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Uso de quebra ‑ventos

No documento Pinta preta dos citros (páginas 106-110)

8.2 Controle cultural

8.2.5 Uso de quebra ‑ventos

A finalidade do quebra -vento é reduzir a ação do vento. Ele não deve ser confundido com a cerca viva, que é uma barreira homogênea mais densa, constituída de plantas que, Tabela 8.3 Número de folhas com pseudotécios de Phyllosticta citricarpa na superfície do solo em áreas com dois métodos de irrigação entre 1995 e 1997, em pomar de pomelo (Citrus paradisi ), em Colônia Santa Rosa, Salta – Argentina.

Ano

Número de folhas caídas com

pseudotécios de Phyllosticta citricarpa a

Microaspersão Gotejo

1995 20,8 2,75

1996 16,5 0

1997 13,0 0,25

aAvaliação em outubro de cada ano, em um círculo de 0,25 m2, sob a

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em geral, apresentam menor altura que as do quebra -vento, e que é instalada no períme- tro da propriedade, com o objetivo de evitar ou dificultar o acesso de pessoas e animais no local.

Os quebra -ventos são barreiras permeáveis (não muito densas), formados por árvo- res resistentes ao vento e mais altas que as de citros, instalados externa e internamente nos pomares, em faixas de direção perpendicular ao vento predominante. Eles não de- vem ser compactos, uma vez que a turbulência provocada no lado oposto à incidência do vento diminui seu efeito protetor.

A utilização de quebra -ventos pode trazer vários benefícios para o cultivo de citros, dos quais podemos citar:

Redução na queda de plantas, na quebra de galhos, e na queda de frutos;

Incremento na fixação e no tamanho dos frutos e no crescimento da copa, refle-

tindo em aumento de produtividade das plantas;

Redução da disseminação de esporos sexuais (ascósporos) de P. citricarpa pre-

sentes nas folhas caídas em decomposição, principalmente em pomares mais no- vos, onde há maior circulação de vento;

Redução nas derivas de defensivos agrícolas utilizados nas pulverizações, me-

lhorando a cobertura de órgãos das plantas com esses produtos, e consequente- mente, o controle de diferentes pragas e doenças, entre elas, a pinta preta, que é manejada principalmente por meio de pulverizações com fungicidas;

Melhoria na qualidade visual dos frutos e efeito adicional no controle de outras

doenças cujo inóculo possa ser disseminado pelo vento, como no caso do cancro cítrico, causado por Xanthomonas citri subsp. citri.

Por outro lado, os quebra -ventos podem apresentar alguns inconvenientes, tais como:

Aumento dos custos de produção e redução da área útil de plantio em até 10%;

Interferência no tráfego de máquinas terrestres ou aéreas nas propriedades;

Sombreamento das plantas cítricas se eles forem muito altos e densos, man-

tendo-as úmidas por um período de tempo maior, principalmente em áreas de baixada. Em pomares mais velhos, acredita -se que esse molhamento pode contribuir para aumentar as infecções causadas por P. citricarpa.

A localização geográfica do plantio de citros e a quantidade de inóculo na área são determinantes na escolha da espécie vegetal e do tipo de quebra -vento a ser adotado. Se houver alta favorabilidade para a pinta preta, os quebra -ventos devem ser instalados ao redor de todo o plantio. Já em áreas menos favoráveis, onde a quantidade de doença é, em geral, baixa, eles podem ser implantados visando somente à proteção contra os ventos predominantes.

Dentre as espécies recomendadas como quebra -ventos estão as casuarinas (Casua‑ rina cunninghamiana e C. equisetifolia) e a Corymbia torelliana, que pertence à mesma família do eucalipto (Myrtaceae) (Figura 8.11). Essas espécies apresentam diversas ca-

racterísticas desejáveis, entre elas, a copa da planta é densa, porém, permeável, o cresci- mento é rápido formando uma barreira homogênea da base ao topo das plantas, e não são hospedeiras de doenças dos citros. A espécie C. torelliana tem sido mais utilizada nas citriculturas da Flórida (EUA) e da Argentina, e apresenta potencial para ser usada na citricultura brasileira.

Fotos:

Franklin Behlau

Figura 8.11 Espécies arbóreas utilizadas como quebra -vento na cultura dos citros: Corymbia torelliana no estado da Flórida, Estados Unidos (A) e Casuarina cunninghamiana no estado do Paraná, Brasil (B).

A

B

O uso de quebra -ventos visando o manejo da pinta preta pode trazer vantagens e desvantagens. Portanto, antes da tomada de decisão para sua implantação, todos esses fatores devem ser levados em consideração, incluindo os benefícios que eles promovem para o manejo de outras importantes doenças e pragas da cultura. A suscetibilidade a pragas e doenças da espécie a ser usada como quebra-ventos deve ser considerada. No Rio Grande do Sul e no Paraná, plantas de Casuarina têm sido severamente atacadas por brocas, que causam a morte repentina das árvores.

8.3 Controle químico

O controle químico da pinta preta é o método de manejo mais eficiente e eco- nomicamente viável para garantir alta produtividade e qualidade de produção. Esse método baseia -se no uso de fungicidas, que são compostos químicos, de ori- gem sintética ou natural, com ação direta ou indireta sobre os fungos, inibindo sua germinação, penetração, crescimento micelial ou reprodução. Os fungicidas podem ser classificados quanto a sua mobilidade na planta, sendo os sistêmicos aqueles que podem ser translocados via feixes vasculares, os mesostêmicos/translaminares, aqueles que se movem no limbo foliar e os tópicos/imóveis/não sistêmicos, aqueles que não penetram nos tecidos das plantas. A classificação também pode levar em conta o princípio geral de controle, sendo os protetores aqueles que inibem a pene-

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tração, os curativos os que inibem a colonização (pós -penetração) e os erradicantes aqueles que podem eliminar o inóculo antes mesmo de ocorrer germinação. Além disso, a classificação pode ser por modo de ação, conforme metodologia e códigos do FRAC (Comitê de Ação de Resistência a Fungicidas), pela classe toxicológica de I a IV ou também pelo ingrediente ativo ou grupo químico.

Os fungicidas protetores e não sistêmicos formam uma camada de proteção sobre os órgãos atingidos, dificultando o contato do patógeno com os tecidos do hospedeiro, ou suprimindo as etapas pré -penetração. Nessa categoria incluem -se os fungicidas cúpricos e os ditiocarbamatos, que devem ser aplicados preventivamente à chegada dos esporos sobre os tecidos da planta, já que o patógeno após algumas horas de molhamento pode germinar e infectar tecidos desprotegidos.

Os fungicidas do grupo das estrobilurinas apresentam formulações nas quais o produto pode ser não sistêmico, translaminar/mesostêmico ou sistêmico, com ativida- de protetora, erradicante ou curativa restrita às folhas. Os benzimidazóis são sistêmicos e apresentam atividade curativa nas folhas, bem como protetora e erradicante. Esses fungicidas mesostêmicos ou sistêmicos, pela afinidade com os compostos celulares dos tecidos vegetais, conseguem penetrar nas células foliares, controlando infecções re- cém-estabelecidas. A sistemicidade desses produtos é irrelevante no controle da pinta preta em frutos, pois os fungicidas sistêmicos, em geral, são incapazes de se translocar para órgãos que não transpiram ou transpiram pouco. Assim, nos frutos, os produtos sistêmicos provavelmente agem como protetores.

As pulverizações de fungicidas para o controle da pinta preta em pomares do estado de São Paulo são realizadas, em geral, com turbo pulverizadores com capacidade para 2.000 ou 4.000 L de calda (Figura 8.12), uma vez que as pulverizações aéreas são reali- zadas com volumes muito baixos e não são recomendadas para o controle dessa doença.

Figura 8.12 Pulverizações de fungicidas para o controle da pinta preta em pomares de citros do estado de São Paulo. Fotos: Geraldo J. Silva Jr . (à esquerda) e Marcelo S. Scapin (à direita)

No documento Pinta preta dos citros (páginas 106-110)