para contato com os assessores) as questões da entrevista. Neste sentido, as respostas do secretário à entrevista seriam encaminhadas também por e-mail. Essa condição não foi aceita pelas pesquisadoras deste estudo, uma vez que essas entrevistas são individuais e realizadas pessoalmente.

. 4.4 PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DOS DADOS

Para a coleta de dados foi utilizado como recursos a entrevista semiestruturada, a consulta documental e o diário de campo. De acordo com Gil (2009) a coleta de dados em estudos de caso é mais complexa do que em outras modalidades de pesquisa que utiliza uma única técnica para a obtenção de dados, apesar de outras técnicas possam ser utilizadas de forma complementar. O estudo de caso demanda a obtenção de dados a partir de técnicas diversas com intuito de qualificar os resultados obtidos. Yin (2001) apresenta que, para esse tipo de estudo, é necessária a triangulação entre diferentes fontes de dados. A escolha pela multiplicidade das fontes de dados possibilita a triangulação de evidências e amplia a confirmação de fatos e fenômenos pesquisados, aumenta a consistência dos achados e a qualidade do estudo (YIN, 2001).

4.4.1 Entrevistas

A entrevista é usada pelas ciências sociais como lócus privilegiado de análise da cultura, da ação social e da experiência, tanto de âmbito pessoal como social, colocando em causa a natureza da cultura e da condição humana (CASTELLANOS, 2014).

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Foi utilizada a técnica de entrevista semiestruturada em profundidade, sendo caracterizada pela utilização de um roteiro aberto. Segundo Quaresma e Boni (2005), essa técnica reflete à combinação de perguntas abertas e fechadas, onde o participante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. Caracteriza-se como semiestruturada ou em profundidade quando o pesquisador realiza outras indagações dentro da temática norteadora, como forma de buscar a compreensão do que o participante está narrando. A entrevista, no entanto, não tem por objetivo buscar respostas verdadeiras, mas captar as subjetividades presentes no discurso do sujeito (MORÉ, 2015).

Dessa forma, a entrevista é compreendida como uma proposta de diálogo e/ou conversações em torno de um questionamento norteador, que neste estudo reflete sobre como se caracteriza a realização do Direito Humano a Alimentação Adequada no sistema prisional feminino da Paraíba.

Foram entrevistadas duas cozinheiras de cada penitenciária, apontadas pela direção como cozinheiras-chefe, totalizando em 8 (oito) entrevistas semiestruturadas individuais com mulheres privadas de liberdade que trabalham na cozinha das penitenciárias. Foram 12 (doze) mulheres privadas de liberdade em regime fechado há pelo menos um ano, três de cada penitenciária, alcançando a saturação na coleta de dados. A escolha se deu por sorteio. De posse da lista de mulheres em regime fechado, disponibilizada pela direção em cada penitenciária, excluindo quem estivesse há menos de 12 meses, a pesquisadora apontava um nome da lista de forma aleatoria e as agentes penitenciárias chamavam e direcionava cada mulher para o local da entrevista. Ao final de cada entrevista era realizado o sorteio para a entrevista seguinte. Todas as mulhres sorteadas aceitaram participar da pesquisa. A amostragem foi concluída quando a “saturação teórica” de uma categoria ou grupo de casos foi atingida ou quando não surgiu mais nada novo (FLICK, 2009).

Nas entrevistas individuais foram abordadas questões que possibilitaram o entendimento a respeito da caracterização do acesso a alimentação no sistema prisional, bem como os alcances, limites e iniciativas para a garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada e ainda as percepções das mulheres privadas de liberdade e da gestão das penitenciárias femininas do estado da Paraíba sobre o direito à alimentação.

A coleta de dados aconteceu nos meses de janeiro e fevereiro de 2019. As entrevistas realizadas com as diretoras e colaboradoras aconteceram em salas reservadas nas unidades penitenciárias, em horários pactuados com a gestão das penitenciárias. A entrevista com a nutricionista do Almoxarifado ocorreu no Centro de Ciências da Saúde da Universidade

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Federal da Paraíba, a pedido da entrevistada. Cada entrevista foi realizada pela pesquisadora e pela pessoa entrevistada sem a presença de terceiros. Fora da sala onde aconteciam as entrevistas, ficavam algumas agentes penitenciárias. Em uma das penitenciárias do interior do estado a direção não permitiu que as mulheres presas, que não faziam parte da equipe da cozinha, permanecessem sem algemas durante a entrevista. Na mesma unidade, as agentes penitenciárias ficavam muito próximo à porta da sala, que estava aberta, sendo preciso a pesquisadora e colaboradoras se afastarem para o final da sala para não ser ouvidas pelas agentes durante a entrevista e garantir o sigilo da coleta de dados.

Os dados foram gravados e transcritos pela pesquisadora. Cada entrevista teve duração em média de 30 minutos. Foram feitas notas de campo durante e após as entrevistas a fim de facilitar a observação da pesquisadora sobre atitudes das entrevistadas, no sentido de contribuir com as entrevistas subsequentes e impressões gerais sobre a etapa de coleta de dados. O processo interpretativo acompanhou toda a fase de coleta dos dados, mantendo-se um permanente diálogo com os conteúdos que emergiam em cada entrevista, e com os sentidos que se construíam em cada uma delas.

4.4.2 Consulta documental

No que tange a consulta documental, foram utilizados documentos cedidos pela Secretaria de Administração Penitenciária da Paraíba (SEAP). Os arquivos disponibilizados pela SEAP/PB foram:

1- Plano de Metas – Ano Base 2019, que apresenta um conjunto de elementos do que se pretende alcançar, por trimestre, e organizado por temas de prioridade, dessa secretaria, para o ano de 2019.

2- Relatório de Gestão – Ano Base 2018, que contextualiza o perfil do sistema prisional paraibano nos bancos de dados nacional e apresenta as ações da SEAP/PB em 2018. Também foi realizada pesquisa por meio de homepages oficiais, relatórios e documentos de entidades não-governamentais e entidades governamentais, além de publicações científicas em periódicos acadêmicos.

A pesquisa documental em estudos de caso fomenta e qualifica a corroboração das evidências das outras fontes de dados utilizadas na pesquisa. Neste sentido, esse recurso acompanhou todo o processo desta investigação, no qual tomamos como referência desde as

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entrevistas, o referencial teórico, os documentos disponibilizados pela Secretaria de Administração Penitenciária, até a sistematização do produto final.

Foi também solicitado formalmente documentos explicativos sobre a saúde no sistema prisional na Paraíba, relatórios de gestão, plano de ações, cartilha ou arquivos que pudessem ampliar a contextualização dessa temática neste estudo, porém a solicitação não foi atendida apesar de ter sido realizadas várias tentativas e contatos com a coordenação das equipes de saúde prisional no estado.

4.4.3 Diário de Campo

Para registro e documentação da pesquisa foi utilizado o diário de campo, onde as anotações foram registradas durante as entrevistas e nos momentos em que havia necessidade de articulação com a administração penitenciária, a exemplo da articulação e solicitação de liberação para entrevistas. Também foram registradas no diário de campo as impressões, sentimentos e reflexões percebidas nos diálogos com a gestão do sistema prisional e durante as entrevistas na coleta de dados, buscando, como explica Flick (2009), “captar o comportamento cotidiano nas situações naturais”.

O diário na pesquisa deve documentar o processo de abordagem de um campo, as experiências e os problemas no contato com o campo ou com os entrevistados, e a aplicação dos métodos. Fatos importantes e questões de menor relevância ou fatos perdidos na interpretação, na generalização, na avaliação ou na apresentação dos resultados, vistos a partir das perspectivas do pesquisador individual, também devem ser incorporados. Uma documentação desse tipo não é apenas um fim em si mesma ou um conhecimento adicional, servindo também à reflexão sobre o processo de pesquisa (FLICK, 2009).

4.5 ANÁLISE DOS DADOS

Para a análise dos dados foi utilizado o método da Análise de Conteúdo na modalidade Temática (Bardin, 2011). Os procedimentos orientados pela análise de conteúdo compreendem as seguintes etapas: a pré-análise é a fase em que o material é organizado para ser analisado com o objetivo de torná-lo operacional, sistematizando as ideias iniciais. Nessa etapa foi feita a transcrição e organização das entrevistas e a leitura flutuante para poder