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2.2 Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs) como apoio ao ensino presencial

2.2.4 Uso de AVAs como apoio ao Ensino Presencial

Como mencionado na introdução desse trabalho, AVAs tem sido frequentemente utilizados como ferramentas de apoio ao ensino presencial. A importância da EaD como elemento de apoio ao ensino presencial é apontada por diversos autores, como destacado a seguir:

“A Internet é basicamente o meio de veiculação e difusão dos conteúdos de ensino. No Ensino a Distância – EaD, a Internet vem se constituindo em um novo e interativo meio para suprimir limitações de tempo e distância na atenção aos alunos. O computador, então, constitui-se como elemento de produção, transmissão e armazenagem dos cursos e do conhecimento” (MONTEIRO et. al., 2000, p. 18).

A EaD utiliza a Internet como ferramenta para garantir a troca, a interação e a atualização dos conteúdos, tudo em tempo real. Os inúmeros recursos disponibilizados no ambiente virtual tornam-se eficientes ferramentas para que o professor possa transmitir seus conhecimentos e também descobrir novas formas de fazê-lo, além, é claro, de sua importância no auxílio à organização e preparação das aulas e dos conteúdos a serem explorados. (BISCOSIN et. al., 2010, p. 3).

Com a maior possibilidade de participação do aluno nas salas de aula virtuais, este passa de um simples receptor da mensagem para uma peça atuante no processo educativo. “Esse intercâmbio de conhecimento também pode ser percebido na interação entre os próprios alunos, que descobrem, no ambiente virtual, mais um canal de troca, ampliando os estudos em

grupo e a interação entre as diversas peças do mecanismo do aprendizado na EaD.” (BISCOSIN et. al., 2010, p. 4).

Como já mencionado, os AVA fazem uma grande contribuição para modelos de aprendizagem colaborativa, por serem espaços compartilhados de convivência que dão suporte à construção, inserção e troca de informações pelos participantes. Romano (2004, p. 83) destaca aspectos pedagógicos que sustentam o princípio da aprendizagem colaborativa:

 Conhecimento compartilhado: experiências pessoais, estilos e ritmo de aprendizagem, línguas, estratégias e culturas que alunos e os professores trazem para a situação de aprendizagem;

 Autoridade compartilhada entre professores e alunos;  Professores atuando como mediadores da aprendizagem;

 Construção de significações e resignificações no processo de aprendizagem. Romano ainda comenta que as características pedagógicas requerem:

 Flexibilidade dos papéis e movimentos no processo das comunicações e relações que fazem a mediação da aprendizagem;

 Democratização das participações nos diferentes espaços do ambiente e da inserção de colaborações individuais e coletivas;

 Debates que privilegiam novas leituras, interpretações, associações e críticas em espaços formais e informais;

 Acesso a materiais externos referentes a temáticas abordadas.

Percebe-se, a partir do que já foi apresentado sobre os Ambientes Virtuais de Aprendizagem, que estes cumprem essa serie de requisitos pedagógicos, ao inserir discussões em ambientes como os Fóruns e Chats. Além disso, a facilidade de comunicação com outros materiais e sistemas de informação através da Internet, faz com que os AVAs ampliem as possibilidades de acesso à informação do aluno aprendiz.

Tendo em vista essas características do AVA, diversos modelos de seu uso como apoio ao ensino presencial foram desenvolvidos. Alguns desses foram estudados por pesquisadores da área da pedagogia e da ciência da informação e são apresentados a seguir.

Lopes e Gomes (2007) apresentaram um estudo feito com a Escola Secundária da Póvoa de Lanhoso, em Portugal. A escola utilizava o Moodle como ferramenta de apoio ao ensino presencial. Três modelos diferentes foram evidenciados: o primeiro utilizava o espaço apenas para o compartilhamento de materiais educativos, não envolvendo atividades educativas de interação e colaboração na plataforma; o segundo criou fóruns como apoio e

orientação à exploração dos recursos educativos disponibilizados pelo professor. Neste caso, o fórum não foi utilizado para promover atividades educativas de colaboração entre alunos e entre estes e o professor; o terceiro utilizou várias estratégias e atividades de interação, desde a participação e colaboração em fóruns temáticos, a realização de portfólios digitais de aprendizagem e, em alguns casos, a realização de diários da aula e atividades de auto- avaliação online.

No caso do Brasil, cita-se os estudos de Borba e Ayrosa (2001) e de Delgado e Haguenauer (2010).

Através de um estudo de caso aplicado a acadêmicos dos cursos de Ciência da Computação e Sistemas de Informação da Universidade Paranaense, Borba e Ayrosa (2001) descreveram a experiência da aplicação do EAD como ferramenta de apoio a cursos regulares presenciais. Foi utilizado um AVA configurado para acesso pela Internet. Os resultados desse estudo de caso revelaram que a EAD oferece plenas condições como ferramenta de apoio ao ensino superior presencial. “A EAD, através dos pressupostos de que o aluno tem autonomia para decidir onde e como estudar, engaja-se no cenário da globalização, oferecendo condições reais, principalmente ao estudante que não dispõe dos horários convencionais para dedicar-se ao estudo.” (BORBA e AYROSA, 2001, p. 8).

O estudo de caso dos autores apontou como fatores positivos na EAD a liberdade para estudar fora do ambiente da instituição, principalmente em finais de semana, sem determinação de horário. Porém, a falta do relacionamento pessoal entre alunos e professores, além do procedimento de aguardar uma resposta para as dúvidas e problemas, que não são resolvidas imediatamente, como acontece no processo presencial, foram considerados fatores negativos nas características da EAD.

Outro estudo de caso interessante foi o realizado por Delgado e Haguenauer (2010) no Programa Interdisciplinar de Lingüística Aplicada, da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. As autoras avaliaram uma turma que utilizou um AVA baseado na plataforma Moodle como apoio ao ensino presencial. A partir dos questionários e entrevistas realizados, verificou-se que 85% dos alunos observados afirmaram que o AVA ajudava no estudo. A atividade fórum de notícias foi muito elogiada pelos alunos. Os alunos afirmam que o tira dúvidas e o fórum de notícias ajudaram muito para elucidar suas dúvidas e que chegaram a recorrer a eles diversas vezes durante a disciplina.

Delgado e Haguenauer (2010, p. 24) afirmam em seu trabalho que, de uma forma geral, a utilização do AVA foi bem aceita pelos alunos. Alguns comentários negativos em relação à experiência estavam relacionados mais à estratégia de ensino adotada pelo professor

do que à plataforma propriamente dita, como por exemplo, a reclamação em relação ao excesso de atividades propostas. Nesse sentido, o próprio professor realizou ajustes, ao longo do percurso da disciplina, procurando atender aos alunos e rever suas estratégias.

Pulino Filho (2009) aponta outra vantagem do uso de AVAs como apoio ao ensino presencial:

“Imagine transferir a maior parte do material didático de seu curso para um ambiente online e aproveitar seu tempo em aula para discussões, questões e resolução de problemas. Muitos professores já descobriram que eles podem economizar tempo e melhorar a aprendizagem de seus alunos comportando-se dessa maneira. Isto permite que os alunos usem os encontros presenciais para a solução de problemas e os professores possam transformar suas aulas em palestras de contextualização, abandonando a preocupação de ter que cumprir o programa de forma presencial.” (PULINO FILHO, 2009, p. 2)

O que se percebe a partir dos estudos citados é que AVAs possuem um papel interessante no apoio ao ensino presencial e parecem complementar as necessidades informacionais de alunos (ver 2.1) que o utilizam em seu processo de busca de informação (ver 2.1.3). Dessa forma, ao se estudar um modelo que utiliza um AVA como apoio ao ensino presencial acredita-se ser possível identificar elementos do comportamento informacional de busca de alunos. Porém, é importante ter em mente que um estudo do tipo também necessita de um acompanhamento do comportamento informacional no ambiente de aula presencial, através de técnicas de observação, entrevistas ou questionários, de forma que se possa compreender a integração do comportamento dos alunos nos dois ambientes que se complementam (o ambiente físico, nas aulas presenciais, e o virtual, no AVA).

É possível que o comportamento informacional de alunos seja diferente de acordo com características intrínsecas aos mesmos. Dessa forma, identificar perfis de aprendizagem pode auxiliar na observação de comportamentos específicos de alunos, seja em ambiente de ensino físico ou virtual. Na próxima seção será abordado outro assunto que será tratado nessa pesquisa, os estilos de aprendizagem, que podem variar de acordo com os perfis dos alunos.